A morte provisória
Hermínio
C. Miranda
Reformador
(FEB) Julho 1978
-
Estranho, não é mesmo? - escreveu Omar Khayyám no "Rubáiyát" - que
das miríades de seres que antes de nós cruzaram o portão das Sombras, nem um só
tenha voltado para nos falar do Caminho que, para descobrir, teremos que
percorrer também.
Há
muitas e muitas luas o famoso matemático, astrônomo, poeta e místico persa
cruzou o portão misterioso de que nos fala nos seus escritos, cuja autoria,
aliás, é posta em dúvida pelo erudito historiador americano Will Durant. Na
verdade, lá se vão mais de oito séculos e meio, pois o poeta teria desencarnado
aí pelo ano 1123 da nossa era. Tudo leva a crer que durante essa larga faixa de
tempo Omar tenha cruzado e descruzado o portão algumas vezes, em outras vidas.
É possível, também, que tenha procurado voltar sobre seus passos para "falar do Caminho"
percorrido; e se isto se deu, deve ter também verificado o quanto é difícil
convencer o companheiro, que ficou na carne, das realidades da vida póstuma.
O
problema é muito antigo, tão velho quanto o homem. Já o nosso Lucas reproduz,
no capítulo 16 do terceiro Evangelho, o drama vivido pelo rico que implora a
Abraão o envio de algum mensageiro à Terra para convencer os seus familiares da
existência do mundo espiritual. O velho patriarca responde com
sua experiência e sabedoria:
-
"Se não ouvem a Moisés e aos profetas, também não se convencerão mesmo que
um morto ressuscite."
Isso
é melancolicamente verdadeiro. Por tempos imemoriais tem pairado sobra o
testemunho dos Espíritos uma densa nuvem de suspeição, criada e sustentada
pelos céticos e descrentes de todas as eras, enquanto a verdade se revela em
toda a beleza e poder da sua pureza aos simples e (aparentemente) ignorantes,
como assinalou Jesus.
Essa
nuvem pesada e escura parece mais densa nos últimos tempos, quando, num
processo de total baralhamento dos valores morais da vida, a cultura moderna
converteu-se em instrumento de perplexidade e desorientação.
Jamais
poderia dizer-se que os Espíritos deixaram de fazer a sua parte; ao contrário,
fizeram-na muito bem. Nunca perderam uma oportunidade de fazê-la. Colocaram na
tarefa de dar o recado da imortalidade toda a sua criatividade, venceram todas
as dificuldades inerentes ao processo mesmo da comunicação,
trouxeram-nos todas as evidências possíveis e imagináveis. Em mais de um século
de intensa atividade, desde que foi deslanchado o esforço da hora final, parece
legítimo reconhecer que ninguém neste planeta em que vivemos deixou de ser exposto
à luz da realidade espiritual, aqui ou ali, no tempo e no espaço. Muitos
ficaram impressionados, alguns admitiram a validade da mensagem, mas apenas uns
poucos a aceitaram como um dos mais importantes conceitos ordenadores de suas
existências.
O
mundo espiritual, porém, não desiste da tarefa sublime de vencer nos
companheiros de jornada, nessa fabulosa aventura de viver, a tenaz e irracional
resistência ante o fato mais admirável da nossa condição humana, que é a nossa
própria imortalidade e, em consequência, a ilimitada capacidade de amadurecimento
e evolução do nosso Espírito preexistente e sobrevivente.
Ao
que tudo indica, mais uma tentativa está sendo realizada. Desta vez não são os
Espíritos desencarnados que falam de suas aventuras e experiências ao longo do
Caminho que segue além do portão de que falava Omar. Não são os que
"morreram" para sempre, mas os encarnados mesmos, ou melhor, aqueles que
tiveram a extraordinária oportunidade da morte provisória. Dadas como
clinicamente mortas por alguns minutos, sob variadas condições, essas pessoas
retornaram à vida, seja espontaneamente, seja graças aos métodos da moderna técnica de ressuscitação.
Muitos são os que narram suas fantásticas experiências no mundo póstumo,
durante aqueles minutos, poucos em termos de nosso pequeno relógio cósmico, mas
o bastante para uma completa reavaliação da vida, uma total reformulação de
conceitos, uma inesperada descoberta da paz, uma surpreendente conversão da
esperança em certeza ou da descrença em convicção inabalável.
-
"Você deve ter ouvido falar que morrer é desagradável - escreveu o famoso
piloto Edward Rickenbacker -, mas não creia nisso. Morrer é a coisa mais doce,
mais terna, mais sensual que eu jamais tenha experimentado. A morte chega como
que disfarçada num amigo simpático. Tudo era sereno, tudo calmo. Como seria
maravilhoso simplesmente flutuar para fora deste mundo. É fácil morrer. Você
tem é que lutar para viver."
* * *
A
princípio, tais relatos eram esparsos, tímidos e até mesmo relutantes. As pessoas
envolvidas nesses episódios, usualmente tidos como fantásticos, por mais
jubilosos que se sentissem após a experiência, temiam revelá-la a terceiros.
