Reencarnação
–
“Espada de Dâmocles”
por Percival
Antunes ( Indalício Mendes)
A
ideia da reencarnação vai, a pouco e pouco, ganhando terreno no pensamento dos
brasileiros. De nada adiantam os esforços ultramontanos contra o Espiritismo,
que é como o Sol a iluminar a Terra. Ainda há dias, num programa
radiofônico de importante emissora nacional, ouvimos um comentário lido por
prestigioso locutor, no qual se verberava a maldade inconcebível de certos vendedores de pássaros. Para
que as pequeninas aves não fujam e se mostrem dóceis, os malfeitores furam-lhes
os lindos olhinhos com alfinete! E assim, sacrificando os inofensivos e
inocentes pássaros, procuram ganhar alguns miserabilíssimos cruzeiros...
Desgraçada ambição do ganho!
Mas
o autor do comentário, muito bem feito, aliás, revelando sua indignação contra
tão feroz procedimento, acrescentou mais ou menos
assim: "Tomara que esses maldosos
venham, em outra encarnação, como pássaros e sofram o castigo da sua maldade,
caindo nas mãos de malfeitores da mesma espécie, que lhes vazem os olhos sem piedade!"
Aí
está. Embora tendo uma ideia imperfeita da lei reencarnacionista, o comentador
não deixou de revelar a sua crença na reencarnação. Todos voltam, quando ainda
necessitem de limpar aqui sua "folha corrida". Onde o comentarista se
mostrou absolutamente certo foi na compreensão da lei cármica, isto é, da lei
de causa e efeito, que não é outra coisa senão o que os antigos denominavam,
sem penetrar-lhes o sentido espiritual, "Pena de Talião".
Esses
malfeitores pagarão, sem dúvida nenhuma, sua enorme maldade. E terão que
resgatá-la em benefício próprio, para que possam, um dia, sentir a alma leve e
revelar pelos pássaros, que tanto nos enfeitam a vida e nos prestam serviços, o
mesmo amor que a eles devotou o santo homem de Assis.
Nas
palestras espíritas e nos artigos em jornais e revistas do Espiritismo, devemos
todos, insistentemente, pregar a Reencarnação, mostrando a sua importância, em
face da Doutrina. Nenhum devedor será eternamente "caloteiro", porque
terá de resgatar todas as suas dívidas, vintém por vintém. Não importa o prazo,
pois alcançarão "moratória" quantas vezes forem precisas. Mas não
deixarão jamais de resgatar os débitos contraídos.
O
famoso romancista francês Ponson du Terrail, autor de "Rocambole" e
outras obras do gênero, era terrível inimigo do Espiritismo. No entanto,
declarou "que se lembrava de ter vivido ao tempo de Henrique III e
Henrique IV, e, nessa revivescência, o rei em nada parecia com o que dele
diziam seus pais". Segundo o livro "Reencarnação", de Gabriel
Delanne, de onde extraímos esse trecho, Ponson du Terrail publicou essas
palavras no jornal "La Presse", de 20 de Setembro de 1868. A opinião
de um desafeto do Espiritismo deve valer alguma coisa para os que pensam como ele pensava...
Por
ser interessante, permitimo-nos reproduzir também a seguinte página do referido
livro, que deve ser relido por todos quantos se interessem pelos problemas da
alma:
"Na
cidade de Havana, Cuba, viviam os esposos Esplugas Cabrera, que tiveram um
filho, o Eduardinho, hoje de 4 anos, muito loquaz, de inteligência viva. A
residência da família foi sempre na casa nº 44, da rua S. José, em Havana,
onde Torquato Esplugas se ocupa com uma empresa tipo-litográfica, de que é
coproprietário.
Foi
aí que nasceu o Eduardinho.
Conversando
a criança com sua mãe, Cecília, disse-lhe, há já algum tempo: - Mamãe, eu antes tinha uma casa diferente desta; morava em uma
casa amarela, da rua Campanário nº 69. Lembro-me perfeitamente.
A
Sra. Cabrera, no momento, não deu grande importância ao fato. Como, porém, a
criança insistisse, de quando em quando, em suas declarações, os pais acabaram
por lhe dar atenção, e, depois de havê-la submetido a uma série de perguntas
apropriadas, obtiveram do menino as indicações seguintes:
"Quando
vivia no nº 69 da rua Campanário, meu pai se chamava Pierre Saco e minha mãe,
Amparo. Lembro-me que tinha dois irmãozinhos com os quais brincava sempre e que
se chamavam Mercedes e João. A última vez que saí da
casa amarela, foi no domingo, 28 de Fevereiro de 1903, e minha outra mãe
chorava muito, enquanto eu, nesse dia, me afastava de casa. Essa outra mamãe era muito branca e de
cabelos pretos; trabalhava numa fábrica de chapéus. Tinha eu, então, 13 anos, e
comprava os remédios na farmácia americana, porque eles ali custavam mais
barato. Deixei minha bicicleta no quarto de baixo, quando voltei do passeio; e
eu não me chamava Eduardo, como agora, mas Pancho."
