O Dia dos Mortos
Allan Kardec
Revista Espírita Dezembro 1862
Edição: FEB
Tradução: Evandro Noleto Bezerra
Sessão Anual Comemorativa dos Mortos
(Sociedade de Paris, 1º de novembro de 1868)
Discurso de Abertura pelo Sr. Allan Kardec (*)
(*) A primeira parte deste
discurso é tirada de uma publicação anterior
sobre a Comunhão de pensamentos,
mas que era preciso relembrar,
por causa de sua ligação com a ideia principal.
O Espiritismo é uma religião?
"Onde quer que se
encontrem duas ou três pessoas reunidas em meu nome,
aí estarei com elas."
(S. Mateus, 18:20)
Caros irmãos e irmãs espíritas,
Estamos
reunidos, neste dia consagrado pelo uso à comemoração dos mortos, para darmos
àqueles irmãos nossos que deixaram a Terra um testemunho particular de
simpatia, para continuarmos as relações de afeição e de fraternidade que
existiam entre eles e nós, quando eram vivos, e para invocarmos sobre eles a
bondade do Todo-Poderoso. Mas, por que nos reunirmos? Não podemos fazer em
particular o que cada um de nós propõe fazer em comum? Qual a utilidade de
assim nos reunirmos num dia determinado?
Jesus
no-lo indica pelas palavras que referimos acima. Esta utilidade está no
resultado produzido pela comunhão de pensamentos que se estabelece entre
pessoas reunidos com o mesmo objetivo.
Comunhão de pensamentos! Compreendemos
bem todo o alcance desta expressão? Seguramente, até este dia, poucas pessoas
dela tinham feito uma ideia completa. O Espiritismo, que nos explica tantas
coisas pelas leis que revela, ainda vem explicar a causa e a força dessa situação do espírito.
Comunhão
de pensamento quer dizer pensamento comum, unidade de intenção, de vontade, de
desejo, de aspiração. Ninguém pode desconhecer que o pensamento é uma força;
mas uma força puramente moral e abstrata? Não: do contrário não se explicariam
certos efeitos do pensamento e, ainda menos, a comunhão de pensamento. Para
compreendê-lo, é preciso conhecer as propriedades e a ação dos elementos que
constituem nossa essência espiritual, e é o Espiritismo que no-las ensina.
O
pensamento é o atributo característico do ser espiritual; é ele que distingue o
espírito da matéria; sem o pensamento o espírito não seria espírito. A vontade
não é um atributo especial do espírito; é o pensamento
chegado a um certo grau de energia; é o pensamento transformado em força
motriz. É pela vontade que o espírito imprime aos membros e ao corpo movimentos
num determinado sentido. Mas, se tem a força de agir sobre os órgãos materiais, quanto maior não deve
ser essa força sobre os elementos fluídicos que nos rodeiam! O pensamento atua
sobre os fluidos ambientes, como o som age sobre o ar; esses fluidos nos trazem
o pensamento, como o ar nos traz o som. Pode, pois, dizer-se com toda a verdade
que há nesses fluidos ondas e raios de pensamentos que se cruzam sem se
confundirem, como há no ar ondas e raios sonoros.
Uma
assembleia é um foco onde irradiam pensamentos diversos; é como uma orquestra,
um coro de pensamentos, onde cada um produz a sua nota. Disto resulta uma
imensidão de correntes e de eflúvios fluídicos, dos quais cada um recebe a
impressão pelo sentido espiritual, como num coro musical cada um recebe a
impressão dos sons pelo sentido da audição.
Mas,
assim como há raios sonoros harmônicos ou discordantes, também há pensamentos
harmônicos ou discordantes. Se o conjunto for harmônico, a impressão é agradável; se discordante, a impressão será
penosa. Ora, para isto, não é necessário que o pensamento seja formulado em
palavras; a irradiação fluídica não deixa de existir, quer seja ou não
expressa. Se todas forem benéficas, os assistentes experimentarão um verdadeiro
bem-estar e se sentirão à vontade; mas se se misturarem alguns pensamentos
maus, produzirão o efeito de uma corrente de ar gelado num meio tépido.
Tal
é a causa do sentimento de satisfação que se experimenta numa reunião
simpática; aí reina uma espécie de atmosfera moral salubre, onde se respira à
vontade; daí se sai reconfortado, porque aí nos impregnamos de eflúvios
fluídicos salutares. Assim também se explicam a ansiedade e o mal-estar
indefinível que se sente num meio antipático, onde os pensamentos malévolos
provocam, a bem dizer, correntes fluídicas malsãs.
A
comunhão de pensamentos produz, pois, uma sorte de efeito físico que reage
sobre o moral; só o Espiritismo poderia fazê-lo compreender. O homem o sente
instintivamente, já que procura as reuniões onde sabe encontrar essa comunhão.
Nessas reuniões homogêneas e simpáticas haure novas forças
morais; poder-se-ia dizer que aí recupera as perdas fluídicas perdidas diariamente
pela irradiação do pensamento, como recupera pelos alimentos as perdas do corpo
material.
A
esses efeitos da comunhão de pensamentos, junta-se um outro que é a sua consequência
natural, e que importa não perder de vista: é o poder que adquire o pensamento
ou a vontade, pelo conjunto dos pensamentos ou vontades reunidos. Sendo a vontade uma força ativa, esta força é
multiplicada pelo número de vontades idênticas, como a força muscular é
multiplicada pelo número dos braços.
