A
parte primeira do artigo abaixo foi postada em 9 de Janeiro de 2014.
Pedimos desculpas pelo nosso descuido. O Blog.
Parapsicologia e Farmacologia (parte
2)
por Hermínio Miranda
Reformador (FEB) Jan 1962
Vamos concluir hoje o exame das
questões relacionadas com a Para psicologia e a Farmacologia, iniciado no
artigo anterior.
Examinaremos os temas discutidos na
2ª Conferência realizada de 6 a 10 de Novembro de 1959, em St. Paul de Vence,
na França. Tal como no Congresso realizado em Nova Iorque; tomaram parte nesta
vários médicos, psicólogos, psiquiatras e cientistas em geral.
Também como no congresso anterior, o
objetivo foi a discussão do mecanismo da mente sob a ação de drogas
provocadoras de fenômenos tipo mediúnico.
O Dr. Alain Assailly, representante
da França, médico especialista em neuro-endocrinologia, apresentou um estudo
sobre os “Elementos bioquímicos da mediunidade”. Sua tese é a de que um certo
conflito psicológico do médium parece ser importante fator para atingir os
estados de clarividência. Acha que influem não somente conflitos afetivos, mas
também de natureza biológica. Muitos médiuns, na sua opinião, vivem sob a
tensão de agudos conflitos devidos a aspirações insatisfeitas de natureza
afetiva, ou de caráter espiritual. Informa que um dos melhores médiuns de Paris
é um homem que sofre há algum tempo de séria doença crônica.
Certamente que não estou em
condições de discutir com o Dr. Assailly, mas todos conhecemos médiuns sadios e
tranquilos, o que invalida a sua tese...
Em todo caso ele sugere que algumas
pesquisas deveriam ser feitas a fim de determinar se existe alguma relação
entre os hormônios e o estado de clarividência (isto é, de mediunidade). Um
teste esboçado pelo Dr. Assailly seria proceder a exames de urina dos médiuns,
cada 24 horas, durante uma semana, e determinar, então, qual a relação entre o
tipo de mediunidade manifestado pelo médium e os hormônios encontrados no
material colhido.
Há, porém, um sábio conselho do
autor: é quando previne o experimentador para que não se aproxime do médium de
maneira “muito fria, demasiadamente objetiva, proibitivamente científica e
céptica e até mesmo hostil”. Tal atitude somente servirá para criar obstáculos
que inutilizarão as experiências. Já representa algum progresso o fato de a
Ciência reconhecer que as pesquisas em torno dos fenômenos mediúnicos não podem
ser conduzidas da maneira fria com que se examinam fenômenos físicos ou
químicos. No caso, estuda-se a complexa estrutura funcional do espírito humano
e não o simples comportamento previsível de um grupamento de células ou de um
conjunto de forças cegas.
O médium tem a sua personalidade e a
sua formação psicológica, moral e religiosa. Não
é uma coisa, uma simples máquina de produzir fenômenos de natureza incomum. É
um ser humano.
O Dr. Duncan B. Blewett, do Canadá, acha
que há “um tremendo futuro para as drogas psiquedélicas nos tratamentos psiquiátricos”
cuja duração pode ser reduzida. Informa que após um ano de pesquisas no Centro
de Tratamento, na cidade de Regina, no Canadá concluiu que a maior dificuldade
está em conseguir, com precisão, caracterizar “com o que estamos lidando”. Isso
porque o único meio de obter informação a respeito dos fenômenos que se passam
é o relato das próprias pessoas sob a ação das drogas. E poucas dessas pessoas
conseguem descrever razoàvelmente o que se passa com elas durante o processo. O
LSD, segundo o Dr. Blewett, é uma das mais poderosas drogas conhecidas. Um
centésimo milionésimo de grama produzirá, às vezes, notáveis estados na pessoa
que a ingerir. Se a dose não for suficiente, o paciente ficará num estado
intermediário, como se estivesse com um pé no sonho e outro na realidade
habitual. Acha ele que o LSD, alterando de alguma forma, ainda desconhecida, a
função redutora do cérebro e tumultuando aquilo que é tido como sua estrutura
construída no passado, permite que novos grupamentos de ideias apareçam. Longe
de ser um desastre, acrescenta o Dr. Blewett, a pessoa tem então capacidade
para reorganizar sua percepção - sua percepção inabitual - em um nível muito mais
alto que o comum. O paciente informa então que vê as coisas com maior clareza,
compreende-as com um grau mais agudo de percepção. O problema, diz o autor, é
provar que
o paciente se torna, sob a ação da droga, uma pessoa muito mais sábia do que
era dez minutos
antes. Informa ainda o autor que, na sua própria experiência, sob a ação do
LSD, melhoram
suas relações com sua própria família. Seus filhos parecem mais felizes, dá-se
melhor com a esposa. Esta, por seu turno, compreende melhor o marido, uma vez iniciado
o tratamento com o LSD.