Não apenas porque a narrativa perdia muito do seu conteúdo e impacto, ante a
impossibilidade de transmiti-la fielmente, mas também porque a reação habitual
é imprevisível. Tanto pode ficar nos limites da aceitação tolerante e educada,
como ir aos extremos da ridicularização ou da compaixão pelo amigo ou parente
que subitamente tenha perdido o juízo.
A
questão, porém, é que os fatos começaram a revelar inequívoca insistência, com
a característica de apresentarem-se de preferência aos médicos e aos sacerdotes
ou ministros das várias denominações religiosas, ambos - especialmente os
primeiros - presença constante junto ao que modernamente se resolveu classificar
de "paciente terminal", ou seja, o que dantes chamávamos de
"desenganado".
Entre
os médicos, a Dra. Elisabeth Kubler-Ross apresenta-se claramente como pioneira
no estudo do fenômeno da morte, ou melhor, na reação dos pacientes terminais
ante a problemática da morte física. Seu primeiro livro - "On Death and
Dying" - é de 1969. Dai para cá começaram a aparecer depoimentos mais
frequentes, até que em 1976, em pesquisa independente, o Dr. Raymond A. Moody,
jovem médico altamente qualificado, publicou seu primeiro estudo a respeito,
sob o título "Life After Life", ou seja: "A Vida depois da
Vida". A despeito das suas conclusões, ainda preliminares e até mesmo algo
tímidas e obviamente incompletas, e do estilo quase frio do relato científico,
o livro encontrou inesperada resposta no interesse
público, transformando-se prontamente num verdadeiro "best-seller".
O
Dr. Moody havia catalogado um acervo de 150 casos de "near death
experiences", isto é, "experiências de quase morte", para as
quais eu proporia a expressão de morte provisória. Seu interesse para o assunto
foi solicitado numa referência ocasional que poderia até ter passado despercebida, mas
posteriormente alimentado e estimulado por vários outros casos indiscutíveis,
logo que ele se dispôs a pesquisar a matéria. Somente às vésperas, por assim
dizer, da publicação da sua primeira obra, o Dr. Moody descobriu que sua colega, a Dra. Kubler-Ross, realizava
pesquisa semelhante, com idênticos resultados e não menor interesse. A doutora
prefaciou o seu livro, louvando sua coragem em proclamar ao mundo cético seus
achados e advertindo-o quanto à resistência e contestação que encontraria em duas áreas especificas: a dos seus
colegas médicos e a dos sacerdotes e ministros religiosos das várias crenças
(crença é uma palavra estranha neste contexto, mas, enfim... aí fica).
Felizmente,
o Dr. Moody não é homem de intimidar-se. Seguiu em frente com as suas pesquisas
reveladoras e, em junho de 1977, achou que era tempo de publicar outro livro
sobre o assunto, já que a sua tarefa desdobra-se rapidamente em conotações
inesperadas, enquanto seus fichários se enriquecem com novos
depoimentos. Daí o volume intitulado "Reflections on Life After Life",
que colhi ainda fresco das impressoras numa livraria de New York, em junho
passado. (1)
(1) Edições Bantam e
Mockingbird, junho/77, New York, Estados Unidos.
Já
agora a posição do Dr. Moody é consideravelmente mais bem definida. O primeiro
volume concluíra ainda algo hesitante, talvez pelo inusitado dos fatos, o que,
por outro lado, depõe em favor da sua humildade intelectual:
-
"Dessa maneira - escrevera então - ficam em mim não conclusões,
evidências, ou provas, mas algo muito menos definido - impressões, perguntas,
analogias, fatos surpreendentes a serem explicados."
Reconhecia,
porém, que, se as experiências que examinava eram reais, teriam
"implicações muito profundas no que cada um de nós está fazendo com sua
vida." "Pois, então - prosseguia ele -, seria verdade que não podemos
entender completamente esta vida a não ser que demos uma espiada no que está
além dela."
Sintomaticamente,
o novo livro é dedicado a "Vi, Andy e Dannion, três que voltaram".
Voltaram, evidentemente, para contar a história de sempre: a vida continua
pelas espirais que se abrem para a eternidade.
Por
outro lado, a coleta de material que antes era feita quase que em segredo e
cheia de ressalvas, intensificou-se de tal forma que o Dr. Moody já perdeu a
conta, segundo confessa na sua introdução. Descobriu mais: que o fenômeno da
morte provisória é tão comum que dentro em breve, diz ele, “o problema” não
será a realidade do fenômeno, mas que consequências decorrem dele". Seja
como for, o interesse de pesquisadores sérios suscitou a boa-vontade de muita
gente disposta a contar suas experiências pessoais, sem o receio de serem
tomadas por débeis mentais.
Enquanto
isso, vários livros sobre o assunto estão sendo publicados ou em preparo. Para
mencionar somente uns poucos, basta lembrar "The Vestibule", uma
coletânea organizada por Jess E. Weiss (Pocket Books, 1977), o esperado livro
da Dra. Kubler-Ross e o do Dr. George Ritchie, Jr., este sob o sugestivo titulo
de "Return from Tomorrow" ("Retorno do Amanhã"), prestes a
sair nos Estados Unidos.
