Espiritismo –
Parte 1
por José Amigó y Pellicer
Reformador
(FEB) Fevereiro 1954
(Traduzido do livro
‘Nicodemo’, edição de 1879, do mesmo
autor)
Nota do Blog: O nome de
Amigó y Pellicer é por nós bem conhecido pois aparece como autor da obra ‘Roma
e o Evangelho’ publicada pela FEB. A edição que dispomos é a 7ª, dada à público
em 1982. Desse livro, optamos por inserir abaixo o “Prefácio do Tradutor” e
outro trecho que aparece logo após este, intitulado “Quatro palavras ao Leitor”
que acreditamos suficiente para posicioná-los melhor em relação a Amigó y
Pellicer. O artigo que trazemos para o blog: ‘Espiritismo’, nos era desconhecido até pouco tempo. É excelente. O
nome do tradutor não nos é dado conhecer. Tem o jeito do Zêus Wantuil mas não
nos é possível confirmar. “Roma e o Evangelho’, quase ao seu final, contém o
discurso do bispo Strossmayer, uma crítica sobre a infalibilidade dos papas, decretada num concílio em 1870. Imperdível
como o texto que –logo abaixo -transladamos para o blog.
...........................
Prefácio do
Tradutor
A obra que traduzimos não é desses
trabalhos que falam mais à inteligência, pelas idéias brilhantes e pelo colorido com que são revestidas, do que ao coração, pelos sentimentos puros e
elevados que provocam doçuras na alma de quem ama o bem e rende culto à verdade, que é Deus.
“ Roma e o Evangelho” é inspirada em
ambas aquelas fontes: na do saber, que
ilustra - e na dos sentimentos, que purificam.
“ Roma e o Evangelho" fala à
razão e ao coração - e fá-lo de um modo tão sentido e tão vibrante, que só um
obcecado pelo espírito de sistema ou pelo fanatismo, poderá recusar a luz e a
verdade que palpitam em cada uma destas sublimes páginas.
Em Léria, alguns espíritos sequiosos
de conhecerem se é sério ou ridículo - se é verdade ou falsidade - isto que sob
o título de Espiritismo se espalha pelo mundo e cria raízes no seio da
Humanidade, combinaram estudar e examinar por si mesmos os princípios
essenciais que constituem os fundamentos e a bandeira da nova doutrina, cuja aparição
foi devida a fatos extraordinários que se deram simultaneamente em múltiplos
pontos do nosso planeta.
Dizem que os associados eram padres
ilustrados que, por não poderem conciliar a estreiteza da doutrina romana com a
largura da obra traçada por Deus, sentiam que algo de humano precisava ser
removido - e que o Espiritismo devia ser porventura o motor de tal depuração.
É de simples intuição que,
sacerdotes, pisando o solo sagrado, não o podiam fazer senão amiúde e com
sobressaltos da consciência, e, assim, os seus trabalhos foram feitos com
escrúpulos verdadeiramente meticulosos.
Tais foram, porém, os resultados
obtidos naquelas especiais condições, que não vacilaram em dar ao público o que
colheram em confirmação dos princípios cardeais da doutrina espírita, hoje para
eles de origem divina, como a revelação moisaica - como a messiânica.
Com a assistência, bem
experimentada, de altos Espíritos, lograram reconhecer as imperfeições do
romanismo em relação às sublimidades contidas no Evangelho - e é daí que vem o
título da obra que publicaram, por dever de consciência e para evitar que se
despenhem na incredulidade os que não encontram na igreja romana satisfação
racional aos ditames da sua consciência, iluminada pela razão, como devia ser,
se Roma fosse para o Evangelho o que este é para as verdades eternas.
Corrigindo e ampliando a doutrina
romana pelos ensinos da nova Doutrina Espírita, como corrigiu e ampliou o
divino Jesus as falsas práticas da lei moisaica, os associados de Lérida
plantaram em seu seio, que denominaram "Circulo
Cristiano-Espiritista", o estandarte da verdadeira escola cristã - e nesse
círculo de trabalho santo receberam, a princípio, tímida, e depois,
confiadamente, o ensino de altos Espíritos, que lhes foi a luz para discernirem
os golpes que Roma tem desfechado no Evangelho, entendendo-o pela letra, ao
passo que o Espiritismo o explica em espírito e verdade.
A obra que traduzimos é escrita em
estilo bem claro, ao alcance de todas as inteligências; o que não a priva de
ser firmada em lógica rigorosa e em amena e agradável linguagem.
