Discipulado insubstituível
Editorial
Reformador (FEB) Maio 1972
Os espíritas são estudantes
privilegiados; além de terem sido aprovados no vestibular da reencarnação,
obtiveram matrícula nos avançados cursos mantidos no educandário Terra. E
nestes abrem-se-lhes as portas do estudo da Ciência das Ciências: a Ciência da
Vida. Fazem o aprendizado dos aprendizados: o aprendizado da Verdade. Para
aproveitamento integral desse aprendizado, recebe o espírita, ao transpor os
pórticos de sua universidade, uma senha que lhe manda distribuir o seu Reitor
Excelso: “A letra mata; o espírito vivifica.” Esta amorosa advertência não pode
ser nem abandonada nem esquecida, pois há de servir, preliminarmente, para
lembrar sempre ao estudante que ele é Espírito, em trânsito pela forma, como
recurso de elevação.
Feita a advertência preliminar,
encontra o estudante, a seguir, o programa básico de estudos, um binário
simples e conciso que o Espírito de Verdade, Professor emérito, consignou em “O
Evangelho segundo o Espiritismo”, a págs. 124: “Espíritas! amai-vos, este o
primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo.” Aí está o programa proposto
no sentido pluralizado, isto é, dirigido para a massa. Mas, sendo o aprendizado
tarefa personalíssima reservada ao aprendiz, há que singularizar o programa,
traduzindo-o para seu uso pessoal, do que resultará a divisa: “Amar e
instruir-se.” Nesta forma, é claro que as duas ações implicam um movimento de
dentro para fora, a exigirem uma radical mudança de postura, a modo de uma
guinada de 180 graus.
Portanto, em primeiro lugar, torna-se
evidente que amar, no sentido evangélico, exclui a hipótese de usar o verbo com
a partícula reflexiva; amar é desejar o bem dos outros, é dar, é servir. E
mais: que o único método de transmitir esse ensinamento é o do exemplo; e que
se, porventura, tiver o espírita o anseio de difundir a arte de amar, só o
conseguirá através da “pregação fundamental”, que é, sem tirar nem pôr, o
método utilizado pelo Mestre Inigualável e único.
Quanto
a instruir-se, evidencia-se, ao revés, que a ação, no caso, não é a transitiva,
mas, sim, a reflexiva, exclusivamente; não se trata, pois, de instruir os
outros, mas instruir a si mesmo, adquirir conhecimentos, num esforço de
autodidaxia. Neste particular, há algo mais a considerar: no tocante a
instruir-se, a criatura pode fazê-lo de duas maneiras distintas: instruir-se
intelectualmente ou instruir-se moralmente. Mas, é óbvio que, com o
Espiritismo, retomando a pureza do Evangelho, a instrução a realizar é a moral,
dentro dos padrões que o Cristo timbrou em exemplificar do primeiro ao último
minuto do seu messianato.
Impõe-se, assim, a conclusão de que
o Espiritismo compareceu ao cenário do mundo para “ensinar o homem a sofrer”.
Fora daí, qualquer outra função que se lhe queira atribuir será - pelo menos
por enquanto - espúria, num propósito que adulterará seus postulados básicos,
pois que, se de fato está o discípulo convicto de que “fora da caridade não há
salvação”, a primeira caridade a praticar será a de instruir-se a si mesmo com
a certeza de que se encontra num “mundo de provas e expiações”, a executar a
ingente empreitada de eliminar
de si mesmo as causas das dores e sofrimentos, através do sofrimento e da dor
suportados segundo os ensinamentos do Evangelho.
As lições aí estão, ao dispor do
mundo. Os instrutores poderão revezar-se, poderão multiplicar-se. Mas, o
esforço consciente do discípulo é insubstituível, é imprescindível. Sem ele,
nada se fará.
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