Não sei se diante de tão pouca
informação seria lícito concluir, mas talvez valha a pena arriscar uma tímida
hipótese. Talvez esse nível mais elevado de compreensão e percepção seja devido
ao fato de que, sob a ação da droga, o cérebro perispiritual atua com maior
liberdade, afastando-se um pouco da influência pesada e inibidora do cérebro
físico. Mas é muito cedo para formular hipóteses...
O Dr. Roberto Cavanna, representante
da Itália, interessa-se mais detidamente pelo aspecto químico das reações que
as drogas possam causar quando postas em contato com as substâncias orgânicas
existentes nas diferentes regiões do cérebro (físico). Relata experiências
pessoais nas quais, ingerindo 5 miligramas de metamfetamina, presenciou um
vívido cortejo de imagens, independentes de sua vontade, mas, na sua maioria,
relacionadas com cenas reais de seu passado remoto. Acha que indicações
preciosas poderão ser obtidas com o uso do LSD 25 e da psilocibina.
Já a Sra. Eileen J. Garret, dos
Estados Unidos, discorre sobre o tema “A Psicofarmacologia equipara-se à
mediunidade”. Começa por dizer que sua própria experiência autoriza-a a
declarar que o uso do LSD exalta a experiência mediúnica, mas não a técnica de
procurar adivinhar os símbolos das cartas do baralho Zener que, na sua opinião,
nada tem a ver com a mediunidade. Embora ela não acrescente outros
esclarecimentos, pode-se admitir que falta, para melhor compreensão de tais
fenômenos, a distinção entre Animismo e Espiritismo. A seguir, a autora
descreve seus estados de transe mediúnico, obtidos, segundo declara, por
processos de respiração. Informa, então, que ouve frequentemente vozes que a
aconselham e orientam, como por exemplo: “Você tem certa quantidade de trabalho
a fazer e deve faze-lo completamente e bem.” 0 que é surpreendente, no entanto,
é o comentário da autora. Diz ela: “Não consegui ainda encontrar um analista
que pudesse dizer-me se essas vozes são alucinações ou o que são. Julgo que são
de orientação íntima.” Ora, com a experiência que tem a autora, não poderia
mais ter dessas dúvidas se, paralelamente à sua atividade prática como médium,
tivesse um conhecimento doutrinário mais profundo. Acha ainda a autora que as
diferenças entre a experiência mediúnica e o estado de exaltação obtido através
da ingestão de LSD são muito marcantes. De suas experiências mediúnicas nada
fica na memória, enquanto que a
experiência,
com a droga, resta bem vívida na memória, ao retomar ao estado natural. Creio
que também aqui faltou certo conhecimento doutrinário, pois que há vários tipos de
mediunidade . Provavelmente as conclusões da Sra. Garrett não seriam as mesmas
se em vez de médium inconsciente, como parece ser, fosse médium consciente.
O comentário do Sr. J. L. Halliday
(da Grã-Bretanha) nada apresenta de especial interesse, na minha opinião. Seu
título é “A prática da introversão ativa”, que, pela descrição, parece mais um
método de concentração atuando sobre certos centros diretores da percepção
extra-sensorial.
Rosalind Heywood, também da
Grã-Bretanha, apresenta um pequeno ensaio informando que a “personalidade se
altera sob a ação da mescalina”.
Abram Hoffer, do Canadá, Diretor de
Psiquiatria do Hospital Universitário de Saskatoon, assinala que uma coisa
chamou sua atenção, tanto no congresso de Nova Iorque, como no da França: é que
os sensitivos atravessam uma fase preparatória, como se fosse uma espécie de
ritual, antes de passar ao transe. Oferece, então, sua hipótese, que pode ser
formulada nos seguintes termos: a sensibilidade mediúnica depende de uma
determinada taxa de adrenalina no organismo. As variações no índice de
adrenalina produzem o estado de tensão necessário à eclosão de fenômenos
extraordinários. O mesmo aconteceria, então, com o LSD, que estimularia a liberação
de adrenalina, para depois fazê-la baixar subitamente. O desequilíbrio
provocaria o estado de exaltação já mencionado. Sua conclusão - um tanto
precipitada a nosso ver - é a de que “se pode produzir um sensitivo (isto é,
médium) por meio de drogas”.
