domingo, 25 de dezembro de 2016

Espiritismo - Parte 1


Espiritismo – Parte 1
por José Amigó y Pellicer

Reformador (FEB)  Fevereiro 1954
(Traduzido do livro ‘Nicodemo’, edição de 1879, do mesmo autor)

Nota do Blog: O nome de Amigó y Pellicer é por nós bem conhecido pois aparece como autor da obra ‘Roma e o Evangelho’ publicada pela FEB. A edição que dispomos é a 7ª, dada à público em 1982. Desse livro, optamos por inserir abaixo o “Prefácio do Tradutor” e outro trecho que aparece logo após este, intitulado “Quatro palavras ao Leitor” que acreditamos suficiente para posicioná-los melhor em relação a Amigó y Pellicer. O artigo que trazemos para o blog: ‘Espiritismo’, nos era desconhecido até pouco tempo. É excelente. O nome do tradutor não nos é dado conhecer. Tem o jeito do Zêus Wantuil mas não nos é possível confirmar. “Roma e o Evangelho’, quase ao seu final, contém o discurso do bispo Strossmayer, uma crítica sobre a infalibilidade dos papas,  decretada num concílio em 1870. Imperdível como o texto que –logo abaixo -transladamos para o blog.

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Prefácio do Tradutor

            A obra que traduzimos não é desses trabalhos que falam mais à inteligência, pelas idéias brilhantes e pelo colorido com que são revestidas, do que ao coração, pelos sentimentos puros e elevados que provocam doçuras na alma de quem ama o bem e rende culto à verdade, que é Deus.
            “ Roma e o Evangelho” é inspirada em ambas aquelas fontes:  na do saber, que ilustra - e na dos sentimentos, que purificam.
            “ Roma e o Evangelho" fala à razão e ao coração - e fá-lo de um modo tão sentido e tão vibrante, que só um obcecado pelo espírito de sistema ou pelo fanatismo, poderá recusar a luz e a verdade que palpitam em cada uma destas sublimes páginas.
            Em Léria, alguns espíritos sequiosos de conhecerem se é sério ou ridículo - se é verdade ou falsidade - isto que sob o título de Espiritismo se espalha pelo mundo e cria raízes no seio da Humanidade, combinaram estudar e examinar por si mesmos os princípios essenciais que constituem os fundamentos e a bandeira da nova doutrina, cuja aparição foi devida a fatos extraordinários que se deram simultaneamente em múltiplos pontos do nosso planeta.
            Dizem que os associados eram padres ilustrados que, por não poderem conciliar a estreiteza da doutrina romana com a largura da obra traçada por Deus, sentiam que algo de humano precisava ser removido - e que o Espiritismo devia ser porventura o motor de tal depuração.
            É de simples intuição que, sacerdotes, pisando o solo sagrado, não o podiam fazer senão amiúde e com sobressaltos da consciência, e, assim, os seus trabalhos foram feitos com escrúpulos verdadeiramente meticulosos.
            Tais foram, porém, os resultados obtidos naquelas especiais condições, que não vacilaram em dar ao público o que colheram em confirmação dos princípios cardeais da doutrina espírita, hoje para eles de origem divina, como a revelação moisaica - como a messiânica.
            Com a assistência, bem experimentada, de altos Espíritos, lograram reconhecer as imperfeições do romanismo em relação às sublimidades contidas no Evangelho - e é daí que vem o título da obra que publicaram, por dever de consciência e para evitar que se despenhem na incredulidade os que não encontram na igreja romana satisfação racional aos ditames da sua consciência, iluminada pela razão, como devia ser, se Roma fosse para o Evangelho o que este é para as verdades eternas.
            Corrigindo e ampliando a doutrina romana pelos ensinos da nova Doutrina Espírita, como corrigiu e ampliou o divino Jesus as falsas práticas da lei moisaica, os associados de Lérida plantaram em seu seio, que denominaram "Circulo Cristiano-Espiritista", o estandarte da verdadeira escola cristã - e nesse círculo de trabalho santo receberam, a princípio, tímida, e depois, confiadamente, o ensino de altos Espíritos, que lhes foi a luz para discernirem os golpes que Roma tem desfechado no Evangelho, entendendo-o pela letra, ao passo que o Espiritismo o explica em espírito e verdade.
            A obra que traduzimos é escrita em estilo bem claro, ao alcance de todas as inteligências; o que não a priva de ser firmada em lógica rigorosa e em amena e agradável linguagem.
            As mais sérias e intricadas questões que têm trazido em constante lidar a inteligência dos séculos, são aí esclarecidas por comunicações espíritas de tal beleza, que encantam, e de tal rigor, que cativam a razão.
            "Roma e o Evangelho" é mn livro preciosíssimo, em si, pelos sublimes ensinos que dá - em sua origem, pelo exemplo que abre: de serem padres seus autores, rompendo com o fanatismo que proclama a absurda "fé passiva" - e tomando posse, em nome da suprema lei do livre-arbítrio, da "fé raciocinada", única que pode ser agradável à Onisciência, que não deu raciocínio ao espírito para lhe ser instrumento inútil no trabalho do seu aperfeiçoamento, que é toda a lei da sua evolução.
            O livro, aí o tem o leitor - e, por sua atenta leitura, decida se são exagerados ou malcabidos os conceitos deste prefácio a seu respeito.
                                                                                  Rio de Janeiro, 31 de março de 1899.