As mais sérias e intricadas questões
que têm trazido em constante lidar a inteligência dos séculos, são aí
esclarecidas por comunicações espíritas de tal beleza, que encantam, e de tal
rigor, que cativam a razão.
"Roma e o Evangelho" é mn
livro preciosíssimo, em si, pelos sublimes ensinos que dá - em sua origem, pelo
exemplo que abre: de serem padres seus autores, rompendo com o fanatismo que
proclama a absurda "fé passiva" - e tomando posse, em nome da suprema
lei do livre-arbítrio, da "fé raciocinada", única que pode ser
agradável à Onisciência, que não deu raciocínio ao espírito para lhe ser
instrumento inútil no trabalho do seu aperfeiçoamento, que é toda a lei da sua
evolução.
O livro, aí o tem o leitor - e, por
sua atenta leitura, decida se são exagerados ou malcabidos os conceitos deste
prefácio a seu respeito.
Rio
de Janeiro, 31 de março de 1899.
Quatro
Palavras ao Leitor
Quando, no intuito de estudarmos o
Espiritismo, demos princípio, em maio passado, às nossas reuniões, bem longe
estávamos de suspeitar que um dia havíamos de publicar o resultado dos nossos
modestos trabalhos.
Levávamos a suspeita de encontrar,
na nova doutrina, pontos ridículos - flancos vulneráveis - e motivos mais que
suficientes, não só para a votarmos ao desprezo, como para sepultá-la por
atentatória das sábias leis da moral evangélica; caso em que estávamos, de
antemão, resolvidos a dissolver as nossas reuniões, volvendo cada um de nós ao
seu estado anterior.
Força, porém, é confessar que
redondamente falsa era aquela suposição e que infundada e ilegítima era ela.
Em vez de teorias ilógicas -
afirmações ridículas - crenças supersticiosas e absurdas - e moral suspeita,
deparamos com uma filosofia robusta e acessível à razão, sancionada pelos fatos
e solidamente firmada nos ensinamentos de Jesus Cristo.
Movidos por uma força superior e
irresistível, demos, em setembro, um caráter mais formal às reuniões,
estabelecendo, em razão dos estudos feitos e das idéias aceitas, o Círculo
Cristiano-Espiritista, já então decididos a darmos oportunamente, ao público, o
fruto dos nossos trabalhos.
Sem o impulso superior e sem a força
de convicção e do dever que nos fizeram corajosos, não nos atreveríamos a publicar
este livro.
Frágeis e fracos para resistirmos ao
sopro do Aquilão – sem abrigo, além da consciência satisfeita, para
enfrentarmos com a tempestade, bem sabíamos que, da publicação deste livro, só
colheríamos desgostos e amarguras. (*)
Débeis pigmeus, arrojamo-nos a pôr
os olhos num colosso de dezenove séculos, cujo simples estremecimento podia
aniquilar-nos.
Por que, então, não vacilamos - não
trememos?
Por que, como David, nos oferecemos
às iras de Golias? Por que tão insólito valor, quando sabíamos que éramos
irremissivelmente vítimas da força?
Ah! uma voz mais poderosa que a de
todos os colossos da Terra, soou clara aos nossos ouvidos - e nós seguimos os
seus preceitos, tomados da loucura do dever a que estamos resolvidos sacrificar
tudo.
Como os primeiros cristãos, temos a
fé precisa para desenrolar o divino estandarte dos ensinos de Jesus, embora
tenhamos de sucumbir à sua gloriosa sombra.
Não nos amaldiçoeis, sacerdotes do
Cristo, que vos julgais depositários da verdade absoluta. Somos vossos irmãos -
e, mesmo que recusásseis o vosso coração à caridade, tão recomendada pelo
Enviado do Altíssimo, não deixaríamos de sê-lo,
Nós vos amamos e bendizemos, porque
devemos assim fazer - porque devemos amar e bendizer todas as criaturas emanadas
do pensamento de Deus.
Não nos amaldiçoareis, não?
Dizeis-vos cristãos - e estamos certos de que procedereis como cristãos. Não
ignorais que Jesus repreendeu severamente a Tiago e a João (**) quando pediram
o fogo do céu para samaritanos que recusaram recebê-los em uma das suas
cidades.
