2d
‘Apreciando a Paulo’
comentários em torno
das Epístolas de S. Paulo
por Ernani Cabral
Tipografia Kardec - 1958
É certo que a verdade absoluta
jamais alcançaremos na Terra, porque está com Deus, e o relativo não pode
penetrar inteiramente no absoluto. Os mistérios continuarão sempre a existir, é
certo. Mas isto não quer dizer que nos assombremos com eles e que não os
procuremos desvendar, pois não podemos saber qual o alcance máximo do
entendimento humano. Sempre haverá coisas além de nossa faculdade de percepção;
mas o inegável é que a Humanidade vai evolvendo e muitos mistérios de ontem, já
são hoje explicados pela ciência ou pelo Espiritismo, que muito pode auxiliar
aquela, em sua marcha ascensional, rumo à perfectibilidade. Destarte, criar
"mistérios impenetráveis" em nome de Deus, que é a própria Luz e a
própria Verdade, é atitude profundamente errônea e digna de toda a reprovação,
em nome da consciência humana, que é livre e que não pode ser jungida a ideias
preconcebidas ou retrógradas.
Mas se a ciência evolui
constantemente e se a evolução é lei de Deus, o Espiritismo também é
essencialmente evolutivo, tendo Sua base certa, é claro, mas crescendo sempre
para nosso entendimento, rumo aos céus!
Por isto, ele encerra e conterá
sempre em si mesmo a maior parcela da verdade dada aos homens, em matéria religiosa,
porque é obra direta do Espírito Santo, o Consolador prometido à Humanidade
pelo próprio Redentor (João, 16:12 a 14), o qual afirmou ainda que ele nos
ensinaria "todas as coisas". (Idem, 14:26).
Quem quer que estude e que
investigue com sinceridade de propósitos, convencer-se-á de tal afirmativa.
Mas devemos ponderar que as fraudes
e as mistificações existem e os próprios livros espíritas, a começar pelos de
Allan Kardec, advertem-nos sobre essa ocorrência, para que não nos sirva de
desânimo e para que possamos aprender, por nós mesmos, a separar o joio do trigo,
num esforço que nos compete para sabermos "discernir os Espíritos”,
fenômeno a que São Paulo também alude em I Cor., 12:10 e São João confirma, em
sua Primeira Epístola, 4:1.
Sabemos que fraudes e mistificações
são produzidas pelos FALSOS PROFETAS deste plano ou do invisível (pessoas ou
Espíritos atrasados), que se comprazem em pretender gerar a confusão, desviando
os homens do caminho da verdade, assim procedendo por maldade, ignorância ou
zombaria, mas, como ensinou Jesus, que também a eles se refere, "pelos
seus frutos os conhecereis" (Mateus, 7:16).
Assim, "por existir o vinho falsificado não quer dizer que não haja o
verdadeiro" e quem persistir com pureza de propósitos em busca do
esclarecimento legítimo, beberá da vinha do Senhor.
Mas quando algum inimigo da luz na
Terra descobre alguma mistificação, exulta e alardeia o fato. Se, porém,
constata um fenômeno verdadeiro, prefere silenciar, à espera de outros, que o
confirmem... Há, no entanto, homens de boa mente, que investigam e persistem em
busca da verdade; não se desalentam com a falsidade até que um dia vêm as
provas, claras, reiteradas, inequívocas! Então, eles têm a lealdade suficiente
para proclamar sua convicção.
Assim se tem dado com inúmeros
sábios - e a lista seria enorme se quiséssemos citar seus nomes - os quais,
geralmente, passam a ser ironizados por aqueles que cooperam com os
materialistas na negação dos fenômenos espíritas, embora digam que creem na
imortalidade da alma.
Entretanto, devemos acentuar que
acima da fenomenologia espírita está seu corpo doutrinário, que outro não é
senão o Cristianismo puro, dos tempos apostólicos, tal e qual era praticado
pelos primeiros discípulos de Jesus ou pelos cristãos primitivos, como terei
ocasião de provar à sociedade, em vários capítulos deste livro.