Estabelecido
este ponto, concebe-se que nas relações que se estabelecem entre os homens e os
Espíritos, haja, numa reunião onde reine perfeita comunhão de pensamentos, uma
força atrativa ou repulsiva, que nem sempre possui o indivíduo isolado. Se, até
o presente, as reuniões muito numerosas são menos favoráveis, é pela
dificuldade de obter uma homogeneidade perfeita de pensamentos, que se deve à imperfeição
da natureza humana na Terra. Quanto mais numerosas as reuniões, mais aí se
mesclam elementos heterogêneos, que paralisam a ação dos bons elementos, e que
são como grãos de areia numa engrenagem. Não sucede assim nos mundos mais
adiantados, e tal estado de coisas mudará na Terra à medida que os homens se
tornarem melhores.
Para
os espíritas, a comunhão de pensamentos tem um resultado ainda mais especial.
Temos visto o efeito desta comunhão de homem a homem; prova-nos o Espiritismo
que ele não é menor dos homens aos Espíritos, e reciprocamente. Com efeito, se
o pensamento coletivo adquire força pelo número, um conjunto de pensamentos
idênticos, tendo o bem por objetivo, terá mais força para neutralizar a ação
dos maus Espíritos; também vemos que a tática destes últimos é levar à divisão
e ao isolamento. Sozinho, um homem pode sucumbir, ao passo que se sua vontade
for corroborada por outras vontades poderá resistir, conforme o axioma: A união faz a força, axioma verdadeiro,
tanto do ponto de vista moral, quanto do físico.
Por
outro lado, se a ação dos Espíritos malévolos pode ser paralisada por um
pensamento comum, é evidente que a dos bons Espíritos será secundada; seus
eflúvios fluídicos, não sendo detidos por correntes contrárias, espalhar-se-ão
sobre os assistentes, precisamente porque todos os terão atraído pelo
pensamento, não cada um em proveito pessoal, mas em benefício de todos,
conforme a lei de caridade. Descerão sobre eles como línguas de fogo, para nos servirmos de uma
admirável imagem do Evangelho.
Assim,
pela comunhão de pensamentos os homens se assistem entre si e, ao mesmo tempo,
assistem os Espíritos e são por estes assistidos. As relações entre os mundos
visível e invisível não são mais individuais, mas coletivas e, por isto mesmo,
mais poderosas em proveito das massas e dos indivíduos. Numa palavra,
estabelecem a solidariedade, que é a base da fraternidade. Cada qual trabalha
para todos, e não apenas para si; e trabalhando para todos; cada um aí encontra
a sua parte. É o que o egoísmo não compreende.
Graças
ao Espiritismo, compreendemos, então, o poder e os efeitos do pensamento
coletivo; explicamo-nos melhor o sentimento de bem-estar que se experimenta num
meio homogêneo e simpático; mas sabemos, igualmente,
que se dá o mesmo com os Espíritos, porque eles também recebem os eflúvios de
todos os pensamentos benevolentes que para eles se elevam, como urna nuvem de
perfume. Os que são felizes experimentam maior alegria por esse concerto
harmonioso; os que sofrem sentem maior alívio.
Todas
as reuniões religiosas, seja qual for o culto a que pertençam, são fundadas na
comunhão de pensamentos; com efeito, é aí que podem e devem exercer a sua
força, porque o objetivo deve ser a libertação do pensamento das amarras da
matéria. Infelizmente, a maioria se afasta deste princípio à medida que a
religião se torna uma questão de forma. Disto resulta que cada um, fazendo seu
dever consistir na realização da forma, se julga quites com Deus e com os
homens, desde que praticou uma fórmula. Resulta ainda que cada um vai aos lugares de reuniões religiosas com um pensamento
pessoal, por sua própria conta e, na maioria das vezes, sem nenhum sentimento
de confraternidade em relação aos outros assistente; fica isolado em meio à
multidão e só pensa no céu para si mesmo.
Por
certo não era assim que o entendia Jesus, ao dizer: "Quando duas ou mais
pessoas estiverem reunidas em meu nome, aí estarei entre elas." Reunidos
em meu nome, isto é, com um pensamento comum; mas não se pode estar reunido em
nome de Jesus sem assimilar os seus princípios, sua doutrina. Ora, qual é o
princípio fundamental da doutrina de Jesus? A caridade em pensamentos, palavras
e ações. Mentem os egoístas e os orgulhosos, quando se dizem reunidos em nome de
Jesus, porque Jesus não os conhece por seus discípulos.
Chocados
por esses abusos e desvios, há pessoas que negam a utilidade das assembleias
religiosas e, em consequência, a das edificações consagradas a tais assembleias.
Em seu radicalismo, pensam que seria melhor construir asilos do que templos,
uma vez que o templo de Deus está em toda parte e em toda parte pode ser
adorado; que cada um pode orar em casa e a qualquer hora, enquanto os pobres,
os doentes e os enfermos necessitam de lugar de refúgio.
