Catequização
por Ernani Cabral
Reformador (FEB) Dezembro 1943
Há um assunto delicado de que nos parece oportuno tratar, é
o da divulgação que devemos dar ou da propaganda que nos cumpre fazer, na família
ou fora dela, das verdades espíritas.
Jesus, falando aos discípulos, ordenou: "E ponde-vos a caminho, pregai, dizendo que
está próximo o reino dos céus," (Mateus, 10:7), E logo depois: “O que eu vos digo às escuras, dizei-o às
claras; e o que se vos diz ao ouvido, publicai-o dos telhados," (Idem,
1O:27).
Os apóstolos cumpriram a ordem de evangelização dada pelo
Divino Mestre: Foram todos de uma atividade fecunda, que tocou às raias do
sacrifício. Cumpre-nos recordar o esforço insuperável de Paulo de Tarso, que
muito viajou, esforçando-se continuamente, pregando, pela palavra e pelo
exemplo, a doutrina do Messias. Graças aos esforços abnegados dessa plêiade, o
Cristianismo difundiu-se.
Recordando a ação eficiente e profundamente modelar do
"apóstolo dos gentios", existe Paulo e Estevão, essa obra maravilhosa
de Emmanuel, que Francisco Cândido Xavier psicografou, e que deveria ser o
livro de cabeceira, junto do Evangelho, a fim de serem manuseados,
frequentemente, pelos que se filiaram ao exército de moral e regeneração do
Cristo de Deus, Veriam e verificariam que não é possível agir com frieza, pois
a maior caridade que se pode fazer é catequizar nosso irmão para o conhecimento
da verdade e para a prática do bem.
Dizem alguns confrades, entretanto, que só se deve falar no
assunto a quem demonstrar curiosidade de conhecê-la; que todos terão a sua
hora, quando os tempos forem chegados, e que somente o espírito
"maduro" poderá receber e sentir as doçuras do Consolador. Chegam a
supor que, por isto, se possuímos católicos ou protestantes na família, devemos
deixá-los em paz com as suas convicções, que também são boas.
Ao contrário, vejamos o que têm dito os mensageiros de Deus.
Ainda recentemente, lemos o 3º volume de Trabalhos do Grupo "Ismael",
que é talvez o núcleo espírita mais bem orientado no Brasil, porque está sob a
direção daquele anjo do Senhor. À página 135 do referido livro, numa
comunicação de Richard, acha-se o seguinte conselho: "Todo o trabalho, pois, daqueles que aceitarem um posto nas fileiras do
exército de Ismael deve resumir-se em dar todo o seu esforço para a educação da
família espírita, por meio de uma propaganda eficiente, fundada nos princípios
do Evangelho," E ainda, à página 170, no final daquela obra, ensina
Melancheton: "Irmãos, sois co-partícipes
de uma doutrina admirável, que enche as almas elas mais altas aspirações e dos
mais fortes estímulos. Devotai-vos ainda e sempre ao trabalho de divulgá-la.”
Podemos saber, de antemão, qual o espírito que não se acha
"maduro", somente porque nas primeiras investidas se negou a aceitar
a nova revelação? Todos têm a sua hora, é verdade, mas assiste-nos o direito e
o dever de apressar as conversões, chamando a atenção para a palavra do Divino
Mestre, interpretada em espírito e verdade. E quando nada o consigamos, está
lançada a semente, que germinará algum dia...
Os espíritas não devem ser mornos, nem comodistas, nem podem
rejeitar a luta em prol da divulgação do Cristianismo do Cristo, quando este
mesmo nos disse que não veio trazer a paz, mas a espada (Mateus, 10 :34). Se
fomos postos em fazer o possível para difundir o verbo divino entre todos os
membros dessa família, a menos que, por conveniência ou por covardia, não nos
queiramos incompatibilizar, que tenhamos receio da parecer importunos ou
fanáticos, amedrontados com a zombaria ou com possíveis inimizades.
É certo que precisamos ter o maior tato possível, sendo
"prudentes como as serpentes e símplices como as pombas", conforme
nos aconselhou Jesus. Em quaisquer circunstâncias, mesmo perante os que não
queiram ouvir nossa palavra, devemos ser tolerantes e caridosos, procurando não
irritar nem ferir suscetibilidades; mas, assim agindo, não quer dizer quedemos
silenciosos ou indiferentes.
Somente não convém perder tempo, como recomenda Kardec,
"com os que não querem ver, nem ouvir e tanto mais resistem, por orgulho,
quanto maior for a Importância que se pareça ligar à sua conversão." Mas,
mesmo com estes, não há mal em se voltar à carga, sobretudo quando feridos pela
dor, que acrisola e redime.
Sejamos sobretudo soldados ativos do exército de Jesus. Nada
de indiferenças, nem de comodismos. Evitemos o fanatismo e o exagero.
Procuremos ser oportunos e convenientes, mas persistentes e esforçados na
divulgação do Espiritismo.
Não compreendemos um chefe de família espírita que deixa de
se dar ao trabalho de lançar a boa semente, ao menos no coração dos filhos,
para não aborrecer, por exemplo, a sua esposa ou a sua mãe. Foi para esses que
Jesus afirmou: “O que ama o pai ou a mãe,
mais do que a mim, não é digno de mim; e o que ama o filho ou a filha, mais do
que ti. mim, não é digno de mim." (Mateus, 10:37). "Porque vim a separar o homem contra seu pai,
e a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra." (Idem, 10:35).
Recordemo-nos sempre desta afirmação categórica do Divino
Mestre: "Todo aquele, pois, que me
confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que
está nos céus; e o que me negar diante dos homens, eu o negarei diante de meu
Pai, que está nos céus." (Idem, 10:32 e 33).
Necessitamos proceder - é conveniente que se repita - sem
intolerância, com habilidade, evitando irritar nosso irmão, mas agindo com
persuasão e brandura; maxime com os que residem sob o mesmo teto, pois as
discussões acaloradas são nocivas e perturbadoras. Mas orando, pedindo o auxílio
do Alto, com amor e paciência, sobretudo com muita paciência, veremos coroados
de êxitos os nossos esforços, porque a verdade conforta, liberta e convence.
Poucas são as pessoas cujo endurecimento de coração vai ao ponto de ser
impermeável à luz do amor e da verdade. E mesmo para esses, o trabalho de
evangelização é útil, porque, como já dissemos, lavrado o campo e jogada a
semente, algum dia frutificará, nesta ou em outra encarnação, o que não nos
deve servir de desalento, pois temos na frente a eternidade. Cumpre-nos, porém,
fazer o possível por ativar o desenvolvimento espiritual de nossos semelhantes.
Mas lembremo-nos de "que se conhece o espírita pela sua regeneração moral". Nada
como a força do exemplo; esta convence mais do que as palavras, embora o verbo
também seja útil para a difusão do bem.
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