(*) Poucos meses depois de publicada
esta obra, o Ministro da Instrução Pública na Espanha, Marquês de Orovio,
suspendia dos seus empregos de Diretor e segundo Professor da Escola Normal de
Lérida, por causa das suas opiniões filosó!ico-religiosas, a D. Domingos de
Miguel, presidente do “Círculo Cristiano-Espiritista””, e ao autor do “Roma e o
Evangelho”.
(**) S. Lucas, cap IX, vers. 54,
55 e 56
E o que faríeis, se chegasse a vós
outros a palavra de Jesus dizendo-vos: "fazei isto?"
Faríeis o que o Mestre vos
ordenasse; e, pois, deixai que o façamos nós.
O fim do presente livro é justificar
o nosso procedimento e combater os erros plantados pelos homens na religião
cristã, demonstrando que o Evangelho, longe de opor-se à realização do
progresso condenado pelos decretos de Roma, é a fonte e a grande alavanca do
progresso infinito da Humanidade.
É assim que, convencidos os homens
de que o Cristianismo satisfaz a todas as necessidades e legítimas aspirações,
abraçá-le-ão com entusiasmo e fé - e desaparecerão o indiferentismo e o culto
da matéria.
Como, porém, a existência dos erros
supõe a de indivíduos ou classes que os aceitam e sustentam, é impossível
combate-los sem ferir as suscetibilidades destes.
A fim, portanto, de evitar falsas
interpretações que não estão em nosso ânimo, declaramos formalmente que, nem
antipatias, nem prevenções, nem má-vontade, e tampouco desejo de ofender ou
prejudicar alguém, moveram, direta ou indiretamente, a nossa pena, pois ela é exclusivamente
dirigida pelos impulsos da consciência.
Quando censuramos, referindo-nos ao
clero ou às autoridades da Igreja, deve isso ser entendido como dirigido aos
erros e abusos, nunca porém aos indivíduos ou classes; pois que, se nos
julgamos autorizados a censurar mistificações, direitos não presumimos ter de
condenar os que porventura vêem o bom uso no abuso - e a verdade no erro.
E como poderíamos condenar, se o
princípio capital da nossa doutrina é a caridade e o perdão?
Tudo tem sua razão de ser - e tudo
contribui e coopera para o cumprimento da lei que preside à criação.
Moisés não podia deixar de preceder
a Jesus, porque o povo hebreu, então grosseiro, material e prevaricador, não
estava em condições de receber o Evangelho.
Tampouco Jesus não ensinou tudo o
que sabia, porque a geração do seu tempo não suportaria o peso de todas as
verdades. (*)
Por isto, ele serviu-se de alegorias
e de parábolas que, se no momento se prestavam a errôneas interpretações, mais
tarde deveriam ser entendidas em seu verdadeiro sentido.
Quem, entretanto, poderá com razão
acusar Moisés, pela dureza das suas leis, e Jesus, por haver falado ou dito em
linguagem obscura o que não convinha revelar?
A inspiração e a palavra de Deus são
sucessivas, e a Humanidade vai recolhendo-as à medida das suas necessidades.
Por conseguinte, não podemos culpar
a Igreja Romana por erros que não são seus, mas sim da miséria dos tempos e da
ignorância das gerações que se têm sucedido após a morte de Jesus.
Julgamos ter manifestado com
bastante clareza os nossos pensamentos: tudo pela idéia - nada contra as
pessoas.
Se, depois do exposto, alguém se
julgar ferido por qualquer frase nossa, sentiremos; mas a culpa não é nossa.
As pessoas, repetimos, merecem-nos indistintamente
o mais cordial respeito; os erros, eis o que nos propomos combater.
Lérida,
abril de 1874.
O
Círculo Cristiano-Espiritista.
.................
Para aplaudir ou condenar com
justiça uma doutrina religiosa ou uma teoria filosófica, é necessário conhecê-la,
e, para conhecê-la, estudá-la com severa imparcialidade, sacrificando todo
espírito de seita e todo orgulho de escola na investigação da verdade que se
busca.
Sucede com frequência o contrário,
isto é, aplaude-se ou condena-se a priori, sem prévio conhecimento, porque os
juízos humanos são, as mais das vezes, filhos da paixão ou do interesse; mas
neste caso não é a verdade o que se busca, e sim a ruim satisfação de algum
apetite ignóbil: não é o estimulo do saber o que nos move, mas da nossa conveniência
pessoal.
