quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Eu sou o que sou


Eu sou o que sou
Carlos Buchele Jr
Reformador (FEB) Janeiro 1940

Um dos males que mais retardam a ascensão espiritual é a vaidade do homem em querer parecer o que não é. E, nesse desejo de parecer, quantas não são as almas que vão beber, no belíssimo e grandioso princípio da reencarnação, o veneno que as leva a se julgarem a encarnação de vultos que a história guarda com verdadeiro carinho e amor.

O homem é o que é: não adianta sofismar.

Infelizmente, dentro da seara espírita, há os que alimentam tais pensamentos: uns, porque, um dia, sonharam que haviam sido um gênio ou um missionário; outros, porque receberam do Alto essa revelação.

O maior perigo vem das revelações. É lamentável, quando são recebidas como oriundas de fontes dignas de crédito.

Obtém alguém a revelação do passado: fora um gênio ou um grande missionário, Absorvido este corrosivo, que é o que lhe não abrolhará, depois, na alma? Por certo, surgirão sentimentos de superioridade e um cortejo de vaidades humanas.

Jamais se deve aceitar revelação de tal natureza, venha de onde vier. Os Espíritos elevados conhecem muito bem as fraquezas humanas e, portanto, não seriam eles que viriam colocar em nossa estrada mais uma pedra de tropeço.

Pode, no entanto, tal revelação, não despertar aqueles sentimentos e ser aceita como verdadeira.

Haverá, ainda aí, algum mal? Sim e muito grande.

Se verídica fosse, os traços característicos que definiam a elevada individualidade surgiriam, na nova encarnação, gravados indelevelmente no Espírito. E muitas vezes, em contraposição aos argumentos irrefutáveis dos fatos e à opinião dos que o rodeiam, coloca-se o que recebeu a revelação em situação verdadeiramente infeliz: a do ridículo.

Essas fictícias revelações só trazem embaraço ao progresso espiritual.

Quando os Espíritos elevados levantam uma ponta do véu que encobre os mistérios da vida, é porque o homem já está amadurecido para compreende-los e benefícios espirituais daí lhe advirão, com o poder alongar as vistas através das gerações que se sucederam.

O que é extemporâneo, desnecessário e prejudicial jamais promana de fontes divinas: é do homem ou das trevas.

Nós somos o que somos; um missionário voltará com maiores possibilidades para a continuação de sua obra.

Se alguém foi, de fato, em uma de suas vidas pretéritas, um benfeitor da humanidade, não nos iludamos, um sinal divino o tornará conhecido: as obras, que atestarão, pelo seu vulto, o prosseguimento da missão que, porventura o Espírito venha desempenhando.


Que as obras são um sinal divino, Jesus o demonstrou, antes de o fazer por palavras, quando os dois emissários de João lhe perguntaram: "És tu mesmo o Cristo esperado?" Depois de curar a muitos de moléstias, de flagelos e de Espíritos malignos; de dar vista a muitos cegos, disse-lhe o Mestre: "Ide contar a João o que vistes e ouvistes: os cegos veem, os coxos andam, os leprosos ficam limpos, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados e aos pobres se lhes anuncia o Evangelho." 

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