Quatro Palavras ao Leitor

            Quando, no intuito de estudarmos o Espiritismo, demos princípio, em maio passado, às nossas reuniões, bem longe estávamos de suspeitar que um dia havíamos de publicar o resultado dos nossos modestos trabalhos.
            Levávamos a suspeita de encontrar, na nova doutrina, pontos ridículos - flancos vulneráveis - e motivos mais que suficientes, não só para a votarmos ao desprezo, como para sepultá-la por atentatória das sábias leis da moral evangélica; caso em que estávamos, de antemão, resolvidos a dissolver as nossas reuniões, volvendo cada um de nós ao seu estado anterior.
            Força, porém, é confessar que redondamente falsa era aquela suposição e que infundada e ilegítima era ela.
            Em vez de teorias ilógicas - afirmações ridículas - crenças supersticiosas e absurdas - e moral suspeita, deparamos com uma filosofia robusta e acessível à razão, sancionada pelos fatos e solidamente firmada nos ensinamentos de Jesus Cristo.
            Movidos por uma força superior e irresistível, demos, em setembro, um caráter mais formal às reuniões, estabelecendo, em razão dos estudos feitos e das idéias aceitas, o Círculo Cristiano-Espiritista, já então decididos a darmos oportunamente, ao público, o fruto dos nossos trabalhos.
            Sem o impulso superior e sem a força de convicção e do dever que nos fizeram corajosos, não nos atreveríamos a publicar este livro.

            Frágeis e fracos para resistirmos ao sopro do Aquilão – sem abrigo, além da consciência satisfeita, para enfrentarmos com a tempestade, bem sabíamos que, da publicação deste livro, só colheríamos desgostos e amarguras. (*)
            Débeis pigmeus, arrojamo-nos a pôr os olhos num colosso de dezenove séculos, cujo simples estremecimento podia aniquilar-nos.
            Por que, então, não vacilamos - não trememos?
            Por que, como David, nos oferecemos às iras de Golias? Por que tão insólito valor, quando sabíamos que éramos irremissivelmente vítimas da força?
            Ah! uma voz mais poderosa que a de todos os colossos da Terra, soou clara aos nossos ouvidos - e nós seguimos os seus preceitos, tomados da loucura do dever a que estamos resolvidos sacrificar tudo.
            Como os primeiros cristãos, temos a fé precisa para desenrolar o divino estandarte dos ensinos de Jesus, embora tenhamos de sucumbir à sua gloriosa sombra.
            Não nos amaldiçoeis, sacerdotes do Cristo, que vos julgais depositários da verdade absoluta. Somos vossos irmãos - e, mesmo que recusásseis o vosso coração à caridade, tão recomendada pelo Enviado do Altíssimo, não deixaríamos de sê-lo,
            Nós vos amamos e bendizemos, porque devemos assim fazer - porque devemos amar e bendizer todas as criaturas emanadas do pensamento de Deus.
            Não nos amaldiçoareis, não? Dizeis-vos cristãos - e estamos certos de que procedereis como cristãos. Não ignorais que Jesus repreendeu severamente a Tiago e a João (**) quando pediram o fogo do céu para samaritanos que recusaram recebê-los em uma das suas cidades.