*
No
seu novo livro, o Dr. Moody ratifica muitas das suas primeiras impressões - já
vimos que ele não lhes concedia a categoria de conclusões - e retifica ou
complementa várias outras. É indiscutível, porém, que as pessoas que
regressaram da morte provisória trazem consigo uma completa reformulação da
vida.
Tanto
quanto possível, dentro dos limites de um artigo, que pretende ser meramente
noticioso, vejamos em que consiste isso.
O
primeiro aspecto escolhido pelo Dr. Moody é o que ele chama de "visão do
conhecimento". As pessoas ressuscitadas após clinicamente mortas, com
dificuldade conseguem descrever esse estado de percepção global, onde tempo e
espaço se tornam inexplicavelmente inexistentes.
"-
Por um momento - informa um dos entrevistados - eu conheci todos os segredos de
todos os tempos, todo o sentido do universo, as estrelas, a lua - tudo."
"-
Quanto tempo durou isso?", perguntou o doutor Moody a outro.
"-
Você poderia dizer que foi um minuto ou poderia dizer dez mil anos. Não faz
nenhuma diferença", foi a resposta.
Em
tais condições, o retorno ao corpo físico é sempre uma frustração e esse
aspecto da relutância em voltar é uma das características do processo, segundo
observações do Dr. Moody.
Não
deve ser nada fácil descrever, com aceitável aproximação, aquele estado de
plenitude espiritual. Faltam palavras para narrar a experiência maravilhosa que
ultrapassou de muito os domínios do pobre código humano de comunicação.
"-
As palavras que emprego para descrever isto - diz um dos depoentes - estão
muito distantes da realidade experimentada, mas é o melhor que posso fazer...
Porque aquilo lá é um lugar onde o lugar é conhecimento... Conhecimento
e informação estão prontamente à nossa disposição - todo o conhecimento... Você
absorve conhecimento... De repente, você conhece as respostas..."
E
o inesperado que surge com uma força tremenda, muitas vezes em total oposição
às ideias preconcebidas da criatura? Tomemos, por exemplo, os conceitos de céu
e inferno. Muita gente esperava encontrar algo semelhante no além, por causa
dos multisseculares condicionamentos das religiões dogmáticas. O
próprio Dr. Moody lembra que, no seu primeiro livro, escreveu que seus
depoentes não encontraram nada semelhante ao céu e muito menos ao inferno, do
lado de lá da vida. Já agora, muito embora tais noções teológicas permaneçam
inaceitáveis, há que reconhecer que existem condições definidas de bem-estar e
euforia, que se assemelham ao estado de beatitude. Mais do que isso, porém: há "regiões"
perfeitamente reais, onde tais sensações são experimentadas.
O
autor reúne alguns depoimentos nesse sentido, num capítulo intitulado
"Cidades de Luz".
"-
Havia luz por toda parte - narra uma pessoa. Uma beleza. Eu não podia descobrir
de onde vinha aquela luz. Lá estava ela por toda parte, vindo de toda parte.
Havia música. Parecia que eu estava no campo, com os córregos, a grama, as
árvores, as montanhas. Havia gente também. E uma paz infinita, uma
sensação presente de amor."
"- A distância - descreve uma senhora -
eu via uma cidade. Havia edifícios - separados. Um brilho emanava deles. As
pessoas ali eram felizes. Havia nascentes de águas cristalinas... Creio que se
pode dizer que era uma cidade de luz. Ali também havia música." Outros "ressuscitados" falaram do
"reino dos Espíritos desorientados". (Estou traduzindo ao pé da
letra, inclusive a palavra "spirits".)
Segundo
o depoimento dessas pessoas, aqueles seres pareciam ter sido apanhados numa
armadilha, "aparentemente numa condição de existência das mais
infelizes". Um homem disse que os Espíritos que ele viu (novamente lembro
que a palavra é Espírito mesmo, no original) "não podiam progredir do lado
de lá porque o deus em que acreditavam ainda vivia aqui", ou seja, seus
interesses eram por demais grosseiros. Tais Espíritos pareciam algo aturdidos, mas obviamente
"estavam ali somente até o momento em que resolvessem os problemas ou
dificuldades que os retinham naquele estado de perplexidade".
"- Eles pareciam estar sempre em movimento
- disse um paciente -, em lugar de estarem ali fixados, mas sem nenhum sentido
especial de direção. Partiam em linha reta para a frente e, de repente, viravam
à esquerda; davam uns passos mais e se voltavam para a direita. E nada,
absolutamente nada, para fazer. Eles buscavam algo, mas não me pergunte o que
buscavam."
Allan
Kardec resumiu isso numa expressão: Espíritos errantes e chamou essa condição
de estado de erraticidade.
Alguns
dos ressuscitados informaram que tais Espíritos tentavam, às vezes,
comunicar-se com pessoas encarnadas. Um deles viu, na rua, um homem que tinha
um desses Espíritos a segui-lo. O contato parecia muito difícil, porque os
encarnados não tinham consciência dessas presenças invisíveis, a despeito dos
esforços que os Espíritos faziam por se fazerem notados.
