Teles
de Menezes
e a obra de Roustaing
e a obra de Roustaing
A Redação
Reformador (FEB) Maio 1966
Talvez os leitores
desconheçam que "Os Quatro Evangelhos”, de J. B. Roustaing, por uma razão
histórica decerto ditada pelo Alto, entraram no Brasil através do venerando
pioneiro espírita baiano Luís Olímpio Teles de Menezes, o fundador da primeira
Sociedade espírita em nosso País.
O Espiritismo dava
então, aqui, os primeiros passos, sempre progressivos. As obras de Allan Kardec
eram estudadas em francês, e delas apenas parte da Introdução de "O Livro
dos Espíritos" e "O Espiritismo na sua mais simples expressão"
estavam trasladados em língua portuguesa. A Doutrina que entre nós se difundia,
e isto desde 1865, era marcadamente espírita-cristã, dando-se aos Evangelhos
toda a sua importância basilar no edifício da Nova Revelação.
Muito acertadamente,
pois, o Espírito de Humberto de Campos escreveu: "Enquanto na Europa a ideia espiritualista era somente objeto de
observações e pesquisas nos laboratórios, ou de grandes discussões estéreis no
terreno da filosofia, não obstante os primores morais da codificação kardeciana,
o Espiritismo penetrava o Brasil com todas as suas características de
Cristianismo redivivo, levantando as almas para uma nova alvorada de fé."
("Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", 7 ª ed. págs ,
177-178.)
O Anjo Ismael,
"zelador dos patrimônios imortais
que constituem a Terra do Cruzeiro", prevendo, talvez, que mais tarde
seus esforços em prol da obra evangélica do Espiritismo no Brasil pudessem
sofrer, da parte dos homens, a Influência perniciosa de ideologias novas, ou o
estrangulamento devido a tendências científicas exageradas, que, aliás,
acabaram por debilitar o movimento na Europa, achou de bom alvitre trazer ao
conhecimento dos poucos espíritas brasileiros a obra de esclarecimento que os
próprios evangelistas transmitiram a Roustaing, "o missionário da
fé", obra que estudada e meditada por grandes vultos da vanguarda
espirita-cristã, muitos deles pertencentes ao "Grupo Ismael",
contribuiria para consolidar aquela feição de Consolador, de Cristianismo
restaurado, alma do verdadeiro Espiritismo que os Planos Celestes nos
legaram.
Teles de Menezes,
na época o representante máximo da Nova Doutrina em terras do Cruzeiro,
recebia, então, no ano de 1870, diretamente de Roustaing, a primeira edição
francesa de "0s Quatro Evangelhos".
No número 6, Maio
de 1870, de O ECO D'ALÉM-TÚMULO, o mais antigo órgão espírita surgido no
Brasil, Telas de Menezes publicava, nas páginas 292 a 296, extensa e criteriosa
crítica sobre o referido livro, da qual reproduziremos os trechos abaixo, ainda
atualíssimos, embora escritos há 96 anos:
"Esta importantíssima
obra, em 3 volumes de 600 páginas cada um, foi publicada em Bordeaux, em 1866.
Tínhamos apenas notícia de sua existência; agora, porém, tivemos a subida satisfação
de sermos honrados com a generosa oferta de um exemplar por seu muito distinto
autor, a quem, cordialmente, agradecemos essa alta prova de consideração. Os Espíritas
verdadeiros encontrarão em sua leitura variadíssimos ensinos de transcendente
importância e do mais perfeito acordo com a doutrina ensinada n’O Livro dos
Espíritos e n’0 Livro dos Médiuns.
"Esta obra é
de um trabalho considerabilíssimo, porquanto pelo concurso de admiráveis
comunicações medianímicas, sempre sustentadas, explica e interpreta os Evangelhos,
capítulo por capítulo, verso por verso.
"Esta obra
extra-humana foi introduzida pelos Espíritos e por sua ordem publicada, corno
sucedera com o Sr. Allan Kardec acerca da organização e publicação d'O Livro
dos Espíritos (Le Livre des Esprits)."
“Sem a leitura e o
conhecimento prévios d'O Livro dos Espíritos e d'O Livro dos Médiuns não se
poderá ter a verdadeira inteligência dos "Quatro Evangelhos explicados em
Espírito e verdade", e por isso recomendamos a leitura dessas duas obras
fundamentais da doutrina espirítica.
“O Sr. Roustaing,
espírita sério, tem a probidade da franqueza e a virtude da abnegação; em sua estimável
e honrosa carta, que acompanhou sua tão valiosa oferta, assim se exprime:
"Publicando
essa obra, que não emana de mim, e para cuja realização tenho sido, sou e
continuarei a ser apenas um instrumento, somente tive e continuo a ter um
incentivo e um fito - a difusão da luz e da verdade, o progresso moral e
intelectual da Humanidade com o desinteresse mais absoluto."
"Recomendamos,
portanto, a todos os Espíritas sérios a leitura dessa obra incontestavelmente de
um mérito real; nela encontrarão a par de alguns ensinos que, segundo a opinião
autorizada do Sr. Allan. Kardec, necessitam da verificação geral dos Espíritos,
e portanto dependentes de sanção futura, ensinos e desenvolvimentos em inteiro
acordo com os princípios fundamentais da doutrina espirítica.”
Ismael, Kardec,
Roustaing e Teles de Menezes - chefe, missionários e obreiro - entrosaram-se
perfeitamente no propósito de dar ao Espiritismo no Brasil a orientação
evangélica que o tornou admirado e respeitado no orbe inteiro.
Continuemos todos a
laborar segundo essas diretrizes, a fim de sermos amanhã, no concerto dos
povos, a Pátria do Evangelho e o Coração do Mundo.
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