            (*) Poucos meses depois de publicada esta obra, o Ministro da Instrução Pública na Espanha, Marquês de Orovio, suspendia dos seus empregos de Diretor e segundo Professor da Escola Normal de Lérida, por causa das suas opiniões filosó!ico-religiosas, a D. Domingos de Miguel, presidente do “Círculo Cristiano-Espiritista””, e ao autor do “Roma e o Evangelho”.
                (**) S. Lucas, cap IX, vers. 54, 55 e 56

            E o que faríeis, se chegasse a vós outros a palavra de Jesus dizendo-vos: "fazei isto?"
            Faríeis o que o Mestre vos ordenasse; e, pois, deixai que o façamos nós.
            O fim do presente livro é justificar o nosso procedimento e combater os erros plantados pelos homens na religião cristã, demonstrando que o Evangelho, longe de opor-se à realização do progresso condenado pelos decretos de Roma, é a fonte e a grande alavanca do progresso infinito da Humanidade.
            É assim que, convencidos os homens de que o Cristianismo satisfaz a todas as necessidades e legítimas aspirações, abraçá-le-ão com entusiasmo e fé - e desaparecerão o indiferentismo e o culto da matéria.
            Como, porém, a existência dos erros supõe a de indivíduos ou classes que os aceitam e sustentam, é impossível combate-los sem ferir as suscetibilidades destes.
            A fim, portanto, de evitar falsas interpretações que não estão em nosso ânimo, declaramos formalmente que, nem antipatias, nem prevenções, nem má-vontade, e tampouco desejo de ofender ou prejudicar alguém, moveram, direta ou indiretamente, a nossa pena, pois ela é exclusivamente dirigida pelos impulsos da consciência.
            Quando censuramos, referindo-nos ao clero ou às autoridades da Igreja, deve isso ser entendido como dirigido aos erros e abusos, nunca porém aos indivíduos ou classes; pois que, se nos julgamos autorizados a censurar mistificações, direitos não presumimos ter de condenar os que porventura vêem o bom uso no abuso - e a verdade no erro.
            E como poderíamos condenar, se o princípio capital da nossa doutrina é a caridade e o perdão?
            Tudo tem sua razão de ser - e tudo contribui e coopera para o cumprimento da lei que preside à criação.
            Moisés não podia deixar de preceder a Jesus, porque o povo hebreu, então grosseiro, material e prevaricador, não estava em condições de receber o Evangelho.
            Tampouco Jesus não ensinou tudo o que sabia, porque a geração do seu tempo não suportaria o peso de todas as verdades. (*)
            Por isto, ele serviu-se de alegorias e de parábolas que, se no momento se prestavam a errôneas interpretações, mais tarde deveriam ser entendidas em seu verdadeiro sentido.
            Quem, entretanto, poderá com razão acusar Moisés, pela dureza das suas leis, e Jesus, por haver falado ou dito em linguagem obscura o que não convinha revelar?
            A inspiração e a palavra de Deus são sucessivas, e a Humanidade vai recolhendo-as à medida das suas necessidades.
            Por conseguinte, não podemos culpar a Igreja Romana por erros que não são seus, mas sim da miséria dos tempos e da ignorância das gerações que se têm sucedido após a morte de Jesus.
            Julgamos ter manifestado com bastante clareza os nossos pensamentos: tudo pela idéia - nada contra as pessoas.
            Se, depois do exposto, alguém se julgar ferido por qualquer frase nossa, sentiremos; mas a culpa não é nossa.
             As pessoas, repetimos, merecem-nos indistintamente o mais cordial respeito; os erros, eis o que nos propomos combater.
Lérida, abril de 1874.
O Círculo Cristiano-Espiritista.

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            Para aplaudir ou condenar com justiça uma doutrina religiosa ou uma teoria filosófica, é necessário conhecê-la, e, para conhecê-la, estudá-la com severa imparcialidade, sacrificando todo espírito de seita e todo orgulho de escola na investigação da verdade que se busca.

            Sucede com frequência o contrário, isto é, aplaude-se ou condena-se a priori, sem prévio conhecimento, porque os juízos humanos são, as mais das vezes, filhos da paixão ou do interesse; mas neste caso não é a verdade o que se busca, e sim a ruim satisfação de algum apetite ignóbil: não é o estimulo do saber o que nos move, mas da nossa conveniência pessoal.