Mas,
porque cometeram abusos, porque se afastaram do reto caminho, devemos concluir
que não existe o reto caminho e que tudo quanto se abusa seja mau? Não,
certamente. Falar assim é desconhecer a fonte e os benefícios da comunhão de pensamentos, que deve ser a essência das assembleias
religiosas; é ignorar as causas que a provocam. Concebe-se que os materialistas
professem semelhantes ideias, já que em tudo fazem abstração da vida
espiritual; mas da parte dos espiritualistas e, melhor ainda, dos espíritas, seria um contra-senso. O isolamento religioso, assim como o isolamento
social, conduz ao egoísmo. Que alguns homens sejam bastante fortes por si
mesmos, largamente dotados pelo coração, para que sua fé e caridade não
necessitem ser revigoradas num foco comum, é possível; mas não é assim com as massas,
por lhes faltar um estimulante, sem o qual poderiam se deixar levar pela
indiferença. Além disso, qual o homem que poderá dizer-se bastante esclarecido para nada ter a
aprender no tocante aos seus interesses futuros? bastante perfeito para abrir
mão dos conselhos da vida presente? Será sempre capaz de instruir-se por si
mesmo? Não; a maioria necessita de ensinamentos diretos em matéria de religião e de moral, como em matéria
de ciência. Incontestavelmente, tais ensinos podem ser dados em toda parte, sob
a abóbada do céu, como sob a de um templo; mas por que os homens não haveriam
de ter lugares especiais para as questões celestes, como os têm para as
terrenas? Por que não teriam assembleias religiosas, como têm assembleias
políticas, científicas e industriais? Aqui está uma bolsa onde se ganha sempre.
Isto não impede as edificações em proveito dos infelizes. Dizemos, ademais, que haverá menos gente nos asilos, quando os
homens compreenderem melhor seus interesses do céu.
Se
as assembleias religiosas - falo em geral, sem aludir a nenhum culto - muitas
vezes se têm afastado de seu objetivo primitivo principal, que é a comunhão
fraterna do pensamento; se o ensino ali ministrado nem sempre tem acompanhado o
movimento progressivo da Humanidade, é que os homens não progridem todos ao
mesmo tempo. O que não fazem num período, fazem em outro; à proporção que se
esclarecem, veem as lacunas existentes em suas instituições, e as preenchem;
compreendem que o que era bom numa época, em relação ao grau de civilização,
torna-se insuficiente numa etapa mais avançada, e restabelecem o nível. Sabemos
que o Espiritismo é a grande alavanca do progresso em todas as coisas; marca
uma era de renovação. Saibamos, pois, esperar, não exigindo de uma época mais
do que ela pode dar.
Como
as plantas, é preciso que as ideias amadureçam, para que seus frutos sejam
colhidos. Saibamos, além disso, fazer as necessárias concessões às épocas de
transição, porque na Natureza nada se opera de maneira brusca e instantânea.
Dissemos
que o verdadeiro objetivo das assembleias religiosas deve ser a comunhão de
pensamentos; é que, com efeito, a palavra religião quer dizer laço. Uma
religião, em sua acepção larga e verdadeira, é um laço que religa os homens
numa comunhão de sentimentos, de princípios e de crenças;
consecutivamente, esse nome foi dado a esses mesmos princípios codificados e
formulados em dogmas ou artigos de fé. É nesse sentido que se diz: a religião
política; entretanto, mesmo nesta acepção, a palavra religião não é sinônima de opinião; implica uma ideia
particular: a de fé conscienciosa; eis por que se diz também: a fé política.
Ora, os homens podem filiar-se, por interesse, a um partido, sem ter fé nesse
partido, e a prova é que o deixam sem escrúpulo, quando encontram seu interesse
alhures, ao passo que aquele que o abraça por convicção é inabalável; persiste
à custa dos maiores sacrifícios, e é a abnegação dos interesses pessoais a
verdadeira pedra-de-toque da fé sincera. Todavia, se a renúncia a uma
opinião, motivada pelo interesse, é um ato de desprezível covardia, é, não
obstante, respeitável, quando fruto do reconhecimento do erro em que se estava;
é, então, um ato de abnegação e de razão. Há mais coragem e grandeza em
reconhecer abertamente que se enganou, do que persistir, por amor-próprio, no
que se sabe ser falso, e para não se dar um desmentido a si próprio, o que
acusa mais obstinação do que firmeza, mais orgulho do que razão, e mais
fraqueza do que força. É mais ainda: é hipocrisia, porque se quer parecer o que
não se é; além disso é uma ação má, porque é encorajar o erro por seu próprio
exemplo.
O
laço estabelecido por uma religião, seja qual for o seu objetivo, é, pois,
essencialmente moral, que liga os corações, que identifica os pensamentos, as
aspirações, e não somente o fato de compromissos maternais, que se rompem à
vontade, ou da realização de fórmulas que falam mais aos olhos
do que ao espírito. O efeito desse laço moral é o de estabelecer entre os que
ele une, como consequência da comunhão de vistas e de sentimentos, a fraternidade
e a solidariedade,
a indulgência e a benevolência mútuas. É nesse sentido que também se diz: a religião da
amizade, a religião da família.
Se
é assim, perguntarão, então o Espiritismo é uma religião? Ora, sim, sem dúvida,
senhores! No sentido filosófico, o Espiritismo é uma religião, e nós nos
vangloriamos por isto, porque é a Doutrina que funda os vínculos da
fraternidade e da comunhão de pensamentos, não sobre uma simples convenção, mas
sobre bases mais sólidas: as próprias leis da Natureza.
