terça-feira, 29 de outubro de 2013

O trabalho, enfim.


O trabalho, enfim
Martins Peralva
Reformador (FEB) Janeiro 1961

                        " ...nenhum amigo do mundo poderia avaliar a alegria sublime
 do médico que recomeçava a educação de si mesmo,
na enfermagem rudimentar." – André Luiz



            Um dos mais significativos capítulos da obra "Nosso Lar" - cujo estudo, metódico e pormenorizado vimos de concluir no C. E. "Célia Xavier", em Belo Horizonte - tem o título de "O Trabalho, enfim".

            Como, geralmente, o leitor, espírita ou não, pouco se detém na essência das lições, limitando-se, a grande maioria, a simplesmente lê-las, houvemos por bem ressaltá-lo nesta crônica, como o fizéramos no "Célia Xavier", na noite em que o estudáramos, perante os companheiros de aprendizado.

            Quem se dedica ao exame da literatura de André Luiz, não desconhece o esforço que esse grande Espírito realizou, a partir do instante em que as carinhosas e enérgicas mãos de Clarêncio o retiraram das sombras umbralinas.

            Luta imensa, profunda, difícil e complexa - porque complexa e difícil, profunda e imensa é a luta do soerguimento, da ressurreição.

            Luta de renovação, afinal.

            Alguns anos se passaram, inúmeras foram as emoções vividas por André Luiz na operosa e simpática organização fundada por distintos portugueses, desencarnados no Brasil, no século XVI.

            Muitas alegrias e surpresas felicitaram o ex-médico terrestre.

            A maior e mais importante alegria, contudo, consistiu no seu primeiro contato efetivo com o trabalho.

            Verificou-se no momento em que suas abençoadas mãos se movimentaram, por iniciativa própria e sob o impulso do Bem, no trabalho socorrista.

            A ênfase que o próprio André Luiz põe no título: "O Trabalho, enfim", fala melhor do que qualquer referência nossa.

            Fala mais alto do que qualquer evidência que possamos atribuir ao fato.

* * *

            Foi uma visita às Câmaras de Retificação.

            Por toda a parte o sofrimento, a angústia, o desespero, gerando a dor.

            André Luiz confessa:  "Nunca poderia imaginar o quadro que se desenhava agora aos meus olhos. Não era o hospital de sangue, nem o instituto de tratamento normal da saúde orgânica. Era uma série de câmaras vastas, ligadas entre si e repletas de verdadeiros despojos humanos.

            Singular vozerio pairava no ar. Gemidos, soluços, frases dolorosas pronunciadas a esmo...

            Rostos desvairados, mãos esqueléticas, faces monstruosas deixavam transparecer terrivel miséria espiritual.

            Tão angustiosas foram minhas primeiras impressões que procurei os recursos da prece para não fraquejar."

            A visita de André Luiz às Câmaras, realizada a seu tempo, fê-lo entrar em contato com infelizes entidades, almas alucinadas, enlouquecidas. Quando Tobias, seu acompanhante, começou a aplicar passes nos enfermos, notou o antigo médico da Terra que os dois primeiros começaram a expelir negra substancia pela boca, espécie de vômito escuro e viscoso, com terríveis emanações cadavéricas.

            Observando que Narcisa, outra acompanhante, fazia o possível por atender à tarefa de limpeza, André Luiz, convertendo-se em humilde e simples enfermeiro, agarrou-se aos petrechos de higiene e lançou-se ao trabalho com fervor.

            Começou a limpar, ele próprio, a substância negra e mal cheirosa que escorria da boca dos enfermos...

            Esse episódio, auspicioso e decisivo para a continuidade do esforço libertador do querido amigo, foi, para ele, tão significativo, que se não privou de traduzi-lo, enfaticamente, no título do capítulo em que o descreve: O TRABALHO, ENFIM.

            Várias experiências cercam e assinalam o problema renovativo dos seres, encarnados ou desencarnados; o mais importante, contudo, decerto, é que marca a superação do preconceito, da vaidade afinal.

            É aquela em que a criatura se dispõe ao trabalho com o Senhor, com humildade e ardor. Ouçamos a palavra da respeitável entidade, externando para nós outros, da esfera física, o indefinível júbilo de que se viu possuído, na inolvidável manhã das Câmaras de Retificação:

            "O serviço continuou por todo o dia, custando-me abençoado suor, e nenhum amigo do mundo poderia avaliar a alegria sublime do Médico que recomeçava a educação de si mesmo na enfermagem rudimentar."

            O destaque por André Luiz dispensado ao seu primeiro dia de trabalho, efetivo e consciente, espontâneo e sincero, não deve passar despercebido aos aprendizes do plano terrestre.

            E que nos seja possível, a todos, sem demora e em definitivo, repetir com o querido André Luiz: O trabalho, enfim.

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