            Homens, não nos devíamos esquecer de que as mais preclaras conquistas do engenho e da consciência, científicas e religiosas, foram em sua aparição qualificadas de utopias, aberrações e heresias, assim, pelas pessoas ilustradas, que pelo vulgo receoso e ignorante; isto, porém, não impediu que, correndo os tempos, fossem aquelas heresias aceitas como dogmas , as aberrações como verdades transcendentais e as utopias como grandes progressos consumados.  Tivessem presente esse pensamento, e os homens seriam mais sóbrios em fulminar anátemas contra ideias e doutrinas que não se deram ao trabalho de estudar.

            As apoteoses póstumas com que a Humanidade honrou a memória de muitos inovadores, desprezados e perseguidos em seu tempo, deviam fazer-nos precavidos em nossos juízos, não esquecendo que toda inovação, antes de ser do domínio geral, foi patrimônio de um só.

            O senso comum  é tão caprichoso e vário que não devemos de forma alguma considerá-lo como critério da verdade, como ponto de partida em nossas investigações filosóficas. É, antes que o resultado das convicções gerais, a manifestação das inclinações mentais de cada século, filhas das circunstâncias e acomodadas à educação e ao grau relativo de cultura. Sempre a investigação científica, em seus princípios, teve no senso comum um detrator e um inimigo encarniçado. E esse fato que, visto superficialmente, parece inexplicável, é lógico e natural; porque o senso comum nasce do senso individual e se forma com a lentidão dos séculos. Toda ideia, toda doutrina nova, por mais útil e regeneradora que seja, vem abalar interesses profundamente arraigados e destruir outras ideias, outras doutrinas, intimamente relacionadas com aqueles interesses. Disto resulta que, quanto mais radical seja a transformação que a nova idéia entranha, mais tenazes são as resistências que se opõem a seu triunfo. Quão fáceis seriam os progressos da civilização, se os homens soubessem sacrificar seu interesse particular em benefício da felicidade comum. Desgraçadamente sucede o contrário: O egoísmo é o rei dos corações, e sempre antepomos ao bem comum a conveniência individual.

            Porque Sócrates, o fundador, por assim dizê-la, da filosofia moral, foi condenado a beber a cicuta? Porque Jesus, o fundador da religião do espírito, sofreu quatro séculos depois a morte em ignominioso madeiro? Porque Galileu, que traçou às ciências astronômicas um caminho novo e mais seguro, teve de retratar-se perante o Tribunal da Fé, de verdades que mais adiante tinham de ser aceitas pelo mundo Inteiro? A razão é clara; os sofistas gregos, os sacerdotes judeus, os inquisidores romanos compreenderam que a nova doutrina atentava contra a sua preponderância c contra os seus interesses, e se propuseram a afogá-la do nascedouro, abafando a voz de seus apóstolos.

            E o senso comum não se rebelou contra tamanha iniquidade porque, criado no erro ou no fanatismo religioso, condenava sem escrúpulo os atrevidos inovadores.

            Será fácil ao leitor conhecer que não sâo destacadas essas considerações preliminares, Contudo, apesar do muito que a Humanidade tem progredido, ainda se condena sem ouvir e se julga sem conhecimento de causa. O orgulho científico, a ignorância e o interesse exercem ainda poderosíssima influência nos países dos homens e arrastam o senso comum na tortuosa corrente do erro.

            Quem já não tem ouvido condenar o Espiritismo? Quem deixou de julgar-se mestre para decidir ex-cathedra que o Espiritismo é uma aberração, uma enfermidade do entendimento, uma grande velhacaria? Por isso, por termos de falar do Espiritismo, julgamos oportuno chamar a atenção para as contradições em que o senso comum costuma cair, quando se trata de uma ideia nova que venha pôr na tela do julgamento a legitimidade de certos direitos, baseados na inolvidável aceitação de outras ideias que a Humanidade não pensara em discutir. Os homens, em geral, são intolerantes em matéria religiosa; uns por fanatismo, outros por conveniência, muitos por ignorância e um número não escasso por sistemática oposição a tudo aquilo que tenda a emancipar do domínio da matéria corpórea as funções racionais.

            Todas essas intolerâncias, além do orgulho científico, que é a intolerância desdenhosa daquele que se presume achar colocado no mais alto da cúpula da árvore das ciências; todas essas intolerâncias se deram as mãos para afogar em seu nascedouro o Cristianismo Espírita.

            Nem lhe perguntaram de onde vinha, nem para onde ia. Para quê? Pois que estavam resolvidos a condená-lo e não a discuti-lo.

