Eu sou o que sou
Carlos Buchele Jr
Reformador
(FEB) Janeiro 1940
Um dos males que mais retardam a ascensão
espiritual é a vaidade do homem em querer parecer o que não é. E, nesse desejo
de parecer, quantas não são as almas que vão beber, no belíssimo e grandioso
princípio da reencarnação, o veneno que as leva a se julgarem a encarnação de
vultos que a história guarda com verdadeiro carinho e amor.
O homem é o que é: não adianta sofismar.
Infelizmente, dentro da seara espírita, há os
que alimentam tais pensamentos: uns, porque, um dia, sonharam que haviam sido
um gênio ou um missionário; outros, porque receberam do Alto essa revelação.
O maior perigo vem das revelações. É lamentável,
quando são recebidas como oriundas de fontes dignas de crédito.
Obtém alguém a revelação do passado: fora
um gênio ou um grande missionário, Absorvido este corrosivo, que é o que lhe
não abrolhará, depois, na alma? Por certo, surgirão sentimentos de
superioridade e um cortejo de vaidades humanas.
Jamais se deve aceitar revelação de tal natureza,
venha de onde vier. Os Espíritos elevados conhecem muito bem as fraquezas humanas
e, portanto, não seriam eles que viriam colocar em nossa estrada mais uma pedra
de tropeço.
Pode, no entanto, tal revelação, não despertar
aqueles sentimentos e ser aceita como verdadeira.
Haverá, ainda aí, algum mal? Sim e muito grande.
Se verídica fosse, os traços característicos
que definiam a elevada individualidade surgiriam, na nova encarnação, gravados
indelevelmente no Espírito. E muitas vezes, em contraposição aos argumentos
irrefutáveis dos fatos e à opinião dos que o rodeiam, coloca-se o que recebeu a
revelação em situação verdadeiramente infeliz: a do ridículo.
Essas fictícias revelações só trazem embaraço
ao progresso espiritual.
Quando os Espíritos elevados levantam uma ponta
do véu que encobre os mistérios da vida, é porque o homem já está amadurecido
para compreende-los e benefícios espirituais daí lhe advirão, com o poder
alongar as vistas através das gerações que se sucederam.
O que é extemporâneo, desnecessário e prejudicial
jamais promana de fontes divinas: é do homem ou das trevas.
Nós somos o que somos; um missionário voltará
com maiores possibilidades para a continuação de sua obra.
Se alguém foi, de fato, em uma de suas vidas
pretéritas, um benfeitor da humanidade, não nos iludamos, um sinal divino o
tornará conhecido: as obras, que atestarão, pelo seu vulto, o prosseguimento da
missão que, porventura o Espírito venha desempenhando.
Que as obras são um sinal divino, Jesus o demonstrou,
antes de o fazer por palavras, quando os dois emissários de João lhe
perguntaram: "És tu mesmo o Cristo esperado?" Depois de curar a
muitos de moléstias, de flagelos e de Espíritos malignos; de dar vista a muitos
cegos, disse-lhe o Mestre: "Ide contar a João o que vistes e ouvistes: os
cegos veem, os coxos andam, os leprosos ficam limpos, os surdos ouvem, os
mortos são ressuscitados e aos pobres se lhes anuncia o Evangelho."
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