Fora da Doutrina
não há orientação segura
Tibúrcio Barreto / Indalício Mendes
Reformador
(FEB) Abril 1955
Nota-se, com pesar, a multiplicação
de "centros", "cabanas" e outros grupamentos ditos espíritas,
onde se tem a impressão de ambiente nitidamente católico; em virtude das
imagens espalhadas liberalmente em altares e de práticas que, longe de serem
espíritas, pois o Espiritismo não as endossa, são evidentemente da liturgia
romana. Além disto, pessoas sem suficiente educação doutrinária de Espiritismo,
trazem para este preconceitos e hábitos católicos e de outras origens, assim
como já estão levando para o perigoso setor das festividades sociais o nosso
credo, deturpando-o pelo enxerto que realizam abusivamente. Assim, tal como há missas de
formatura, batizados e casamentos, também já estão sendo feitas (!), em
determinados agrupamentos ditos espíritas, "preces" de casamentos,
batizados e formaturas...
Mais
do que nunca há necessidade de uma união muito íntima e permanente em torno dos
princípios pregados e defendidos pela Federação Espírita Brasileira,
sustentáculo da Doutrina firmada através dos livros de Allan Kardec. A
facilidade com que são criados e improvisados 'centros" espíritas, por
pessoas sem idoneidade doutrinária, muitas vezes sem o esclarecimento
dispensável para assumir a enormíssima responsabilidade de direção de uma casa
dessa natureza. Daí essa invasão de preceitos e procedimentos que se
antagonizam com a Doutrina Espírita, que não aceita nem admite imagens, não
cultiva a idolatria e não se prende a disciplinas litúrgicas, consoante os
ensinamentos deixados por Allan Kardec. Tudo isso acontece porque muitos
"centros" são dirigidos por quem não reúne qualidades para tanto. Um
diretor de casa espírita, para desincumbir-se satisfatoriamente de sua função,
deve estar atento aos preceitos doutrinários e não permitir que de modo algum a
Doutrina seja desrespeitada e enfraquecida pela introdução de normas exóticas,
trazidas de outras religiões, principalmente daquelas que se interessam pelo
debilitação do Espiritismo como Religião racional, Ciência progressiva e
Filosofia da Alma na dupla ambiência do material e do imaterial.
Todos
os esforços dos bons espíritas deve, pois, convergir para o estudo e para a
difusão da Doutrina. Preliminarmente, ninguém deve ignorar que não são práticas
normais nem admissíveis no Espiritismo as realizações de casamentos, batizados,
batizados de animais (!), missas, bênçãos de espadas, de automóveis, de casas
comerciais, de campos esportivos, preces de ação de graças por formaturas,
etc., etc., etc. Os que assim procedem ou aceitam essas coisas demonstram não
se haverem libertado ainda dos hábitos católicos, tanto que trazem para o
Espiritismo as práticas que colidem frontalmente com a nossa Doutrina. Desse
modo, estão favorecendo a intenção dos padres, que querem a corrupção do Espiritismo, de seus princípios doutrinários
e de suas práticas simples, para que eles mesmos possam oportunamente encontrar
pretextos para o combate à nossa crença.
Eis
porque importa muito estudar a Doutrina e propagá-la com tenacidade. Ninguém
pode fazer-se espírita verdadeiro de um dia para outro, só porque aceitou sem
maior estudo certas manifestações fenomênicas ou porque teve também o "seu
caso positivo", que o fez voltar-se para o Espiritismo. Ninguém pode
dizer-se realmente espírita apenas por ser médium, visto como este dom pode ser
de qualquer um, espírita ou não, crente ou descrente. O que torna alguém
espírita, no seu sentido mais puro, é o conhecimento e a exemplificação da Doutrina, sua conduta
moral em face desta e do Evangelho. Já o dissera Allan Kardec: "Anos são
precisos para formar-se um médico medíocre e três quartas partes da vida para chegar-se a ser um sábio.
Como pretender-se em algumas horas adquirir a ciência do infinito? Ninguém,
pois, se iluda: o estudo do Espiritismo é imenso; interessa a todas as questões
da metafísica e da ordem social; é um mundo que se abre diante de nós. Será de
admirar que o efetuá-lo demande tempo, muito tempo mesmo?" (Allan Kardec, "O Livro dos Espíritos" - "Introdução ao
estudo da Doutrina Espírita".)
Em
suma, o que vem sendo feito para imitar a Igreja católica representa gravíssimo
erro, digno de ser vigorosamente combatido. Aqueles que estão transformando
casas chamadas de espíritas em capelas cheias de santos e velas, trazendo para
os centros rituais próprios do Catolicismo e de outras religiões, estão
contribuindo para o fortalecimento dos adversários do Espiritismo e para o
enfraquecimento do movimento espírita. Não podem, portanto, estar bem
orientados. Já o fato de alguns adotarem como denominação oficial de seus
centros ou "cabanas" o nome de espíritos, sem dúvida iluminados,
precedidos dos adjetivos "São", "Santo" e
"Santa", revelam não se encontrarem ainda desvencilhados da
influência católica, tanto que consideram imprescindível titular os patronos de
suas casas como o faz a Igreja.
Mais
do que nunca, os espíritas esclarecidos devem cerrar fileiras em torno da
Doutrina que nos legou Allan Kardec. Trabalhar por ela, difundi-la, popularizar
cada vez mais seus princípios essenciais, pelo menos, a fim de que se possa,
numa campanha de reeducação e de elucidação, impedir que o erro se propague e
se consolide.
Compreendam
todos aqueles que se encontram a serviço da causa espírita: fora da Doutrina
não há orientação segura.
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