Por
que, então, declaramos que o Espiritismo não é uma religião? Em razão de não
haver senão uma palavra para exprimir duas ideias diferentes, e que, na opinião
geral, a palavra religião é inseparável da de culto; porque desperta
exclusivamente uma ideia de forma, que o Espiritismo não tem. Se o Espiritismo
se dissesse uma religião, o público não veria aí mais que uma nova edição, uma
variante, se se quiser, dos princípios absolutos em matéria de fé; uma casta sacerdotal com seu
cortejo de hierarquias, de cerimônias e de privilégios; não o separaria das ideias
de misticismo e dos abusos contra os quais tantas vezes a opinião se levantou.
Não
tendo o Espiritismo nenhum dos caracteres de uma religião, na acepção usual da
palavra, não podia nem devia enfeitar-se com um título sobre cujo valor
inevitavelmente se teria equivocado. Eis por que simplesmente se diz: doutrina
filosófica e moral.
As
reuniões espíritas podem, pois, ser feitas religiosamente, isto é, com o
recolhimento e o respeito que comporta a natureza grave dos assuntos de que se
ocupa; pode-se mesmo, na ocasião, aí fazer preces que, em vez de serem ditas em
particular, são ditas em comum, sem que, por isto, sejam tomadas por assembleias
religiosas. Não se pense que isto seja um jogo de palavras; a nuança é
perfeitamente clara, e a aparente confusão não provém senão da falta de uma
palavra para cada ideia.
Qual
é, pois, o laço que deve existir entre os espíritas? Eles não estão unidos
entre si por nenhum contrato material, por nenhuma prática obrigatória. Qual o
sentimento no qual se deve confundir todos os pensamentos? É um sentimento todo
moral, todo espiritual, todo humanitário: o da caridade para com todos ou, em
outras palavras: o amor do próximo, que compreende os vivos e os mortos, pois
sabemos que os mortos sempre fazem parte da Humanidade.
A
caridade é a alma do Espiritismo; ela resume todos os deveres do homem para
consigo mesmo e para com os seus semelhantes, razão por que se pode dizer que
não há verdadeiro espírita sem caridade.
Mas
a caridade é ainda uma dessas palavras de sentido múltiplo, cujo inteiro
alcance deve ser bem compreendido; e se os Espíritos não cessam de pregá-la e
defini-la, é que, provavelmente, reconhecem que isto ainda é necessário.
O
campo da caridade é muito vasto; compreende duas grandes divisões que, em falta
de termos especiais, podem designar-se pelas expressões Caridade beneficente e caridade benevolente. Compreende-se
facilmente a primeira, que é naturalmente proporcional aos recursos materiais
de que se dispõe; mas a segunda está ao alcance de todos, do mais pobre como do
mais rico. Se a beneficência é forçosamente limitada, nada além da vontade poderia estabelecer limites à
benevolência.
O
que é preciso, então, para praticar a caridade benevolente? Amar ao próximo
como a si mesmo. Ora, se se amar ao próximo tanto quanto a si, amar-se-o-á
muito; agir-se-á para com outrem como se quereria que os outros agissem para
conosco; não se quererá nem se fará mal a ninguém, porque não quereríamos que no-lo
fizessem.
Amar
ao próximo é, pois, abjurar todo sentimento de ódio, de animosidade, de rancor,
de inveja, de ciúme, de vingança, numa palavra, todo desejo e todo pensamento
de prejudicar; é perdoar aos inimigos e retribuir o mal com o bem; é ser indulgente
para as imperfeições de seus semelhantes e não procurar o argueiro no olho do
vizinho, quando não se vê a trave no seu; é esconder ou desculpar as faltas
alheias, em vez de se comprazer em as por em relevo, por espírito de
maledicência; é ainda não se fazer valer à custa dos outros; não procurar
esmagar ninguém sob o peso de sua superioridade; não desprezar ninguém pelo
orgulho. Eis a verdadeira caridade benevolente, a caridade prática, sem a qual
a caridade é palavra vã; é a caridade do verdadeiro espírita, como do
verdadeiro cristão; aquela sem a qual aquele que diz: Fora da caridade não há salvação, pronuncia sua própria condenação,
tanto neste quanto no outro mundo.
Quantas
coisas haveria a dizer sobre este assunto! Que belas instruções não nos dão os
Espíritos incessantemente! Não fosse o receio de alongar-me em demasia e de
abusar de vossa paciência, senhores, seria fácil demonstrar que, em se
colocando no ponto de vista do interesse pessoal, egoísta, se se quiser, porque
nem todos os homens estão ainda maduros para uma completa abnegação, para fazer
o bem unicamente por amor do bem, digo que seria fácil demonstrar que têm tudo
a ganhar em agir deste modo, e tudo a perder agindo diversamente, mesmo em suas
relações sociais; depois, o bem atrai o bem e a proteção dos bons Espíritos; o
mal atrai o mal e abre a porta à malevolência dos maus. Mais cedo ou mais tarde o orgulhoso será
castigado pela humilhação, o ambicioso pelas decepções, o egoísta pela ruína de
suas esperanças, o hipócrita pela vergonha de ser desmascarado; aquele que
abandona os bons Espíritos por estes é abandonado e de queda em queda, finalmente se vê no fundo do
abismo, ao passo que os bons Espíritos erguem e amparam aquele que, nas maiores
provações, não deixa de se confiar à Providência e jamais se desvia do reto
caminho; aquele, enfim, cujos secretos sentimentos não dissimulam nenhum
pensamento oculto de vaidade ou de interesse pessoal. Assim, de um lado, ganho
assegurado; do outro, perda certa; cada um, em virtude do seu livre-arbítrio,
pode escolher a sorte que quer correr, mas não poderá queixar-se senão de si mesmo pelas consequências de sua escolha.
