A dor
é
instrumento
da lei divina
Parte
3
Indalício
Mendes
Reformador (FEB) Março 1973
Estamos vendo, nestes dias tumultuosos,
o caminho perigoso por que vai enveredando
a humanidade, acossada pelo rebaixamento dos costumes e vergastada por atos
de violência de inacreditável ferocidade. Panorama sombrio, que nos faz
estremecer diante
das perspectivas lúgubres do futuro, porque constitui a semeadura do ódio e da morte
que prometem colheitas terríveis dentro do vasto campo cármico.
Temos diante de nós um opúsculo
valioso, que acabamos de reler com extremo cuidado - "Le drame de Ia souffrance humaine
devant Ia science occulte", conferência realizada por Raoul Montandon, em 8 de dezembro de
1934, na Société d'Etudes Psychiques de
Genebra.
O nome de Raoul Montandon
possui justa e enorme autoridade, por se tratar de homem que estudou
profundamente o mundo psíquico e escreveu uma série portentosa de obras que
comprovam o seu valor, decorrente da grande experiência que adquiriu durante
largos anos de atividade.
Vamos reproduzir aqui, em tradução
livre, alguns trechos do opúsculo supracitado, relativos
às consequências fatais dos atos que praticamos, lesivos a terceiros. Por
exemplo: "Todo
efeito, na ordem Universal, procede de uma causa e o sofrimento - qualquer que seja
sua forma - não poderá fugir a essa lei." Efetivamente, como já
acentuamos anteriormente, o carma, lei de causa e de efeito, é acionado pelo
exercício do livre arbítrio de que somos dotados. Daí se deve inferir que o
sofrimento é causado por nós mesmos, como resultado do uso inconveniente da
nossa vontade. "Parece, à primeira
vista, que essa noção do carma seja fácil de precisar; na realidade, ela se
reveste de uma extraordinária perplexidade e algumas noções que me vou esforçar
para dar convencerão bem depressa da dificuldade de lhe perceber o senso
profundo, para encontrar- se possível -, uma aplicação racional capaz de obter
a solução do problema que aqui objetivamos. A ciência exterior, por oposição à
ciência espiritual, insiste muito, em nossos dias, no fato de seu principal
valor advir de ela se apoiar nas leis gerais de causalidade. Assim, diz:
"Um efeito é o que deriva de uma causa". Muito bem, mas para que o conceito
do carma intervenha preciso se torna que
ocorra a reação do efeito sobre o ser que esteja em causa e que esse efeito de reação
atinja o mesmo ser. É preciso ainda, diz Rudolf Steimer, "que a causa e o efeito de retorno se verifiquem
simultaneamente, porque, neste caso, o ser que provocou o efeito por sua vontade,
diretamente, o previu como consequência, pois já conhecia todos os fatores
determinantes do seu aparecimento. Desse modo, por exemplo, não se pode falar
de carma quando um homem executa uma ação precisa com determinado objetivo, e
que, em seguida, segundo seu propósito, esse efeito por ele desejado se produz.
Deve haver, entre a causa e o efeito, qualquer coisa que escapa imediatamente daquilo
que haja engendrado a causa, de tal maneira que se estabeleça uma relação, não
intencional, que não tenha sido pretendida pelo próprio ser. Se essa relação não
houver sido desejada pelo próprio ser, depreender-se-á, então, que a existência
de uma relação de causa e efeito tenha sua base em outro ponto que não na intenção
do ser referido. Deve-se, então, admitir que essa relação se baseie na necessidade
interna de uma lei e que ela, a relação de causa e efeito seja, por sua vez, uma
relação da lei da necessidade, que ultrapasse as intenções imediatas do ser."
(1)
Para
que os compromissos cármicos possam ser resgatados, imprescindível é a
submissão dos Espíritos desencarnados, que tenham infringido a Lei de Causa e
de Efeito, a uma outra lei
importante, isto é, a da encarnação e reencarnação, também conhecida como o Ciclo da Necessidade do renascimento.
Em seu interessante livro "Reincarnation
- The Cycle of Necessity", já mencionado, Manly Palmer Hall esclarece:
"Milhões de anos de evolução se acham à nossa frente. O homem se faz humano
lentamente, mas inevitavelmente porque a entidade subjetiva constantemente procura
organismos melhores e mas adequados ao seu aperfeiçoamento. O processo completo
através do qual o ser humano é conduzido ao mistério do crescimento ou desenvolvimento
pode ser apropriadamente chamado de ciclo da necessidade. Todo desenvolvimento
é motivado pelo carma, isto é, pela ação e a reação. É o carma que torna a
reencarnação necessária como processo de compensação justamente administrada. É
difícil para a média das pessoas realizar uma existência altamente significativa
até o fim dos tempos.
Mas, apesar de suas ações virtudes e
vícios, dos esforços para se autodestruir, o homem é imortal, ser eterno manifestando-se
através de infinita sequência de encarnações em corpos diferentes, sempre um
pouco melhor do que aja sido anteriormente. Hoje, estamos aqui fazendo as coisas
pertinentes a este dia, por motivo dessa sequência de vidas. Não há fatalismo
algum na doutrina que nos faz responder pelo que fazemos. Cada estado e
condição futura nada mais são do que resultados de nosso comportamento pessoal.
Nós fazemos e desfazemos de nós mesmos. Nós somos instrumentos cegos de alguma necessidade
fatal. Não somos marcados pelo pecado de Adão. Cada pessoa dá testemunho do seu
verdadeiro caráter, dos pensamentos e nas ações de vidas pregressas. Somos os
arquitetos de nossa vida futura. O futuro está em nossas mãos." (2)
(1) Raoul Montandon - "La Drame da Ia
Souffrance humaine devant Ia Science Occulte", pág. 10 a 12.
(2) Manly Palmer Hall - "Reincarnation - The Cycle of
Necessity", págs. 97
e 98.
É-nos muito agradável ler tais
coisas num autor norte-americano, porque evidencia que a doutrina da
reencarnação progride nos Estados Unidos de maneira relativamente rápida. Em
"O Livro dos Espíritos", no capítulo "Da Pluralidade das
Existências", há a seguinte resposta à pergunta nº 167 ("Qual o fim
objetivado com a reencarnação?): "Expiação
(o grifo é nosso), melhoramento
progressivo da Humanidade. Sem isto, onde a justiça?" Em "Os
Quatro Evangelhos", coordenados por J.-B. Roustaing, há a confirmação:
" ... é um castigo (é nosso o
grifo), já o dissemos. E o castigo não pode preceder a culpa".
(3) Ambas as respostas
são de entidades espirituais. A páginas 338 desta última obra há também este
outro trecho interessante: "A reencarnação é a escada santa que todos os homens
tem que subir. Constituem lhe os degraus, as fases das diversas existências nos
mundos inferiores, depois nos mundos superiores, -porquanto disse Deus ao seu
enviado celeste, nosso e vosso Mestre, que, para chegar a ele, teria o homem
que nascer, morrer e renascer até atingir os limites da perfeição. E nenhum lá
chegará sem se purificar pela reencarnação;" (4)
(3) J.-B. Roustaing - "Os Quatro
Evangelhos" - Vol. I, pág. 317. 5.8 ed.
(4) Idem, idem, ob. cit. págs.
338 e 339.
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