VIII
‘Apreciando a Paulo’
comentários em torno
das Epístolas de S. Paulo
por Ernani Cabral
Tipografia Kardec - 1958
“Vós, mulheres, estais sujeitas a
vossos próprios maridos,
como convém ao Senhor,
Vós,
maridos, amai a vossas mulheres, e não vos irriteis contra elas.
Vós filhos, obedecei em tudo a
vossos pais;
porque isto é agradável ao Senhor.
Vós, pais, não irriteis a vossos
filhos,
para que não percam o ânimo”. Paulo,
Colossenses, 8:18 a 21.
O problema doméstico, entre todos, é
o mais importante.
Quem não sabe ajustar sua vida íntima,
como poderá dar o exemplo de amor aos seus semelhantes?
Jesus somente justificou o divórcio
em caso de infidelidade (Mateus 19:9), e o profeta Malaquias. já recomendava
que, “ninguém seja desleal para com a mulher da sua mocidade”. (Malaquias, 2
15).
Fora daí, “o que Deus ajuntou, não
separe o homem.” (Mateus, 19:6).
É bem exato que há vidas conjugais
que são um verdadeiro inferno. Mas o cristão que assim viva, por
incompatibilidade absoluta de gênio ou por diversidade de educação, deve suportar
sua cruz, quando mais não seja, por amor aos filhos, esforçando-Se sempre por
conseguir a paz doméstica.
O casamento, às vezes, é uma
provação. Muito mérito terá, perante Deus, aquele que sofrer com resignação,
por dedicação aos seus deveres matrimoniais. Além disto, a vida fora do
casamento, para aqueles que já o contraíram, é pior. Cada qual tenha nobreza e
resignação em carregar sua cruz, certo de que a misericórdia divina a ninguém
desampara.
Uma das figuras mais reprováveis é a
do déspota ou tirano doméstico, seja homem, seja mulher.
O cônjuge que pretenda impor sua
vontade no lar, violentamente, aos gritos, aos descontroles e com falta de
educação, é antes de tudo um doente moral, digno da piedade, da tolerância e da
compaixão do outro, se for mesmo espírita.
Reconhecemos que é talvez uma das
provações mais duras, mais difíceis, mais cheia de sofrimentos, a de privar,
constantemente, com alguém que não tem equilíbrio, nem o senso exato das
coisas, fala sem cessar, ou que é destituído da necessária caridade para com os
que vivem sob o mesmo teto.
Mas quem foi que disse que este
mundo é celestial? Esses dramas íntimos e dolorosos, quando suportados com
abnegação, por amor à família, não podem deixar de servir, sobremaneira, para a
purificação do Espírito.
Nós, porém, que somos cristãos,
temos o ensinamento de Paulo a nos nortear a vida conjugal:
“Vós, mulheres, estais sujeitas a vossos maridos, como convém ao Senhor”.
O marido é o cabeça de casal, o
chefe da sociedade conjugal, seja pela lei humana (Código Civil, art. 233), (1) seja pelos princípios da moral
divina, como deflui dessa lição de Paulo, o apóstolo vulgarizador do
Cristianismo.
(1) Do Blog: A legislação em vigor
trouxe igualdade de direitos e de obrigações ao casal.
Toda mulher que pensa ao contrário,
por um conceito de emancipação exagerado ou por suposição errônea de supostos
direitos, ofende a lei humana e a lei de Deus. Por isto, há de dar contas de
seus atos ao Senhor, porque é uma rebelada, infernando a vida do lar, que
precisa ser o reino da paz e um ninho de amor. Portanto, convém que ela faça
tudo para corrigir-se, aprendendo a ser obediente ao marido (a obediência é uma
virtude evangélica), sobretudo se é espírita, ou melhor, se pretende mesmo ser
cristã.
Por sua vez, quanto ao marido, o
grande Paulo de Tarso aconselha:
“Vós,
maridos, amai a vossas mulheres, e não vos irriteis contra elas”.
O apóstolo prega a brandura
doméstica. Nada de violência por parte do cônjuge varão.
Usemos de caridade, de benevolência,
de tolerância para com a mãe de nossos filhos ou para com a esposa que Deus nos
deu.
A mulher é sempre mais fraca, mais
nervosa, mais sofredora, salvo raras exceções. Geralmente, é quem suporta a
parte pior do casamento. São as lutas, os sofrimentos próprios ao sexo, as
canseiras, os trabalhos domésticos, a dedicação ao marido e aos filhos, o que
as esgota.
Destarte, por que não compreender os
seus problemas que, com uma aparência simples, são complexos e depauperantes?
Por que as irritar com exigências descabidas ou com impertinências?
A paz doméstica deve ser nossa
primeira preocupação. Façamos tudo por alcança-la, pois só assim poderemos
servir com eficiência a Jesus, fora do lar.