Homens, não nos devíamos esquecer de
que as mais preclaras conquistas do engenho e da consciência, científicas e
religiosas, foram em sua aparição qualificadas de utopias, aberrações e
heresias, assim, pelas pessoas ilustradas, que pelo vulgo receoso e ignorante;
isto, porém, não impediu que, correndo os tempos, fossem aquelas heresias
aceitas como dogmas , as aberrações como verdades transcendentais e as utopias
como grandes progressos consumados. Tivessem presente esse pensamento, e os homens
seriam mais sóbrios em fulminar anátemas contra ideias e doutrinas que não se
deram ao trabalho de estudar.
As apoteoses póstumas com que a
Humanidade honrou a memória de muitos inovadores, desprezados e perseguidos em
seu tempo, deviam fazer-nos precavidos em nossos juízos, não esquecendo que
toda inovação, antes de ser do domínio geral, foi patrimônio de um só.
O senso comum é tão caprichoso
e vário que não devemos de forma alguma considerá-lo como critério da verdade,
como ponto de partida em nossas investigações filosóficas. É, antes que o
resultado das convicções gerais, a manifestação das inclinações mentais de cada
século, filhas das circunstâncias e acomodadas à educação e ao grau relativo de
cultura. Sempre a investigação científica, em seus princípios, teve no senso
comum um detrator e um inimigo encarniçado. E esse fato que, visto superficialmente,
parece inexplicável, é lógico e natural; porque o senso comum nasce do senso
individual e se forma com a lentidão dos séculos. Toda ideia, toda doutrina
nova, por mais útil e regeneradora que seja, vem abalar interesses
profundamente arraigados e destruir outras ideias, outras doutrinas,
intimamente relacionadas com aqueles interesses. Disto resulta que, quanto mais
radical seja a transformação que a nova idéia entranha, mais tenazes são as
resistências que se opõem a seu triunfo. Quão fáceis seriam os progressos da
civilização, se os homens soubessem sacrificar seu interesse particular em
benefício da felicidade comum. Desgraçadamente sucede o contrário: O egoísmo é
o rei dos corações, e sempre antepomos ao bem comum a conveniência individual.
Porque Sócrates, o fundador, por
assim dizê-la, da filosofia moral, foi condenado a beber a cicuta? Porque
Jesus, o fundador da religião do espírito, sofreu quatro séculos depois a morte
em ignominioso madeiro? Porque Galileu, que traçou às ciências astronômicas um
caminho novo e mais seguro, teve de retratar-se perante o Tribunal da Fé, de
verdades que mais adiante tinham de ser aceitas pelo mundo Inteiro? A razão é
clara; os sofistas gregos, os sacerdotes judeus, os inquisidores romanos
compreenderam que a nova doutrina atentava contra a sua preponderância c contra
os seus interesses, e se propuseram a afogá-la do nascedouro, abafando a voz de
seus apóstolos.
E o senso comum não se rebelou contra tamanha iniquidade porque, criado
no erro ou no fanatismo religioso, condenava sem escrúpulo os atrevidos
inovadores.
Será fácil ao leitor conhecer que
não sâo destacadas essas considerações preliminares, Contudo, apesar do muito
que a Humanidade tem progredido, ainda se condena sem ouvir e se julga sem
conhecimento de causa. O orgulho científico, a ignorância e o interesse exercem
ainda poderosíssima influência nos países dos homens e arrastam o senso comum
na tortuosa corrente do erro.
Quem já não tem ouvido condenar o
Espiritismo? Quem deixou de julgar-se mestre para decidir ex-cathedra que o Espiritismo é uma aberração, uma enfermidade do
entendimento, uma grande velhacaria? Por isso, por termos de falar do
Espiritismo, julgamos oportuno chamar a atenção para as contradições em que o
senso comum costuma cair, quando se trata de uma ideia nova que venha pôr na
tela do julgamento a legitimidade de certos direitos, baseados na inolvidável
aceitação de outras ideias que a Humanidade não pensara em discutir. Os homens,
em geral, são intolerantes em matéria religiosa; uns por fanatismo, outros por
conveniência, muitos por ignorância e um número não escasso por sistemática
oposição a tudo aquilo que tenda a emancipar do domínio da matéria corpórea as
funções racionais.
Todas essas intolerâncias, além do
orgulho científico, que é a intolerância desdenhosa daquele que se presume
achar colocado no mais alto da cúpula da árvore das ciências; todas essas
intolerâncias se deram as mãos para afogar em seu nascedouro o Cristianismo
Espírita.
Nem lhe perguntaram de onde vinha,
nem para onde ia. Para quê? Pois que estavam resolvidos a condená-lo e não a discuti-lo.
