O homem é o único responsável pela aflição e pela
angústia em que se debate, que apontam compromissos sérios assumidos diante da
própria consciência.
Para
explicar tal situação, não nos cabe aqui dar busca nos escaninhos do Universo,
nem mesmo fazer retrospecto dos erros milenares, os quais lançaram à geena, aos
poucos, a humanidade terrestre. Trabalho já executado, merece, contudo, algumas
considerações em face da riqueza de matizes que traz no bojo, sempre que
entendido de acordo com os princípios de iluminação que o nosso Pastor veio
trazer-nos.
Atualmente,
esses princípios ganharam sua verdadeira vida com o Espiritismo, renascença
suprema do Evangelho, que veio a favor dos homens, visando fornecer
subsídios para o restabelecimento da pureza
original do Espírito. Em momento algum o Espiritismo deve ter sido como veículo
de projeções pessoais, com que venhamos a
agradar quem quer que seja, em prejuízo da
Doutrina. E, muito menos, que através dele jamais se endossem ideias
anticristãs, sendo, para tanto, o nosso critério único aquele do Evangelho. Façamos praça do postulado de base no
Espiritismo: a liberdade com responsabilidade, perante Deus, perante nossa
consciência. Por isso, recordemos, já não mais temos que lançar mão dos meios
mundanos, caracterizados pela hipocrisia contumaz, nos quais, a pretexto de bem
viver, simulamos deferência ao próximo, odiando-o cortesmente. Ao contrário,
nosso proceder estará pautado tão somente no fato de encararmos com
benevolência a realidade do mundo, por estarmos conscientizados de suas
carências profundas, sem que nos adaptemos aos desvarios que a inexistência de
equilíbrio costuma acarretar, e, principalmente, por fazermos profissão de fé
espírita e, portanto, raciocinada, a fim de que alcancemos a unidade de
entendimento na unidade do amor.
Em
face disso, é útil relembrar a existência dos mais variados interesses, em sua
maioria conflitantes, na arena da humanidade, já nos últimos gritos do
inconformismo. É lícito a esses que ainda vivem na cegueira a busca de posições
de destaque na sociedade, ou o culto ardente às perspectivas - que lhes são
ainda grandiosas - de vitória no terreno das facilidades do mundo. Desculpam-se
lhes, de certo modo, faltas que mais não nos cabe cometer, porque ainda não
abandonaram os antolhos da aparência, permanecendo escravizados do imediatismo. Em seus raciocínios
confundidos é perfeitamente plausível o esforço de competir violentamente com o
próximo, porque eles ainda vivem no plano do banal, contrario em essência ao
espiritual. Por isso, abalançamo-nos a perguntar aos companheiros: será
conveniente nossas transformação em feras esfomeadas, para que possamos
auxiliar o mundo? Se é lícito ao homem buscar bens imediatos, será conveniente
àquele que os recebeu procurar granjear a todo custo, sem prejuízo da coerência,
as fugacidades do mundo? Qual há de ser a atitude do espírita, que em si e por
si já é o cristão, se bem vive o Evangelho? Compactuar com a terra, ou lutar em
seu beneficio, sobrepujando quaisquer orgulhos e vaidades?
Parece-nos,
cumpre que repitamos, imperiosa a tomada de consciência do espírita no
Espiritismo verdadeiro.
Para
todos nós, disputas mundanas não passam de miragens no deserto de aridez
espiritual, principalmente se trazidas para o corpo do Espiritismo. É urgente a
compenetração de que nossa luta é íntima; de que só temos como contendor o
egoísmo, com seu séquito de misérias morais.
Avante,
portanto, na luta deflagrada contra suas barricadas, nós que permanecemos na
trincheira do amor, porque os entrechoques do mundo se veem esgotados com a descida do véu da grande transição. Mas, a
competição do amor contra o ódio é a luta verdadeira do homem novo contra o
homem velho.
Na
consecução desse ideal, que já se torna realidade, acima de tudo unamo-nos, sem
precipitações, na batalha contra as sombras, porque acima delas está o Sol
Inapagável, único que nos há de acalentar por toda a
eternidade.
Paz.
Consciência
e Responsabilidade
por Sayão
(Mensagem
recebida na sessão pública de 17-9-1974, na FEB - Seção Rio.)
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