Acrescenta que, na sua opinião, o
sensitivo necessita de um período de tensão seguido de um período de
relaxamento. Como não sou médium, nem tenho experiência de tipo científico com
médiuns, não posso dizer grande coisa sobre essa conclusão, mas tenho a
impressão de que seria arriscado colocar nesse único quadro todos os médiuns
indistintamente.
Francis Huxley, dos Estados Unidos,
começa seu trabalho por afirmar que o grande obstáculo da Parapsicologia tem
sido livrar-se desses componentes subjetivos de seus fenômenos e colocar-se na
área dos fatos objetivos. Acha o Sr. Huxley - e com ele concordamos nes- te
ponto - que o elemento pessoal é a chave do fenômeno de percepção
extra-sensorial. Não adianta querer estudar a ESP por meios mecânicos. Sugere que
uma das primeiras preocupações dos parapsicólogos deveria ser não no sentido de
trabalhar para investigar a percepção extra-sensorial, mas treinar seus
pacientes no exercício de suas faculdades subjetivas.
O Dr. Karlis Osis, dos Estados
Unidos, relata as experiências da Fundação de Parapsicologia com médiuns sob a
influência do LSD.
As reações dos médiuns foram, de
modo geral, idênticas. Todos se sentiram donos de conhecimentos filosóficos,
como também experimentaram a necessidade de fazer profecias. Um deles viu
personalidades espirituais em torno dos experimentadores.
O Dr. Humphry Osmond, do Canadá,
sugere novas técnicas de investigação. Também ele está interessado em estudar
as possíveis relações entre a mediunidade e a experiência psiquedélica.
Acrescenta que no Congresso de Nova Iorque, pela primeira vez, sensitivos e
cientistas compareceram em pé de igualdade a um conclave. Em lugar de ficarem
na posição de cobaias, os médiuns tornaram-se assistentes dos investigadores.
Até aqui muito bem. Logo em seguida, no entanto, o Dr. Osmond faz uma
afirmativa estapafúrdia, ao declarar que não há documentos que comprovem que os
médiuns tenham sido seriamente questionados pelos cientistas. O Dr. Osmond,
aparentemente, não empresta qualquer valor às inúmeras e exaustivas
experiências de Sir Oliver Lodge, Sir William Crookes, Lombroso, Prof. Hyslop,
Gustavo Geley e tantos outros. Aliás, o autor menciona os dois primeiros para
acrescentar sumariamente que, tanto quanto sabe, foram os únicos que
manifestaram certa agudeza em encarar os sensitivos com alguma simpatia.
Queixa-se depois de que em Parapsicologia o mal é que existem tão poucas
hipóteses, ao passo que “o grande sucesso do físico está, provavelmente, acima
de tudo, no seu crescente e espantoso arrojo em formular
hipóteses”.
Vem a seguir, o trabalho do Sr.
Thomas T. Paterson, da Grã-Bretanha, sob o título de “Fronteiras
da Experimentação”. O Dr. Paterson pertence ao Departamento de Pesquisa Social
e Economia da Universidade de Glasgow. As especulações do autor são mais de
natureza filosófica que prática. Para ele os fenômenos da ESP se limitam a
relações individuais entre a pessoa que emite determinada ideia e a que a
capta. A prevalecer essa classificação tão generalizadora, toda a ESP ficaria resumida
em fenômenos de telepatia, o que não corresponderia à realidade.
Já o Padre Reginald Omez, da França,
apresenta-se como um teólogo católico “interessado no homem sob condições
normais ou paranormais, sem influência externa”. Entende que o homem é o centro
do mundo e um colaborador de Deus. Padre Omez lança três perguntas reveladoras
de suas preocupações. São elas: -
“Qual
a origem dos poderes paranormais?” – “Qual o melhor uso que poderemos fazer
deles?”- “Quando confrontados com o fenômeno chamado maravilhoso ou
supernatural, podemos encontrar uma explanação para ele? e como achar essa
explicação?” Diz o Padre que há 30 anos estuda o “fenômeno maravilhoso”. Em
média lhe são trazidos cerca de 60 casos de possessão, alucinação (auditiva,
visual), estigmas, etc. Muitos lhe são enviados por padres, seus colegas;
outros, por médicos. Sua conclusão é a de que os exemplos de influência
supernatural são muito raros.
