A Incógnita do
Além
Emmanuel por Chico Xavier
Reformador
(FEB) Novembro 1943
Meus amigos, Deus vos conceda muita paz espiritual no caminho
diário.
Conheço a ansiedade com que muitos de vós outros batem às portas
da revelação; sei de vossas aspirações e já experimentei vosso desejo infinito.
O homem defrontará sempre a incógnita do além túmulo, tomado de indizíveis
angustias, quando se distancia do alimento espiritual, matéria prima da vida
eterna. É o que ocorre no cenário que vosso século, repleto de acontecimentos
de profunda significação científica e filosófica, cercado de realizações da máquina
e empolgados de ideologias políticas; permaneceis à beira de abismos que solapam
os séculos laboriosos de realizações.
O homem moderno cresceu em suas realizações puramente intelectualistas
avançando no domínio das organizações materiais; entretanto, por detrás de
muralhas de livros, ao longo de códigos pacientemente elaborados, a sombra de laboratórios,
a inteligência da criatura se esconde para preferir a morte. A ciência que devastou desde o subsolo a
estratosfera, manifesta a sua impossibilidade de dominar o vulcão mortífero.
Vinte séculos de pensamento cristão não bastaram... Milhares de mensagens da Providência
Divina, convertidas em utilidades para a civilização de nossos tempos sopitaram
os novos surtos de devastações e misérias. Não lamentamos porém. Apenas nos referimos à semelhante derrocada
para exaltar a grandeza da experiência espiritual.
O homem econômico de nossas filosofias atuais não pode subsistir
no quadro da evolução divina. O homem é Espírito antes de tudo. A terra é a
nossa escola milenária, aguardando resignadamente a nossa madureza de
sentimentos.
É por isto que acorrestes à presente reunião, em vossa maioria
tangidos pelo desejo de auscultar o desconhecido. É por isto que esperáveis
expressões fenomênicas que vos modificassem internamente. No fundo, meus
amigos, desejais a Fé, quereis tocar a certeza. Entretanto, a curiosidade não
pode substituir o trabalho perseverante e metódico, nenhuma técnica profissional
por mais singela pode se eximir de cultores da experiência sentida e vivida.
Alguns dentre vós formulais indagações mentais enquanto outros
aguardam manifestações que firam as percepções externas. Todavia, apesar do
desejo de vos atender particularmente, não seria possível quebrar a lei
universal da iniciativa de cada um no campo do livre arbítrio relativo que nos
rege os destinos. Vossa ansiedade palpita em todo mundo. A humanidade suplica
expressões novas que lhe definam as diretrizes para o mais alto e vossos
corações permanecem cansados do atrito dispensivo. Sois, de
modo geral, os viajores que extenuados do caminho árido começam a indagar as
profundezas do céu, tendo sempre uma resposta para quantos o contemplam,
convictos de que a vida é testemunho de trabalho, de realizações e de
confiança. Nenhuma elevação se verificará sem o esforço próprio.
É por este motivo que as ideias religiosas antigas, embora respeitáveis
pelas mais sublimes tradições, não mais satisfazem. Os templos de pedra deixam
exalar ainda o incenso da poesia, mas as vossas esperanças pedem esclarecimentos
concretos e roteiros precisos.
Sim, vossa sede é justa.
A fonte, porém, ainda é aquela que o Mestre nos trouxe há dois mil
anos.
Procurai esta água da vida eterna.
Não vos deixeis dominar tão somente pela ânsia que as vezes é doentia.
Procurai de fato conhecer.
Não vos restrinjais ao campo limitado da curiosidade. Toda
curiosidade é boa quando conduz ao trabalho.
Recebei, portanto, os serviços de Deus, em vós mesmos. Vosso
coração e vossa inteligência constituem
a grande oficina. Aí dentro operareis maravilhas desde que não condeneis vossas melhores ferramentas de observação e possibilidades de serviço à ferrugem do
esquecimento.
Que a Vossa curiosidade seja um marco útil na estrada da
sabedoria.
Continuai no vosso esforço lembrando que se viestes hoje bater à
porta do mais além, o mais
além respondendo, vem bater igualmente às vossas portas.
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