domingo, 23 de março de 2014

A FEB



Some outros 52 anos e nada muda...

Meio século
de trabalhos e lutas!
Editorial
Reformador (FEB) Janeiro 1962


            Foi exatamente no dia 10 de Dezembro de 1911 que se deu a inauguração do edifício onde funciona, até hoje, a sede social da Federação Espírita Brasileira.

            De princípio, não podemos esquecer a figura da veneranda irmã em crença, D. Mary Henrieth Hoffmann. Doando à Federação o prédio à rua S. José nº 60, em Junho de 1905, facilitou o impulso inicial para a concretização do empreendimento cujo cinquentenário ora comemoramos, e foi ainda ela quem, entre outros rasgos de benemerência, forneceu os recursos para assegurar a conclusão da obra no prazo necessário.

            Todavia, a grande cabeça planejadora e orientadora de tudo, vontade enérgica e inabalável, síntese de fé e trabalho construtivo, foi o então presidente da Casa de Ismael, o inolvidável Leopoldo Cirne, que, recebendo amparo e apoio dos companheiros de Diretoria e dos sócios em geral, deu homérico impulso à grande realização.

            Adquiridos dois velhos prédios da rua do Sacramento, depois Avenida Passos nºs 28 e 30, foram logo demolidos, e a 14 de Julho de 1910 lançavam-se os alicerces do atual edifício da FEB.

            Vencendo barreiras e entraves, a obra foi crescendo, andar após andar, ficando inteiramente pronta em 17 meses.

            Às solenidades inaugurativas compareceu uma multidão calculada em mil pessoas, de todas as classes sociais, além de inúmeros convidados, entre os quais se destacava a figura patriarcal do grande homem público, Quintino Bocayuva, o amigo sincero dos espíritas. Horas antes dessa festa inaugural, aparecia nas bancas de jornais do Rio de Janeiro o famoso órgão democrático – “O Paiz” com um longo artigo sobre o fato, tendo sido estas as suas palavras primeiras:

            "Não é uma inauguração vulgar de um edifício que interessa apenas à associação a que pertence; ela resume, na pedra e na argamassa do amplo edifício erigido na Avenida Passos, urna obra generosa de fé e de assistência, que se tem estendido beneficente sobre uma grande parte da população desta terra.”

            Pouco depois das 14 horas de 10 de Dezembro de 1911, Leopoldo Cirne abria a reunião, e, em meio do silêncio geral, proclamava, nestes termos, a instalação da nova sede:

            “Na qualidade de presidente da Federação Espírita Brasileira declaro solenemente inaugurado este edifício, construído com os óbolos dos crentes e destinado à sua sede e ao funcionamento de todos os seus serviços.”

            Passada a emoção que percorreu o vasto salão, lacrimejando olhos aqui e ali, Leopoldo Cirne, com aquela sua voz vibrante e compassada, verbo fácil e escorreita linguagem, enlevou o auditório por mais de uma hora, entrando em considerações de ordem geral a respeito da Federação, dos seus fins humanitários, da sua ação regeneradora, dos resultados benéficos que ela, propagando a doutrina dos Espíritos, traria para toda a Humanidade.

            "Era tempo - dizia ele - de que o Espiritismo, tão malsinado, tão pouco compreendido por uns e tão mal julgado por outros, oferecesse este testemunho de sua força e capacidade organizadora. Era tempo de que esta obra, que avulta pela sua significação moral para a propaganda da verdade espírita, viesse dar lugar à aproximação, cada vez mais ampla, entre os que a ignoram e os que já desfrutam os seus salutares benefícios." 

            Referindo-se ao dístico que encima a fachada do edifício – Deus, Cristo, Caridade -, fez belíssima apologia dessa trindade, ampliando lhe os conceitos em largas, profundas e belíssimas tiradas oratórias. E após evidenciar a grandiosidade do Espiritismo e sua influência no progresso individual e coletivo, o admirável Cirne assim concluía:

            “Quando esta Doutrina, que se apoia em fatos e é sancionada pela razão e satisfaz às mais nobres aspirações ao coração humano, houver penetrado em todas as consciências, uma profunda transformação se há de operar em nosso mundo. Ruirão as fronteiras entre os povos, a paz se estabelecerá por toda a parte e a fraternidade se estenderá como um luminoso pálio sobre todas as nações."