            O fanatismo, a ignorância e o interesse jamais perguntaram pelos títulos que possam legitimar qualquer conquista do entendimento humano; a oposição sistemática, sem se dar ao trabalho de examinar esses títulos, declara-os falsos; o orgulho científico os exige, mas, postos a sua vista, volve as costas com desdém, envolvendo-se no manto de suas vaidosas pretensões.

            Os impugnadores a priori do Espiritismo podemos classificá-los de espiritualistas, materialistas e céticos. Siga-mo-los em seus juízos e veremos que, se souberam dar-se as mãos para fazer-lhe encarniçada guerra, não se combinam no modo de julgá-lo. De que provém essa discordância de opiniões a respeito de uma doutrina que tem princípios fixos e se apóia em fatos tangíveis submetidos à observação de todo o mundo?

            Entre os espiritualistas, uns opinam que o Espiritismo foi engendrado nas lojas maçônicas em ódio à Igreja que se intitula católica e ao clero. Outros, que é uma espécie de protestantismo envergonhado, auxiliar das igrejas dissidentes na obra de combater a instituição papal. Aqueles decidem, como mestres, que os espiritistas são ateus, assim como os ateus, são materialistas disfarçados para mais facilmente seduzir os incautos. Estes dizem que o Espiritismo não é mais que a continuação da revelação diabólica, um plano infernal tramado nos conselhos do príncipe das trevas para a condenação das almas.

            Não se deve esquecer que os que atribuem ao diabo os fatos e doutrinas do Espiritismo, são, precisamente, os que devem ao diabo seu engrandecimento pessoal e Seu domínio na Terra. Quanta ingratidão!

            E enquanto esses senhores andam às voltas com a majestade satânica, com o protestantismo e com as lojas, os materialistas asseguram mui formalmente que o Espiritismo é uma alucinação ou uma loucura, e os céticos, um audaz embuste.

            A darmos crédito nos materialistas há atualmente milhões de pessoas cujos sentidos e inteligência, excitados por uma causa desconhecida, julgam ver o que não existe, sendo de temer que o mundo em breve se transforme num imenso manicômio.

            Se a razão, porém, está do lado dos céticos quem não temerá pelo porvir das sociedades, considerando que perniciosos efeitos, quantas perturbações nos ânimos hão de produzir a má fé, a prestidigitação, a escamoteação empregadas e exercidas por uma multidão de pessoas, entre as quais muitas de costumes inatacáveis e de firmada reputação científica?

            Essas contradições em que incorrem uns e outros, essa discordância de opiniões quanto aos fins a que obedece o Cristianismo Espírita fazem logo suspeitar que seus detratores ou não estudaram ou têm o propósito deliberado de iludir a atenção do público. A injustiça com que o tratam, faz presumir antes a segunda hipótese. Fábulas ridículas, contos inverossímeis, imputações caluniosas, nada se poupa para desprestigiá-lo no conceito das pessoas honestas. Os escribas e os fariseus, que com as doutrinas do Espiritismo vêem a sua influência temporal e o seu comércio em perigo, sublevam as turbas contra os apóstolos da nova ideia e para eles pedem a César, se não cruzes, mordaças.

            Os saduceus, pressentindo que o sensualismo há de receber um golpe mortal, diante das racionais crenças espíritas, unem-se aos fariseus para combater o inimigo comum. Todos tomam conselhos do seu egoísmo, do positivismo utilitário, e pouco lhes importam a verdade e o interesse geral, quando se trata de suas conveniências particulares.

            Que é o Espiritismo? Quais os seus princípios como filosofia? Quais as crenças religiosas que se derivam desses princípios? Está a sua moral em contradição com a moral evangélica? Incita as preocupações e o fanatismo ou os destrói? Qual é a razão de ser do Espiritismo no atual momento histórico? Quais os seus fins, qual o belo ideal de suas aspirações? Eis uma série de temas cuja importância não precisa encarecida, e cujo estudo submeteremos à ilustração do leitor.

            Persuadidos de que o Cristianismo Espírita só precisa conhecido para ser sinceramente abraçado, não pedimos para ele graça, mas justiça. Ouçam-no antes de julgá-lo, e julguem-no depois Imparcialmente.


            A História será severa com todos aqueles que, obedecendo a móveis bastardos, retardaram um só instante o triunfo de uma ideia salvadora. 

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