Sintonia e Adensamento
por Felipe Salomão
Brasil-Espírita
/ Reformador (FEB) Janeiro 197 ?
Às
vezes, somos defrontados pela pergunta: por que estamos encarnados? Em
resposta, quase sempre apresentamos argumentação baseada na Lei de Causa e
Efeito, isto é, de que aqui estamos para ressarcir débitos de outras
existências. Parece que a Questão estaria completamente resolvida. O ontem
determinando o nosso hoje, o nosso hoje
balizando o nosso amanhã; de tal sorte que somos
os herdeiros de nós mesmos, de nossos atos e ações, que assumem, por isso,
grande importância, não podendo ninguém agir a esmo, nem olvidar as consequências.
Já dizia Jesus Cristo: "Quem com ferro fere, com ferro será ferido", isto é, quem se
desequilibra perante a Lei necessariamente sofrerá o reflexo da Lei em si mesmo,
até que se reequilibre.
Dissemos,
contudo, que o argumento parece resolver completamente a questão. Mas não
resolve. Alguém poderia aludir ao nosso anteontem e, depois, recuaria mais no
passado, até remontar, afinal, à nossa primeira encarnação no planeta, E,
então, permaneceria a indagação: por que reencarnamos?
Logo
nos virá à mente que a Terra não é apenas um mundo de expiações e provas; é,
podemos afirmar, um educandário onde nos candidatamos a novas etapas da
evolução. E lembraríamos que as nossas encarnações primeiras podem não ter
ocorrido aqui neste mundo e, sim, em mundos de categoria ainda inferior, os
mundos primitivos, onde a alma (Espírito encarnado) ensaia os primeiros
passos para a angelitude.
Mas
o problema continuaria sem solução (aparentemente), já que não sabemos o exato
momento em que a alma está sob a Lei de Causa e Efeito, não valendo portanto o
argumento de que somos julgados à medida que adquirimos conhecimento. Ora, se
somos criados simples e ignorantes e vamos adquirindo livre arbítrio ao tempo
em que se nos amplia a capacidade mental, quando é, precisamente, que sofremos
pela primeira vez as injunções das leis que infringimos, já que tem de existir
uma causal determinante do nosso sofrer?
Esclareçamos
melhor a questão.
Quais
as causas determinantes do nosso sofrimento na primeira encarnação humana, já
que, acabados de ser humanizados, não temos passado culposo? Dizer-se que se
trata da dor-aprendizado esclarece um aspecto verdadeiro da Questão, mas não
soluciona toda a questão. Continuaremos sem saber o exato momento
em que entramos no reinado absoluto das nossas responsabilidades.
Já
foi dito por ilustre conferencista espírita: "É o mesmo que colocar uma arma na mão de um canibal e pedir-lhe que
tenha amor". Como vemos, a questão permanece sem solução, porque ou
somos responsáveis por nossos atos ou não somos.
Como,
então, resolver plenamente a questão?
A
anterioridade de nossas culpas surgidas no mundo espiritual está muito bem
colocada na figuração (notem bem: figuração) de Adão e Eva, simbolizando a
nossa queda quando da tomada de consciência no plano espiritual.
Essa
anterioridade é que justifica a necessidade da humanização para o resgate e o
aprimoramento do Espírito.
Assim,
a questão só é resolvida mediante as noções contidas na "Revelação da
Revelação" ou "Os Quatro Evangelhos", de João Batista Roustaing,
que nos levam a conhecer a razão da nossa primeira queda e as consequências que
somos levados a suportar. Assim, a Lei de Causa e Efeito começa a funcionar
exatamente quando ganhamos plena consciência, no plano espiritual, logo se
justificando a dor-aprendizado e, sobretudo, a dor-resgate.
Ouçamos
o que diz Emmanuel, no livro "O Consolador", na questão 248:
-
"Como se verifica a queda do Espírito?
R.
- "Conquistada a consciência e os valores racionais, todos os Espíritos
são investidos de uma responsabilidade, dentro das suas possibilidades de ação;
porém, são raros os que praticam seus legítimos deveres morais, aumentando os
seus direitos divinos no patrimônio universal.
