terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Perdoados mas não Limpos


Perdoados mas não Limpos
Emmanuel
por Chico Xavier
Reformador (FEB) Fevereiro 1962

            Em nossas faltas, na maioria das vezes, somos imediatamente perdoados, mas não limpos.
            Fomos perdoados pelo fel da maledicência, mas a sombra que tencionávamos esparzir, na estrada alheia, permanece dentro de nós por agoniado constrangimento.
            Fomos perdoados pela brasa da calúnia, mas o fogo que arremessamos à cabeça do próximo passa a incendiar-nos o coração.
            Fomos perdoados pelo corte da ofensa, mas a pedra atirada aos irmãos do caminho volta, incontinenti, a lanhar-nos o próprio ser.
            Fomos perdoados pela falha de vigilância, mas o prejuízo em nossos vizinhos cobre-nos de vergonha. 
            Fomos perdoados pela manifestação de fraqueza, mas o desastre que provocamos é dor moral que nos segue os dias.
            Fomos perdoados por todos aqueles a quem ferimos, no delírio da violência, mas, onde estivermos, é preciso extinguir os monstros do remorso que os nossos pensamentos articulam, desarvorados.

*

            Chaga que abrimos na alma de alguém pode ser luz e renovação nesse mesmo alguém, mas será sempre chaga de aflição a pesar-nos na vida.
            Injúria aos semelhantes é azorrague mental que nos chicoteia.
            A serpente leva consigo a peçonha que veicula.
            O escorpião carrega em si próprio a carga venenosa que ele mesmo segrega.

*

            Ridiculizados, atacados, perseguidos ou dilacerados, evitemos o mal, mesmo quando o mal assuma a feição de defesa, porque todo mal que fizermos aos outros é mal a nós mesmos.
            Quase sempre aqueles que passaram pelos golpes de nossa irreflexão já nos perdoaram, incondicionalmente, fulgindo nos planos superiores; no entanto, pela lei de correspondência, ruminamos, por tempo indeterminado, os quadros sinistros que nós mesmos criamos.
            Cada consciência vive e evolve entre os seus próprios reflexos.

            É por isso que Allan Kardec afirmou, convincente, que, depois da morte, até que se redima no campo individual, “para o criminoso a presença incessante das vítimas e das circunstâncias do crime é suplício cruel”. 

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