Que
desejariam eles dizer aos encarnados? A coisa mais importante que desejavam
transmitir era não apenas a notícia da sobrevivência, mas principalmente a
necessidade de moralização. Uma pessoa viu o Espírito de uma mulher tentando
desesperadamente comunicar-se com seus filhos.
"-
Tentava dizer-lhes, ao que parece, que deveriam agir de outra maneira, mudar,
modificar o estilo de vida."
E,
pouco adiante, como que a justificar-se, o depoente acrescentou ao Dr. Moody:
"- Não estou tentando moralizar ou pregar
sermão, mas esta parecia ser a mensagem que ela estava tentando transmitir...
Parece que naquela casa não havia amor, se é que você deseja dizer assim...
Parece que ela estava tentando reparar algo que havia feito... É uma experiência de que eu jamais me
esquecerei."
Em
alguns casos, as pessoas que passaram pela experiência da morte provisória
foram poupadas à desencarnação graças à interferência pessoal de algum
"agente ou ser espiritual", no dizer do Dr. Moody.
Um
homem gravemente ferido durante a II Guerra Mundial declarou:
"-
Eu não via nada, mas sentia uma presença maravilhosa e confortadora, ali ao meu
lado, e uma voz bondosa e suave que me disse: "Estou aqui com você, Reid.
Seu tempo ainda não chegou." Eu me sentia tão descontraído e confortável
naquela presença... Desde aquele dia, nunca mais tive o menor temor da
morte."
*
Haverá,
porém, um julgamento no sentido proposto pelas religiões tradicionais?
A
primeira impressão do Dr. Moody, revelada no seu livro inicial, foi a de que
isto não acontecia, ou, pelo menos, achava ele que não havia no mundo póstumo
nada que justificasse nossa expectativa de prêmio ou punição. Há agora algumas
revisões neste ponto.
Depreende
ele dos depoimentos colhidos que há, sim, uma espécie de julgamento, não,
porém, no sentido teológico da palavra e não, definitivamente, da parte do ser
luminoso que geralmente vai ao encontro daqueles que tiveram a experiência da
morte provisória. O ser luminoso - provavelmente um Espírito-guia - parece
demonstrar apenas amor e aceitação em relação ao seu tutelado; o julgamento
parte antes do próprio indivíduo.
"-
Naquele estado - escreve o Dr. Moody -, parece que eles veem por si mesmos o
que deveriam ter feito e não fizeram e assim julgam a si próprios."
Ali,
naquele momento de verdade, compreendemos que "a beleza do nosso corpo ou
a cor da pele não são mais motivo de orgulho. Na verdade, nem mais corpo físico
se tem ali. A única beleza que prevalece é a da alma". No fundo dessas
especulações um conceito fundamental emerge, na opinião do Dr. Moody (e com ele
concordamos em gênero e número): a importância do amor e do conhecimento. É o
que fazemos aos outros o que importa; e, para fazermos a coisa certa,
precisamos saber. Podemos dizer que isto é uma boa aproximação do duplo
conceito de moral e sabedoria que os Espíritos superiores deixaram explícitos
na Doutrina confiada a Kardec.
Uma
testemunha narra, ao assistir a um "replay" da sua vida, que havia
como que um "conhecimento onipotente" a guiá-la e ajudá-la a ver as
coisas na sua exata perspectiva.
"-
O que me impressionou foi isso, porque percebi que não apenas o que eu fizera,
mas, ainda, como o que eu fizera havia afetado outras pessoas. E não era o
mesmo que assistir a um filme, porque eu sentia aquilo; havia ali aquele
sentimento, particularmente agora que eu possuía o conhecimento... Descobri que
nem mesmo os pensamentos se perdem... Cada pensamento estava ali... Seus
pensamentos não se perdem..."
Outro
homem se confessa profundamente envergonhado das coisas que fez ou deixou de
fazer. Mal podia esperar a volta para realizar o que negligenciara, ou refazer
certo aquilo que fizera errado.
Quanto
ao inferno típico das fábulas e fantasias teológicas, nada encontrou o Dr.
Moody. Sabemos da experiência doutrinária que realmente não existe o inferno
pregado pelas igrejas, onde o ser sofreria o tormento eterno ao cabo de uma
única existência, sem outra chance perante as leis do Pai. Não há dúvida,
porém, de que existem regiões espirituais onde o sofrimento e a angústia mais
terríveis parece eternizarem-se na intemporalidade. André Luiz nos apresenta
alguns desses quadros dolorosos. Camilo Cândido Botelho, através de Yvonne A.
Pereira, em "Memórias de um Suicida", descreve, com a sua palavra
flamante, algo muito parecido com o inferno, nas profundezas do desespero
humano.
