‘Amalia Domingo Soler’ - sesquicentenário (1985)
por Duilio Lena Bérni
Reformador
(FEB) Dezembro 1985
Os
que viam, com indiferença, a formosa moça que ia buscar a sopa em uma
instituição de atendimento a mendigos, não poderiam imaginar que naquele corpo
enfraquecido albergava-se lúcido espírito, detentor de sublimes atributos
intelectuais e, sobretudo, morais.
Era
Amalia Domingo Soler, reduzida, quase, à indigência. Aos faustosos dias de
opulência, proporcionados pela dedicada genitora, sucederam-se duras jornadas
de abandono e privações.
Os
parentes e amigos da época da fartura eclipsaram-se.
Nascida
em Sevilha, Espanha, a 10 de dezembro de 1835, defrontou-se com a cegueira, aos
oito anos, durante três meses. Curou-a um farmacêutico.
Aos
dez anos, revelou-se lhe a veia poética; a publicação dos primeiros versos,
porém, só ocorreu aos dezoito anos.
Quando
do óbito da mãe bondosa, Amália estava com 25 anos. Como acontece, normalmente,
com os missionários, encaminha-se, naturalmente, para o celibato.
Costureira
hábil e escritora emérita, obtinha no exercício dessas funções, o
imprescindível para manter-se com dignidade.
Precisava,
porém, obter melhor remuneração pelo que produzia. Com esse propósito, mudou-se
para Madrid.
A
adaptação ao novo meio não foi fácil, de vez que a dura contingência de ter de
pedir a sopa, ocorreu precisamente na capital espanhola.
O
oftalmologista que tratava dos seus olhos, embora materialista, informou-lhe da
existência de uns 'loucos', os espíritas, os quais procuravam explicar a razão
dos
sofrimentos.
Ofertou-lhe,
mesmo, um exemplar do periódico "O Criterio", que inseria
esclarecimentos sobre a nova doutrina.
Lendo
o jornal, Amália aceitou, imediatamente, os ensinamentos do Espiritismo.
De
uma família espírita, obteve as obras de Kardec.
Inobstante
a carência visual, leu-as com muito interesse, fazendo-se adepta da Doutrina
Espírita.
Sentiu
uma sensação dolorosa na cabeça certa manhã, tendo ouvido, logo após, uma voz a
dizer-lhe: Luz!.. Luz!.. , recuperando, a seguir, a visão, quase totalmente.
Parece
fora de dúvida ter sido paciente de uma operação espiritual. Começou a
escrever. Era o dom mediúnico da intuição, que se revelava.
Enviou
uma poesia ao 'El Criterio', que a publicou. Remeteu outra ao jornal 'La
Revelación', que não somente a publicou, mas ofereceu-lhe suas colunas para
receberem colaboração sobre Espiritismo.
'EI
Criterio' divulgou seu primeiro artigo, intitulado A Fé Espírita, em seu número
9, na 1ª página, em 1872.
Na
Sociedade Espírita Espanhola, a 4 de abril de 1874, a convite dos dirigentes,
declamou a poesia, de sua lavra intitulada A
Ia memoria de Allan Kardec. Em face do êxito alcançado, passou a participar de numerosas
atividades da Sociedade.
Vários
jornais espíritas começaram a disputar sua colaboração. Para atende-los,
escrevia à noite, dado que, no seu ganha-pão, trabalhava durante o dia.
Amália
sempre recusou, com firmeza, as propostas que lhe foram feitas para aceitar
remuneração pelos trabalhos realizados na divulgação dos princípios redentores
da Doutrina Espírita.
Convidado
pelo Círculo La Buena Nueva, foi para
Barcelona, a 20 de junho de 1876. A 10 de agosto do mesmo ano, também mediante
convite, mudou-se para a casa de Luís Llach, generoso obreiro da Causa Espírita, que
muito a ajudou.
Instada
por Luís, Amália rebateu várias críticas feitas por opositores do Espiritismo.
