Testemunhos
de Chico Xavier
por Suely Caldas Schubert
Suely Caldas Schubert
Prefácio
Francisco Thiesen
Edição FEB
Francisco Thiesen
"Quando Wantuil
de Freitas assume a Presidência da Federação Espirita Brasileira, as Portarias
policiais ainda vigoravam constrangendo as instituições espíritas a cumprirem
exigências descabidas, em desacordo com a liberdade de culto existente no Pais.
Wantuil lançou-se, então, à luta, para que o Espiritismo tivesse a igualdade de
direitos concedidos às demais religiões." ("Testemunhos de Chico Xavier", p. 53.)
Antônio
Wantuil de Freitas não quis continuar concorrendo à reeleição para o cargo de
Presidente da Federação Espírita Brasileira, em agosto de 1970, por motivo de
saúde e de sua avançada idade, desencarnando em 11 de março de 1974.
Por
várias vezes conversamos com o antigo Presidente – cuja experiência era enorme,
haja vista que foi diretor da FEB por trinta e quatro anos consecutivos, sendo
os últimos vinte e sete no posto máximo – sobre assuntos de interesse do
trabalho espírita, no Movimento, e sobre questões ligadas notadamente à
atividades que estávamos exercendo na Casa Máter do Espiritismo no Brasil.
Numa tarde, em sua residência,
disse-nos Wantuil o seguinte: “Thiesen,
quero que saiba que se existe o Departamento Editorial, que você está administrando
por delegação do atual Presidente, Armando de Oliveira Assis, devemo-lo, em
grande parte, à existência de um homem sem o qual a obra do livro espírita
talvez não tivesse prosperado - Francisco Cândido Xavier." E, depois
de estender-se em considerações interessantes quanto ao livro espírita, aduziu:
“Quero recomendar-lhe, com os olhos
voltados para o futuro, que entenda habitualmente as hostilidades e ataques à
Federação com a maior naturalidade, e sempre que acusações nos sejam
endereçadas não se preocupe em a elas responder, porque a nossa Casa está
suficientemente preparada para resistir ao assédio de adversários gratuitos,
graças à sua experiência quase secular. Mas, se porventura formos levados a
defender-nos, evitemos expor o médium a dificuldades a que ele, como homem,
compreensivelmente talvez não possa resistir por longo tempo. Preservá-lo,
portanto, é para nós simples dever."
*
Ocorrida a desencarnação de seu pai,
Zêus Wantuil entregou à Federação os livros e papéis que o ex-Presidente ainda conservava
em seu poder. Como se sabe, Wantuil havia transformado parte de sua residência
no escritório central do qual comandava todos os labores febianos.
Zêus Wantuil
Zêus, no entanto, consultou-nos
sobre se devia também entregar, ou não, as cartas dirigidas a A. W. de Freitas
por Chico Xavier e por algumas outras personalidades. Pensara mesmo, num
primeiro momento, em incinerá-las, com o louvável propósito de prevenir
divulgações extemporâneas de documentos não suficientemente analisados e
explicados, caso caíssem em mãos de pessoas descomprometidas com os altos fins
da Doutrina, do. Movimento Espírita e da Casa de lsmael. Sugerimos-lhe, na
oportunidade, que no-las confiasse à guarda, esperando o desenrolar dos
acontecimentos e os conselhos do tempo.
Foi assim que nos tornamos
depositário desse acervo de imenso valor. Levando em conta os alvitres de
Wantuil e a confiança com que Zêus nos honrou, poucas vezes estampamos
em "Reformador" cartas de Chico Xavier e de outros confrades, só o
fazendo quando esse procedimento podia ser útil aos leitores para sua melhor
elucidação a respeito da linha doutrinária da Federação, para esclarecimento de
fatos históricos da Unificação ou para dirimir dúvidas de vulto.
Selecionadas, mais tarde, em dois
grupos, as cartas principais tiveram seu arquivo acompanhado de indicações,
peça por peça, de seus conteúdos. Oportunamente, excertos dessas missivas foram
datilografados e com eles formamos um volume de regular proporção. Pensávamos
em escrever um livro, mas o considerável trabalho administrativo e a
precariedade da resistência física cedo nos demoveram desse intuito.