Destarte, não adianta combater a
verdade, nem excomungá-la ou persegui-la, pois ela vem de Deus, e os homens,
por mais ilustres ou, cheios da grandeza que a si mesmos se atribuam, não na
poderão destruir, porque a verdade é simples, provém dos céus, e é acessível a
qualquer pessoa de boa vontade; basta que esta não tenha medo e investigue com
persistência e com sinceridade de propósitos pois o Senhor a ninguém desampara,
desde que perceba pureza de sentimentos e humildade de coração, porque, afinal,
não é justo que busquemos a verdade com arrogância, somente dispostos a
desmascarar os mistificadores, como se entre os homens só houvesse falsários...
Além disso, é preciso que saibamos considerar também as coisas de Deus, que nos
devem merecer atitude respeitosa e prudente.
Mas é impossível extinguir a obra
sábia e generosa do Espírito Santo!
Agora, que os "tempos estão chegados", como
anunciam os Mensageiros do Senhor, o Espiritismo há de difundir-se entre os
homens de boa vontade, pois "tudo tem seu tempo prescrito" na palavra
sábia do Eclesiastes.
O Brasil foi escolhido para ser
"o coração do mundo e a pátria do Evangelho") segundo aqueles
Mensageiros anunciam. Difundir-se-á daqui a Boa Nova, ora interpretada "em
espírito e verdade". O Esperanto será um dos veículos para esse
desiderato. O resto será obra dos Espíritos e dos homens de boa vontade, numa
conjugação de esforços, numa interpenetração constante dos dois planos da
vida... Aliás, a lógica da doutrina se impõe por sua clareza e por seu poder
convincente e os fenômenos, que tendem a se intensificar, abalarão os corações
mais empedernidos. Entretanto, sabe-se que nem todos estão à altura de aceitar
essa expressão maior da verdade. “O pior cego é o que não quer ver" e,
além de tudo, há os tipos mencionados na parábola do semeador, os que por
conveniência, respeito humano mal compreendido, interesses subalternos, descaso
ou falta de amadurecimento espiritual, não querem ponderar no problema ou
voluntariamente o desprezam. Porém, “muitos
serão chamados"; muitos, mas nem todos. . . E destes muitos, poucos
serão os escolhidos. (Mateus 20:16).
O fato é que talvez não haja uma só
família no Brasil que não tenha um caso espírita a contar, às vezes muito em segredo,
com medo de propagar a verdade, que hoje é lançado, como diz a Bíblia, de cima
dos telhados, ou seja, através das dezenas de programas de rádio e até de
televisão, que convocam os homens de boa vontade ao serviço da terceira
revelação de Deus ou do Cristianismo puro, que os Mensageiros do Senhor
procuram fazer ressurgir na face da Terra.
2e
‘Apreciando a Paulo’
comentários em torno
das Epístolas de S. Paulo
por Ernani Cabral
Tipografia Kardec - 1958
Mas também diziam que Jesus curava
em nome de Belzebu, príncipe dos demônios (Mateus 12:24) ao que o Divino Mestre
respondeu: “Basta ao discípulo ser como
seu mestre, e ao servo como seu senhor. Se chamaram Belzebu ao pai de família,
quanto mais aos seus domésticos?" (Mateus, 10:25).
Assim procedem agora conosco, à
falta de razões mais ponderáveis. A esse poderemos lembrar o que disse o grande
rabino Gamaliel - o mestre amorável de São Paulo - quando advertiu aos judeus
do Sinédrio, o que bem pode ser repetido com relação aos espíritas, servindo
ainda para ser ponderado por qualquer Frei Boaventura:
"Dai de mão a estes homens e deixai-os,
porque, se este conselho ou esta obra é de homens, se desfará.