Mas
o Dr. Moody ainda apresenta alguns condicionamentos dogmáticos e declara que
nada encontrou até agora que ofereça objeção à existência do inferno. Admite,
também, a possibilidade do Juízo Final, tal como o concebe a teologia
tradicional. Não nos esqueçamos de que o jovem médico está chegando à verdade
por aproximações sucessivas, destilando-a pacientemente dos depoimentos
daqueles que foram lá e voltaram. Na verdade, ele procura tranquilizar aqueles
que se "sentiram insatisfeitos" porque, aparentemente, as
experiências colhidas nesses depoimentos ao vivo se apresentam
"inconsistentes com a noção do Juízo Final e do fim do mundo".
Veremos, adiante, um pouco da reação dos teólogos às suas observações acerca do
mundo póstumo.
Entre
essas observações, está a condenação formal do suicídio. Os ressuscitados
voltam convictos de que têm um objetivo a alcançar na vida e não podem atirá-la
fora, como coisa inútil e inservível. Até mesmo não-suicidas foram bastante
enfáticos nesse ponto, como o cidadão que sofreu um acidente quase fatal.
Fizeram-no saber, de alguma forma indelével para a sua mente, enquanto lá
estava, que - "duas coisas seriam completamente proibidas para mim:
suicidar-me ou matar alguém... Se eu cometesse suicídio, estaria atirando o dom
de Deus em Sua própria face... Matando alguém, estaria interferindo nos
objetivos de Deus para com outro individuo."
O
Dr. Moody encontrou, porém, alguns casos de morte provisória devidas a
tentativas de suicídio. A mudança de ponto de vista é radical. Tais pessoas se
encontraram envolvidas "exatamente nos mesmos problemas dos quais estavam
tentando se livrar pelo suicídio. Seja qual for a dificuldade da qual
estivessem tentando escapar, ela permanecia lá, do outro lado, ainda por
resolver".
Um
deles confessou, positivamente:
"-
Não. Eu não faria isso novamente. Na próxima vez morrerei naturalmente, porque
uma coisa que eu entendi naquela ocasião é que a vida aqui é um período muito
curto de tempo e há muito que fazer enquanto você está aqui. E quando você
morre é eternidade."
Na
verdade, estamos na eternidade tanto aqui na carne como no mundo do espírito,
mas parece que a pessoa quis significar que somente lá essa noção de eternidade
adquire a estatura de uma certeza indiscutível.
*
O
capítulo mais fantástico do livro do Dr. Moody, no entanto, pelo menos para os
que estão familiarizados com as verdades que ele vai revelando, é aquele em que
ele discute a reação dos clérigos. O jovem médico lembra que a Dra. Kubler-Ross
havia previsto isso.
Um
deles, com quem o Dr. Moody manteve longa conversa, admitia a sobrevivência do
espírito, com base em depoimentos colhidos nesta série de pesquisas a cerca da
morte provisória. Não obstante, de maneira totalmente incongruente, declarou ao
médico que achava impraticável a prova científica da sobrevivência e, mais grave
ainda, para um sacerdote:
"-
Se pudéssemos provar a existência de vida
após a morte, o que equivaleria a provar a existência de Deus, isto invalidaria
o sistema da fé." (!)
Esta
inesperada enormidade filosófica - com todo o respeito pela pessoa que a emitiu
- é apoiada no raciocínio de que não se pode provar as coisas últimas da vida,
o que, de certa forma, se aproxima da filosofia positivista. A vida maior, na
opinião desse sacerdote, tem de ser aceita na base da fé. Se, pelo que ele
chama de curto-circuito, ficar provado que existe vida póstuma, "ninguém
precisaria ter fé para crer". A confusão do pobre prelado é total, ao
concluir que o depoimento dos que voltaram para contar suas experiências
limita-se a confirmar a fé que ele já possuía. Mas, se ele fosse um descrente,
isso não o teria convencido...
As
reações, porém, são as mais disparatadas. Uns pensam que está completamente
fora de moda o interesse na sobrevivência!
"
- Você não acha - perguntou um ministro episcopal - que deveríamos pensar neste
mundo e não no próximo? Não há uma porção de problemas para resolver aqui?"
Dos
vários encontros com teólogos, o Dr. Moody depreende que a maioria deles julga
ser a preocupação com a outra vida algo anti social, que nos levaria a esquecer
os problemas desta. O jovem pesquisador não vê como nem por que as duas
concepções se excluam mutuamente, com o que estamos plenamente de acordo.
Outro
grupo considerável de "pastores de almas" volta-se para a desesperada
tese de que essas experiências "são dirigidas por forças satânicas ou
demônios maldosos"!
Um
terceiro grupo, ao qual Dr. Moody atribui mais timidez do que desejo de
criticar, compõe-se de sacerdotes que se julgam incapazes de comentar as
observações recolhidas na pesquisa, preferindo deixá-las como problema de
natureza médica. Invocam explicações mais "confortáveis", digamos assim,
como a da alucinação. Cabe acrescentar, porém, que o Dr. Moody encontrou também
médicos que se recusam a comentar o assunto, porque o atribuem à competência
dos teólogos e sacerdotes em geral.