Diante
de uma exposição tão natural e feita com firmeza estranha, por uma criança de 4
anos, os pais de Eduardo ficaram perplexos, tanto mais quanto a criança nunca
estivera no número 69 da rua Campanário.
Passado
o primeiro momento de impressão, os esposos Cabrera pensaram em empreender
investigações para ver o que podia existir de verdade no que dizia a criança.
Muitos
dias mais tarde, saíram com Eduardo e vieram ter, depois de longa volta, à casa da rua Campanário, desconhecida, assim da criança
como dos pais. Quando chegaram, Eduardo a reconheceu num instante - Olha a casa
onde eu morava - gritou ele.
- Então, entra - disse o pai -, se é verdade
que a reconheces. A criança correu para o interior, dirigiu-se para a escada, subiu ao
primeiro andar, entrou nos apartamentos, como se os conhecesse, e desceu muito pesaroso por não
encontrar mais seus parentes, mas outras pessoas, desconhecidas. Também não
encontrou os brinquedos com os quais, dizia, tanto se divertira junto dos seus
irmãos de outrora, Mercedes e João.
O
casal, dado o resultado da primeira tentativa, continuou as pesquisas
necessárias para atingir as provas definitivas, e chegaram,
finalmente, às conclusões seguintes, com o concurso de elementos oficiais: 1º) a casa nº 69, da rua
Campanário, foi ocupada até depois de Fevereiro de 1903, por Antônio Saco, hoje
ausente de Havana; 2º) sua mulher chamava-se Amparo, e do casamento nasceram
três filhos, Mercedes, João e Pancho; 3º) no mês de Fevereiro morreu este
último, pelo que a família Saco deixou a casa; 4º) bem perto da casa existe a
farmácia onde o Eduardinho assegura que costumava ir."
Fatos
assim, cheios de pormenores comprovados, são inúmeros. Demonstram a realidade
incontestável da reencarnação e constituem um toque de sentido para todos os
seres humanos, que devem pesar bem os seus atos, orientar corretamente seu
comportamento, olhar de frente os seus problemas e resolvê-los sem sacrificar
seus semelhantes, a fim de que, em futuras encarnações, não tenham que sofrer
as consequências de faltas e erros praticados hoje.
A
ideia da reencarnação vai, a pouco e pouco, ganhando terreno no pensamento dos
brasileiros. De nada adiantam os esforços ultramontanos contra o Espiritismo,
que é como o Sol a iluminar a Terra. Ainda há dias, num programa
radiofônico de importante emissora nacional, ouvimos um comentário lido por
prestigioso locutor, no qual se verberava a maldade inconcebível de certos vendedores de pássaros. Para
que as pequeninas aves não fujam e se mostrem dóceis, os malfeitores furam-lhes
os lindos olhinhos com alfinete! E assim, sacrificando os inofensivos e
inocentes pássaros, procuram ganhar alguns miserabilíssimos cruzeiros...
Desgraçada ambição do ganho!
Mas
o autor do comentário, muito bem feito, aliás, revelando sua indignação contra
tão feroz procedimento, acrescentou mais ou menos
assim: "Tomara que esses maldosos
venham, em outra encarnação, como pássaros e sofram o castigo da sua maldade,
caindo nas mãos de malfeitores da mesma espécie, que lhes vazem os olhos sem piedade!"
Aí
está. Embora tendo uma ideia imperfeita da lei reencarnacionista, o comentador
não deixou de revelar a sua crença na reencarnação. Todos voltam, quando ainda
necessitem de limpar aqui sua "folha corrida". Onde o comentarista se
mostrou absolutamente certo foi na compreensão da lei cármica, isto é, da lei
de causa e efeito, que não é outra coisa senão o que os antigos denominavam,
sem penetrar-lhes o sentido espiritual, "Pena de Talião".
Esses
malfeitores pagarão, sem dúvida nenhuma, sua enorme maldade. E terão que
resgatá-la em benefício próprio, para que possam, um dia, sentir a alma leve e
revelar pelos pássaros, que tanto nos enfeitam a vida e nos prestam serviços, o
mesmo amor que a eles devotou o santo homem de Assis.
Nas
palestras espíritas e nos artigos em jornais e revistas do Espiritismo, devemos
todos, insistentemente, pregar a Reencarnação, mostrando a sua importância, em
face da Doutrina. Nenhum devedor será eternamente "caloteiro", porque
terá de resgatar todas as suas dívidas, vintém por vintém. Não importa o prazo,
pois alcançarão "moratória" quantas vezes forem precisas. Mas não
deixarão jamais de resgatar os débitos contraídos.
