quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Reexame Científico da Sobrevivência


Reexame Científico da Sobrevivência
Hermínio C Miranda
Reformador (FEB) Setembro 1959
           
            Após os comentários aqui mesmo publicados sobre as obras do eminente professor J. B. Rhine, resolvemos escrever diretamente àquele cientista, atual Diretor do Laboratório de ParapsIcologia da Universidade de Duke, em Durham, North Carolina, Estados Unidos.

            Em nossa carta, manifestamos ao Dr. Rhine interesse em conhecer suas obras mais recentes sobre as importantes pesquisas que vêm realizando há tantos anos. Não somente procuramos dar ao ilustre pesquisador uma ideia de nossa posição perante o problema, como também manifestar o interesse com que vimos acompanhando seu trabalho.

            Em delicada carta de 26 de Fevereiro de 1959, o Dr. Rhine nos informou acerca de seu novo livro, aparecido após "The New World of tne Mind", sobre o qual escrevemos em "Reformador" de Fevereiro de 1959.  A nova obra chama-se “'Parapsychlogy, Frontier Science of the Mind” e foi produzida de parceria com o Dr. J. G. Pratt.

            Em anexo àquela carta, o Dr . Rhine nos enviou, também, vários folhetos que contêm preciosas informações.

            Em vista de nosso manifesto Interesse no problema particular da sobrevivência, remeteu-nos uma separata de seu artigo "Research on Spirit Survival Re-examined”, originariamente publicado no "The Journal of Parapsychology" (assinatura anual     US$ 6.00, publicação da Duke University), volume 20, nº 2, de Junho de 1956.

            Sobre este importante trabalho falaremos hoje. Oportunamente comentaremos o novo livro, já encomendado dos Estados Unidos.

*

            Como se vê pelo titulo, o artigo procura reexaminar o tema da sobrevivência do espírito. Com aquele método científico com o qual já nos tornamos familiarizados, o Dr. Rhine começa pelo enunciado do problema, que consiste em apurar se a personalidade de alguma forma efetiva ou em algum grau, subsiste à morte do corpo físico. Tal questão, que “ainda” (palavra do autor) desperta interesse na maioria das pessoas, é, por muitas, encarada como sendo "da maior importância possível".

            Se a Ciência pode responder à questão e como poderão ser conduzidas as investigações, isso é outro caso e muito controverso, como o autor o admite. Mas a  Ciência deve obter respostas claras, sem ambiguidade, mesmo que, às vezes, tenha que esperar a solução de alguns enigmas preliminares. Não se pode considerar como solução científica. o abandono das questões, sem resposta. Enquanto houver alguma coisa para ser examinada, o problema continua a existir e a investigação deve prosseguir".

            No entanto, informa o autor, os estudos realizados no passado, em torno do problema da sobrevivência, se basearam em trabalhos mediúnicos. Mais tarde, quando métodos para estudo controlado da mediunidade foram aperfeiçoados, o "entusiasmo popular e a investigação sobre as comunicações espíritas haviam desaparecido.

            Parece que o autor se refere aqui àquela febre inicial em torno do fenômeno – e, sobre isto, remeto o leitor à substancial obra de Zêus Wantuil, "As Mesas Girantes e o EspIritismo" -, em que era moda reunir um grupo mais ou menos irresponsável e propor perguntas divertidas e ridículas à mesa.

            É preciso, ainda, não esquecer que foi na aparente frivolidade daquele jogo de salão, que o gênio de Allan Kardec divisou os princípios luminosos da codificação.

            Segundo o Dr. Rhine, porém, a evidência que então se acumulou não serve mais, porque os padrões de aferição, usados na época, estão Inteiramente superados.