Mas se é de Deus, não podeis desfaze-la;
para que não aconteça serdes também achados combatendo contra Deus".
(Atos, 5:38 e 39).
Resumindo, quero repetir que todos
os comentários que fiz em torno de vários versículos das Epístolas de São Paulo,
foram orientados pela doutrina espírita, à luz da Nova Revelação dada a Allan
Kardec e seus continuadores, inclusive a magnífica obra “Os Quatro
Evangelhos" ou “Revelação da Revelação" de J. B. Roustaing, livro
combatido quase sempre por quem não o leu, quando devia conhecer a sublimidade
de seu conteúdo e a extensão de seus ensinamentos doutrinários, e que possui
ainda a autoridade moral da “Federação Espírita Brasileira” a endossa-lo e a
cuja livraria, Emmanuel, André Luís, Humberto de Campos, Bezerra de Menezes e
outros grandes Mensageiros do Senhor dão preferência para editar suas obras,
sem jamais haverem condenado aquela que a FEB constantemente reedita.
A aceitação do corpo de Jesus como
sendo fluídico é também grau de entendimento e não nos vamos desavir em torno dele,
porque o mais importante é o corpo de sua doutrina generosa e salvadora.
Humilde professor de direito e
advogado, contudo, quis pôr ainda meus parcos conhecimentos de interpretação ou
de hermenêutica, a serviço da Bíblia, que reputo livro sagrado, salvo a parte
histórica ou não religiosa nele contida, embora reconhecendo e proclamando
que o Novo Testamento já superou o Velho, pois em Lucas 16:16 está escrito que
“a lei e os profetas duraram até João” e o próprio São Paulo chegou a dizer que
“o Velho Testamento foi por Cristo abolido
(II Cor. 3:14).
Mas não se pode negar sua autoridade
relativa, pois os profetas de Israel anunciaram a vinda do Messias, “prepararam
o caminho do Senhor” e o Pentateuco contém a primeira revelação divina, proclamando
o monoteísmo ao mundo (que até então era politeísta salvo para a concepção dos
iniciados no esoterismo), o que levou Jesus mesmo a afirmar que "a
salvação vem dos judeus” (João, 4:22). O Divino Mestre citou também Isaías,
Jeremias etc., reproduziu as lições de alguns Salmos e jamais escarneceu das
Escrituras, sendo que de uma feita chegou a dizer, conforme João, 5:39:
"Examinai as Escrituras porque vós cuidais ter nelas a vida eterna e são
elas que de mim testificam".
Allan Kardec abre o “Evangelho,
segundo o Espiritismo” com as palavras de Jesus "Não vim destruir a
lei", cujo assunto serve de tema a seu primeiro capítulo.
Servem estes comentários para alguns
espíritas, muitos deles instruídos, mas que, levados por seu ponto de vista
pessoal - onde não posso dizer que haja orgulho, mas sim, que são inovadores ou
cismáticos - se esquecem de que a doutrina não é nossa, porém de Jesus Cristo e
do Espírito Santo, cujos ensinamentos Allan Kardec codificou. Entretanto, há
entre eles alguns irmãos queridos, um dos quais tem prestado relevantes
serviços à causa, em seus terrenos
filosófico e científico, escrevendo obras excelentes, razão pela qual, peço que
se não ofendam, mas que reflitam sobre estas minhas palavras, pois creio que
não temos o direito de gerar a confusão, em qualquer ponto doutrinário.
Reconheço também que a Bíblia tem
sofrido certas alterações através dos tempos mas seus pontos substanciais
persistem, consoante ensinam os Mensageiros do Senhor, que neles se continuam a
basear.