O fanatismo, a ignorância e o interesse
jamais perguntaram pelos títulos que possam legitimar qualquer conquista do
entendimento humano; a oposição sistemática, sem se dar ao trabalho de examinar
esses títulos, declara-os falsos; o orgulho científico os exige, mas, postos a
sua vista, volve as costas com desdém, envolvendo-se no manto de suas vaidosas
pretensões.
Os impugnadores a priori do
Espiritismo podemos classificá-los de espiritualistas, materialistas e céticos.
Siga-mo-los em seus juízos e veremos que, se souberam dar-se as mãos para
fazer-lhe encarniçada guerra, não se combinam no modo de julgá-lo. De que
provém essa discordância de opiniões a respeito de uma doutrina que tem princípios
fixos e se apóia em fatos tangíveis submetidos à observação de todo o mundo?
Entre os espiritualistas, uns opinam
que o Espiritismo foi engendrado nas lojas maçônicas em ódio à Igreja que se intitula
católica e ao clero. Outros, que é uma espécie de protestantismo envergonhado,
auxiliar das igrejas dissidentes na obra de combater a instituição papal. Aqueles
decidem, como mestres, que os espiritistas são ateus, assim como os ateus, são materialistas
disfarçados para mais facilmente seduzir os incautos. Estes dizem que o
Espiritismo não é mais que a continuação da revelação diabólica, um plano infernal
tramado nos conselhos do príncipe das trevas para a condenação das almas.
Não se deve esquecer que os que
atribuem ao diabo os fatos e doutrinas do Espiritismo, são, precisamente, os
que devem ao diabo seu engrandecimento pessoal e Seu domínio na Terra. Quanta
ingratidão!
E enquanto esses senhores andam às
voltas com a majestade satânica, com o protestantismo e com as lojas, os
materialistas asseguram mui formalmente que o Espiritismo é uma alucinação ou
uma loucura, e os céticos, um audaz embuste.
A darmos crédito nos materialistas
há atualmente milhões de pessoas cujos sentidos e inteligência, excitados por
uma causa desconhecida, julgam ver o que não existe, sendo de temer que o mundo
em breve se transforme num imenso manicômio.
Se a razão, porém, está do lado dos céticos
quem não temerá pelo porvir das sociedades, considerando que perniciosos
efeitos, quantas perturbações nos ânimos hão de produzir a má fé, a prestidigitação,
a escamoteação empregadas e exercidas por uma multidão de pessoas, entre as quais
muitas de costumes inatacáveis e de firmada reputação científica?
Essas contradições em que incorrem
uns e outros, essa discordância de opiniões quanto aos fins a que obedece o
Cristianismo Espírita fazem logo suspeitar que seus detratores ou não estudaram
ou têm o propósito deliberado de iludir a atenção do público. A injustiça com
que o tratam, faz presumir antes a segunda hipótese. Fábulas ridículas, contos inverossímeis,
imputações caluniosas, nada se poupa para desprestigiá-lo no conceito das
pessoas honestas. Os escribas e os fariseus, que com as doutrinas do
Espiritismo vêem a sua influência temporal e o seu comércio em perigo, sublevam
as turbas contra os apóstolos da nova ideia e para eles pedem a César, se não
cruzes, mordaças.
Os saduceus, pressentindo que o sensualismo
há de receber um golpe mortal, diante das racionais crenças espíritas, unem-se
aos fariseus para combater o inimigo comum. Todos tomam conselhos do seu
egoísmo, do positivismo utilitário, e pouco lhes importam a verdade e o
interesse geral, quando se trata de suas conveniências particulares.
Que é o Espiritismo? Quais os seus
princípios como filosofia? Quais as crenças religiosas que se derivam desses
princípios? Está a sua moral em contradição com a moral evangélica? Incita as
preocupações e o fanatismo ou os destrói? Qual é a razão de ser do Espiritismo
no atual momento histórico? Quais os seus fins, qual o belo ideal de suas
aspirações? Eis uma série de temas cuja importância não precisa encarecida, e
cujo estudo submeteremos à ilustração do leitor.
Persuadidos de que o Cristianismo
Espírita só precisa conhecido para ser sinceramente abraçado, não pedimos para
ele graça, mas justiça. Ouçam-no antes de julgá-lo, e julguem-no depois
Imparcialmente.
A História será severa com todos
aqueles que, obedecendo a móveis bastardos, retardaram um só instante o triunfo
de uma ideia salvadora.
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