Espiritismo –
Parte 7
por José Amigó y Pellicer
Reformador
(FEB) Agosto 1954
(Traduzido do livro
‘Nicodemo’, edição de 1879, do mesmo
autor)
Em
que motivos baseia o Espiritismo a necessidade de sua aparição no atual momento
histórico? Seus fundamentos religiosos, sua moral, suas crenças essenciais, não são de hoje; a adoração, a
revelação e a caridade foram em todos os tempos o meio de aperfeiçoamento e
progresso das gerações humanas. Desde o começo dos séculos Deus se revelou o na
onipotência de suas leis, na harmonia de suas obras, no esplendor de sua providência, e também desde o principio o homem
conquistou sua progressiva felicidade pela adoração e pelo amor. Sob esse ponto
de vista o Espiritismo é tão antigo quanto o homem, quanto a criação, eterno
como o Supremo Ser, que de toda a eternidade cria seres que o glorificam e
louvam. Hoje, porém, o Espiritismo se
apresenta com que uma irradiação mais luminosa do divino Sol da Verdade,
necessária aos futuros desenvolvimentos do espírito do homem, e só nesta nova
fase é que vamos considerá-lo e estudá-lo para exigir-lhe os rótulos que
legitimem seu advento em nossa época.
Colocada assim a questão no terreno conveniente,
a primeira coisa que temos a fazer é dirigir uma vista ao redor e examinar, com
imparcial juízo, se as velhas instituições satisfazem ou não às exigências
morais do nosso século, se o testamento religioso de nossos avós conserva toda
aquela virtude de que precisa para desvanecer as dúvidas e dirigir os
sentimentos, ou se é, pelo contrário, um legado ineficaz, mais no caso de
perturbar que de tranquilizar as consciências .
Ah! a árvore, a veneranda árvore de
nossas seculares tradições religiosas carece inteiramente daquela pujança, com
que em outro tempo resistia aos mais fortes embates do erro; sob ela o viajante
terreno não encontra nem a deliciosa
sombra, porque perdeu a louçania e a frondosidade de sua ramagem; nem nela saboroso fruto, porque deixou de circular por seus tecidos a selva fecunda de seus primeiros crescimentos. É uma árvore degenerada, enferma, carunchosa, cujos ramos vão secando um a um ao sopro da Ciência, sua inimiga natural.
sombra, porque perdeu a louçania e a frondosidade de sua ramagem; nem nela saboroso fruto, porque deixou de circular por seus tecidos a selva fecunda de seus primeiros crescimentos. É uma árvore degenerada, enferma, carunchosa, cujos ramos vão secando um a um ao sopro da Ciência, sua inimiga natural.
A Ciência é intransigente e
desapiedada; afasta tudo o que se apresenta em seu caminho, dificultando-lhe a
marcha, e destrói com vigoroso e irresistível impulso tudo o que o erro e a
ignorância tem edificado através das idades. Como a luz, afugenta as trevas,
onde quer que estabeleça seu império benéfico. Ao chamar a juízo as crenças
herdades, estas não puderam resistir ao exame, à critica filosófica da Ciência,
e desde então a tradição tem na Ciência a sua mais terrível inimiga.
E que sucede? O que não podia deixar
de suceder. O número dos discípulos da Ciência a aumenta diariamente, ao passo
que o número e o cego entusiasmo dos tradicionalistas decresce ostensivamente.
Dão-se formidáveis batalhas, e em cada uma a tradição perde algum de seus
baluartes, dos quaís por tantos séculos deu leis aos povos. Ao fanatismo sucede
a incredulidade; à fé, o ceticismo; ao sentimento religioso, o apego aos gozos
materiais.
O templo, segundo a expressão feliz
de um sacerdote,notabilíssimo escritor, arde por suas quatro faces e ameaça
desabar e sepultar o senso moral em suas
fumegantes ruínas. Erguem-se toda a parte vozes queixosas assinalando o perigo
próximo; mas os que poderiam e deveriam evitá-lo, fazendo à Ciência prudentes prudentes concessões, se apegam torpemente aos erros em
cimentaram seu poder e com os quais esperam ainda reconquistar a soberania do
mundo.
Não sabem compreender que o
entendimento humano já saiu da infância e busca nas verdades seu espiritual
alimento. Acusam de descrença a sociedade atual, sem aperceber-se de que a
acusação cai sobre eles, que são os verdadeiros
causadores dos males que lamentam. Porque,
quem, senão eles, formou o sentimento religioso e dirigiu as consciências? Não
foi o ultramontanismo, escola corruptora da primeira tradição cristã, quem
educou os povos desde os princípios
século décimo-primeiro até meados do décimo-nono? A quem culpará, com justiça. pelos perniciosos efeitos de uma educação exclusivamente sua?
século décimo-primeiro até meados do décimo-nono? A quem culpará, com justiça. pelos perniciosos efeitos de uma educação exclusivamente sua?
O mal, porém, existe; para negá-lo seria necessário cerrar os olhos à evidência. Haverá, porventura, um coração limpo que se não sinta mal no meio da atmosfera moral que se respira na Terra? Haverá um entendimento reto, que não veja o horizonte social prenhe de ameaçadoras tempestades? O utilitarismo, a hipocrisia e a mentira são a trindade olímpica do século, as deidades exaltadas no céu das aspirações humanas.
A ciência tirou o cetro do Universo ao Deus DOS ultramontanos; e o resultado imediato foi a negação de Deus e o triunfo dos que proclamavam a inutilidade do sentimento religioso.