            De minha parte, suspeito que não é bem isso. Alguém que desejar, hoje, confirmar o princípio de Arquimedes não precisa meter-se numa banheira cheia, para concluir que um corpo mergulhado na água perde parte do peso correspondente ao volume de água deslocado. Teríamos, certamente, outros métodos mais simples e - admito - até mesmo mais precisos de aferição; em nada, porém, estaríamos alterando a substância do principio observado por aquele sábio. Milhares de exemplos outros poderiam ser referidos. Galileu não precisou de modernos métodos de observação e controle para concluir que a Terra não é o centro do sistema solar. Por melhores que sejam hoje os métodos e os instrumentos, qualquer cientista que perscrutar o infinito concluirá com Galileu.

            Os grandes vultos do Cristianismo jamais ouviram falar em Parapsicologia e suas vidas estão pontilhadas de fenômenos espíritas. O Dr. Rhine dirá fenômenos de ESP (percepção extra-sensorial), a Igreja dirá que são milagres, mas, no fundo, é tudo proveniente da atividade elo espírito humano preso à matéria densa ou em liberdade relativa no espaço.

            O Dr. Rhine poderia dizer que com a pesquisa a coisa é diferente. Não vejo como, nem porquê. O fenômeno espírita ou anímico é igualmente regulado por leis. tão precisas, matemáticas, sábias e imutáveis como as que regulam as manifestações da matéria, desde o submundo do microscosmo até o supermundo do macrocosmo. O trabalho da Ciência é descobrir as leis. Use, pois, os métodos que desejar, desde que descubra princípios válidos e suscetíveis de suportar os testes da experimentação,

            Não vai nisto - é mais que evidente - nenhuma critica à exposição do Dr. Rhine. Queremos, simplesmente, na medida de nosso bom senso, enxergar claro através da argumentação de quem ainda "não viu a luz". É preciso dar-lhe o crédito que merece pelo que já fez (e fará) e encarar, até mesmo com simpatia, o rigorismo de seus métodos. Quanto maior o rigor, melhor. É isso mesmo que desejamos, porque sabemos - com a graça de Deus - que a verdade só terá a lucrar.

            O mal é que o homem é incuravelmente descrente da evidência acumulada por outrem. É da própria natureza humana. Queremos ver por nós mesmos; pegar, apalpar, cheirar, sentir. Se alguém nos diz que a tinta é fresca, levamos instintivamente o dedo para verificar se é mesmo verdade . O que acontece, então, é que os cientistas de hoje acham que seus colegas de há um século eram muito bisonhos e poderiam ter cometido enganos de avaliação; que não tomaram todas as precauções que deveriam ter tomado; que não possuíam instrumentos seguros para medição e controle. Julgamos que só nós próprios podemos fazer "as coisas" direito e só podemos aceitar as conclusões que nós mesmos encontramos. No entanto, se cada vez que a Ciência quisesse avançar, tivesse que refazer todas as experiências do passado com novos e aperfeiçoados instrumentos, estaríamos num beco sem saída.

            Vamos, porém, fazer justiça ao Dr. Rhine. Ele continua dizendo que não foram os métodos aperfeiçoados que "trouxeram as pesquisas sobre a mediunidade ao atual estágio de comparativa inatividade". Trabalhos de SaltMarsh com a Sra. Elliot e de J. G. Pratt (o co-autor do Dr. Rhine em sua nova obra, referida no princípio deste artigo) com a Sra. Garret, desencorajam tal interpretação.

            Mesmo agora, há estudos sérios sobre o assunto {que confirmam o ponto de vista de que "o exercício de precauções no trato com o médium e no registro e análise do material comunicado não inibem necessariamente o fluxo de significativas mensagens pertinentes ao cooperador" (assistente).

            A despeito disso, o Dr. Rhine reafirma que houve um declínio no interesse científico em torno do problema da sobrevivência. Atribui esse declínio, parcialmente, às próprias experiências da Parapsicologia.  Isso porque, é ele quem o diz, a melhor evidência de comunicação espírita, através da mediunidade, sempre suscitou, da parte dos críticos, a contra-hipótese da telepatia, isto é, o médium teria recebido a informação por via telepática. A própria teoria espírita - diz o autor - reconhece o processo telepático de comunicação entre o agente desencarnado e o médium. Dessa forma, a Ciência podia concluir que a telepatia, entre o médium e alguma pessoa viva, explicaria o fenômeno de maneira mais simples que a hipótese espírita. O grande óbice - diz ainda o Dr. Rhine - é que havia enorme quantidade de informação que a telepatia não podia explicar, de vez que consistia em pormenores que "nenhuma pessoa viva conhecia". Tais casos a hipótese da clarividência. "poderia" explicar. Acontece que a cIarividência também não era tomada a sério. Aí, então, entrou o cientista em cena.