Mantendo-nos no propósito de dar à
publicidade alguns tópicos dessa correspondência, já que o tempo e as
circunstâncias atuais afastaram, em grande parte, os temores
referidos por Wantuil, deveríamos designar, como de outras vezes o fizemos,
alguém para realizar a tarefa. A escolha recaiu na pessoa de Suely
Caldas Schubert, dedicada médium e estudiosa da Mediunidade há longos
anos. Era necessário, segundo pensávamos, que o trabalho fosse executado por
quem estivesse familiarizado com a teoria e a prática da Doutrina Espírita e
com os assuntos e fatos gerais do Movimento; que bem conhecesse a pessoa e a
obra de Chico Xavier; que estivesse para maior facilidade de consultas e
contatos, ligado à Administração da Federação Espírita Brasileira e fosse, por
isso mesmo, merecedor de sua confiança, e, se possível, com trabalho já
publicado e bem aceito sobre temas pertinentes à Mediunidade. A autora de “Obsessão
/ Desobsessão - Profilaxia e Terapêutica Espíritas", convocada ao
cometimento - dentro das coordenadas preestabelecidas - dispôs-se à obra,
efetuando, inclusive, contatos pessoais com Chico Xavier e deste obtendo
sugestões de valia e explicações para pontos menos explícitos de determinadas
missivas.
Transcorridos quatro anos, o livro
ficou concluído. Recebeu a contribuição de companheiros na revisão a que foram
submetidos os originais. Devidamente satisfeitas as
formalidades legais com a obtenção da autorização especial do médium Francisco
Cândido Xavier, para utilização, pela Federação Espírita Brasileira, da
correspondência dirigida a A. Wantuil de Freitas, o trabalho está pronto para o
prelo. As cessões de direitos autorais à FEB, sempre gratuitas, são, neste
livro, da autora e do missivista.
De futuro, certamente, outras cartas
integrarão novos estudos e comentários, pois, por ora, somente parte das cartas
aludidas está sendo objeto de publicação.
*
Bem documentada para responder às
agressões contínuas a que a submetem pessoas afoitas, nem por isso se abalançou
a Federação a dar-lhes resposta, cônscia de seus
deveres e responsabilidades, atenta às diversificadas áreas de sua atuação no
Movimento, cuidando da divulgação da Doutrina e impondo-se pelas obras que
realiza, ocupada
com as atividades da Unificação dos Espíritas, com a Educação Espírita das
Gerações Novas e com o Estudo Sistematizado do Espiritismo. Sua revista
"Reformador", centenário porta-voz da Casa de lsmael, continua
primando pelo equilíbrio e pela sensatez, enquanto os demais órgãos e serviços
da Casa prosseguem trabalhando e o Espiritismo estende em todas as direções a
sua influência. A presença da Federação transcende as fronteiras
do País e neste é sentida nos empreendimentos e realizações mais respeitáveis.
A obra do livro espírita ganha
proporções jamais vistas, assegurando a continuidade da Revelação progressiva
da Doutrina dos Espíritos.
Por intermédio de Chico Xavier temos
recebido do Plano Mais Alto - e bem assim através de um pugilo valoroso de
outros médiuns cristãos - desenvolvimentos e esclarecimentos dos ensinos que
foram confiados a Allan Kardec e à Equipe de seus abnegados auxiliares e
cooperadores.
A Federação Espírita Brasileira,
publicando os “livros-astros" da Espiritualidade Superior, ao longo de
decênios dessa transferência de conhecimentos avançados, o fez graças à
sintonia ideal estabelecida entre Chico Xavier, Emmanuel e Wantuil de Freitas,
o que fica demonstrado por palavras simples e precisas do médium e da coordenadora/
comentadora da correspondência que para esse fim lhe confiamos.
É o compromisso da Mediunidade com
Jesus, permitindo e facilitando às pessoas simples de coração e aos sedentos da
alma - ao povo faminto de consolação e de esclarecimento
-, mas valorizando a inteligência, o estudo e o trabalho em todos os níveis de
evolução dos seres humanos, o acesso à Mensagem excelsa do Consolador prometido
e enviado pelo Senhor.
Mostrando, por dentro, o
processamento de luminosas e sacrificiais realizações, este livro cumpre a sua
finalidade.