A seguir, Padre Omez se declara um
grafólogo quase que nato, informando mais que a intuição é o seu instrumento de
trabalho. Para facilitar seus estudos - palavras suas – “entra em estado de
transe”, ou seja, de tensão. Exatamente quando sob pressão, com a pulsação
acelerada, é que produz os melhores resultados grafológicos. No fim, apresenta
a sua palavra conclusiva, ressalvando, porém, que considera não científico
tirar conclusões de suas observações e experiências. Oferece, no entanto, o que
classifica de “impressão pessoal”. Pensa que tais poderes existem, em graus
variados, em todos os seres humanos. Como aparecem em certas circunstâncias
especiais, significa que tais poderes sempre existiram na natureza humana,
tendo sido mais amplamente desenvolvidos do que o são agora. Algumas pessoas,
naturalmente, são mais bem dotadas que as outras, acrescenta o Padre Omez. A
telepatia existe, em certo grau, em todos.
O Dr. Emílio Servadio, da Itália,
escreve sobre “Critérios psicológicos e métodos de testes”. Declara-se
estimulado pelos assuntos discutidos no Congresso, que cuidou de três ramos de
conhecimento de alta importância: a Psicofarmacologia, a Psicologia profunda e
a Parapsicologia. Entende que um dos objetivos da pesquisa será colocá-las
juntas e verificar como se influenciam elas mutuamente.
Finalmente, o Dr. John R. Smythies,
dos Estados Unidos, informa, numa breve comunicação, que um dos principais
problemas da Parapsicologia está em que ela não é aceita pela maioria dos
cientistas como urna disciplina científica.
Eis aí o que se discutiu nos dois
Congressos de Farmacologia e Parapsicologia, um nos Estados Unidos, outro na
França.
Temos o dever de conceder algum
crédito de confiança aos cientistas e pesquisadores interessados nesses
problemas; ficamos, porém, com o direito de juntar nossa pitadinha de
desencanto. Há cem anos que os cientistas se reúnem para debater os problemas
do Espírito e do funcionamento da mente humana. E que tem resultado de prático
de tudo isso? Podemos, em sã consciência, declarar que as coisas melhoraram em
relação a esse ramo do conhecimento? Quando nos lembramos dos nomes daqueles
que no
passado já investigaram os fenômenos do Espírito e proclamaram sua
autenticidade, ficamos estarrecidos ao verificar quão pouco serviram, para o
meio científico, suas conclusões e observações. Neste ponto a intuição maravilhosa
do povo funciona de maneira muito mais eficiente. O homem da rua, que busca as
causas mais profundas da vida, não nos livros de ciência, mas na própria vida,
encontra a verdade com muito mais frequência que todos esses cientistas tão
brilhantes, cercados de recursos técnicos, de conhecimento teórico, de livros,
mas, de certa forma, tão presos aos preconceitos e falsidades
da ciência materialista. Entre o homem humilde que, singelamente, se rende à
evidência dos fatos e o orgulhoso cientista para o qual os fatos têm que se
encaixar nas suas teorias prediletas, a gente prefere ficar com aquele. A
criatura humana que, no silêncio de seu coração, recebeu amorosa mensagem de um
ente querido, perfeitamente identificado, que passou para o “lado de lá”, não
precisa de provas de laboratório, nem de teorias parapsicológicas para aceitar
a Verdade que tem diante de si. Afinal de contas, senhores, é uma Verdade tão
nítida, tão pura, tão singela e ao mesmo tempo tão tremenda: que o Espírito
sobrevive à desagregação do corpo físico.
Agora, com a psicofarmacologia em
moda, vão os cientistas começar tudo de novo. Mas são tantas as suas dúvidas e
tão contraditórias as opiniões e conceitos que esposam, que a gente fica a
pensar: será que desta vez vai? Não vão ficar a brincar com novas, brilhantes e
vazias hipóteses e teorias para tentar explicar de maneira diferente o que já
está tão bem explicado no Evangelho de Jesus e nos livros tão lúcidos de Allan
Kardec?
FIM
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