            As pesquisas na Universidade de Duke, e que tanto destacaram o nome do Dr. Rhine, começaram nos primeiros anos da década 1930-1939. Ao cabo de algum tempo, a evidência em favor da telepatia e da clarividência tinha crescido consideravelmente. Hoje em dia, tais fenômenos não são mais discutíveis. Os fatos investigados pelos métodos mais frios e controlados da ciência ortodoxa produziram evidência suficiente, não para convencer os irredutíveis inimigos do progresso e da verdade ou os indiferentes amigos do comodismo, mas pelo menos para tranquilizar aqueles que esperavam o pronunciamento da Ciência.

            Por outro lado, informa o Dr. Rhine, com o desenrolar das pesquisas ficou também demonstrado o fenômeno dado o fenômeno da psicocinésia. Por conseguinte, conclui ele, de maneira bem curiosa, os fenômenos produzidos em laboratório poderiam explicar a mediunidade. Não havia, pois, interesse no prosseguimento do estudo desta.

            De modo que, se um médium possuísse todas as capacidades psíquicas demonstradas pelas pesquisas, então poderia produzir à vontade os fenômenos tidos como espíritas. O argumento, mais que simples, é simplista.

            E continua o articulista dizendo que mais se agravou o desinteresse científico pela sobrevivência, depois que a visão mecanicista do homem se tornou um hábito no estudioso. De fato, parecem inseparáveis o pensamento e a atividade do cérebro, pois
que o desenvolvimento intelectual acompanha o desenvolvimento da estrutura cerebral, e tudo quanto afeta o cérebro acarreta distúrbios na função mental correspondente. Que parte desse conjunto de funções interligadas, incrustadas na massa física e tão dependentes dela, poderia então sobreviver? Como poderia funcionar sem o corpo físico que lhe serve de base? Daí, o escasso interesse científico pelo assunto da sobrevivência, segundo o Dr. Rhine. Criou-se, pois, um “clima" intelectual desfavorável a esse tipo de pesquisa. Até mesmo o cientista que se dedica ao assunto fica afetado em seu destino, como indivíduo.

            Esse é o ponto de vista do autor. Até aqui, sua informação parece estar mais em concordância com aquele clima desfavorável, que propriamente com certo otimismo quanto ao futuro da pesquisa.

            No entanto, é preciso reconhecer a legítima honestidade de propósito desse incansável pesquisador que é o Dr. Rhine. Seu artigo faz uma pequena pausa e começa a atacar o problema sob outro ângulo. Vejamos.

*

            Diz ele que, para o cientista, - uma vez que a questão não tenha sido solucionada satisfatoriamente de um jeito ou de outro, ela continua a ser a mesma questão.

