Espiritismo
e Ciência
Túlio Tupinambá / (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Abril 1956
O cepticismo de pretensos cientistas
tem sido mais nocivo do que benéfico à Humanidade. A verdadeira característica
do sábio é a humildade honesta, isto é, a humildade que se manifesta espontaneamente,
com o propósito de evitar algo capaz de escandalizar a outrem. O sábio estuda,
analisa, pesquisa, observa, compara e conclui. Não realiza afirmativas apriorísticas,
mesmo quando em face do que possa parecer, à ciência oficial, absurdo ou
paradoxo.
Infelizmente, porém, não é numerosa
essa nobre estirpe de sábios, à qual pertenceram e pertencem homens de absoluto
equilíbrio moral e intelectual, dotados de uma independência admirável e
refratários a influências de caráter religioso, político ou dogmático.
Quando o Espiritismo, no século
passado e nos primeiros anos do presente século, atraiu as atenções do mundo
científico, numerosos foram os homens de ciência que se puseram a fazer
experiências, a fim de descobrirem o que havia de verdadeiro na velhíssima
novidade. Alguns, indiferentes aos preconceitos, se entregaram de corpo e alma
ao trabalho, objetivando encontrar a verdade que haviam vislumbrado. Outros,
entretanto, preferiram adotar atitudes espaventosas, agradáveis aos
impenitentes negadores de todas as épocas e aos servidores do ultramontanismo
absorvente e dominador. Por isto, sábios como William Crookes, para mencionarmos apenas um, sofreram insultos e
humilhações. Repetira-se com ele o que já sucedera com outros legítimos homens
de ciência, incumbidos pelo Alto de romper os liames da tradição balofa, que a
vaidade e o orgulho amparavam. César
Lombroso, enquanto negou a realidade espírita, era apontado como gênio.
Depois que, tocado pela revelação, pode observar, graças à médium Eusápia Paladino, fenômenos
incontestáveis, tendo a bela coragem de confessar a verdade, renunciando aos
pontos de vista que anteriormente professava, passou a ser achincalhado por
aqueles mesmos que o incensavam.
Agora, já era um velho senil, que não possuía suficiente equilíbrio para
discernir entre a verdade e o erro. Não obstante, sua famosa obra póstuma – “Richerche sui fenomeni ipnotici e
spiritici”
- é um monumento que engrandece o Espiritismo, porque ele, não
apenas reconhece a realidade espírita, mas desenvolve considerações
impressionantes, com a autoridade moral e científica que possuía. Em “Cristianismo e Espiritismo”, obra de Léon Denis, que deve ser lida
atentamente por todo aquele que almeja adquirir cultura espírita, há um
histórico magnífico acerca da evolução do Espiritismo, além de estudar a origem
dos Evangelhos, sua autenticidade e seu sentido oculto; as alterações sofridas
pelo Cristianismo e sua decadência, precedendo a Nova Revelação, isto é, o
Espiritismo, que é o Cristianismo redivivo, em sua forma simples e pura.
Há, entretanto, necessidade que os
cientistas se dediquem mais seriamente aos problema que o Espiritismo oferece à
sua argúcia. Não desejamos nós, prosélitos de Allan Kardec, que eles adotem previamente uma postura simpática em
relação ao Espiritismo. O que desejamos é que sejam absolutamente despidos de “parti-pris”
no exame e estudo dos fenômenos espíritas, e se forrem de beneditina paciência
para levar a termo tão árduo quão benemérito trabalho. Mais cedo ou mais tarde,
Espiritismo e Ciência estarão de mãos dadas, porque a Ciência há de alcançar
resultados que a possibilitem a afirmar a veracidade dos postulados espiritistas.
E então, se isto não for para os nossos dias, porque ainda há muito preconceito
e muito dogmatismo, se-lo-á para o próximo milênio pois o Espiritismo não se
baseia em milagres, não se escora em fantasias nem em episódios alucinantes. Em
seu tríplice aspecto – religioso, filosófico e científico – há de afirmar-se a Humanidade
inteira, como já se afirmou a milhões de criaturas despojadas de orgulho e isentas
de vaidade.
O Espiritismo salva, enquanto o
cepticismo, filho dileto do materialismo, conduz os homem ao desespero. O
legítimo sábio não aprova nem desaprova, não afirma nem nega previamente. Estuda,
observa, pesquisa, examina, analisa compara e conclui. Só emite opinião definitiva
quando julga esgotadas todas as fontes de esclarecimento e todos os recursos
investigatórios.
Se são lentos e penosos os avanços conseguidos
na Física, na Química e em outras ciências, digamos da matéria, como
pretenderem que sejam rápidos e fáceis os trabalhos realizados no domínios do
Espiritismo, mesmo no que diz respeito às manifestações físicas? É lamentável
que poucos tenham sido os homens de ciência devotados a tão úteis, embora
dificílimos, estudos. A maioria, utilitarista e imediatista, quer que os “fatos”
se repitam matematicamente como se os Espíritos não tivessem vontade própria e
pudessem estar equiparados a fenômenos invariáveis, sujeitos a fórmulas fixas.
Por isso essa maioria de sábios sorri superiormente, escarnece e nega os
fenômenos espíritas, sem se dar ao trabalho de verificar se são mesmo sábios ou
se apenas aparentam sê-lo. A verdade é monopolizada por eles e também pela
Igreja.
O que não estiver de acordo com os
cânones consagrados pela ciência oficial ou conforme as exigências da Igreja, é
repelido.
O Espiritismo continua serenamente
seu caminho e não tem pressa, porque sabe que a
Humanidade evolui muito lentamente. Quanto mais se demorar o homem a
iluminar-se pelo conhecimento da verdade espírita, maiores serão os obstáculos
que terá de transpor. O homem macerado por sucessivas reencarnações, um dia curvará
a cerviz à verdade e, então, verá que o Espiritismo jamais esteve ou estará em
antagonismo com a Ciência, uma vez que ele é, a um só tempo: Religião, Ciência
e Filosofia.
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