Crer
num Deus Todo-Poderoso, soberanamente justo e bom; crer na alma e em sua
imortalidade; na preexistência da alma como única justificação do presente; na
pluralidade das existências como meio de expiação, de reparação e de
adiantamento intelectual e moral; na perfectibilidade dos seres mais
imperfeitos; na felicidade crescente com a perfeição; na equitativa remuneração
do bem e do mal, segundo o princípio: a cada um segundo as suas obras; na
igualdade da justiça para todos, sem exceções, favores nem privilégios para nenhuma criatura; na duração
da expiação limitada à da imperfeição; no livre-arbítrio do homem, que lhe
deixa sempre a escolha entre o bem e o mal; crer na continuidade das relações
entre o mundo visível e o mundo invisível; na solidariedade que religa todos os
seres passados, presentes e futuros, encarnados e desencarnados; considerar a
vida terrestre como transitória e uma das fases da vida do Espírito, que é
eterno; aceitar corajosamente as provações, em vista de um futuro mais
invejável que o presente; praticar a caridade em pensamentos, em palavras e
obras na mais larga acepção do termo; esforçar-se cada dia para ser melhor que
na véspera, extirpando toda imperfeição de sua alma; submeter todas as crenças
ao controle do livre-exame e da razão, e nada aceitar pela fé cega; respeitar
todas as crenças sinceras, por mais irracionais que nos pareçam, e não violentar
a consciência de ninguém; ver, enfim, nas descobertas da Ciência, a revelação das leis da Natureza, que são as leis
de Deus: eis o Credo, a religião do Espiritismo, religião que pode
conciliar-se com todos os cultos, isto é, com todas as maneiras de adorar a
Deus. É o laço que deve unir todos os espíritas numa santa comunhão de
pensamentos, esperando que ligue todos os homens sob a bandeira da fraternidade
universal.
Com
a fraternidade, filha da caridade, os homens viverão em paz e se pouparão males
inumeráveis, que nascem da discórdia, por sua vez filha do orgulho, do egoísmo,
da ambição, da inveja e de todas as imperfeições da Humanidade.
O
Espiritismo dá aos homens tudo o que é preciso para a sua felicidade aqui na
Terra, porque lhes ensina a se contentarem com o que têm. Que os espíritas
sejam, pois, os primeiros a aproveitar os benefícios que ele traz, e que
inaugurem entre si o reino da harmonia, que resplandecerá nas gerações futuras.
Os
Espíritos que nos cercam aqui são inumeráveis, atraídos pelo objetivo que nos
propusemos ao nos reunirmos, a fim de dar aos nossos pensamentos a força que
nasce da união.
Ofereçamos
aos que nos são caros uma boa lembrança e o penhor de nossa afeição,
encorajamentos e consolações aos que deles necessitem. Façamos de modo que cada
um recolha a sua parte dos sentimentos de caridade benevolente, de que
estivermos animados, e que esta reunião dê os frutos que todos têm o direito de
esperar.
Allan Kardec
Depois
deste discurso, procedeu-se à leitura de uma comunicação espontânea, ditada
pelo Espírito do Sr. H. Dozon sobre a solenidade do Dia de Todos os Santos, em 1º de novembro de 1865, e que é lida
todos os anos na sessão comemorativa.
O Dia de Todos os Santos
A
festa de Todos os Santos, meus bons amigos, é uma festa que, para a maior parte
dos que não possuem a verdadeira fé, OS entristece e faz que derramem lágrimas,
em vez de se regozijarem. Vede, desde a humilde choupana até o palácio, quando
o dobre a Finados lembra o nome do esposo ou da esposa, de um pai, de uma mãe,
de um filho, de uma filha, choram; parece que tudo acabou, que nada mais têm a
esperar aqui na Terra e, contudo, oram! Que é, então, essa prece? É um
pensamento dado ao ser amado, mas sem esperança. As lágrimas abafam a prece; por
quê? Ah! é que eles duvidam; não têm essa fé viva, que traz a esperança, que
vos sustenta nas maiores lutas. É que não compreenderam que a vida terrena não
é senão uma partida, uma separação momentânea; numa palavra, é porque os que
lhes ensinaram a orar também não tinham a fé verdadeira, a fé que se apoia na
razão.
Mas
é chegada a hora em que estas belas palavras do Cristo serão, enfim
compreendidas: "Meu Pai deve ser
adorado, não mais apenas nos templos, mas em toda parte, em Espírito e em
verdade." Tempo virá em que elas se realizarão. Belas e sublimes palavras. Sim, meu Deus, não sois adorado somente
nos templos, mas o sois nos montes e em toda parte. Sim, aquele que molhou os
lábios na taça bendita do Espiritismo, ora não só neste dia, mas todo dia; o
viajor ora em seu caminho, o operário durante o seu trabalho; aquele que pode
dispor de seu tempo o emprega no alívio de seus irmãos que sofrem.