            A seu ver, os esforços empregados na verificação da hipótese da sobrevivência, no passado, já possuíam uma tintura apriorística que deformava os resultados, pois que partiam do pressuposto de que a sobrevivência era um fato. A falta de evidência seria, então, uma conclusão sem sentido: somente resultados positivos poderiam contar. No momento, porém o quadro mudou muito. Não são mais os grupos religiosos que trazem a questão para o foco da pesquisa, como acontecia no século dezenove. Na opinião do autor, aquela onda de entusiasmo passou sem produzir resultados conclusivos. A questão agora, no entanto, se destaca espontaneamente da massa de informação colhida pela Parapsicologia. "Das pesquisas feitas - diz o Dr. Rhine - floresceu um conceito da natureza humana que parece aproximar o critério da espiritualidade, até onde este possa ser  atingido." Preste atenção, leitor, que esta é uma importante afirmativa e uma ponderável concessão ao pesquisador que, aos poucos, se vai deixando penetrar pela esmagadora força dos fatos. Ouçamo-lo mais adiante, nesse mesmo tom: "Foram demonstradas algumas capacidades que não estão manifestas em nenhum dos critérios físicos da estrutura somática e dos processos orgânicos." E mais: "Dessa forma, podemos dizer que mesmo que nunca tivesse havido qualquer afirmativa de categoria espiritual, em a natureza, estes resultados (obtidos através da Parapsicologia) tornariam necessário inventar um, ou, pelo menos, algo que pudesse, a esta altura, ser simplesmente chamado "extra-físico”. 

            Já não existe, pois, sombra de dúvida para o Dr. Rhine de que o homem possui um princípio espiritual, regido por um conjunto de leis próprias independentes das que governam as manifestações meramente orgânicas do corpo físico.

            O problema, para a Ciência, não é mais o de saber se existe esse princípio extrafísico, a que há muito chamamos Espírito; a questão - ainda para, a  Ciência - é saber que grau de independência ou autonomia possui esse princípio; se ele é separável do corpo físico; se sobrevive à dissolução deste. Para o Dr. Rhine, a conceituação da parte não-física da personalidade humana, é mera questão de tempo. E nisso estamos de acordo. Podemos até antecipar os resultados que a Ciência vai encontrar lá na frente. Não vai nisto nenhuma partícula de orgulho tolo ou de pretensão vulgar. A verdade não tem orgulho nem pretensão - ela espera tranquila, confiante, porque é eterna, impessoal e para ela marchamos fatalmente, a despeito de ocasionais obliterações do entendimento.

            O Dr. Rhine esclarece ainda em seu substancioso artigo, que a Parapsicologia não está interessada em confirmar nenhuma fé ou causa messiânica.  Está simplesmente investigando as fronteiras de um mundo mais amplo. As descobertas já feitas, até o presente, esboçam aquelas fronteiras "além dos limites do estreito fisicismo”.

            É evidente, na opinião do autor, que as recentes descobertas e a considerável quantidade de dados acumulados pela Parapsicologia atingiram um ponto em que se recomenda um "retorno ao estudo do assunto". Isto é profundamente animador.

            Dentro desse programa de estudo a ser desenvolvido, certamente haverá um capítulo a cuidar especificamente da questão da sobrevivência, pois que "um dos tipos relativamente comuns de experiência psíquica é aquele no qual é dada a impressão de que o agente é um amigo ou parente morto". E continua: "Em tais experiências, a aparência de uma Invasão da que se poderia chamar agente espiritual ou comunicante é, de fato, uma característica frequente e, algumas vezes, desafiadora. É digno de nota, ainda, o fato de que tais experiências não possuem nenhuma conexão aparente com qualquer credo ou filosofia. Qualquer que seja a influência dos fatores culturais, as referidas experiências representam a própria interpretação das experiências do indivíduo."         

            Também aqui está ele dizendo o que todos nós temos dito vezes sem conta: o fenômeno espírita não escolhe os seguidores da doutrina espírita; ele ocorre com os melhores católicos, os mais empedernidos materialistas, com budistas, ateus, protestantes, judeus, sábios, ignorantes, velhos, moços e crianças.

            Todo esse material de pesquisa, diz o Dr. Rhine, está à espera de um reexame. O parapsicólogo se vê na contingência de explicar a "impressão de que a influência espiritista produz o fenômeno". Curiosa maneira de dizer. Parece que o cientista ainda pretende, a todo custo, encontrar uma explicação que possa ser tida como científica., mas fora da órbita das explicações espíritas.

            Depois de muito revolver o material, com tantos reexames quanto queira, a Ciência encontrará, fatalmente as respostas que o Espiritismo vem dando há mais de século. O rio pode fazer tantas curvas quantas queira, mas caminha inapelavelmente
para o mar.

