sábado, 16 de dezembro de 2017

Teles de Menezes e a obra de Roustaing


Teles de Menezes 
e a obra de Roustaing
A Redação
Reformador (FEB) Maio 1966

Talvez os leitores desconheçam que "Os Quatro Evangelhos”, de J. B. Roustaing, por uma razão histórica decerto ditada pelo Alto, entraram no Brasil através do venerando pioneiro espírita baiano Luís Olímpio Teles de Menezes, o fundador da primeira Sociedade espírita em nosso País.

O Espiritismo dava então, aqui, os primeiros passos, sempre progressivos. As obras de Allan Kardec eram estudadas em francês, e delas apenas parte da Introdução de "O Livro dos Espíritos" e "O Espiritismo na sua mais simples expressão" estavam trasladados em língua portuguesa. A Doutrina que entre nós se difundia, e isto desde 1865, era marcadamente espírita-cristã, dando-se aos Evangelhos toda a sua importância basilar no edifício da Nova Revelação.

Muito acertadamente, pois, o Espírito de Humberto de Campos escreveu: "Enquanto na Europa a ideia espiritualista era somente objeto de observações e pesquisas nos laboratórios, ou de grandes discussões estéreis no terreno da filosofia, não obstante os primores morais da codificação kardeciana, o Espiritismo penetrava o Brasil com todas as suas características de Cristianismo redivivo, levantando as almas para uma nova alvorada de fé." ("Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", 7 ª ed. págs , 177-178.)

O Anjo Ismael, "zelador dos patrimônios imortais que constituem a Terra do Cruzeiro", prevendo, talvez, que mais tarde seus esforços em prol da obra evangélica do Espiritismo no Brasil pudessem sofrer, da parte dos homens, a Influência perniciosa de ideologias novas, ou o estrangulamento devido a tendências científicas exageradas, que, aliás, acabaram por debilitar o movimento na Europa, achou de bom alvitre trazer ao conhecimento dos poucos espíritas brasileiros a obra de esclarecimento que os próprios evangelistas transmitiram a Roustaing, "o missionário da fé", obra que estudada e meditada por grandes vultos da vanguarda espirita-cristã, muitos deles pertencentes ao "Grupo Ismael", contribuiria para consolidar aquela feição de Consolador, de Cristianismo restaurado, alma do verdadeiro Espiritismo que os Planos Celestes nos legaram.

Teles de Menezes, na época o representante máximo da Nova Doutrina em terras do Cruzeiro, recebia, então, no ano de 1870, diretamente de Roustaing, a primeira edição francesa de "0s Quatro Evangelhos".

No número 6, Maio de 1870, de O ECO D'ALÉM-TÚMULO, o mais antigo órgão espírita surgido no Brasil, Telas de Menezes publicava, nas páginas 292 a 296, extensa e criteriosa crítica sobre o referido livro, da qual reproduziremos os trechos abaixo, ainda atualíssimos, embora escritos há 96 anos:

"Esta importantíssima obra, em 3 volumes de 600 páginas cada um, foi publicada em Bordeaux, em 1866. Tínhamos apenas notícia de sua existência; agora, porém, tivemos a subida satisfação de sermos honrados com a generosa oferta de um exemplar por seu muito distinto autor, a quem, cordialmente, agradecemos essa alta prova de consideração. Os Espíritas verdadeiros encontrarão em sua leitura variadíssimos ensinos de transcendente importância e do mais perfeito acordo com a doutrina ensinada n’O Livro dos Espíritos e n’0 Livro dos Médiuns.

"Esta obra é de um trabalho considerabilíssimo, porquanto pelo concurso de admiráveis comunicações medianímicas, sempre sustentadas, explica e interpreta os Evangelhos, capítulo por capítulo, verso por verso.

"Esta obra extra-humana foi introduzida pelos Espíritos e por sua ordem publicada, corno sucedera com o Sr. Allan Kardec acerca da organização e publicação d'O Livro dos Espíritos (Le Livre des Esprits)."

“Sem a leitura e o conhecimento prévios d'O Livro dos Espíritos e d'O Livro dos Médiuns não se poderá ter a verdadeira inteligência dos "Quatro Evangelhos explicados em Espírito e verdade", e por isso recomendamos a leitura dessas duas obras fundamentais da doutrina espirítica.

“O Sr. Roustaing, espírita sério, tem a probidade da franqueza e a virtude da abnegação; em sua estimável e honrosa carta, que acompanhou sua tão valiosa oferta, assim se exprime:

"Publicando essa obra, que não emana de mim, e para cuja realização tenho sido, sou e continuarei a ser apenas um instrumento, somente tive e continuo a ter um incentivo e um fito - a difusão da luz e da verdade, o progresso moral e intelectual da Humanidade com o desinteresse mais absoluto."

"Recomendamos, portanto, a todos os Espíritas sérios a leitura dessa obra incontestavelmente de um mérito real; nela encontrarão a par de alguns ensinos que, segundo a opinião autorizada do Sr. Allan. Kardec, necessitam da verificação geral dos Espíritos, e portanto dependentes de sanção futura, ensinos e desenvolvimentos em inteiro acordo com os princípios fundamentais da doutrina espirítica.”

Ismael, Kardec, Roustaing e Teles de Menezes - chefe, missionários e obreiro - entrosaram-se perfeitamente no propósito de dar ao Espiritismo no Brasil a orientação evangélica que o tornou admirado e respeitado no orbe inteiro.

Continuemos todos a laborar segundo essas diretrizes, a fim de sermos amanhã, no concerto dos povos, a Pátria do Evangelho e o Coração do Mundo.


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