O herdeiro do Pai
Emmanuel por Chico Xavier
Reformador (FEB) Março 1956
“A quem constituiu
herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo." - Paulo, Hebreus 1:2.
Cede aos poderes
humanos respeitáveis o que lhes cabe por direito lógico da vida, mas não te
esqueças de dar ao Senhor o que lhe pertence.
Esta fórmula
conciliadora do Evangelho permanece, ainda, palpitando de interesse para o
bem-estar do mundo.
Não convém
concentrar em organizações mutáveis do plano carnal todas as nossas esperanças
e aspirações.
O homem interior
renova-se diariamente. Por isso, a
ciência que lhe atende as reclamações nos minutos que passam não é a mesma que o
servia nas horas que se foram e a do futuro será muito diversa daquela que o
auxilia no presente. A política do pretérito deu lugar à política das lutas
modernas. Ao triunfo sanguinolento dos mais fortes ao tempo da selvageria sem
peias, seguiu-se a autocracia militarista. A força cedeu à autoridade, a
autoridade ao direito, No setor das atividades religiosas, o esforço evolutivo
não tem sido menor.
Em vista de
semelhantes realidades, porque te apaixonas, com tanta veemência, por criaturas
falíveis e programas transitórios?
Os homens de hoje,
por mais veneráveis, são herdeiros dos homens de ontem, empenhados na luta
gigantesca pela redenção de si mesmos. Poderão prometer maravilhosos reinados
de abastança e paz, liberdade e harmonia: entretanto, não fugirão ao serviço de
corrigenda dos erros que herdaram, não só daqueles que os antecederam, no campo
dos compromissos coletivos, mas igualmente de suas próprias experiências
passadas em tenebrosos desvios do sentimento.
A civilização de
agora é sucessora das civilizações que faliram.
As nações que se
restauram, aproveitam as nações que se desfizeram.
As organizações que
surgem na atualidade guardam a herança das que desapareceram na voragem da
discórdia e da tirania.
Examinando a
fisionomia indisfarçável da verdade, como hipertrofiar o sentimento,
definindo-te, em absoluto, por instituições terrestres que carecem, acima de
tudo, de teu próprio auxílio espiritual?
Como pode a casa
sem teto abrigar-te da intempérie? A planta do arranha-céu, inteligentemente
traçada no pergaminho, ainda não é li construção mantenedora da legítima
segurança.
Não existem, pois,
razões que justifiquem tormentos dos aprendizes do Cristo, angustiados pelas inquietudes
políticas da hora que passa. Semelhante estado d’alma é simples produto de inadvertência
perigosa, porque todos devemos saber que os homens falíveis não podem erguer
obras infalíveis e que compete a nós outros, partidários do Mestre, a posição
de trabalhador sincero, chamados a servir e cooperar, na obra paciente e longa,
mas definitiva e eterna, d'Aquele a quem o Pai "constituiu herdeiro de
tudo, por quem fez também o mundo".
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