No
capítulo 59, o Dr. Moody faz um retrospecto histórico para concluir que tais
experiências não são novidade, pois é possível encontrar na tradição de muitos
povos, e no relato de muita gente digna de crédito, fatos semelhantes.
Em
seguida, repetindo a técnica de seu livro anterior, ele procura responder a
perguntas e objeções mais suscitadas pelo seu trabalho. Na impossibilidade de
comentar todas, detenhamo-nos em umas poucas que nos parecem mais relevantes.
*
É
de observar-se, de início, as cautelas e suspeições que o problema levanta.
Acham alguns, por exemplo, que o Dr. Moody deveria citar os nomes de seus
depoentes, a fim de dar maior credibilidade aos testemunhos. O autor, porém,
insiste na sua política de conservar no anonimato os seus
"ressuscitados". Ele sabe muito bem das dificuldades que encontrou,
no princípio de sua pesquisa, para persuadir certas pessoas a falarem de suas
experiências. Algumas dessas, pessoas haviam guardado os fatos para si mesmas;
outras, ao tentarem comunicá-los a parentes ou amigos,
encontraram-se face a face com a decepção nascida da incompreensão, da
inaceitação, do ridículo. Observou, ainda, o jovem médico que depois da
publicação do seu primeiro livro - que alcançou enorme sucesso, não nos esqueçamos - tornou-se muito mais fácil
colher depoimentos nesse sentido, pois seus leitores perceberam que ele trata o
assunto com seriedade, sabedoria e discrição. Dessa confiança nos seus
propósitos resultou uma verdadeira avalancha de novos testemunhos, mas é preciso lembrar que as pessoas envolvidas
continuam a viver no mesmo contexto familiar e social de sempre, e é
precisamente nesse contexto que estão aqueles que não compreendem ou não
aceitam suas narrativas, e o Dr. Moody está interessado em continuar recolhendo
depoimentos autênticos, pois desses relatos está se consolidando, para aqueles
que rejeitam a ideia da sobrevivência, uma nova imagem da morte e, por conseguinte, da vida .
"-
Não seria isso o reflexo de um mero desejo de que assim fosse?" -
perguntam outros. "Como tantos gostariam de continuar vivendo após a
morte, argumentam esses críticos, qualquer evidência dessa realidade
"deveria ser considerada suspeita."
O
Dr. Moody não se deixa impressionar. Acha ele, com razão, que o fato de
"existir algo que quase todos nós desejamos não significa que isso não
possa ocorrer".
"-
Os pacientes terminais deveriam ser informados a cerca desses fatos?" -
perguntam alguns médicos.
O
Dr. Moody não sabe ainda como resolver essa questão. A revelação poderia, por
exemplo, perturbar, nas suas últimas horas de vida (na carne), aqueles que
viveram fixados irredutivelmente a uma teologia que ensina conceitos
inteiramente diferentes da realidade que esses casos revelam. De minha parte,
creio que, opinando do ponto de vista da Doutrina Espírita, não teria dúvida
alguma em contar a verdade. Trata-se aqui de mera opção, ante a qual não há
como hesitar: antes a suposta perturbação, ainda "em vida", do que a
tremenda decepção no mundo póstumo, quando a pessoa verificar que a vida
espiritual não é nada daquilo que lhe ensinaram em sermões, prédicas,
conferências, artigos, livros e cursos.
"Por
outro lado, observa o Dr. Moody - se esses relatos não são verdadeiros e não
existe vida após a morte, não há prejuízo para ninguém. Mas, se são
verdadeiros, é melhor que as pessoas estejam preparadas para o que as
espera." Esta é a outra face do argumento.
Embora
o autor se confesse ainda indeciso ante as alternativas, tem o bom senso de
acrescentar, mais adiante, que essas questões "talvez sejam meramente
acadêmicas dentro em breve, uma vez que o fato de que tais experiências ocorrem
vai-se tornando dia a dia mais conhecido".
É
claro, porém, que os médicos em geral, embora confrontados com o fenômeno
narrado pelos seus próprios pacientes, não lhe atribuem valor significativo.
Por simples cortesia, murmuram uma expressão qualquer, como:
"Interessante". E só. Mesmo o Dr. Moody reagiu dessa maneira ante
dois pacientes seus que lhe relataram experiências pessoais de morte
provisória, antes que ele tivesse seu interesse despertado para o fenômeno.
Informa
ele que a tendência de seus colegas é situar o problema fora da área clínica, o
que nem sequer justificaria o esforço de questionar melhor os fatos referidos
pelo paciente.
*
Seguem-se,
no livro do Dr. Moody, algumas oportunas especulações, de colorido nitidamente
filosófico. É que da minuciosa tabulação e análise dos depoimentos colhidos,
quase todos em primeira mão, emergem algumas constantes muito especificas e
definidas. Duas delas têm conotações eminentemente doutrinárias - para aqueles
que têm formação espírita - e podem ser sintetizadas em duas palavras-chave:
conhecimento e amor, como objetivos a serem alcançados no desenrolar da
existência humana. Em outras palavras, as pessoas que passaram pela maravilhosa
experiência da morte provisória verificaram do outro lado da vida a importância
dessas duas conquistas básicas que, sem dúvida alguma, determinam o nível de
felicidade e pacificação interior em que cada uma se situará no
mundo espiritual.
