Ante a volúpia com que os
aficionados do niilismo moderno
proclamam a morte da fé, do conhecimento religioso e a desnecessidade da
comunhão espiritual entre a criatura e o Criador, já que para eles todo o
Universo resulta de leis mecânicas e inconscientes, aglutinadas e
desarticuladas por fluxos e refluxos da casualidade, a que atribuem recursos
divinatórios que tomam à própria Divindade, convém recordar o exemplo
multissecular, ocorrido com São Jerônimo, e que pode servir para sensatas e
oportunas reflexões.
Recolhido à intimidade da sua cela,
no monastério em Belém, o monge concluíra a tradução das Escrituras para o
Latim e se encontrava traçando os Comentários adicionais, quando foi informado
de que Alarico I, rei dos Visigodos, invadira Roma, saqueando-a depois de haver
assolado o Oriente, e prosseguia investindo cruel contra o mundo cristão,
deixando após a passagem das suas hordas a destruição, a morte, e reduzindo
cidades inteiras a amontoados de ruínas e cinzas...
Era, então, o ano de 410 da era
cristã.
Desanimado, acreditando
desnecessário o seu imenso esforço e nobre trabalho, Jerônimo escreveu: “Que fica,
se Roma passa?!”
Logo depois, Alarico morreu em Concença
e ficaram as trevas de uma noite intérmina de 700 anos de amarguras,
inquietudes, desaires...
Embora a dolorosa desilusão do pai
da Vulgata Latina, a Humanidade se soergueu da Idade Média e os Descobrimentos
alargaram os limites da Terra, iluminados pelo Conhecimento que, com as suas
luzes, acendeu as claras antemanhãs dos séculos porvindouros.
Epidemias lamentáveis que ameaçaram
não poucas vezes a Civilização foram expulsas e vencidas; a ignorância
paulatinamente tem sido rechaçada; a criminalidade não encontra amparo legal
nos diversos países; “o direito divino dos reis” não mais foi considerado; “os
direitos do homem” se impuseram; a criança e a mulher passaram a ser
respeitadas e os animais hoje encontram defensores em toda a parte; a guerra é
repelida com estoicidade e o mundo respira esperança em todas as frentes,
anunciando-se um período de paz que não tardará... Organismos Internacionais
estudam e defendem as liberdades dos povos minoritários, estabelecendo acordos
de entendimento e justiça; fiscalizam os crimes de genocídio e outros, e buscam
impedi-los ; interferem contra o tráfico de entorpecentes e de criaturas
humanas, e cuidam de fazer-se respeitar...
Indubitavelmente muitos crimes são
ainda cometidos contra a Humanidade, à luz do beneplácito
de governos desalmados, ou à socapa, nas sombras de hediondos conciliábulos.
Há, sem dúvida, muita anarquia,
muita libertinagem e ondas de pavor crescem ameaçadoras, em todos os
quadrantes...
O homem, no entanto, continua
libertando-se do instinto para levantar-se na inteligência e alcançar a
angelitude.
A princípio vagarosamente, depois
com mais celeridade, podem observar-se os resultados do investimento “homem” e
as belas conquistas do “respeito pela Vida”.
Esse mesmo homem já foi além da
Terra, conheceu a constituição do seu satélite e estabelece
no momento a ponte para outros e audaciosos voos por todo o Sistema Solar.
As matemáticas puras e aplicadas, a
Física, a Química, a Biologia, as Ciências Psíquicas, a Cirurgia e a
Cibernética assinalam recordes e todos os conhecimentos sofreram graves
revoluções nos conceitos passados ante o impacto desbravador das conquistas
recentes.
Todos eles, no entanto, ao invés de
negarem Deus e matarem a fé, mais os atestam, por abrirem perspectivas então
mais grandiosas, exigindo imediata revisão filosófica, porque reduzindo todas
as manifestações no campo da forma a ondas, vibrações, mentes e energia.
O espírito humano recebe embate cada
hora mais violento, enquanto o homem prossegue intimorato e sonhador no rumo do
Infinito e da Eternidade.
Fita as noites estreladas com
interrogações não menos pungentes do que as fazia seus antepassados primitivos,
na alvorada dos tempos, e diante da morte formula inquietantes quesitos que lhe
nublam o semblante de angústia e de amargas frustrações.
“Uma religião da ciência, uma
religião da filosofia, uma religião da razão” - afirmam com
ênfase os novos partidários do Conhecimento, a fim de atender-lhes a sede
científica de
investigação.
Conferindo, porém, os resultados
tíbios a que chegaram os partidários da “religião da
Humanidade”
ou Filosofia Positivista, elaborada por Augusto Comte, que não resistiu à
revolução tecnológica, somos convidados a considerar a Religião Espírita que há
mais de cem anos estabelece as pontes de luz entre ciência e fé, razão e fé,
técnica e fé.
O Espiritismo tem fundos vínculos
com todos os ramos do Conhecimento, por tratar da “origem, destino dos
Espíritos e as relações existentes entre o Mundo Espiritual e o Mundo Corporal”,
como bem o definiu Allan Kardec, assinalando
que “se prende a todos os ramos da Filosofia, da Metafísica, da Psicologia e da
Moral”.
Elucida a velha problemática da
Filosofia e clarifica muitas das afirmações claudicantes da Antropologia; da
Paleontologia, da Eugenia, da Embriogenia e, “caminhando ao lado da Ciência no
campo da matéria, admite todas as verdades que a Ciência comprova; mas, não se
detém onde esta última para: prossegue nas suas
pesquisas
pelo campo da Espiritualidade.”
Longe de se constituir num corpo de
Doutrina estática, parasitária, reveste-se de conceitos dinâmicos e
progressistas, evoluindo com o próprio Conhecimento, assentando as bases das
suas afirmações nos pontos capitais e irreversíveis: Deus, imortalidade,
comunicabilidade dos Espíritos, reencarnação e pluralidade dos mundos
habitados, podendo enfrentar sofismas, “modernismos” e descobertas, pois que “avançando com o progresso jamais será
ultrapassado (o Espiritismo) porque, se novas descobertas lhe demonstrarem que
está em erro a cerca de um ponto, ele se modificará nesse ponto, se uma verdade
nova se revelar, ele a aceitará”, como esclareceu com profundo senso
racional o incomparável Codificador, ficando o verdadeiro espírita com o fato
científico, sem qualquer dano para a convicção, assentada igualmente em fatos
confirmados também pela Ciência.
Por tais razões, não diremos; ante
as dimensões do momento científico, que a fé passará, e não concordamos com os
apressados pessimistas dos dias modernos que assim o creem ou fazem crer.
Antes, pelo contrário, a palavra de Jesus, clara e forte, roteiro da maioria
das Nações da Terra, hoje se avulta e se afirma, graças à comunicabilidade dos
Espíritos que a confirmam em todo lugar, inspirando a sociedade hodierna a
avançar, proclamando, ao mesmo tempo, a Era venturosa da Humanidade feliz que
logo advirá.
Sem Vacilações
Vianna de Carvalho por Divaldo
Franco
Reformador (FEB) Julho 1970
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