A mulher é sempre o braço direito do
marido, como este o é da mulher. De sua meiguice e de sua paciência muitos
benefícios poderão resultar para a família. Ela deve procurar vencer sempre
pelo amor e jamais com imposições ou explosões de nervos, que revoltam,
em vez de edificar. O marido, por sua vez, precisa ser brando, compreensivo e
tolerante, e não descambar para a violência de palavras ou de gestos, agindo
como se fora um tirano doméstico. Além disso, os filhos, criados nesse ambiente
de lutas íntimas, crescerão nervosos e cheios de complexos, contribuindo os
pais, portanto, para sua infelicidade.
Dizem os Mensageiros do Senhor que o
culto no lar muito contribui para estabelecer um ambiente de amor e de harmonia
na família.
Dediquemos ao menos um dia por
semana para a leitura do Evangelho em nossa casa.
Poderemos abri-lo ao acaso. Por
coincidência (sabemos que em Espiritismo não há coincidências) o ponto abordado
será de muito proveito. A leitura do texto poderá ser feita por um filho, após
a prece inicial. Então, qualquer membro da família fará um ligeiro comentário,
dando suas impressões sobre a leitura feita. Em seguida, cada um fará uma
prece, repetida mentalmente pelos outros, sem que esqueçam do Pai Nosso, a
oração dominical, pois foi a que Jesus nos legou.
Verificar-se-á nessa ocasião a
sintonia com os guias do lar, os Espíritos protetores da família.
A palavra divina, qual gota de
orvalho, irá refrigerando os corações; e a semente do amor, aos poucos,
germinará e será fortalecida pelos laços da espiritualidade superior e pela irradiação
daqueles corações que buscam, o amparo generoso do Pai Celestial.
A prece de encerramento, que poderá
ser dedicada a Maria Santíssima, nossa Mãe Celestial, desde que feita com
sinceridade, implorando harmonia, completará a súplica dos que buscam o consolo
do Senhor, recordando-se também, humildemente, de seus ensinamentos, que são “espírito
e vida”, fonte eterna de todas as bênçãos.
Se, por qualquer circunstância, os
filhos não puderem participar desse banquete de luz, os pais reúnam-se assim
mesmo, em nome do Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo, como disse João
Batista.
E se apenas um membro da família foi
espírita, faça somente ele, confiadamente, sua leitura e suas preces, em
proveito de todos os entes queridos, encarnados e desencarnados, que algum dia
poderão vir a participar desse culto doméstico, na verdadeira comunhão, que é a
da espiritualidade e do amor.
Continuando a apreciar os versículos
acima transcritos, reconhecemos que é lamentável que nem todos os filhos sigam
ou conheçam os conselhos do apóstolo Paulo:
“Vós,
filhos, obedecei em tudo a vossos pais; porque isto é agradável ao Senhor.”
Os pais têm a experiência da vida,
de que os filhos, geralmente, por incompreensão, por vaidade ou por orgulho,
duvidam. Os pais desejam, tão somente, a felicidade de seus queridos meninos,
pois eles assim nos são, mesmo depois de crescidos, de vez que os criamos com
amor, alegrando-nos sempre com os seus triunfos e sofrendo com as suas
desilusões. Para nós, pais, eles se nos apresentam sempre como as crianças que
vimos crescer, e que, por maiores ou mais cultos que sejam, enquanto vivermos,
não poderão ter o mesmo conhecimento da vida, que os anos nos deram, com suas
desilusões. Mas precisamos ter compreensão e tolerância para com eles.
Foi por isto que Paulo também nos
recomendou:
“Vós,
pais, não irriteis a vossos filhos, para que eles não percam o ânimo!”
Sejamos brandos e generosos, embora
sem perdermos a energia, quando vivam sob nosso teto. Temos o dever de corrigi-los,
e o verdadeiro amor não transige com erros, mas procura educar, para que amanhã
nos possam honrar as cãs e as tradições do lar que
fundamos,
confiados no Divino Mestre, que exemplificou amor, mas que também demonstrou
energia, no mundo em que viveu.
E nosso lar é um mundo. Mundo de
carinho, de amor, de afeto e de bondade.
Base do Estado, é a família,
outrossim, a célula fundamental do gênero humano. Nela se devem alicerçar
nossos sentimentos de amor, de tolerância e de compreensão. É em seu aconchego
que se manifestam as mais puras virtudes cristãs: é em seu contato que se
aprimora o caráter e que nosso Espírito se eleva, em busca de Deus. Compreender
e amá-la, é nosso dever. Servi-la, é a maior alegria que podemos ter na Terra.
Felizes, portanto, os que têm noção
de família e os que se sabem sacrificar por ela, pois só a abnegação demonstra
a verdadeira elevação espiritual!
Convém finalizarmos com a sentença
luminosa de Nosso Senhor:
“Se
alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e
siga-me.” (Mateus, 16:24)
E que Paulo de Tarso, do alto das
regiões celestiais onde se encontra, nos faça compreender que toda a lição do
Evangelho e de suas Epístolas, nele fundamentadas, resume-se apenas em AMOR.
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