Meus
irmãos, alegrai-vos, porque em muito pouco tempo vereis grandes coisas! Quando
eu estava na Terra, via a doutrina grande e bela, mas estava muito longe de
poder compreendê-la em toda a sua grandeza e em seu
verdadeiro objetivo. Por isso vos direi: Redobrai de zelo; consolai os que
sofrem, porque há seres que foram de tal modo afligidos durante a sua vida, que
necessitam ser amparados e ajudados na luta. Sabeis quanto a caridade é
agradável a Deus: praticai-a, pois, sob todas as formas; praticai-a em nome dos
Espíritos cuja memória festejais neste dia, e eles vos bendirão!
H. Dozon
Depois
das preces habituais (ver a Revista
Espírita de Novembro de 1865), trinta e duas comunicações foram obtidas
pelos médiuns presentes, em número de dezoito. Considerando a impossibilidade
de as publicar todas, a Sociedade escolheu as três seguintes, para serem anexadas ao discurso acima,
cuja impressão ela pediu. As outras encontrarão lugar nas coletâneas especiais
que serão publicadas ulteriormente.
I
Um grande Espírito, La Rochefoucauld, disse
numa de suas obras, que se devia tremer diante da vida e diante da morte!
Certamente, se se deve tremer, é por ver sua existência incerta, perturbada,
completamente falha; é por ter realizado um trabalho estéril, inútil para si e para os outros; é por ter sido um falso
amigo, um mau irmão, um conselheiro pernicioso; é por ser mau filho, pai
irrefletido, cidadão injusto, desconhecedor de seus deveres, de seu país, das
leis que vos regem, da sociedade e da solidariedade.
Quantos amigos eu vi, espíritos brilhantes,
engenhosos, instruídos, faltarem muitas vezes ao objetivo profundo da vida!
Construíam hipóteses mais ou menos absurdas: aqui a negação, ali a fé ardente;
acolá se faziam neófitos de tal ou qual sistema de governo, de filosofia, e
muitas vezes lançaram, ai! suas belas inteligências num fosso, de onde não
podiam mais sair senão mortificadas e ofendidas para sempre.
A vida com suas asperezas, seus dissabores e
suas incertezas, é, não obstante, uma coisa bela! Como! sais de um embrião, de
um nada, e trazeis em torno de vós os beijos, os cuidados, o amor, o devotamento, o trabalho, e isto não seria nada
senão a vida! Como é, então, que para vós, seres miseráveis, sem força, sem
linguagem, gerações inteiras tenham criado os campos, incessantemente
explorados, da economia humana? Economia de saber, de filosofia, de mecânica, de ciências diversas; milhares de
cidadãos corajosos consumiram os seus corpos e dispuseram de suas vigílias para
vos criar mil elementos diversos de vossa civilização. Desde as primeiras
letras até uma definição sábia, encontra-se tudo o que pode guiar e formar o
espírito; hoje se pode ver, porque tudo é luz. A sombra das idades sombrias
desapareceu para sempre, e o adulto de dezesseis anos pode contemplar e admirar
um nascer do Sol e analisar, pesar o ar e, com a ajuda da Química, da Física, da
Mecânica e da Astronomia, se permitir mil gozos divinos. Com a pintura,
reproduz uma paisagem; com a música, inscreve algumas dessas harmonias que Deus
espalha em profusão nas harmonias infinitas!
Com a vida, pode-se amar, dar, espalhar
muito; por vezes pode-se ser sol e iluminar o seu interior, sua família, a
vizinhança, ser útil, cumprir sua missão. Oh! sim, a vida é uma bela coisa,
palpitante, cheia de entusiasmo e de expansão, plena de fraternidade e desses
deslumbramentos que atiram as nossas pequenas misérias para longe.
Ó vós todos, meus caros condiscípulos da rua
Richelieu; vós, meus fiéis do 14; vós todos que, tantas vezes, interrogastes a
existência vos perguntando a palavra final; a vós que baixáveis a cabeça,
incertos perante a última hora, diante da palavra Morte, que significa para
vós: vazio, separação, desagregação, a vós venho dizer: Levantai a cabeça e
esperai; nada de fraqueza, nada de terror; porque, se os vossos estudos
conscienciosos e as religiões de nossos pais não vos deixaram senão o desgosto
da vida, a incerteza e a incredulidade, é que, estéril em tudo, a ciência humana
malconduzida só atingia o nada. Vós todos, que amais a Humanidade e resumis a
esperança futura pelo estudo das ciências sociais, por sua aplicação séria, eu vos
digo: Esperai, crede e procurai. Como eu, deixastes passar a verdade; nós a
abandonávamos e ela batia à nossa porta, que obstinadamente lhe havíamos
fechado. Doravante, amareis a vida, amareis a morte, esta grande consoladora;
porque querereis, por uma vida exemplar, evitar recomeçar; querereis esperar no
limiar da erraticidade todos aqueles que amais, não somente a vossa família,
mas a geração inteira que guiastes, para lhes desejar as boas-vindas e a
emigração em mundos superiores.
Como vedes, eu vivo e todos nós vivemos. A
reencarnação, que tanto nos fez rir, é o problema resolvido que tanto
procurávamos. Aí está este problema em vossas mãos, cheio de atrativos, de promessas ardentes; vossos pais, vossas mulheres,
vossos filhos, a multidão de amigos vos querem responder; estão todos reunidos,
esses caros desaparecidos aos vossos olhos; falarão ao vosso espírito, à vossa
razão; dar-vos-ão verdades, e a fé é uma lei bem-amada; mas, interrogai-os com perseverança.
