O
Cristo monopolizado
Editorial
Reformador (FEB) Maio 1956
S. Eminência o Cardeal Arcebispo do
Rio de Janeiro, D. Jaime de Barros Câmara, em
emaranhada
e confusa palestra contra o Espiritismo, pela Rádio Vera Cruz desta Capital,
conforme registou o “Jornal do Commercio” de 24 de Março do corrente ano,
chamou ladrões aos espíritas, por reverenciarem estes a figura inigualável de
N. S. Jesus-Cristo. “Pois queiram ou não
- repisou S. Em. - roubo é.”
Pelo que se entende, mais adiante, unicamente
os católicos podem e têm o direito de pronunciar e reverenciar o “santo” nome
de Jesus. Aos demais cristãos, não ligados à Igreja de Roma, foge-lhes o
direito de possuir o Cristo, de seguir lhe as pegadas, de receber-lhe o influxo
amoroso. Vemos, assim, a quanto vai a intolerância e o exclusivismo de uma
religião que se arroga o direito de monopolizar a própria pessoa do grande
Crucificado, espelho do nosso Criador, que, segundo as palavras do Filho, é Pai
dele e Pai de toda a Humanidade.
Além do mais, não precisaríamos
roubar o “Cristo” do Catolicismo, pois conosco temos o Cristo vivo do primeiro
século do Cristianismo, em toda a sua simplicidade e vigor, e cujo amor
infinito não conhece as fronteiras levantadas pelas raças, pelas línguas e
pelas religiões facciosas.
Empregando o mesmo verbo - roubar,
utilizado por D. Jaime, diremos nós, mas sem contestação, que o Catolicismo é
um amontoado de roubos realizados no correr dos séculos, ao ponto de hoje se
nos apresentar como um movimento divorciado do verdadeiro espírito do Cristo,
vivendo à custa de César e a este ligado para o domínio das massas analfabetas
de certos países.
Da simplicidade da religião do
Cristo, já hoje nada mais resta. Os andores, procissões e
imagens do Paganismo, a indumentária multicolor, os templos suntuosos, o
sacerdócio organizado das religiões do Oriente, e mil e uma coisas, quer
materiais, quer espirituais, “roubadas” de inúmeras religiões espalhadas pelo Mundo,
tudo isso deturpou de tal forma o Cristianismo nascente, que dele nada mais
ficaria de lembrança se não fora o Protestantismo e, posteriormente, de 1857
para cá, a ação do Espiritismo, o Consolador prometido pelo Mestre da Galileia,
que veio restaurar o velho edifício construído na Palestina, escoimando-o de um
amontoado de roubos, de dogmas absurdos, de rituais extravagantes e de erros e
impurezas sem número.
Destarte, respeitosamente a D. Jaime
devolvemos a injúria, acrescendo, apenas, para a sua meditação, essa radiosa
promessa de Jesus: Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, aí estarei
no meio deles.
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