sábado, 20 de fevereiro de 2016

Posta Restante - 15


Posta Restante - 15
por Sólon Rodrigues
Reformador (FEB)  Janeiro 1973

            P. - Poderá um Espírito desajustado reencarnar no seio de uma família cujos
componentes sejam almas equilibradas?

            R. - Essa ocorrência é, até certo ponto, uma necessidade: Um lar espiritualmente equilibrado é uma espécie de sanatório para as almas em grandes débitos. A Providência Divina, em permitindo esse tipo de vivência, oferece-nos oportunidade imensurável  para a a regeneração, já que teremos exemplos vivos do Bem à nossa frente.

            P. - Se o desajustado, porém, persistir nos seus delírios, fazendo-se surdo a todos os meios de reequilíbrio, não espalhará perturbação nesse grupo?

            R. - Caberá, aos que já adquiriram virtudes, superar todas as tentativas de subversão moral. A virtude,  é ponto pacífico em Doutrina, há de manifestar-se nos panoramas do mal, à semelhança de um sol que remova o charco  com seus raios benfazejos.
            Não há mérito de ser bom somente com os bons.
            A têmpera do aço comprova-se no teste ou no uso.  
            Impelida a exercitar suas qualidades íntimas, a criatura só se beneficia. lnterioriza  profundamente o Bem, à medida que é solicitada a conduzir-se nas pautas do Evangelho.

            P. - Se o desajustado abandonar a família, buscando seus antigos caminhos e, em decorrência, vier a desencarnar por alguma forma violenta, seja suicídio, seja num drama passional, poderá voltar a ter contatos, em Espírito, com a família que rejeitou?

            R.  - A desencarnação violenta é sempre uma surpresa ao Espírito desavisado.
Examinando-se vivo, após se desenfaixar do corpo físico, poderá buscar a família, na
posição da criança que se sente aturdida diante das consequências de seus próprios
atos.
            No seu desvario elegerá a família por refúgio.
            No ninho doméstico, buscará a orientação que rejeitara.
            A expiação de seus enganos começa, então, nessa frustração de não poder ouvir, com facilidade, o que não desejou ouvir quando se encontrava no estojo da carne.
            Entre outras, as famílias cristãs terão, aí, uma das razões para sustentar o Culto
do Evangelho no lar. Os componentes que já retornaram ao mundo espírita poderão
recolher consolo e resposta para as suas angústias, nesse contato com o Verbo Divino.

            P. - Mas, no estado em que se encontram, não poderá, ou por despeito ou por  inconsciência influenciar alguns elementos bons dessa família, desvirtuando lhes os
pensamentos?

            R.  - Influenciar até poderá, até como simples fruto de seu desespero. A semelhança de alguém que se afoga num lago, poderá enlaçar o seu eventual socorrista. É a influenciação oculta dos Espíritos. Valerá, contudo, relembrar Jesus, na sua Boa Nova, quando nos alertou: Orai e vigiai. 
            Não que busquemos uma posição de defesa ou de repulsão em relação aos companheiros confundidos pela dor e pelo desencanto. Precisamos, no entanto, nutrir-nos de bom ânimo para não ceder às nossas próprias fraquezas íntimas.  
            Um Espírito - apesar de querer determinar-nos atos ou pensamentos infelizes  -nunca irá além daquilo que realmente somos.
            O virtuoso é surdo às sugestões do mal.

            P. - E se o familiar não estiver atento?

            R. - Poderá ajustar-se à faixa do menos feliz.

            P. - Se isso acontecer e a família, por questão de visão menor ou de tradição
religiosa, não aceitar o retorno ao Evangelho, que ocorrerá? O influenciado poderá cair no desequilíbrio?

            R. - Isso ocorre com maior frequência do que supomos.

            Sempre estamos sujeitos a sofrer violências emocionais.
            Se não nos contivermos diante das desencarnações violentas de familiares queridos, poderemos ser o eco de suas angústias.
            A não aceitação do Evangelho., como eugenia espiritual no cotidiano, abre-nos
uma outra opção: o caminho da dor, para que encontremos a disciplina da emotividade.
            O sofrimento é sempre uma das respostas da Vida.

            P.  - Por quanto tempo o desajustado, na espiritualidade, permanecerá nesse estado?

            R. - Enquanto com ele se comprazer.

            P. - Se houver alguém que a ele se uniu pelos laços puros da afetividade e pedir em seu favor, através de orações, poderá beneficiar-se?

            R. - Não só ele como toda a família será favorecida. Se um Espírito desajustado pode temporariamente desequilibrar alguém, em contraposição um Espírito bondoso inevitavelmente patrocina o reajuste.
            O mal pode ou não fazer-se presente.
            O Bem, contudo, é inevitável.
            É o grande determinismo, aguardando o tempo.
            Felizes, portanto, os que puderem cultivar amizades, sem bajulação e sem falsidades, despertando afetos, a ponto de se fazerem amados. E felizes os que amam. Esse amor, na expressão evangélica de Pedro, “cobrirá a multidão dos pecados”.



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