segunda-feira, 18 de novembro de 2013

XXII. 'Apreciando a Paulo'


XXII 
‘Apreciando a Paulo’
      comentários em torno
    das Epístolas de S. Paulo
   por Ernani Cabral

Tipografia Kardec - 1958

“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo,
o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação.
Que nos consola em toda a nossa tribulação,
com a consolação com que nós mesmos somos consolados de Deus.
Porque, como as aflições de Cristo abundam em nós,
assim também a nossa consolação abunda por meio de Cristo.
Mas, se somos atribulados, é para vossa consolação e salvação;
ou, se somos consolados, para vossa consolação é,
a qual se opera suportando com paciência as mesmas aflições
que nós também padecemos; E a nossa esperança a cerca de vós é firme,
sabendo que, como sois participantes das aflições,
assim o sereis também da consolação.”
(Paulo – 2ª Epístola aos Coríntios, 1:3 a 7)

            “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo”, começa Paulo dizendo nessa Segunda Epístola aos Coríntios, frisando que Deus é o Pai, isto é, o Criador de Jesus, o qual, “sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus” (Filip., 2:6), pois declarou que o Pai é maior do que ele (João, 14:28) e o único Ser verdadeiramente bom (Mateus, 19:17; Marcos, 10:18; Lucas, 18:19).

            Estudamos no XVI artigo desta série e provamos, à luz dos Evangelhos, que Jesus não é Deus, mas FILHO DE DEUS, como ele mesmo sempre frisou (João, 10:36), embora sendo o Espírito mais puro que já baixou à Terra, o protetor e o governador de nosso planeta, conforme a revelação dada a J. B. Roustaing pelos próprios evangelistas, porém, jamais parte integrante da personalidade divina, pois que “Deus é um só”, conforme está claramente expresso no Velho Testamento, fonte do Novo (Deut., 6:4), afirmativa que o Messias também ratificou (Marcos, 12:29).

            Este assunto tem grande importância doutrinária, porque, se devemos amar a Deus sobre todas as coisas, o que constitui mesmo o maior dos mandamentos (Mateus, 22:37), é necessário que tenhamos uma ideia exata de Deus, embora sob o aspecto de Sua unidade, já que não temos inteligência bastante para penetrar em Sua essência, que está muito além de nossa percepção.

            É que o imperfeito não pode compreender o perfeito, o relativo não pode entender o absoluto, mas apenas senti-lo com maior ou menor intensidade, conforme seja a elevação do Espírito. À medida que formos evoluindo, melhor compreenderemos a sublimidade do Pai Celestial, cujo poder é imanente nos mundos, mas que transcende a tudo o que já foi criado!

            Sabemos de Deus apenas que é “a alma consciente do Universo”, Ser que possui todos os atributos de poder e de perfeição, num equilíbrio íntimo, eterno e absoluto, criando sempre para ser glorificado em sua obra, que também é perfeita.

            Portanto, há Espíritos de diversas idades, de vários graus de entendimento, razão por que devemos ter para com nossos irmãos, de quaisquer crenças, e sejam quais forem as  circunstâncias, o mesmo sentimento de amor e de compreensão, assim como Deus tem sempre piedade de nossas fraquezas, pois, como disse o apóstolo dos gentios nesta Segunda Epístola aos Coríntios, é Ele “que nos consola em toda a nossa tribulação.”

            E o Senhor Jesus é o mediador entre Deus e os homens (I Tim., 2:5), a expressão da misericórdia e da bondade divinas, cuja doutrina regenera e purifica, encaminhando nosso Espírito para a salvação eterna, que é conquistada, como ele nos ensina, pelo esforço individual, pela vitória contra as próprias imperfeições. Cada qual se eleva, destarte, pela sua fé e pelos seus méritos pessoais, isto é, pela dominação dos sentimentos inferiores ou egoísticos, à medida que vai aprendendo a amar o próximo como a si mesmo, tolerando e ajudando sempre, para que se constitua em colaborador sincero e esclarecido da obra divina. Então seremos também, verdadeiramente, filhos de Deus! (Deut., 14:1; João, 1:12.)

            Paulo esclarece ainda que, se somos atribulados, é para nossa salvação, a qual só se opera se suportarmos com paciência as aflições da vida. Mas, diz ele, se somos participantes dessas aflições, somos também alvo da consolação que o Senhor nos dá, pois que é o Pai de misericórdia e o Deus de amor.

