A
preparação da criança para a assimilação da Doutrina Espírita é tarefa muito
delicada, a ser conduzida com tato excepcional, considerando-se a idade dos
pequeninos irmãos sob a atenção dos adultos. Parece-nos óbvio que semelhante
trabalho deve estar sempre entregue a pessoas do sexo feminino, principalmente
àquelas que possuem algum
tirocínio pedagógico. Não é aconselhável, pois, deixar as criancinhas ao
arbítrio de qualquer adulto de boa vontade, que é importante, mas não basta.
Sem os requisitos imprescindíveis à compreensão da mentalidade infantil; sem a
habilidade de compreender a sutileza de certas indagações, que não devem ser
deixadas sem resposta esclarecedora; sem sentir bem o temperamento dos
pequenos, suas tendências, preferências e idiossincrasias, não será possível
vencer o labirinto em que tudo isso se constitui e alcançar o objetivo
desejado.
Uma organização espírita tem o dever
de procurar dirigir inteligentemente a atenção das crianças para o nosso
programa doutrinário, devidamente dosado, com textos curtos, explícitos, de rigorosa
feição pedagógica, suscetíveis de despertar e sustentar o interesse dos
pequenos frequentadores de aulas de evangelho e moral cristã-espírita, por meio
de recursos áudio visuais. As aulas não devem ser demoradas. É bom andar
devagar, nesses casos, para se andar depressa. Exigir-se a atenção prolongada
da criança é antipedagógico. Compreende-se
que a criança possui muita volubilidade, porque sua vontade se dispersa, porque
ainda não tem um discernimento definido das coisas que vê, ouve e sente,
conforme a sua variável capacidade perceptiva.
A mestra deve descer à mentalidade
do aluno e atender integralmente à sua curiosidade, sem esquecer nenhum
pormenor, de maneira que a criança se mostre realmente satisfeita. Sua
curiosidade deve ser tomada sempre como demonstração de interesse pelo assunto
em estudo. Ensinamentos e explicações leves, simples e ilustrados, sempre que
possível, com desenhos e imagens, em ambiente informal, alegre, para que a
criança fique à vontade, desejosa de participar das aulinhas, avivará sua
disposição de continuar. A criança vive num mundo muito diferente do mundo dos
adultos, no qual a realidade se mistura com a fantasia. Eis uma situação a
considerar. Se ela se mostrar, por qualquer motivo, enfastiada ou indisposta,
será preferível deixar que se retire a forçá-la a permanecer na aula.
A formação de ligeiros diálogos,
ligeiros e simples, animados com "sketchs" engraçados, em que entrem
bichinhos domésticos, à maneira dos de Walt Disney, com a dupla finalidade de
divertir, instruindo, de educar, divertindo. Historietas chistosas, fábulas com
fundo doutrinário, com as quais se desperte o interesse da criança para
exemplos de
moral, em relação, não apenas aos animais e às plantas, mas também relacionados
com outras crianças, com os pais, os velhos, os adultos em geral, concorrerão
para manter a aula num clima propício ao melhor aproveitamento. Pequenas
canções alegres, em ritmo adequado, levarão os pequeninos ao fim que se tiver
em mira, uma vez que se atenda com especial cuidado a certas exigências
psicológicas. A criança deve ter, em determinados casos,
a impressão de que age por si mesma, embora esteja sendo dirigida num dado
sentido.
As aulas devem ser constituídas de
poucos alunos, divididas conforme a idade mental de cada grupo. O processo de
ensino, evidentemente, deve variar de alguma forma, de grupo para grupo. Certas
perguntas devem ser formuladas com extrema cautela; outras, devem ser evitadas
até que a criança haja adquirido conhecimentos que a permitam compreender as
perguntas, sempre relacionadas com os temas já estudados. Perguntar a uma
criança quem é e o que é Deus, o que é Espírito, o que é Encarnação ou
Desencarnação, etc., antes do tempo conveniente, seria dificultar-lhe a
compreensão natural que a resposta deve demonstrar. Em outras ocasiões, a
mestra deve recorrer a metáforas, através de linguagem figurada, de comparações
simples, de exemplos baseados na vida doméstica, enxertando os ensinos com
esclarecimentos doutrinários e evangélicos.
Vê-se que o critério pedagógico é
muito importante. A instrução espírita deve ser ministrada lenta e
persistentemente. Não há criança que não goste de ouvir histórias de
cachorrinhos, gatinhos, ursinhos, passarinhos, etc. Desde que recorramos ao
processo de ideias afins, de adaptações explicativas, embora muito elementares,
que possam ser encontradas
na ambiência do lar, a criança será a primeira a querer frequentar a escolinha,
onde irá preparar seu coração para a bondade e o amor necessários à sua vida
futura, tendo Jesus como exemplo primordial.
Se há uma seara difícil de ser conduzida,
é essa, da infância. Entretanto, é a mais importante, razão pela qual justifica
todos os sacrifícios, todos os recursos da inteligência, da paciência, da
dedicação, da ternura e do amor dos adultos. Aliás, o nobilíssimo Espírito
Emmanuel adverte, numa de suas extraordinárias mensagens do Além - "Pontos perigosos para os pais", que
não devemos pedir à criança trabalho e cooperação fora de suas naturais
possibilidades. E outro admirável Espírito - André Luiz, no mesmo livro, lembra
que "cada aluno recebe lições conforme o
entendimento que evidencia".
Instruir Divertindo
Percival Antunes / Indalício Mendes
Reformador (FEB) Fevereiro 1970
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