"Colocada
por Deus no caminho da vida, como discípulo que termina os estudos básicos, a
alma nem sempre sabe agir em correlação com os bens recebidos do Criador,
caindo pelo orgulho e pela vaidade, pela ambição ou pelo egoísmo, quebrando a
harmonia divina pela primeira vez e penetrando em experiência penosa a fim de
restabelecer o equilíbrio de sua existência." (O grifo é nosso).
Aí
está explicada a questão. Tomamos a vestimenta física porque caímos na nossa
vida espiritual (comemos a maçã), fazendo com que a nossa mente (que passou a
funcionar em circuito fechado: egoísmo-orgulho-ateísmo), adensasse o
perispírito, impossibilitando a nossa permanência nas esferas mais altas de
aprendizado, por absoluta falta de sintonia vibratória.
É
o mesmo que uma bola de ferro que quisesse permanecer suspensa no ar, sem
apoio, o que é impossível.
E,
de acordo com a gravidade de nossa falta, somos jogados nos mundos
apropriados, isto é, de acordo com a densidade da
vibração do nosso perispírito adensado pela perturbação que sofremos,
ocasionada pelo nosso desequilíbrio.
Fica,
assim, também esclarecida a questão nº 607, item "b", de "O
Livro dos Espíritos":
- "Esse período de humanização
principia na Terra?
R.
- "A Terra não é o ponto de partida da primeira encarnação humana. O
período da humanização começa, geralmente, em mundos ainda inferiores à Terra.
Isto, entretanto, não constitui regra absoluta, pois pode suceder que um
Espírito, desde o seu início humano, esteja apto a viver na Terra. Não é frequente
o caso; constitui antes uma exceção". (O grifo é nosso).
Quer
dizer: um Espírito, na sua primeira encarnação humana, pode estar apto a viver
na Terra, deixando, portanto, de encarnar nos mundos primitivos, segundo
determinaria a lei natural de evolução.
Vejamos
um exemplo: Como se pode verificar pelas, Escrituras, a nossa Terra está
chegando ao "fim dos tempos", isto é, aproximam-se os tempos em que
haverá a "separação do joio do trigo". Quando se realizar a mencionada
seleção de valores, conforme rezam as tradições espirituais, haverá um expurgo
dos espíritos empedernidos no mal, que serão levados a outros mundos,
compatíveis com o seu estado de evolução e onde haverá "pranto e ranger de
dentes". Isso acontecerá porque a Terra deixará de ser um mundo de expiação
e prova, para se tomar um mundo de regeneração, mais conforme com a evolução dos espíritos aqui encarnados e
que sobraram do expurgo.
Pois
bem, os degredados encontrarão nos mundos para onde forem levados a humanidade ali surgida, em estado primitivo de
progresso e necessitando da ajuda dos oriundos da Terra, para o aceleramento da
sua evolução.
Perguntamos
agora: Não estarão sofrendo os nativos do planeta? Não haverá sofrimento para
os que chegam?
Para
estes, há o passado culposo em outros orbes; mas, e para os primeiros,
onde a culpa? Não resta dúvida de que foi no
plano espiritual que cometeram as suas faltas, tornando-se lhes indispensável a
encarnação material, mais conforme ao seu estado de adensamento.
Finalizando,
atentemos para o que diz Kardec, na parte 2ª, capítulo I - Dos Espíritos, de
"O Livro dos Espíritos" :
Questão
86 - "O mundo corporal poderia
deixar de existir, ou nunca ter existido, sem que isso alterasse a essência do
mundo espírita?
R.
- "Decerto. Eles são independentes; contudo, é incessante a correlação
entre ambos, porquanto um sobre o outro incessantemente reagem."
Aí
está: não precisaria nem ter existido o mundo material, e, nem por isso, a obra
de Deus deixaria de ter-se realizado. Mas, aqui estamos, porque caímos.
Resta-nos o esforço do melhor para que sejamos incluídos na leva dos que ficam
e não na dos que serão lançados "às trevas exteriores".
Nenhum comentário:
Postar um comentário