Ditos opositores conseguiram suspender a publicação, durante 42 semanas, de
"La Luz del Porvenir", cujo primeiro número fora editado
a 22 de maio de 1879.
Os
valorosos seareiros da undécima hora não se intimidara, e fundaram "El Eco
de Ia Verdad", que saiu a lume durante 26 números, até o ressurgimento de
"La Luz del Porvenir", a 11 de dezembro de 1879.
O
guia espiritual da nossa biografada, o Padre Germano, manifestou-se pela 1ª
vez, a 9 de maio de 1879, pela mediunidade de Eudaldo, estimulando-a a
prosseguir, sem titubear, na defesa e na divulgação do Espiritismo.
Sucessivamente,
em julho de 1880, em março de 1885 e em fevereiro de 1885, Amália saiu a campo
para contestar acusações e ataques de sacerdotes católicos.
Arrefecendo
a mediunidade de Eudaldo, foi de encontro de Amália a sua amiga Maria, detentora
de acentuada sensibilidade mediúnica.
Através
de seu dons, foram recebidas numerosas páginas integrantes do livro "Reencarnação e Vida", vertido de
"Hechos que Prueban'". (1)
(1) SOLER, Amália
Domingo, "Hechos que Prueban" - Trad. sob o título de
"Reencarnação e Vida", de CASTRO, Jurema de. Revisão de ARANTES,
Hércio Marcos Cintra e BARBOSA, Elias. Apresentação e nota biográfica de
GENTILE, Salvador, Araras, SP, Instituto de Difusão Espírita, 1ª Edição, maio
de 1972.
A
10 de julho de 1912, depois de desencarnada, Amália, por intermédio da médium
Maria, completou suas memórias. O decesso da intimorata sensitiva ocorreu a 29
de Abril de 1909, quando contava 73 anos de idade.
Dentre
as obras deixadas, cumpre mencionar as seguintes, de que existem exemplares na
Biblioteca da Sociedade Espírita Paz e Amor, integrante do quadro Federativo da
Federação Espírita do Rio Grande do Sul: "Sus más hermosos escritos”, “Palavras
do Alvorecer”, Fragmentos das Memórias do Padre Germano'", "Ramos de
Violetas", "El Espiritismo” e, de César
Bogo, "Amalia Domingo Y Soler'"
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SOLER, Amália Domingo. "Sus Más Hermosos Escritos", Barcelona,
Casa Editorial Maucci. Não consta a data nem número da edição. Com dedicatória
à Biblioteca da Sociedade Espírita Paz e Amor, feita em Porto Alegre, RS, a 23
de maio de 1925, do próprio punho de Angel Aguarod.
SOLER, Amália Domingo. "Sus Más Hermosos Escritos" - Trad. sob
o título "Palavras do Alvorecer" (Antologia), de GENTILE, Salvador.
Revisão de BARBOSA, Elias. Araras, SP, Instituto de Difusão Espírita, 1ª
Edição, setembro de 1976.
SOLER, Amália Domingo. "Fragmentos das Memórias do Padre
ermano". Rio de Janeiro, RJ. Livraria Editora da Federação espírita
Brasileira, 1944, 16ª Edição.
SOLER. Amália Domingo. "Ramos de Violetas", tomos primeiro e
segundo, Barcelona, Casa Editorial Maucci, tercera edición.
SOLER, Amália Domingo Y. "El Espiritismo" - Refutando los Errores
del Catolicismo Romano. San Martin de Provensales, 1880. Com dedicatória à
Biblioteca da Sociedade Espírita Paz e Amor, feita de Porto Alegre, RS, em
1924, do próprio punho de Angel Aguarod.
BOGO, César. "Amália Domingo Y Soler" - "A Gran-Senhora
do Espiritismo" - Trad. RODRlGUES, Wallace Leal V. Matão, SP, Editora O
Clarin, 1974, 1ª Edição.
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