O
Dr. Moody reconhece que tanto a palavra conhecimento como a palavra amor
são de significado "altamente ambíguo". Segundo depreende ele do
depoimento de seus pacientes, no caso do amor, trata-se de um sentimento de
profunda e total doação, podendo ser "caracterizado - diz ele - geralmente
como uma espécie de amor transbordante, espontâneo, sem necessidade de estímulos
especiais e que é dado a outrem a despeito de suas falhas".
Esse
elevado conceito de amor fraterno as pessoas encontram infalivelmente naquele
ser luminoso que sempre vem ao encontro delas no mundo póstumo. O Espírito-guia
não vem julgar, nem mesmo censurar ou repreender: vem trazer o seu amor, e tal
sentimento é, às vezes, sentido de maneira tão intensa que parece iluminar
tudo, tornar-se quase palpável. É uma experiência indescritível.
"-
Ele me mostrou tudo o que eu havia feito - disse uma jovem senhora ao Dr. Moody
- e, em seguida, perguntou-me se eu estava satisfeita com a minha vida... Ele
estava interessado em amor. Amor mesmo. Ele se referia à espécie de amor que me
leva a procurar saber se o meu vizinho tem o que comer e o que vestir e me leva
a ajudá-lo se não o tem."
Quanto
ao conhecimento, prossegue essa mesma senhora:
"-
O tipo de conhecimento pretendido era de natureza mais profunda, relacionado
com a alma... Eu diria que é sabedoria."
Creio
que ela acertou em cheio, a despeito da evidente dificuldade em colocar em
palavras toda a carga emocional que experimentou por breves minutos na presença
daquele ser superior. Não se trata aqui de mero conhecimento, porque este pode
resultar de acumulação de fatos, informações ou experiências, levando frequentemente
aos maiores desatinos quando mal utilizado. Esse é o exemplo constante da
história, e o que é a história senão o relato das vidas daqueles que a fizeram?
O
Dr. Moody parece bem alertado para a sutil gradação de matiz que existe entre
conhecimento e sabedoria, ao refletir que "- Sábio, presumivelmente, não é
o que somente possuiria conhecimento, mas seria aquele capaz de
aplicá-lo moralmente certo. Portanto, o relato citado (da jovem senhora)
empresta uma conotação moral à acumulação de conhecimento."
Para
não alongar mais estes comentários, basta, neste ponto, lembrar os conceitos
doutrinários do Espiritismo, que nos asseguram que a evolução do Espírito se
desenvolve ao longo desta dicotomia: conhecimento e moral. É essa,
precisamente, a convicção que nos trazem aqueles que experimentaram a morte
provisória.
*
Os
colegas do Dr. Moody formam quatro categorias distintas, segundo as atitudes
que adotam ante o fenômeno pesquisado.
O
primeiro grupo é o de médicos que experimentaram eles próprios, e não seus
pacientes, a realidade inesperada da morte provisória. A reação deles é a de
qualquer outra pessoa, mas creio poder acrescentar que a sua perplexidade é
ainda maior, pois, como disseram dois deles ao Dr. Moody, havia muito pouco na
formação científica que tiveram, que os houvesse preparado para enfrentar a
experiência, ou até mesmo proporcionar-lhes uma linguagem na qual pudessem expressá-la.
"Como cientista - disse um deles
- eu pensaria que isso não podia acontecer. Mas realmente aconteceu!"
Não
é difícil entender essa posição. A formação médica moderna prepara técnicos
altamente qualificados para lidarem com uma espécie de máquina biológica
inconcebivelmente sofisticada, nada, porém, acima e além de máquina, passível
de ser parcialmente desmontada, consertada e recomposta e na qual até mesmo
certas peças vitais podem ser substituídas como num aparelho eletrodoméstico.
Um belo dia, no entanto, o competente doutor descobre que a energia consciente
que faz funcionar a máquina não está nela própria, nem precisa dela, sendo-lhe
totalmente autônoma. Não é então de admirar-se que não tenham como explicar o
fenômeno, senão aceitando a existência e a sobrevivência desse principio
autônomo.
O
segundo grupo é constituído de médicos que realizam trabalho semelhante ao do
Dr. Moody, coletando casos idênticos entre seus clientes. Ainda algo aturdidos
ante o insólito, eles se sentem como que aliviados de encontrarem alguém que
esteja realizando pesquisa parecida.
Os
do terceiro grupo adotam uma atitude religiosa perante o fenômeno. Limitam-se a
declarar que as observações confirmam suas próprias convicções.
O
quarto e último grupo é o daqueles para os quais as experiências de morte
provisória são redutíveis a fenômenos de natureza médica, tendo uma explicação
puramente fisiológica ou psicológica, ou uma combinação de ambas.
É
de ver-se a firmeza com que um jovem paciente contesta uma opinião desta última
categoria.
