Doutrina
e Mediunidade
Indalício Mendes
Reformador (FEB) Novembro 1962
Temos insistido no tema da
necessidade, não apenas do estudo, mas também da constante exemplificação da
Doutrina Espírita, não porque nos atribuamos qualquer parcela de autoridade
para dar lições aos nossos confrades, mas porque sentimos em nós mesmos que é
isso o de que precisamos, mais do que tudo.
O Espiritismo se assenta, em sua
maior parte, em seu corpo doutrinário, porque, graças a este, a criatura humana
pode analisar sua própria situação em face da vida e melhorá-la, se tal for o
caso, com a observância dos princípios codificados por Allan Kardec. A Doutrina
dos Espíritas enseja a cada um de nós a oportunidade do aprimoramento moral,
que conduzirá, sem sombra de dúvida, à elevação espiritual.
Todavia, é mister não descurar a
exemplificação do que aprendemos, ainda que algumas vezes sejamos tão avessos
ao progresso que, inconsciente ou conscientemente, reincidamos em faltas que
não desejaríamos repetir. Se assim é, porque reincidimos? A resposta é fácil:
porque ainda não estamos progredindo suficientemente na estudo e na
exemplificação da que aprendemos. Só a vitória sobre nós mesmos nos dará a
indicação do nosso legítimo estado moral. Se conseguirmos dominar cada um dos
erros ou vícios a que estamos presos, iremos avançando na senda da perfeição
espiritual. Se tal não acontece, temos de lançar a deficiência no nosso débito
moral. Neste caso, de nada valerão os conhecimentos
que tivermos do Espiritismo, se tais conhecimentos não têm força para nos fazer
abandonar definitivamente os caminhos tortuosos e nos colocar na estrada reta
da redenção.
O médium, somente pela circunstância
de o ser, não está isento da obrigação moral de estudar e seguir a Doutrina.
Ser médium qualquer um pode ser, porque a mediunidade não é privilégio dos
espíritas. Médium espírita, entretanto, só o será aquele que, além do dom que
possui, exercê-lo segundo as normas da Doutrina, esforçando até ao sacrifício
para exemplificar as lições doutrinárias.
Por isso é que louvamos o ponto de
vista de Pedro Richard, a respeito da imprescindibilidade da educação
evangélica. Um médium pode fazer maravilhas com a sua mediunidade, mas estará
mais perto do precipício do que outro que se arrima no Evangelho e na Doutrina
Espírita.
A mediunidade é uma faculdade que
pode nascer com o indivíduo, como a veia poética, o pendor para a literatura, a
habilidade manual, assim por diante. Mas a educação evangélica e a preparação
doutrinária constituem para o médium o que a cultura representa para o poeta e
o escritor talentosos, cultura essa que, por sua vez, não terá solidez se lhe
faltar a ética, isto é, a moral. Pois bem, o Evangelho segundo o Espiritismo e
a Doutrina Espírita constituem o fundamento ético par excelência do verdadeiro
espírita, inclusive das dotados de capacidade mediúnica.
Esse é o fundamento educativo do
espírita, porque, em última análise, Espiritismo (na conformidade do raciocínio
que estamos desenvolvendo) é Educação. Disse Kardec que é pela educação, mais
da que pela instrução, que se transformará a Humanidade. O homem que se esforça
seriamente por se melhorar assegura para si a felicidade, já nesta vida. Além
da satisfação que proporciona à sua consciência, ele se isenta das misérias
materiais e morais, que são a consequência inevitável das suas imperfeições.
Terá calma, porque as vicissitudes só de leve o roçarão. Gozará de saúde,
porque não estragará o seu corpo com os excessos. Será rico, porque rico é
sempre todo aquele que sabe contentar-se com o necessário. Terá a paz de
espírito, porque não experimentará necessidades fictícias, nem será atormentado
pela sede das honrarias e do supérfluo, pela febre da ambição, da inveja e do
ciume" ("Obras Póstumas", 10ª ed., pág. 348).
O médium que procura desenvolver-se
criteriosamente, entregando-se ao estudo da Doutrina e lavando a alma nos ensinamentos
de "O Evangelho segundo o Espiritismo", terá de ser, em qualquer
circunstância, uma criatura feliz, porquanto, é ainda Kardec quem o afirma, o progresso
consiste, sobretudo, no melhoramento moral, na depuração do Espírito, na
extirpação dos maus germens que em nós existe. Esse o verdadeiro progresso, o
único que pode garantir a felicidade ao gênero humano, por ser o oposto mesmo
do mal" (ob. cit.).
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