32a
‘Revelação dos Papas’
(Obra Mediúnica)
- Comunicações d’Além Túmulo -
Publicada sob os auspícios da
União Espírita Suburbana
Rua Dias da Cruz 177, Méier
Officinas Graphicas d’A
Noite
Rua
do Carmo, 29
1918
Bossuet
O médium vê o
espírito envolvido em luz toda prateada,
acompanhado de um foco azul e outros
verdes.
A silhueta do espírito é vista no meio da
irradiação luminosa.
_______________________
Venho para dizer-vos que também eu me curvo ante a verdade espírita, que
proclamo a única e a legítima verdade, sobrepujando as outras.
Tenho imensa satisfação de vir à Terra para confessar, perante os
homens, que muito errado andei outrora, quando preguei o que hoje considero
falsidade e absurdo.
Sinto-me feliz em poder agora dizer-vos tudo quanto sei com relação à
infinita misericórdia de Deus e aos ensinamentos dados ao mundo por Jesus,
ensinamentos estes que já defendi, mas sem os compreender na forma e muito
menos no fundo, na sua pura essência.
Hoje tenho absoluta certeza sobre o que diz respeito à alma humana, o
seu paradeiro, o seu destino final na Criação, o seu rumo através o infinito, a
sua marcha ascendente para Deus, o seu caminhar incessante e glorioso para a
suprema perfeição.
Sei
agora, melhor que noutros tempos, medir e pesar as palavras do Evangelho; sei
hoje melhor interpretar os conceitos luminosíssimos contidos no incomparável
livro.
Possuo presentemente mais conhecimento acerca do papel que representa o
homem na Terra, a sua missão, o seu destino, as suas responsabilidades, as suas
conquistas, as suas ideias, a sua evolução e o seu fim na Criação.
Sou cada vez mais ardoroso
defensor da Pureza Cristã e também do seu espírito divino que encerram as
palavras de Jesus, inspiradas pela suprema sabedoria, que iluminou o espírito
do Mestre ao baixar este à Terra para ensinar a verdade aos homens, amá-los e
morrer por eles.
Vou compreendendo, cada vez com maior clareza, o escopo da Divina Razão
lançando o homem ao mundo cercado dos múltiplos obstáculos que se apresentam no
seu caminho e parecem querer tornar impossível o seu aperfeiçoamento: desse
modo, o homem, que tem o livre Arbítrio, caminha como lhe apraz e abraça o erro
e a mentira de preferência ao bem e à verdade, a sombra à luz, o mal à virtude,
os horrores do inferno às doçuras e alegrias do céu.
Sei agora melhor discernir sobre o porque
do sofrimento do homem na Terra; porque dá a Sublime Vontade mais a um do que a
outro; porque gozam e folgam uns, enquanto outros choram e padecem as mais
cruciantes dores; porque existe o pobre, o mendigo e o miserável ao lado do
rico e do opulento - sem que haja, da parte de quem criou todas essas
desigualdades, injustiças e incoerência. Sei ainda porque tantas vezes se vê a
virtude apedrejada, o vício glorificado, o crime endeusado, a mentira
triunfando da verdade absoluta e eterna.
Compreendo a razão pela qual padecem inocentes, enquanto os perversos e
criminosos vivem tranquilos e felizes.
Sei agora, melhor do que nunca, julgar o que outrora me pareceu absurdo
e incoerente, falso e irrisório: a intenção da Divina Justiça fazendo com que o
mal fosse corolário do bem e vice-versa.
Reconheço hoje e proclamo a justiça e a perfeição absolutas e
assombrosas da obra do Criador, que se manifestam em toda a natureza e se fazem
sentir em tudo o Universo.
Tendo a doce e consoladora satisfação de constatar o desacerto das
minhas afirmações, quando da tribuna, que foi o meu pedestal, preguei a verdade
escrita no Evangelho, sem interpretar rigorosamente o sentido das sábias palavras
de Jesus, dizendo aos discípulos:
“A
casa do meu Pai tem muitas moradas; quem quiser entrar na casa do Pai há de se
fazer pequeno como este menino; quem quiser chegar ao reino do meu Pai não
conseguirá sem renascer.”
Nada entendia eu dessas sublimes verdades, cuja revelação só pode ser
fornecida pelo Evangelho examinado à luz do Espiritismo e nos ensinamentos
trazidos ao mundo pelos que, como eu, depois da morte, sofreram atroz decepção,
verificando ser completamente falsa a interpretação dada aos sagrados textos
por aqueles que na Terra supõem tudo saber com relação às verdades eternas e
não admitem outra, em hora revelada por quem já não pertence ao mundo das
ilusões e das trevas.
