Sentenças Humanas
Contra
Sentenças Divinas
Antônio Túlio /Ismael Gomes Braga
Reformador (FEB) Maio 1963
A Lei divina condena o espírito
culpado a reencarnar para corrigir-se de seus defeitos. Pela
pena de morte, a lei humana condena o espírito culpado a desencarnar. Julga,
supondo-se instância mais elevada, e reforma a sentença divina, como se esta
fora de instância inferior. A pena de morte é, assim, uma audaciosa rebeldia
contra a Justiça Divina.
Impaciente e ousada, a justiça
humana se volta contra a Justiça Divina e tenta anulá-la. Seu dever, porém, é
ajudar o criminoso a reeducar-se, prolongando-lhe ao máximo a encarnação penosa
na Terra; nunca devolvê-lo à sua procedência com os mesmos defeitos, ainda
acrescidos pelo ódio de ter sido expulso da sociedade.
A pena de morte é um ato da mesma
natureza do suicídio. O suicida é um espírito culpado que encarnou para
corrigir-se, mas se rebelou contra a Justiça Divina e tenta anulá-Ia destruindo
o corpo que lhe foi dado para ajudá-lo a corrigir-se e a conquistar a
felicidade.
Em ambos os casos, porém, o homem se
engana desastrosamente. Ele é demasiado pequeno para se opor à Justiça Perfeita
e eterna.
Tanto o suicida como o condenado à
morte voltam ao cenário terreno tantas vezes quantas sejam necessárias à sua
correção. Através de séculos e milênios são eles obrigados a repetir a dura
prova. E não voltam sozinhos: reaparecem com outros que tiveram culpa em suas quedas,
porque ninguém é culpado sozinho; sempre a sociedade tem responsabilidade nas
faltas humanas, por deficiência de assistência, educação e consolo ao
culpado.
O condenado à morte volta, por
vezes, como filho, pai, irmão do juiz que o condenou e vão sofrer juntos as
consequências de suas faltas. O suicida vem ser filho aleijado ou anormal de
quem contribuiu para seu suicídio; torna-se uma cruz para mães e pais amorosos,
em nova encarnação.
Muitas vezes o suicida tem
atenuantes: perdeu a prudência, ficou louco pelos sofrimentos antes de cometer
o desatino. Tornou-se irresponsável.
O juiz que friamente condena um réu
à morte, esse não tem atenuante: liga-se tristemente à sua vítima para o
futuro. Os países onde existe a pena de morte são
cenários
dos crimes mais apavorantes. A aplicação da pena de morte desencadeia ódios e
crimes em série, inexplicáveis aos olhos humanos, mas perfeitamente
compreensíveis pela lei do carma, segundo a qual temos que passar pelas
experiências que impusemos a outrem.
A serenidade do Juiz e do Legislador
não os isenta da pena futura. Sua boa intenção está errada. Dizer que a
condenação é feita de acordo com a Lei, não desfaz a responsabilidade do Juiz
perante Deus e algumas vezes nem mesmo diante dos homens. Nossa geração
assistiu a um exemplo que deve ser sempre lembrado. Finda a guerra de 1939/45,
os juízes alemães foram levados como réus ao tribunal. Sua defesa brilhantemente
demonstrou que as tremendas sentenças que proferiram, durante o Terceiro Reich,
eram legais: estavam de acordo com as leis vigentes na Alemanha; mas os
julgadores não aceitaram a defesa porque as leis aplicadas eram desumanas,
contrariavam a moral universal, e porque todos aqueles juízes (hoje réus) eram
livres de se exonerarem de suas funções, a fim de não cumprirem leis nacionais
desumanas. Todos foram condenados a grandes penas e a opinião pública
universal, mesmo da maioria dos alemães, reconheceu que a sentença do tribunal
de Nürenberg foi justa, pois que, acima das leis nacionais de qualquer país, há
princípios universais de humanidade que não podem ser violados.
Pois bem, a pena de morte é contrária a esses princípios universais de
humanidade, mesmo de um ponto de vista meramente humano, e tem que ser abolida
da legislação, onde ainda exista.
A sociedade tem o direito de
defender-se contra o criminoso, prendendo-o e desarmando-o para não poder
praticar o mal, e tem o dever de envidar todos os esforços para recuperá-lo
pela educação. O presídio tem que ser escola e oficina de recuperação de
infelizes.
Por mercê de Deus, no Brasil não
temos pena de morte e nossos presídios vão-se aperfeiçoando como escolas e
oficinas de trabalho honesto. Já passamos alguns dias em visita a Ribeirão das
Neves, onde se acha a penitenciária do Estado de Minas Gerais e lá vimos um
belo trabalho de recuperação: escola, oficina de fábrica de móveis, de roupas,
de calçados, e agricultura, em cujos campos muitos presos trabalham livres
durante o dia e só regressam à prisão para pernoitar. Alguns, da confiança da
Diretoria da prisão, têm até certo convívio com suas famílias, como homens
livres. Quase todos são recuperados para a vida honesta e feliz.
Não nos esqueçamos nunca que a
sentença de morte contra si mesmo ou contra outro membro da sociedade é louca
revolta do homem contra Deus, e só lhe pode causar as mais amargas decepções.
Nenhum comentário:
Postar um comentário