"-
Tão certo como estou agora aqui sentado, se eu morresse novamente hoje,
virtualmente a mesma coisa teria acontecido, com a diferença de que eu estaria
mais bem preparado para observá-la. E eles me vêm dizer que não é nada disso,
jurar que não é assim e que podem me exibir evidência de que não é assim... e
tudo quanto posso dizer é isto: Bem, eu sei onde estive."
E
o Dr. Moody? O que aconteceu com os seus conceitos científicos, filosóficos e
religiosos? Teria isso tudo afetado sua maneira de pensar? Claro que sim, e um
crédito que ninguém lhe poderia negar é o de afirmar as suas convicções de
maneira inequívoca, sem ressalvas e dubiedades.
"
- Aqueles que estejam interessados neste pormenor autobiográfico - escreve ele
-, dirijo as seguintes observações: Fui levado a aceitar, como objeto de crença
religiosa, que existe vida depois da morte e acredito que o fenômeno que
estamos examinando é manifestação daquela vida."
Pouco
adiante, revertendo aos conceitos básicos que decorrem das suas pesquisas, ele
tem algo mais a dizer. Antes, porém, de encerrar com as suas palavras finais
este artigo, que vai ficando longo, creio indispensável algumas observações
adicionais. Dizem elas respeito a um aspecto que, de certa forma, vem refletir
em nossa condição de espíritas, os "suspeitos" de sempre...
"-
Eram essas pessoas, com quem você conversou -" perguntam com frequência ao
Dr. Moody -, interessadas em ocultismo antes ou depois de suas
experiências?"
Não
é difícil perceber o alcance da pergunta. Em primeiro lugar, é preciso lembrar
que as pessoas escassamente informadas acerca da fenomenologia do espírito
humano englobam, indiscriminadamente, sob o nome genérico de ocultismo, uma
terrível miscelânea de coisas, das mais autênticas às mais disparatadas e ridículas.
Para elas, tanto é ocultismo o estudo sério da sobrevivência da alma, ou a
prática mediúnica disciplinada e bem orientada, como os mais desvairados
rituais da magia negra e as mais tolas crendices. Para essas criaturas, tudo
quanto é estranho, desconhecido e ignorado, cheira a ocultismo. O rótulo é
cômodo porque poupa a muita gente o esforço de separar o verdadeiro do falso e,
mais do que isso, o de reformular ideias preconcebidas.
Desse
modo, alguém que teve uma experiência de morte provisória, já convencido da
realidade do espírito, fica automaticamente sob suspeita pelas suas
"ligações" com o ocultismo. Portanto, seu depoimento vale pouco ou
nada. Não merece ser levado a sério. É o que muitos pensam.
O
problema, não obstante, não é tão simples. O Dr. Moody entrevistou mais de 300
(trezentas!) pessoas que passaram por experiências de morte provisória. Num
grupo desses, lembra o jovem pesquisador, era de esperar-se um ou outro
interessado em assuntos como reencarnação, contatos mediúnicos, astrologia
"e outros fenômenos ocultos". No entanto, apenas seis ou sete (em
300, não nos esqueçamos), para surpresa do próprio pesquisador, "manifestaram alguma
espécie de interesse nessa área, antes ou depois de suas experiências".
Quase ninguém desse grupo tinha a contar fatos paranormais ocorridos durante a
sua existência.
"-
Definitivamente, as pessoas com as quais eu conversei - escreve o Dr. Moody -
não são aquelas que frequentemente têm experiências inusitadas, ou que
demonstrem um interesse acima do normal em assuntos de natureza oculta."
Esses
"insuspeitos", no entanto, é que trazem o testemunho de uma inegável
continuidade da vida e da indiscutível influência que têm sobre a condição do
Espírito, na vida póstuma, o seu grau de conhecimento e o nível da sua moral,
exatamente como ensinam os postulados da Doutrina Espírita.
Foram
esses mesmos os que voltaram da morte provisória com uma nova concepção da
vida, e a partir daí elaboraram uma reformulação global de seus conceitos
fundamentais. Até mesmo os ateus, segundo outra pergunta formulada, passaram a
aceitar a ideia da sobrevivência do Espirito.
São
essas as reflexões do Dr. Moody a respeito da "vida depois da vida".
Para
encerrar, suas próprias conclusões, que subscrevemos:
"-
Espero ter condições de aplicar o que aprendi deste estudo à minha vida. Desejo
continuar evoluindo, tanto quanto possível, no sentido de amar ao semelhante e
adquirir conhecimento e sabedoria."
Em
nome daqueles que esperam no desalento e na aridez da descrença, agradeçamos ao
Dr. Raymond A. Moody pelos seus nobres e legítimos propósitos. É importante a
contribuição que ele tem a oferecer a este mundo atormentado, porque desta vez
não são os Espíritos e nem os espíritas que estão tentando convencer o irmão
que sofre, mas é o próprio ser encarnado, praticamente sem nenhuma experiência
ou conhecimento prévio da realidade espiritual, que atravessou o portão das
Sombras e voltou para dizer como é o Caminho...
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