O
famoso romancista francês Ponson du Terrail, autor de "Rocambole" e
outras obras do gênero, era terrível inimigo do Espiritismo. No entanto,
declarou "que se lembrava de ter vivido ao tempo de Henrique III e
Henrique IV, e, nessa revivescência, o rei em nada parecia com o que dele
diziam seus pais". Segundo o livro "Reencarnação", de Gabriel
Delanne, de onde extraímos esse trecho, Ponson du Terrail publicou essas
palavras no jornal "La Presse", de 20 de Setembro de 1868. A opinião
de um desafeto do Espiritismo deve valer alguma coisa para os que pensam como ele pensava...
Por
ser interessante, permitimo-nos reproduzir também a seguinte página do referido
livro, que deve ser relido por todos quantos se interessem pelos problemas da
alma:
"Na
cidade de Havana, Cuba, viviam os esposos Esplugas Cabrera, que tiveram um
filho, o Eduardinho, hoje de 4 anos, muito loquaz, de inteligência viva. A
residência da família foi sempre na casa nº 44, da rua S. José, em Havana,
onde Torquato Esplugas se ocupa com uma empresa tipo-litográfica, de que é
coproprietário.
Foi
aí que nasceu o Eduardinho.
Conversando
a criança com sua mãe, Cecília, disse-lhe, há já algum tempo: - Mamãe, eu antes tinha uma casa diferente desta; morava em uma
casa amarela, da rua Campanário nº 69. Lembro-me perfeitamente.
A
Sra. Cabrera, no momento, não deu grande importância ao fato. Como, porém, a
criança insistisse, de quando em quando, em suas declarações, os pais acabaram
por lhe dar atenção, e, depois de havê-la submetido a uma série de perguntas
apropriadas, obtiveram do menino as indicações seguintes:
"Quando
vivia no nº 69 da rua Campanário, meu pai se chamava Pierre Saco e minha mãe,
Amparo. Lembro-me que tinha dois irmãozinhos com os quais brincava sempre e que
se chamavam Mercedes e João. A última vez que saí da
casa amarela, foi no domingo, 28 de Fevereiro de 1903, e minha outra mãe
chorava muito, enquanto eu, nesse dia, me afastava de casa. Essa outra mamãe era muito branca e de
cabelos pretos; trabalhava numa fábrica de chapéus. Tinha eu, então, 13 anos, e
comprava os remédios na farmácia americana, porque eles ali custavam mais
barato. Deixei minha bicicleta no quarto de baixo, quando voltei do passeio; e
eu não me chamava Eduardo, como agora, mas Pancho."
Diante
de uma exposição tão natural e feita com firmeza estranha, por uma criança de 4
anos, os pais de Eduardo ficaram perplexos, tanto mais quanto a criança nunca
estivera no número 69 da rua Campanário.
Passado
o primeiro momento de impressão, os esposos Cabrera pensaram em empreender
investigações para ver o que podia existir de verdade no que dizia a criança.
Muitos
dias mais tarde, saíram com Eduardo e vieram ter, depois de longa volta, à casa da rua Campanário, desconhecida, assim da criança
como dos pais. Quando chegaram, Eduardo a reconheceu num instante - Olha a casa
onde eu morava - gritou ele.
- Então, entra - disse o pai -, se é verdade
que a reconheces. A criança correu para o interior, dirigiu-se para a escada, subiu ao
primeiro andar, entrou nos apartamentos, como se os conhecesse, e desceu muito pesaroso por não
encontrar mais seus parentes, mas outras pessoas, desconhecidas. Também não
encontrou os brinquedos com os quais, dizia, tanto se divertira junto dos seus
irmãos de outrora, Mercedes e João.
O
casal, dado o resultado da primeira tentativa, continuou as pesquisas
necessárias para atingir as provas definitivas, e chegaram,
finalmente, às conclusões seguintes, com o concurso de elementos oficiais: 1º) a casa nº 69, da rua
Campanário, foi ocupada até depois de Fevereiro de 1903, por Antônio Saco, hoje
ausente de Havana; 2º) sua mulher chamava-se Amparo, e do casamento nasceram
três filhos, Mercedes, João e Pancho; 3º) no mês de Fevereiro morreu este
último, pelo que a família Saco deixou a casa; 4º) bem perto da casa existe a
farmácia onde o Eduardinho assegura que costumava ir."
Fatos
assim, cheios de pormenores comprovados, são inúmeros. Demonstram a realidade
incontestável da reencarnação e constituem um toque de sentido para todos os
seres humanos, que devem pesar bem os seus atos, orientar corretamente seu
comportamento, olhar de frente os seus problemas e resolvê-los sem sacrificar
seus semelhantes, a fim de que, em futuras encarnações, não tenham que sofrer
as consequências de faltas e erros praticados hoje.
Reformador (FEB) Jan 1961
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