Além disto, os espíritas temos de
ter um ponto de referência para nossa doutrina, que é cristã. E se negarmos
valor ao Antigo Testamento, ao Novo Testamento, às Epistolas, ao Apocalipse
etc., em que nos basearemos para falar sobre as coisas celestiais? Será que
nossas próprias conclusões, nosso raciocínio ou as opiniões dos Espíritos que
nos forem simpáticos, só elas poderão construir o corpo de doutrina do
Espiritismo? Ou o Espiritismo não tem corpo de doutrina, devendo apenas ser
considerado como filosofia e ciência? Com isto não posso, absolutamente,
concordar, apesar do respeito que tais confrades me merecem, pois creio no
Espiritismo como terceira revelação de Deus, conforme Allan Kardec afirmou,
reiteradamente, e consoante os Mensageiros do Senhor repetem, todos os dias,
dizendo, ainda que ele é o próprio Cristianismo redivivo, em toda a sua pureza
primitiva!
E se os outros cristãos nos combatem
com a Bíblia na mão, não fujamos do bom combate, não tergiversemos, mas
enfrentemo-los para provar que é na Bíblia mesmo onde o Espiritismo repousa e
onde encontra suas melhores justificativas e sua maior força doutrinária.
Entregue ao livre exame de qualquer
pessoa, e possível de crítica, aqui está este meu livro. Mas seu conteúdo
pretende provar, ou melhor, repetir o conceito já firmado e aceito por milhares
de irmãos; que, além de ciência e filosofia, o Espiritismo é também religião e
que, como tal, ele só pode ser, verdadeiramente, ESPIRITISMO CRISTÃO. E sendo
cristão, terá de dar valor à palavra de Jesus, que jamais menosprezou o Velho
Testamento, sendo que nós (os que o admitimos) o consideramos como fonte
subsidiária do Novo, necessitando também ser estudado e discutido com o devido
apreço que bem merece a todos os cristãos.
É certo que também devemos aprender
a separar o que há no Antigo Testamento, como matéria religiosa, e o que existe
como história do povo hebreu e até como norma legal a ser observada, do ponto
de vista civil e penal; ali existem ainda princípios de higiene pública, como
aquele relativos aos leprosos, embora demonstrando o atraso com que o problema
era encarado em tão recuados tempos, mas o fato é que o tema religioso não está
em todo o Velho Testamento. Assim, antes de mais nada, cumpre fazer esta
separação, e ainda, quanto às indicações religiosas, estudar criteriosamente o
assunto, "tirando da letra que mata o espírito que vivifica",
conforme a regra dada por Paulo.
Fazendo tais afirmativas não me
estou rotulando de paladino do Velho Testamento, nem desejo polêmicas a
respeito: Manifesto apenas um ponto de vista, que externo parra livre exame dos
leitores, a bem de nossa doutrina ou da verdade.
Hão de notar que, por vezes, repeti
certas citações bíblicas, certos ideias ou ensinamentos, o que sucede em vários
capítulos. Constantemente, alguns princípios básicos ou doutrinários forram repisados.
O motivo principal é que eu não ia escrever um livro, ideia
que surgiu depois. Mesmo assim, há uma justificativa para tal defeito, se
defeito é, pois a repetição é aconselhável, sobretudo em se tratando de assunto
religioso, por isso que incute bem o princípio focalizado, reiteradamente, com
proveito para quem lê, que o acabará aprendendo, caso não tenha ainda
conhecimento dele. Há passagens bíblicas que merecem mesmo ser bem repetidas,
para que sejam bem meditadas, sobretudo aquelas que se relacionam com o
Espiritismo, para que todos ponderem e se convençam de que, realmente, nossa
doutrina tem perfeito assentamento na Bíblia, notadamente no Novo Testamento e
nos ensinamentos de Paulo, como aquela que se refere aos dons espirituais (I Cor.,
cap. 12) que são as diversas mediunidade«, que hoje os espíritas cultivam, tal
e qual os primeiros cristãos. Outrossim, devo informar que todas as citações bíblicas
contidas neste livro são as da tradução de João Ferreira de Almeida (“A Bíblia
Sagrada” - Rio - 1949) uma das mais autorizadas e das mais conhecidas nos meios
cristãos brasileiros.
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