O Silêncio do Justo
Martins Peralva
Reformador (FEB) Setembro 1955
Perguntou-lhe
Pilatos: "Que é a Verdade?" João, 18:38.
Aqui e alhures, desde o episódio de
Pilatos até os nossos dias, a Humanidade não cessou de perquirir e meditar em
torno do transcendente problema.
O silêncio do Justo, deixando sem eco
a pergunta do Governador Romano, continua oferecendo margem às mais amplas
interrogações do espírito humano, inspirando empolgantes capítulos no campo da
filosofia e da religião.
Que é a Verdade? - perguntamos,
também, com o preposto de Tibério.
Desejaríamos tê-la facilmente ao
nosso alcance, sem maiores esforços, como se possível fosse, sem a sucessão
milenária de experiências acrisoladoras, condicionar tanta grandeza na
pequenina taça de nossa indigência sensorial.
Porém ela, altaneira e sublime,
permanece incompreendida, imensurável, abrangendo a Humanidade toda,
confundindo os homens em sua ânsia de indagações metafísicas.
É preciso, em princípio,
reconheçamos que as “nossas verdades”, essas pobres verdades que esmagam e
ferem, não representam, absolutamente, a Grande Verdade que o Cristo não revelou
a Pilatos, porque Pilatos não a entenderia.
O esposo de Cláudia Prócula tinha a
mente absorvida inteiramente pelas angústias da época e de sua posição.
Era um imediatista, um político,
homem do mundo, escravo do poder e da riqueza, patrimônios que lhe empolgavam a
alma adormecida para as claridades divinas.
Sombras de ambição e
convencionalismo obliteravam lhe a consciência, insensibilizavam lhe o ação.
Como poderia compreender a Verdade,
mesmo que o Senhor lha houvesse revelado na agonia do do sacrifício?
Jesus preferiu silenciar. Nas
montanhas e e nos vales, nas aldeias e nas praias “ouviu-se" o Silêncio do
Justo!
O mundo inteiro “ouve" e sente,
ainda, esse divino silêncio!
Que poderia ter dito Jesus àquele
que estava diante da Verdade e não na via?
O Senhor preferiu aguardar que os
milênios corressem, a fim de que o Espírito do representante de César,
reencarnando-se, para aprender a evoluir, conquistasse valores imarcescíveis
que permitissem a compreensão da Verdade.
Já o teria conseguido?
Só os elevados mensageiros do Senhor
o sabem...
Jesus não teve pressa em revelar a
Verdade a quem não a podia compreender, embora afirmasse que viera "trazer
fogo à Terra".
Cada um de nós, que descerramos,
levemente, a cortina do mundo espiritual, já começou, sem dúvida, a sentir um
pouquinho dessa Verdade.
A afirmativa do Cristo - "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida"
- constitui o levantar do
véu, permitindo-nos a perspectiva maravilhosa. Estrada imensa abre-se diante de
nosso Espírito,
concitando-nos para a grande marcha objetivando a integração com aquela Verdade
que o Mestre não quis revelar a Pilatos.
Cristo é a própria Verdade.
Seguir os preceitos de Sua Doutrina,
límpida como o Sol, é iniciação na Verdade.
Quando, na esteira dos milênios
futuros, que nos pedem fidelidade ao Senhor, transformarmos o Evangelho em
espontânea realidade dentro de nosso coração, unificar-nos-emos com a Verdade.
Jesus não mais no Ia ocultará,
porque senti-la-emos na intimidade de nós mesmos, encontrando-a no perfume de
uma flor, no trilar do inseto, no sorriso da criança.
Deus é a Verdade. Jesus o é, também,
porque o "eu e o Pai somos um" e o "se conhecêsseis a mim,
conhecereis a meu Pai", são expressões que saíram dos seus divinos lábios.
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