            Vários outros associados usaram, a seguir, da palavra, uns com a recitação de poesias inspiradas naquela festa, outros com vibrantes discursos, em que extravasavam sentimentos de paz e alegria. Subiram, assim, à tribuna o Dr. Miguel R. Galvão, João de Loyola e Silva, José Luís de Magalhães, lnácio Bittencourt, o célebre médium Fernando de Lacerda, em nome dos espíritas portugueses, cumprindo destacar o vulto venerando de Manoel Fernandes Figueira, um dos fundadores da Federação, em 1884. Fazendo, em linhas bem gerais, o histórico do Espiritismo desde as suas origens nos Estados Unidos, o seu desenvolvimento na França, a sua irradiação na Inglaterra, na Rússia, na Alemanha, na Espanha, na Itália e, particularmente, no Brasil, - Fernandes Figueira finalizava o seu discurso com essa apóstrofe ungida de sincera fé: - “Avante, Federação Espírita Brasileira!"

            Não mais havendo oradores inscritos, Leopoldo Cirne, com uma prece comovedora, acompanhada mentalmente por toda a assistência, de pé, encerrou a memorável sessão, entregando aos espiritistas brasileiros a nova oficina de trabalho construtivo, a bem da Humanidade.

            Antônio Constâncio Alves, médico e membro da Academia Brasileira de Letras (cadeira 26), ilustre jornalista que se assinava C. A. na seção “A Semana - Dia a Dia" do "Jornal do Commercio" do Rio de Janeiro, dedicou a brilhante crônica de 14 de Dezembro daquele ano à auspiciosa inauguração, verdadeira chave de ouro das apreciações da imprensa em geral.

            "Esse fato - assinalava ele, ao começo afirma brilhantemente a tenacidade invencível, a fé heroica, a paciência admirável daquela associação benemérita.

            “A realidade de agora é o resultado de meia dúzia de anos de sacrifícios, sem arrependimentos, e de trabalhos sem desânimo.

            “É também a promessa de novos triunfos, de maiores empreendimentos em favor da Humanidade.

             "O mais difícil está feito. A Federação Espírita, olhando para o seu passado que excede de um quarto de século, e avaliando a prosperidade do seu presente, - pode, sem receio de que o futuro a desminta, esperar que seja cada vez menos difícil e mais glorioso o exercício de sua vasta caridade.

            “O novo edifício já lhe permite ampliar essa influência benfazeja, a que milhares de pessoas devem favores dos mais valiosos."

            Mais adiante, Constâncio Alves afirmava: “Qualquer que seja a opinião que se tenha no tocante à verdade do Espiritismo, como ciência e como religião, - o que parece fora de contestação é que uma grande sinceridade e uma fé respeitável dirigem a Federação Espírita, e que o seu desaparecimento seria o infortúnio de muita gente."

            Terminando o seu extenso artigo, o erudito escritor e jornalista, que se confessava não espírita, mas tão somente uma testemunha imparcial, declarava abertamente:

            "Se fosse espírita, o Conde de Paris não teria formulado nesta frase as apreensões da sua última hora: "J'ai peur de l'lnconnu."

            O desconhecido, graças ao Espiritismo, já é uma rua tão bem iluminada como a nossa Avenida Central.

            “É essa claridade que atrai tanta gente e que nos mostra o exemplo de uma religião vivendo e crescendo em força; sem favor oficial, e ganhando pela sua benemerência até o respeito dos que não são seus devotos.

            "Esses, se podem ser imparciais, se julgarem justiceiramente das instituições pelos seus benefícios, hão de fazer votos pelo engrandecimento da Federação Espírita e desejar que dentro em pouco o seu novo edifício não baste para as suas necessidades e que os seus recursos sobrem para a construção de outro muito maior."

            Com o correr do tempo, as necessidades da Federação foram aumentando. A sede central não mais comportava todos os serviços por ela desempenhados. Imprescindível se tornava um novo edifício, para dedicar-se exclusivamente ao livro, ao "Reformador" e à propaganda em geral. Criou-se, então, graças a um pugilo de abnegados, em 9 de Setembro de 1948, na rua Figueira de Melo, 410, a Departamento Editorial, cujos múltiplos benefícios rapidamente se fizeram sentir em todo o Brasil e mesma no estrangeiro, redundando indiretamente no crescimento do movimento assistencial, não apenas da FEB, como também de inúmeras outras Associações espiritistas.

            Atualmente (ver "Reformador" de Novembro de 1961, págs. 247), novas ampliações foram inauguradas, e é de notar que a marcha progressiva da Espiritismo pede da Federação Espírita Brasileira outras construções de cimento e ferro, onde ela possa dar plena expansão à complexidade da tarefa que a glorioso Ismael lhe incumbiu nas terras do Cruzeiro do Sul.


            - Avante, Federação Espírita Brasileira!

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