Ah! a morte nos causava medo e tremores! E,
contudo, eis que eu, Guillaumin, um incrédulo, um inconstante, fui reconduzido
à verdade. Milhares de Espíritos se apressam, esperando a vossa decisão; eles gostam da lembrança e da peregrinação
aos cemitérios! É um ponto de referência esse respeito aos mortos; mas esses
mortos estão todos vivos; em vez de urnas funerárias e de epitáfios mais ou
menos verdadeiros, eles vos pedem uma troca de ideias, de conselhos, um doce
comércio de espírito, essa comunhão de ideias que engendra a coragem, a perseverança,
a vontade, os atos de devotamento e esse fortificante e consolador pensamento de que a vida se retempera na morte e que se
pode, doravante, malgrado La Rochefoucault e outros grandes gênios, nem tremer
diante da vida, nem diante da morte.
Deus
é a exuberância, é a vida em tudo e sempre. Cabe a nós compreender a sua
sabedoria nas diversas fases pelas quais ele purifica a Humanidade.
Guillaumin
(Médium: Sr. Leymarie)
Nota
do Blog: Por mera curiosidade, entramos com o nome ‘Guillaumin’ e o
endereço ‘rue Richelieu’ - num site de
busca. Ele nos retornou com a informação abaixo:
“La
librairie Guillaumin et Cie était située au 14 de la rue de Richelieu, non loin
de la Seine, au carrefour du musée du Louvre, du Palais Royal, de la Comédie
Française et de la Bibliothèque Nationale de France.”
..........
“Victime d'une crise cardiaque en pleine rue, Urbain Gilbert Guillaumin
est mort à 63 ans, le 15 décembre 1864.”
Reparem
no texto que o Espírito se refere aos ‘fieis da 14’. No número 14 da Rua
Richelieu havia uma livraria Guillaumin...
Para quem quiser se aprofundar no tema nossa fonte foi http://www.quebecoislibre.org/13/130615-9.html
O médium - Sr.
Leymarie - é o mesmo que foi condenado, anos adiante, no chamado ‘Procès des
Spirites’.
II
Escolher
mal o meu momento sempre foi uma das minhas contínuas inabilidades; e vir neste
dia, em meio a esta numerosa reunião de Espíritos e de encarnados, é realmente
um ato de audácia, de que só a minha timidez pode ser capaz. Mas vejo em vós
tanta bondade, doçura e amenidade; sinto tão bem que em cada um de vós posso
encontrar um coração amante, compassivo, e sendo a indulgência a menor das
qualidades que animam os vossos corações, a despeito de minha audácia, não me
perturbo e conservo toda a presença de espírito que por vezes me falta, em
circunstâncias menos importantes.
Mas,
perguntareis, que vem então fazer, com sua verbosidade insinuante, esse
desconhecido que, em vez e lugar de instrutor, vem monopolizar um médium útil?
Quanto ao presente tendes razão; por isso me apresso em dar a conhecer meu
desígnio, para não me apropriar por muito tempo de um lugar que usurpo.
Numa
passagem do discurso hoje pronunciado por vosso presidente, uma reflexão
vibrou-me ao ouvido, como só uma verdade pode vibrar e, confundido na multidão
de Espíritos atentos, de súbito pus-me a descoberto. Ainda fui severamente
julgado por uma imensidade de Espíritos que, baseando-se em suas recordações e na
reputação de uma apreciação tida em outros tempos, subitamente reconheceram em
mim o misantropo selvagem, o urso da civilização, o austero
critico das instituições em desacordo com seu próprio raciocínio. Ai! como um
erro faz sofrer e há quanto tempo dura o mal feito às massas pela tola
pretensão de um orgulhoso da humildade, de um louco do sentimento!
Sim,
tendes razão: o isolamento em matéria religiosa e social não pode engendrar
senão o egoísmo e, sem que muitas vezes dele se dê conta, o homem torna-se
misantropo, deixando que seu egoísmo o domine. O recolhimento, produzido pelo
efeito do silêncio grandioso da Natureza falando à alma, é útil, mas a sua
utilidade não pode produzir seus frutos senão quando o ser que ouve a Natureza
falar à sua alma, relata aos homens a verdade de sua moral; mas, se aquele que
sente, em face da criação, sua alma levantar voo para as regiões de uma era
pura e virtuosa, não se serve de suas sensações, ao despertar, no meio das
instituições de sua época, senão para censurar os abusos que a sua natureza sensitiva lhe exagera, porque ela sofre com isto,
se ele não encontra para corrigir os erros dos humanos, senão fel e
ressentimento, sem lhes mostrar docemente o verdadeiro caminho, tal qual o
descobriu na própria Natureza, oh! então, infeliz dele, se só servir de sua
inteligência para açoitar, em vez de pensar as feridas da sociedade!
Sim,
tendes razão: viver só no meio da Natureza é ser egoísta e ladrão, porque o
homem foi criado para a sociabilidade; e isto é tão verdadeiro que eu, o
selvagem, o misantropo, o indomável eremita, venho aplaudir esta passagem do
discurso aqui
pronunciado: O isolamento social e religioso
conduz ao egoísmo.