            Parece que o Dr. Rhine está em bom caminho, pois que a sua segurança inicial, do lado negativo, começa a aluir. Ouçam o que diz ele: "Mesmo nesta fase preliminar dos estudos, casos espontâneos, sugerindo a sobrevivência, têm apresentado várias
possibilidades que despertam interesse no pesquisador. Um bloco de tais experiências humanas selecionadas indica um fio de motivação pessoal, de objetivo individual tão peculiar a certo identificado indivíduo falecido, que a espécie de mensagem comunicada, não poderia, sob tais condições, ser logicamente (ou psicologicamente) atribuído a qualquer outra pessoa viva ou morta." (Os grifos são nossos.)

            A Ciência que enfrente o problema. Para nós, graças a Deus, o problema não existe. porque estamos convencidos da sobrevivência do espírito humano e da faculdade de - sob certas condições - comunicarem-se vivos e "mortos". Sabemos perfeitamente que vida e morte são palavras vazias de significado específico; são as duas fases da mesma realidade, que é a contínua duração do espírito através de ciclos alternados: uma fase, preso à matéria densa; outra fase, em liberdade relativa, evoluindo sempre, aprendendo sempre a doce lição que há milênios o Cristo e seus emissários vêm pregando incansavelmente.

            Sabemos também que ao cabo de tanta luta e sofrimento, de tanta queda e recuperação, de tanta mágoa inútil, o espírito descobre a coisa mais simples deste mundo: que só o bem constrói, que só o amor purifica, que só a caridade eleva. Em suma, descobre o que o poeta expressou tão bem: como é bom ser bom!

*

            Vejamos, porém, como conclui o Dr. Rhine seu brilhante estudo sobre a retomada do problema da sobrevivência.

            Sentimos que sua resistência à concepção espírita vai cedendo aos poucos. Às vezes ainda tem certas desconfianças - que segundo suspeitamos é mais "para uso externo" - quando diz, por exemplo, que se há entidades espirituais ou personalidades de natureza incorpórea - e isso ele praticamente já admitiu - o "approach" mais direto seria aquele que solicitasse a contribuição dessa entidades para que "provassem a hipótese de sua exístência". Isso, porém, exigiria um preparo muito bem planejado, confessa o autor.

            Quanto a mim, acho que os Espíritos não têm feito outra coisa senão prestarem-se docilmente às exigências dos cientistas, dando-lhes toda a cooperação que lhes tem sido razoavelmente solicitada ou determinada por poderes mais altos. Não foi isso que fez Katie King com Sir William Crookes? Não é isso o que têm feito milhões de Espíritos através da secular história da experimentação espírita? Sem dúvida que é, mas a ciência tem sido estranhamente obstinada quanto a este fenômeno, que, mais que qualquer outro, nos interessa como seres humanos.

            É da mais transcendental importância a cada um de nós, conhecer o mecanismo de sua própria personalidade, que saber como explode uma bomba atômica. Não obstante, por estranha contradição, colocamos muito maior quantidade de esforço e energia na concepção e produção de um engenho destruidor como a bomba, que no estudo daquilo que, mais de perto nos diz respeito, isto é, nosso espírito e sua sobrevivência.           

            Por outro lado, a situação ainda mais se agrava quando pensamos que, uma vez explodida a primeira bomba, ninguém mais duvidou de sua existência, de sua capacidade de destruição e de seus terríveis efeitos, que perduram e se estendem às gerações subsequentes. Ninguém precisou estar em Hiroshima ou Nagasaki para acreditar no seu poder fatal. Seria admissível que alguém nos viesse dizer agora que é impossível existir tamanho poder de destruição num simples grupamento de átomos que se desintegram? Quando se trata de fenômenos espíritas, o homem quer repetir de novo as experiências. Cada um quer ver por si mesmo; o testemunho dos outros nunca serve, ou então, como querem alguns, está eivado de fraudes. Se um cientista como o Dr. Rhine, pela sua intrínseca honestidade, não pretende escapar comodamente pela porta da fraude, como vem então argumentar que no passado a Ciência não estava, como hoje, preparada para exercer controle rigoroso sobre a experimentação?

