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‘Rimas do
Além Túmulo’
Versos Mediúnicos de
Guerra Junqueiro
Grupo Espírita Roustaing
Belém do Pará 1929
Casa Editora Guajarina
Evolução
e Decadência
Para o espírito investigador de Almerindo Martins de
Castro, irmão a quem
dedico extraordinário afeto.
A Ciência progride;
aumenta a crueldade,
a vertigem do Erro
empolga a Humanidade,
e os castigos
tremendos caem sobre a Terra:
ciclones,
terremotos, catástrofes, guerra,
a fúria das
procelas e os rios transbordados
parecem declarar
que os tempos são chegados
Mas é bem triste
ver-se as cegas criaturas
deste orbe
entregues todas a fatais loucuras:
adoram, cultuando o
santo deus - Milhão,
no templo- Decadência-
a deusa Corrupção.
A ilusão bem falaz
dos gozos multicores
abafa o coro uníssono
de aflitas dores.
Esperançoso sempre
em melhorar um dia,
o mendigo se
estorce em vascas de agonia,
chorando muita vez
a falta de alimento,
na dor e no martírio,
em triste isolamento.
O ambiente é
pesado, porém a Evolução
vai seguindo o seu
curso sem interrupção.
E, ao par de tanta
glória, tantas invenções,
entrechocam-se, em
fúria, os ódios e as paixões.
Meditai bem sobre
isto, irmãos trabalhadores:
se o planeta é de magoa,
expiação e dores.
não é porque Deus
queira vos fazer sofrer;
porém, compenetrai-vos
que é vosso dever
progredir
moralmente. Assim, desencarnado,
contemplo, com
pesar extremo, o desregrado
bando de almas que
formam triste aluvião
seres que não têm
moral, nem têm Razão.
Época de progresso
e de desregramento,
em que a Virtude é
poeira vã lançada ao vento.
Já a Honra e a
Família, dignidade e amor,
são uns rotos
fragmentos, coisas sem valor,
que a boemia esmaga
aos pés vitoriosa,
num pouco de
champanhe e essência vaporosa,
aplaudindo a nudez,
o descalabro, a orgia!
O amor conjugal é
mera fantasia!
A prostituição é
sorvedouro imundo,
que tenta
aniquilar, açambarcar o mundo,
espalhando-se assim
de forma bem fatal;
faz da Mulher um monstro
horrível, um chacal
disforme e
carcomido em vício e embriaguez,
que às vezes vai
dormir na furna de um xadrez,
por praticar
desordens ou ter pronunciado
palavras torpes, em
calão acanalhado!
E trata-se a Mulher
como uma fera astuta,
que se prende em
jaula por demais corrupta
O Respeito passou a
pálida quimera.
Bem raro é o lar
onde a moral impera,
onde a palavra –
Mãe - incute obediência
aos filhos, que mal
saem do berço da inocência.
É bem frequente
ver-se em ruas, nas esquinas,
um bando
adolescente, em frases libertinas,
falando, com
prazer, no jogo ou na bebida,
com audácia mordaz,
ferina e desmedida.
Tudo isso por que?-
Porque não há moral;
a serpe da Cobiça,
traiçoeira e fatal,
se enrosca
tenebrosa em todo coração.
Ao lado do Progresso,
marcha a Perdição
vertiginosamente;
e, para procurar
destruir tão mortal
veneno, exterminar
pra sempre esse
inimigo, que faz do encarnado
um verme
pestilento, um ser desnaturado,
é mister acabar com
toda a atrocidade,
por termo à
Corrupção, combater a Vaidade
com a moral enérgica
e firme de heróis.
Importam-vos as
chagas? São mais tantos sois
os espinhos que
cercam o trilho - Bondade;
e, enquanto o Erro
enterra as unhas à Verdade,
tentando
estrangular lhe o retumbante grito,
- apóstolos da Fé,
bradai pelo Infinito:
Somos filhos de
Deus! Recua, Iniquidade!
vai cessar para
sempre a crassa autoridade
que exerces sobre
nós! a Humanidade inteira
formará, bem unida,
a colossal barreira
- bronzeia,
inquebrantável, e assim não poderá
jamais o Mal
vencer: o Bem triunfará!
Levante-se a mulher
da negra podridão
em que se acha
imersa; a luz da Redenção
seja o foco de Paz,
viril, libertador,
que aponte à decaída
o trilho de Honra e Amor.
Libertai-vos do
lodo vil que vos oprime;
banhai-vos no
Jordão do pranto que redime!
As lágrimas
sinceras são pedras preciosas,
são perolas de Luz,
são gotas perfumosas
aroma sutil alenta e diviniza,
e, como orvalho
mago, coalesce (junta
com força)
e cicatriza
a chaga mais
profunda, a chaga do Pecado,
que faz do homem
livre um pobre degredado,
um perdido, um
descrente, um ser que, por final,
só tem inclinações
mesquinhas para o Mal.
Porém, quando de
Deus lhe baixa o olhar paterno
e transforma num céu
belíssimo esse inferno
que o culpado
trazia na alma ocultamente
guardado, como
guarda um rico avaramente
o seu tesouro, e
quando, poderoso
e intrépido, o
Remorso lhe diz: Criminoso,
que não te
arrependes de haver cometido
as faltas que te
fazem triste, combalido?
a fronte ergue-a,
sem pejo e sem temor,
Já estás
regenerado, graças ao Senhor!
O criminoso sente
um bem indescritível.
e, na Graça de
Deus, compreende que é possível
um monstro
transformar-se em meigo cordeirinho;
um ébrio erguer-se
de entre a lama do caminho,
na mesma rapidez
com que uma borboleta
sai do casulo e voa,
alegre e satisfeita,
nos Espaços abrindo
as asas pequeninas,
pressurosa buscando
as flores das campinas...
Também a criatura,
por pior que seja,
quando implora de
Deus a chama benfazeja
do Perdão, cai
sobre ela, brandamente,
um orvalho, balsâmico
e luzente,
lhe circunda a alma
pecadora
uma auréola de Luz
libertadora!
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