Uni-vos,
pois, nos esforços e nos pensamentos; sobretudo amai. Sede bons, doces, humanos;
dai à amizade o sentimento da fraternidade; pregai pelo exemplo dos vossos
atos, os salutares efeitos de vossas crenças filosóficas; sede espíritas de
fato, e não apenas de nome, e logo os loucos do meu gênero, os utopistas do bem
não mais terão necessidade de queixar-se dos defeitos de uma legislação sob a
qual devem viver, porque o Espiritismo, compreendido e sobretudo praticado,
reformará tudo em benefício dos homens.
J.-J. Rousseau
(Médium: Sr.
Morin)
III
‘O
perfume que se exala de todos os bons sentimentos é uma prece constante que se
eleva a Deus, e todas as boas ações são ações de graças ao Eterno.’
Sra.
Victor Hugo
‘A
dedicação pelo reconhecimento é um impulso do coração; o devotamento pelo amor
é um impulso da alma. ‘
Sra. Dauban
‘O
reconhecimento é um benefício que recompensa aquele que o merece. A gratidão é
um ato do coração que dá, ao mesmo tempo, o prazer do bem àquele a quem se deve
ser reconhecido e àquele que o é.‘
Vézy
‘A
ingratidão é punida como ação má pelo abandono de que é objeto, como a gratidão
é recompensada pela alegria que proporciona.‘
Lerclerc
‘O
dever da mulher é trazer ao homem todas as consolações e os encorajamentos
necessários à sua vida de vicissitudes e penosos trabalhos. A mulher deve ser o
seu sustentáculo, o seu guia, o facho que ilumina o
seu caminho e deve impedi-lo de falir; se faltar à sua missão será punida; mas
se, apesar do seu devotamento, o homem repele os impulsos de seu coração, ela é
duplamente recompensada por ter persistido no cumprimento de seus deveres.’
Delfina de Girardin
‘A
dúvida é o veneno lento que a alma faz a matéria absorver e da qual recebe o
primeiro castigo. A dúvida é o suicídio da alma, que leva imediatamente à morte
do corpo. - Uma alma suicidar-se é difícil de compreender; mas não é morrer o
viver na sombra, quando se sente a luz em volta de si? Afastai, pois, do vosso
Espírito, o véu que vos oculta os esplendores da vida, e vede esses sois
radiosos que vos dão o dia: aí está a verdadeira luz; aí está o objetivo a que
deveis chegar pela fé.’
Jobard
‘O
egoísmo é a paralisação de todos os bons sentimentos, O egoísmo é a deformidade
da alma, que trespassa a matéria, fazendo-vos amar tudo o que a ela se dirige e
repelir tudo o que se dirige aos outros. O egoísmo é a negação da sublime
sentença do Cristo, sentença alterada ignominiosamente: "Fazei aos outros
o que gostaríeis que vos fizessem.’
Plácido
‘A
susceptibilidade, eis o defeito para uso de todos, e cada um - não digais o
contrário - dele está um pouco carregado.
Irra!
se soubésseis quanto é ridículo ser susceptível e quanto esse defeito se torna
desagradável, eu vos asseguro que ninguém mais queria ser por ele atingido,
porque se gosta de ser belo. ‘
Gay
‘O
orgulho é o guarda-chuva social de todos e que cada um rejeita sobre o gracioso
amor-próprio; certo! é preciso ter amor-próprio e orgulho, é o que dá a ambição
do bem (sem jogo de palavras), mas demasiado, isto estraga o Espírito e
corrompe o coração.’
Mangin
‘A
ambição, ele acaba de dizer! mas sabeis qual a ambição que não impede a alma de
elevar-se para os esplendores do infinito? Pois bem! é a que vos leva a fazer o
bem. Todas as outras ambições vos levam ao orgulho e ao egoísmo, flagelos da
Humanidade.’
Bonnefon
‘Meus caros amigos, os Espíritos que acabam
de vos falar, não só estavam felizes por manifestar sua presença, mas têm a
alegria de pensar que cada um de vós se esforçará para se corrigir e pôr em
prática as sábias lições que vos deram e as que vos trazem em cada uma de vossas
sessões. Crede, os Espíritos são para vós o que vossos pais foram ou deveriam
ter sido. Eles vos admoestam, aconselhando e vos ajudando; e quando não os
escutais, dizem que vos abandonam; revoltam-se contra vós; depois, tão logo vos
falaram duramente, voltam a vós para vos encorajar, e se esforçam para impelir
constantemente os vossos pensamentos para o bem.
Sim, os Espíritos vos
amam como o bom pai ama a seus filhos; compadecem-se de vós, cuidam de vossos
dias e afastam de vós todo mal que vos pode acontecer, como a mãe cerca o filho
de todos os cuidados mais delicados, de todas as atenções necessárias à sua
fragilidade. Deus lhes deu uma missão; deu-lhes a coragem para a cumprir e
nenhum desses bons Espíritos, seja qual for o seu grau na hierarquia espiritual,
falhará na sua tarefa; compreendem, sentem, veem esses esplendores divinos que
devem ser a sua recompensa; vão adiante e queriam vos levar em sua companhia,
vos impelir à frente deles, se o pudessem. Eis por que vos admoestam, eis por
que vos aconselham. Por vossa vez, orai por eles, a fim de que a vossa indocilidade não os impeça de continuar
seus benefícios por vós, e que Deus continue a lhes dar a força de vos ajudar. ‘
São Luís (Médium: Sr. Bertrand)
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