quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Fortaleçamos a Unificação Espírita!


Fortaleçamos
a Unificação Espírita!

Túlio Tupinambá (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Novembro 1958

            Esfalfam-se os frades em dizer inverdades acerca do Espiritismo, a fim de fazerem crer que a sua Igreja continua sendo a monopolizadora da verdade na face da Terra. Nada nos surpreende da parte desses e de outros megafones do alto clero, porque nunca se dispuseram a ser fiéis ao espírito evangélico, de modo que não se lhes pode exigir seriedade nas atitudes que tomam. São pseudo cristãos empenhados em nova “cruzada”. Indiscutivelmente, lutam hoje com maiores dificuldades, porque não podem dispor de câmaras de torturas nem de fogueiras, como sucedia em outros tempos, quando, vencidos pela verdade dos fatos e pela lógica dos acontecimentos, lançavam mão daqueles expedientes terríveis, enodoando a pessoa amada do Cristo, em nome de quem se excediam em práticas ofensivas ao espírito de mansidão e tolerância do Mestre.

            Esses frades estão reproduzindo argumentos que já foram destruídos por homens da têmpera moral e científica de William Crookes, Alexandre Aksakof, Ernesto Bozzano, Gabriel Delanne e outros. O que antes lhes era vedado pelos mentores do clericalismo, hoje já lhes é permitido. Já estão perdendo o medo de Satanás, depois que Papini desmanchou o andor... Então, entregam-se a experimentos de hipnotismo e procuram demonstrar à sua moda que o Espiritismo não existe, que os fenômenos espíritas são balelas inventadas por indivíduos fraudulentos para embair a Humanidade... Nós, os espíritas, não temos maior interesse em examinar os argumentos clericais, porque já os conhecemos e os sabemos mentirosos. O povo, que já não se deixa enganar pelos padres, sente em sua própria carne a “sinceridade” da Igreja. Quanto ao Espiritismo, nele milhares e milhares de sofredores têm obtido alívio para os seus infortúnios. Sabem que os espíritas têm um passado limpo e nobre, que nunca mataram, nunca torturaram e jamais fizeram de Jesus trampolim para a conquista de posições políticas e mundanas. O Espiritismo tem progredido pelos fatos e não por falsidades. O papel do clero, do alto clero, diremos melhor, sempre foi o de mentir e injuriar, intrigar e falsear, de modo que nós seríamos muito ingênuos se acreditássemos, agora, numa sua resolução de renunciar ao negro passado para adotar, perante a Humanidade, a única atitude que devem ter os verdadeiros cristãos: a de respeitar as outras religiões, tratando-as com o espírito de tolerância, como está nos Evangelhos.

            Um desses frades declarou que seriam feitas levitações de objetos. Esperemos que o façam, mas não nos surpreenderemos com os meios que empregarão para esse fim. Se tiverem um médium de efeitos físicos que possa ajudá-los nisso, tudo será possível. Nesse caso, em vez de desmancharem o prestígio incontestável do Espiritismo, acabarão por aumentá-lo. Mas se não tiverem um médium dessa natureza, então só mesmo recorrendo a “milagres”. E todos sabem que os milagres andam raros e bem desacreditados hoje em dia. Depois da reunião dos bispos no Pará, os frades começaram a pôr as manguinhas de fora. E o fazem com uma desenvoltura verdadeiramente pagã. Assim, é possível que apareça algum milagre, se é que a suspensão não está mais de pé... Dizemo-lo porque o nosso alegre amigo Voltaire, em seu “Dicionário Filosófico”, conta o seguinte: “Um pequeno monge estava tão acostumado a realizar milagres que o prior lhe proibira exercer seu
talento. O pequeno monge obedeceu; mas, tendo visto um pobre telhador cair do alto de um telhado, ficou indeciso entre salvar-lhe a vida e manter a santa obediência. Ordenou apenas que o telhador permanecesse suspenso a meio caminho do solo, até nova ordem, e correu depressa a contar ao seu prior o estado das coisas. O prior absolveu-o do pecado que cometera, iniciando um milagre sem licença, e permitiu que o terminasse, contanto que nunca mais o repetisse.”


Voltaire

            Pode ser que a proibição tenha sido levantada e, nesse caso, os frades cá do Brasil já possam reiniciar o programa milagreiro que “encheu” a História, até que a inteligência esclarecida do homem começou a desfazer as ilusões que os cérebros pouco desenvolvidos aceitavam passivamente.

            E o mesmo Voltaire lembra que São Crisóstomo dissera expressamente: “Os dons extraordinários do espírito eram dados mesmo aos indignos, porque então a Igreja necessitava de milagres; hoje, eles não são concedidos nem mesmo aos dignos, pois a Igreja já não necessita deles.” Vê-se que São Crisóstomo se referia a uma época em que as vacas estavam gordas. Hoje, tudo está sendo diferente. O alto clero vê que tem de transigir com os costumes, renunciando a certos preconceitos católicos, aceitando conquistas da Ciência e concordando com tudo quanto seja capaz de retardar o seu desmoronamento. Neste caso, os milagres são novamente necessários. Para isso, os frades se encontram em atividade febril, fiéis àquele lema: “os fins justificam os meios.” Pelo menos, Brunoem “A Questão Religiosa”, é positivo: “Divide, para governar”: esta é a máxima de todos os maquiavelistas. Sejam da política. Sejam da Igreja.”

            Qual é o papel de todos os espíritas diante da Igreja? Unirem-se mais ainda, levando o programa da Unificação, lançado pela Federação Espírita Brasileira, ao máximo. Não nos importam os expedientes de que se vale o alto clero católico. Eles não nos poderão fazer mal, porque não mentimos, não -hostilizamos, não injuriamos, não traímos o Cristo, não desmentimos os Evangelhos. Portanto, nada temos a temer. A nossa atitude só pode ser uma: a de prestigiarmos com dedicação crescente o plano de Unificação do Espiritismo. Todo o atual trabalho da Igreja se desenvolve no sentido de evitar essa unificação, de perturbar a execução total do plano unificador, que tão bons resultados vem dando desde que foi aprovado. Para consegui-lo, o clero fará tudo que lhe for possível, dispondo como dispõe de recursos humanos ilimitados e em todos os sentidos.

            Será um esforço vão, porque o Espiritismo, tal como o Espírito, é imortal, pois não é obra do homem, não vive amancebado com o Poder, não se mundaniza. Sua defesa está nos Evangelhos. E basta.



Indalício Mendes


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