            Que venham os controles, dizemos nós. E que venham logo, porque a Humanidade está atingindo a zona do desespero, vivendo dias de insuportáveis tensões, véspera de espantosos acontecimentos. Os transviamentos sociais, políticos, filosóficos, morais, não têm outra origem senão no alastramento do materialismo. A Ciência, a nova deusa do século, tem larga parcela de culpa nesse estado de coisas. Que venha, pois, com seus novos controles e os aplique com rigor. mas que venha e conclua e proclame corajosamente as verdades que encontrar. Não por nós, espíritas, que estamos tranquilos. Não por nós, que, graças a Deus, já encontramos a nossa verdade. no Consolador prometido pelo Mestre Supremo. Mas que venha a Ciência provar aquilo que já sabemos, para que milhões de irmãos nossos possam também, gozar o privilégio da verdade, que não é patrimônio exclusivo de ninguém.

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            Nas últimas linhas de seu trabalho, o Dr. Rhine informa que, a despeito de certas dificuldades, há realmente maior razão para otimismo no momento, do que há algumas décadas. Depois de estabelecer que existe algo mais (palavras dele) na personalidade humana que o mero substrato físico, cabe à Parapsicologia ir adiante e investigar os horizontes que se descortinam além. Investigar sem dar importância às indiferenças e dificuldades que a nossa herança cultural acumulou no passado, pelos caminhos do progresso.

            De alguma forma, Dr. Rhine informa, os acontecimentos do mundo atual são até favoráveis. "Os dogmatismos da fé autoritária, a respeito do destino do espírito humano, estão a se chocarem violentamente com os dogmatismos do pensamento mecanicista proveniente das ciências físicas. Ambos os dogmatismos estão ligados às instituições sociais e políticas da vida moderna e se tornaram instrumentos do poder e da luta pelo poder."

            Leia esse trecho de novo, leitor, que é de grande significação filosófica para qualquer ser humano. É por Isso, justamente, que acuado pelos dois irredutíveis dogmatismos - científico e religioso - o homem sensato luta desesperadamente à procura de uma saída. Segundo o Dr.Rhine, a saída está em retomar a pesquisa da natureza humana qualquer que seja o resultado que possa advir dessa investigação.

            Diz até, ainda, que tal resultado não poderia desapontar ninguém, apesar de que poderá surpreender a todos. Afinal de contas - conclui -, a "Ciência sempre ampliou os horizontes humanos, em todas as fronteiras do conhecimento"

*

            Estamos à espera, Dr. Rhine. Disse e repito: não por nós. A responsabilidade da Ciência é tremenda quanto ao futuro daqueles que ainda não tiveram resposta às suas inquietações ou nem sequer sentiram essas inquietações. Milhões e milhões, por
este mundo a fora, vivem emparedados na obscuridade da descrença, do dogmatisrno, da indiferença ou da intolerância, à espera de uma palavra libertadora. O cientista talvez consiga abrir a fenda por onde a luz possa penetrar em muitos desses espíritos.

            Longe de ser mera manifestação de proselitismo, nosso desejo imenso, impaciente, cristão, é o de que a consoladora verdade espírita frutifique no coração de todas as criaturas. O homem que caminha na luz tem que sentir a sofreguidão incontida de ajudar o irmão que ainda tropeça na obscuridade.

            Já que a ortodoxia religiosa tem falhado tão lamentavelmente em seus objetivos, depositemos nossas esperanças nos novos propósitos da Ciência, tal como esboçou o Dr. Rhine. Mesmo que ainda estejam as pesquisas sob a égide do racionalismo frio. Os missionários da obra divina encontrarão meios de iluminar os resultados até o dia em que Ciência e Religião, trabalhando irmanadas, ajudem o homem na sua longa caminhada na direção da Luz.




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