Ainda são muitos os que aparentam crer, mas pouquíssimos os que creem realmente; as conveniências sociais influem não pouco na subsistência exteriormente de uma fé que os desenganos já arrancaram das almas. Ponha-se à
religiosidade de todos os que blasonam de sentimentos religiosos, e ver-se-á que maioria a venderia por um prato de lentilhas; seu sensualismo, sua desmesurada ambição, os ódios que alimentam, os meios de que lançam mão para se enriquecer,
a
facilidade com que se atiram à difamação, à calúnia, à perseguição e à vingança,
desmentem de modo terminante as crenças de que hipocritamente fazem alarde.
E isso que nós ligeiramente
apontamos, os bispos insinuam em suas pastorais. Os oradores sagrados deploram em seus sermões, e até
os os escritores ultramontanos, que tanto contribuíram para desmoralizar a
sociedade, discorrem
sobre o mesmo tema. em artigos longos nos periódicos e revistas de seita.
sobre o mesmo tema. em artigos longos nos periódicos e revistas de seita.
Ora bem; semelhante estado de coisas
não pode continuar sem gravíssimo perigo. O mal-estar que se sente, devido ao
relaxamento dos vínculos sociais, aumenta dia a dia, e é sintoma de imediata decomposição.
Mas, uma vez reconhecida a causa da enfermidade, sua cura não será difícil.
Devemos opor ao ateísmo a afirmação de Deus, e ao ceticismo crenças racionais,
harmonizando de uma vez para sempre os dogmas da fé com as legítimas conclusões
da Ciência. A Ciência não é ateia, mas não pode aceitar deuses caprichosamente
imaginados; não é cética, mas repele toda crença que não traga o cunho da
justiça e a sanção das leis naturais. Por isso ela rejeita o Deus arbitrário e
a fé cega da seita ultramontana.
Essas considerações justificam a
aparição do Espiritismo no atual momento histórico porque a filosofia espírita é a noção científica
de Deus e o dogma racional da fé. O ultramontanismo nos leva a todos os erros e
abominações da Idade Média; e o Espiritismo, aliando-se à Ciência, vem
reivindicar as verdades cristãs,
torpemente escurecidas, designando de passagem aos receios universais os manejos da procacidade ultramontana. Ai das nações, ai da Humanidade, se a seita saísse vencedora, no combate que sustenta contra o direito moderno, que é o direito da dignidade humana e da civilização dos povos! Pois o que ela pretende, é nada menos que o império da teocracia nos governos, a tirania das consciências, o senhorio despótico dos corpos e das almas. Sua concepção política ê a regra de São Benedito, de São Francisco, ou a constituição de Santo Inácio, como constituição dos povos; sua concepção social, cada nação constituindo um imenso cenóbio tendo à frente um reverendissimo padre; seu código penal, a inquisição e o in pace. Nada de liberdade, nada de igualdade, nada de caridade recíproca; em uma palavra, nada do que Jesus nos veio ensinar pela palavra e pelo exemplo.
torpemente escurecidas, designando de passagem aos receios universais os manejos da procacidade ultramontana. Ai das nações, ai da Humanidade, se a seita saísse vencedora, no combate que sustenta contra o direito moderno, que é o direito da dignidade humana e da civilização dos povos! Pois o que ela pretende, é nada menos que o império da teocracia nos governos, a tirania das consciências, o senhorio despótico dos corpos e das almas. Sua concepção política ê a regra de São Benedito, de São Francisco, ou a constituição de Santo Inácio, como constituição dos povos; sua concepção social, cada nação constituindo um imenso cenóbio tendo à frente um reverendissimo padre; seu código penal, a inquisição e o in pace. Nada de liberdade, nada de igualdade, nada de caridade recíproca; em uma palavra, nada do que Jesus nos veio ensinar pela palavra e pelo exemplo.
O Espiritismo, ao mesmo tempo que
reforça, com a sua filosofia religiosa, a Ciência em sua luta empenhada com o
dogma ultramontano, vem grupar os núcleos dispersos da sociedade cristã para
iniciar com eles a Igreja do porvir e o renascimento da fé. É essa a sua
missão, que ele saberá cumprir sem outros auxiliares que o racionalismo e a
liberdade, e essa é a razão do seu advento em nossa época.
Seus sacerdotes serão os homens
honestos de todas as escolas. que suspiram por uma era de paz, de mútua
benevolência, de moralidade nos costumes; seus santos, os benfeitores e
luminares da linhagem humana em todos os tempos e países; seu Deus, a
inteligência universal, onipotente e próvida, vida da vida, alma das almas,
princípio fundamental do Universo.
Jesus Cristo disse que as portas do
Inferno não prevalecerão contra a Igreja, e o Espiritismo é o cumprimento da
promessa do Cristo.
Ele fará reviver a fé que os
fariseus amorteceram com as suas hipocrisias e erros. Tirando o candeeiro de
sob o alqueire, o Espiritismo o expõe à vista de todos os entendimentos, a fim
de que os homens vejam com toda a clareza que o Deus de Jesus é o Deus da
filosofia, e sejam por convicção deístas e cristãos. Inoculando nas sociedades
a religião do amor, que é a seiva dos ensinos evangélicos, e o sentimento de
tolerância, sem o qual não há progresso nem regeneração possíveis, destruirá o
fanatismo tradicional, origem da decadência do sentimento religioso. Os ídolos caírão
de seus altos pedestais, e não haverá outro altar, além do que erigirão em seu
coração as criaturas ao Criador, nem se elevará outro incenso a não ser o da adoração íntima das almas.
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