Os detalhes necessários às
elucidações ficaram a cargo da autora. Neles não precisamos entrar. Concordamos
com as considerações e ponderações dela, com as
transcrições
e citações de textos de apoio doutrinário e evangélico, de páginas de Allan
Kardec, Léon Denis e credenciados escritores e médiuns.
*
O Porvir reservar-nos-á ensejos
novos de estudo da Grande Planificação Espiritual que deu origem às
contribuições de Chico Xavier / Emmanuel, interessando milhares de Espíritos
que seguem as inspirações do Cristo de Deus e, no Brasil, do Guia Ismael, cuja
Casa, na feliz definição de Chico Xavier, é “comparável a um Estado da
Espiritualidade na Terra".
Encerrando estas linhas, queremos consignar
aqui, de maneira explícita e muito sincera, a nossa solidariedade à conduta
exemplar de Francisco Cândido Xavier, também carinhosamente conhecido pelo nome
de Chico Xavier.
Que a Paz de Jesus, Nosso Senhor e
Mestre, seja com todos nós.
Brasília (DF), 14 de julho de 1986
Francisco Thiesen
Presidente da Federação
Espírita Brasileira
Antônio Wantuil
Apresentação
A correspondência de Chico Xavier a
Wantuil de Freitas, ora parcialmente tornada pública pela gama de ensinamentos
que transmite, é impressionante depoimento sobre a vida desse autêntico
missionário do Cristo que é FRANCISCO CÂNDIDO XA VIER.
Através dos trechos dessas cartas, a
verdade dos fatos vem à tona de maneira cristalina, apagando vestígios de
possíveis distorções e dirimindo dúvidas.
Ao nos inteirarmos do conteúdo dessa
correspondência, enorme e profundo sentimento invadiu-nos. À emoção unia-se a
admiração e a perplexidade. Comovemo-nos por
encontrar o Chico na intimidade de suas lutas. Jamais ele aparecera assim aos
olhos do mundo. Aqui estão seus depoimentos pessoais, os seus sentimentos mais
íntimos, a sua vivência de cada dia portas adentro do próprio coração.
Em muitos instantes a confissão de
seus sofrimentos, de suas reações ante as perseguições soezes, as calúnias
torpes que lhe eram lançadas, as criticas ferinas e agressões que com espantosa
frequência se repetiam em seu cotidiano causou-nos impacto muito grande.
A verdadeira dimensão da figura
humana de Chico Xavier surge assim através de suas cartas. Estas representam o sinete
da autenticidade da vida missionária de um dos maiores médiuns psicógrafos que o
mundo conhece.
Passo a passo vamos acompanhando-lhe
a trajetória. A sua vida é a mais lídima mensagem de amor e paz do nosso tempo.
Sua obra se reveste de característica
singular, pois fala não apenas por ele mesmo, mas também por Emmanuel, a nobre
entidade que é o seu guia espiritual; por Bezerra de Menezes, que durante mais
de meio século dirige a sua mediunidade receitista; por Humberto de Campos e
André Luiz; por centenas de poetas e muitos escritores, perfazendo um
sem-número de autores para um único médium!
A oportunidade de comentar parte da
riquíssima correspondência de Chico Xavier para Wantuil de Freitas, no tempo em
que este ocupou a Presidência da Federação Espírita
Brasileira, trouxe-nos também o ensejo de constatar a notável coerência de seus
depoimentos ao longo dos anos. É admirável encontrarmos nessas cartas muitas
das citações que ele faz em entrevistas as mais diversas, realizadas mais de 30
ou 40 anos depois, em todas mantendo sempre o mesmo relato fiel e coerente.
Chico Xavier! Nome repetido, amado e
respeitado!
Quantos são os consolados, os
esclarecidos, os acordados para a vida, os salvos da morte, os redimidos, os
que reviveram na esperança, os que aprenderam a amar, os que retornaram ao
Cristo através da sua mediunidade abençoada?
Quantos renasceram para a vida após
serem atendidos por ele?
Quantos ingressaram no Espiritismo
graças às suas páginas psicográficas?
Quantas obras assistenciais foram
inspiradas por ele?
A força dessa figura humana
exponencial, frágil na sua aparência, dimana principalmente do exemplo, da sua
extraordinária vivência evangélica.