            O sofrimento é o cadinho onde nosso espírito se purifica. Desde que o homem tenha certeza disto, deve encarar com paciência as aflições, convicto também de que o Altíssimo (não) nos dá uma cruz superior às nossas forças. Os grandes sofrimentos são, geralmente, sinal de fim das provações neste mundo e é preciso que sejam encarados com resignação e esperança, porque algum dia terão fim. Neste mundo, como diz a sabedoria popular, e onde tudo é transitório, “não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe”. Por conseguinte, tenhamos paciência e confiança no Pai Celestial que a ninguém desampara, mesmo porque Ele é, como diz o apóstolo, “o Deus de toda a consolação”.

            Nosso plano é tão atrasado, os seres que nele habitam estão sujeitos a tais padecimentos, como um imperativo categórico da evolução ou do aperfeiçoamento, que não podemos viver sem a misericórdia divina, que sempre desce às criaturas, como um bálsamo ou abrandamento da Lei.

            Daí porque Jesus mesmo nos prometeu que, partindo, não nos deixaria órfãos e que nos enviaria o Consolador, para que ficasse eternamente conosco (João, 14:16 e 18).

            Esse Consolador, o Espírito Santo, nos havia de ensinar todas as coisas e de recordar tudo o que ele dissera (João, 14:26), como roteiro seguro à nossa salvação e como prova do amor infinito do Pai Celestial para conosco.

            Procuremos o Espiritismo-Cristão e aí acharemos o Consolador que o Cristo de Deus prometeu aos homens de boa vontade, isto é, àqueles que têm fé e confiança em suas palavras, que são também de misericórdia, de consolação e de amor.

            Sim, é evidente, o Pai Celestial a ninguém abandona ou desampara, pois, através de vidas sucessivas, “toda a carne verá a salvação de Deus.” (Lucas, 3:6; Isaias, 52:10; João, 12:32; I Timóteo, 2:4)

            O sofrimento regenerativo está em razão direta de nosso carma isto é, das dívidas que contraímos nesta ou em outras existências, e é preciso que a lei se cumpra com sua justiça, para nosso aperfeiçoamento moral. Não há outra maneira de corrigir ou de melhorar, senão através da dor - física ou moral - que vai retificando nosso caráter e cujo proveito será muito maior se suportarmos as provações com paciência. Isto não quer dizer que nos entreguemos misticamente ao sofrimento, deixando que a taça de fel se esgote, sem reação.

            Temos o direito de buscar a melhora ou a solução para nossos problemas angustiantes. Mas sem fugirmos às lições do Evangelho, procurando conduzir-nos com sentimento de perdão, ou seja, com amor. Todavia, quando, apesar de nossos esforços, o mal for irremediável então procuremos encontrar na prece o consolo e em nossa força moral a paciência e a resignação.

            A revolta é sempre pior: agrava os padecimentos e nada resolve, porque complica as situações, levando ao desespero, ao suicídio ou ao crime.

            O suicídio, salvo o que é praticado num ato de loucura, demonstra sempre a covardia ou o orgulho de quem o pratica, por querer evadir-se de uma situação que tinha o dever de enfrentar.

            Quanto vai sofrer o Espírito do suicida, supondo poder afrontar, impunemente, a lei divina! No auge do sofrimento a que foi arrastado pelo seu ato de revolta contra a justiça da Lei, ele compreenderá, embora bem tarde, que melhor seria ter suportado, corajosamente, a rudeza do golpe que o destino lhe desferira. Tudo tem sua razão de ser. Assim peçamos a Deus paciência e resignação quando a dor nos bater à porta, e evitemos as tentações que nos levam à angústia e à revolta, porque no momento da provação é que se conhece o cristão ou o espírita, pela maneira de conduzir-se. Quanto mais difícil for o perdão, maior o mérito em
perdoar. E quão mais dificultosa for a resignação, maior será a manifestação de nossa superioridade espiritual, alcançando-a. Se não tivermos força, apelemos com fé e confiança para Jesus e ele virá em nosso auxílio, pois seus mensageiros, que compõem a falange excelsa do Espírito Santo, estão eternamente conosco, como ele prometeu.

            Suas palavras são “espírito e vida”. E o Cristo de Deus conclamou:

            “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.
            Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.”
(Mateus, 11:28 a 30).

            Sim, meus irmãos, haja o que houver, repitamos com Paulo, o apóstolo que deu sua vida por amor à doutrina do Cristo e que traçou também, através de seus exemplos edificantes, o roteiro de nossa salvação:


            “Bendito seja Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação.” 

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