Estas cartas propiciam-nos uma visão
mais completa de Chico Xavier.
Lendo-as, vamos gradativamente
descobrindo que os testemunhos dolorosos fazem parte da “subida através da luz” na feliz expressão de Emmanuel sobre o livro
"Luz Acima", comentado por nós no transcurso desta obra.
As lutas, as dores, as perseguições
são íntimas companheiras do médium e lhe maceram o corpo e a alma, deixando
cicatrizes profundas. São as "marcas
do Cristo" de que nos fala o apóstolo Paulo.
Os comentários que fazemos dessa correspondência
não trazem o intuito do elogio, mas sim o de reconhecer a verdade que está
diante dos nossos olhos. A pretexto de não elogiarmos, não podemos incorrer no
engano de permanecermos indiferentes ou omissos.
A figura veneranda de Chico Xavier
inspira-nos respeito e amor.
O seu maior livro é a sua vida, que
ele escreve página a página com as tintas do próprio suor, com sofrimentos e
lágrimas na jornada sacrificial a que se impôs.
Entretanto, fá-lo com amor e por
amor.
A sua obra psicográfica e caritativa
é a mais eloquente lição de Doutrina Espírita. O tempo só faz consagrar a
autenticidade de sua mediunidade.
Os nossos comentários têm o
propósito de evidenciar a programação espiritual entre Emmanuel e Chico Xavier,
envolvendo a FEB, Wantuil de Freitas e uma equipe de trabalhadores
dedicados; a vivência evangélica de Chico Xavier; a sua coerência doutrinária e
a mediunidade com Jesus.
Esperamos ter alcançado os nossos
objetivos. Essa correspondência é riquíssimo filão de ensinamentos. Muita coisa
mais poderá ser escrita a partir de agora.
Estamos felizes pela honrosa
incumbência que recebemos do Presidente da Federação Espírita Brasileira,
Francisco Thiesen, de comentar parte das cartas de Chico Xavier
para Wantuil de Freitas, no período de 21 anos desse intercâmbio.
Leitor amigo! Você vai encontrar, a
partir de agora, o mundo particular de Chico Xavier. Como nós, você certamente ficará surpreso.
Almejamos que este livro seja um
estimulo definitivo para todos nós. Um estímulo que nasce da força viva do
exemplo, das lições silenciosas que ele, Chico, nos transmite, das sementes que
brotam nessa semeadura de quase 60 anos, dos frutos que o tempo sazonou, da
coragem e da fé que sentimos renascer no recôndito de nosso coração ante a
coragem é a fé de que ele dá testemunho dia após dia, dessa existência, enfim,
que é um livro sublime.
Erasto nos fala da missão dos
espíritas:
"Ide e pregai a palavra divina. É chegada a hora em que deveis
sacrificar à sua propagação os vossos hábitos, os vossos trabalhos, as vossas
ocupações fúteis. Ide e pregai. Convosco estão os
Espíritos elevados. Certamente falareis a criaturas que não quererão escutar a
voz de Deus, porque essa voz as exorta incessantemente à abnegação. Pregareis o desinteresse aos
avaros, a abstinência aos dissolutos, a mansidão aos tiranos domésticos, como
aos déspotas. Palavras perdidas, eu o sei; mas não importa. Faz-se mister
regueis com os vossos suores o terreno onde tendes de semear, porquanto ele não
frutificará e não produzirá senão sob os reiterados golpes da enxada e da
charrua evangélicas. Ide e pregai!
.......................................................................
Ide,
pois, e levai a palavra divina; aos grandes que a desprezarão, aos eruditos que
exigirão provas, aos pequenos
e simples que a
aceitarão; porque, principalmente entre os mártires do trabalho, desta provação
terrena, encontrareis fervor e fé. Ide; estes receberão, com hinos de gratidão
e louvores a Deus, a
santa consolação que lhes levareis, e baixarão a fronte, rendendo-lhe graças
pelas aflições que a Terra lhes destina." ("O Evangelho
segundo o Espiritismo", cap. XX, item 4.)
Esta é a própria Vida de Chico
Xavier.
Juiz de Fora (MG), abril de 1985
Suely Caldas Schubert
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