Sinto-me ditoso por confessar aqui as minhas desilusões e desenganos ao
entrar na vida espiritual, onde, após longo período de dúvidas e decepções,
incertezas e desalentos, vim encontrar a verdade absoluta, que hoje proclamo
por ser a única - a Suprema Verdade, a Verdade Divina e Eterna, que há de
consolar a todos vós, como consolou e alentou aquele que vos fala nesta
comunicação e vós diz:
Meus caros e amados irmãos, tudo quanto sabeis acerca das coisas eternas
- imortalidade d’alma, justiça de Deus, penas e recompensas eternas, destino da
criatura no seio da Criação, rumo da alma do homem, misericórdia de Deus e
salvação dos espíritos, a vida do Universo, etc., etc. - é tudo falso, e nenhum
crédito deveis dar ao que vos ensinam aqui com visos de verdade.
A única verdade que existe, e na qual deveis somente acreditar, é a
ensinada pelo Espiritismo e promulgada pelos espíritos.
Tudo que não estiver escrito nos livros admiráveis dessa doutrina deveis
considerar apócrifo, invenção ou fantasia dos homens, sempre empenhados em retardar
o progresso da humanidade terrena.
-continua-
32b
‘Revelação dos Papas’
(Obra Mediúnica)
- Comunicações d’Além Túmulo -
Publicada sob os auspícios da
União Espírita Suburbana
Rua Dias da Cruz 177, Méier
Officinas Graphicas d’A
Noite
Rua
do Carmo, 29
1918
-continuação-
Bossuet
Quem vos fala hoje é Bossuet, que no mundo foi o mais denodado
batalhador dos ensinos ministrados pela Igreja, dos erros e falsidades ainda
hoje apregoados por toda a parte pelos que tem os olhos vendados, e por isso, são
incapazes de fitar a Sublime Luz que vejo brilhar aqui aos meus olhos e que me
esforçarei, quanto o possível, para conseguir que me toque também os vossos
olhos, iluminando a vossa razão, elucidando o vosso entendimento, a fim de que
possais adquirir aqui mesmo, na superfície da Terra, as certezas que só obtive
no mundo dos espíritos, a custa de dores, amarguras e desilusões cruéis.
Venho, numa missão de caridade e amor, chamar a vossa atenção para essa
verdade espírita, a única que vos poderá salvar, consolando-vos as aflições em
que vos achais, sem rumo, desorientados, sem esperança, sem coisa alguma em que
o vosso espírito possa apoiar-se.
É por isso, como vos disse, de caridade e amor a minha missão junto a
vós, é para repartir convosco o pouco que sei e que para vós valerá muito.
Quero mostrar-vos como são falsos os conhecimentos que possuis sobre as
infinitas realidades que haveis de conhecer um dia, pois pensais que, após a
morte, a vossa alma irá para o inferno ou para o céu, conforme Deus a julgar
criminosa ou pura.
Não acrediteis que existam lugares determinados para gozo ou sofrimento,
depois da transformação chamada - morte, assim como não deveis admitir a
intervenção direta de Deus no castigo ou no prêmio que receberdes após a morte.
Deus
é um Espírito que abrange todo o Universo, que envolve todas a coisas, liga
todos os seres, prende e movimenta tudo que vedes girando em torno de vós.
Assim sendo, o espírito atrasado, que termina a sua provação na Terra,
não o poderá ver e muito menos compreender.
Logo, não podereis, como pensais, receber diretamente das mãos do
Altíssimo, o prêmio ou castigo pelo bem ou pelo mal que houverdes praticado
durante a vida terrena.
Tudo quanto se sofre depois da morte é o que se reproduz na consciência
do espírito; se ele foi bom, se amou o seu semelhante, se cumpriu as leis de Deus,
se jamais violou os princípios da doutrina de Jesus - a sua consciência no
mundo dos espíritos se transforma em paraíso, onde o espírito desfrutará as
delícias de uma eterna primavera; se, ao contrário, foi criminoso, se praticou
o mal ou desobedeceu as leis divinas, se viveu divorciado da doutrina de Jesus -
a sua consciência se transformará em horrível caos, em um abismo profundo e
tenebroso, onde a pobre alma culpada se estorcerá atormentada pelos remorsos,
pelas tristes recordações dos erros e crimes que houver praticado na Terra ou
em outro qualquer mundo onde, porventura, tenha vivido.
Aí tendes o primeiro erro destruído.
O que vos dizem sobre a misericórdia de Deus é da mesma forma falso como
todas as outras afirmações que a cada instante ouvis.
A misericórdia de Deus é infinita, a Sua bondade não tem limites; por
isso, o perdão é concedido à todos os que sinceramente se arrependem de haver
praticado o mal e, voltando-se para o Pai de Justiça e Amor, suplicam a graça
de expurgar os seus crimes em existências sucessivas, que são a prova mais
brilhante da infinita misericórdia do Criador.
As existências sucessivas, de realidade absoluta, são um meio de
resgate, um cadinho depurador em que a alma aos poucos se vai despindo das
impurezas da matéria, para, assim limpa e delas expurgada, ascender à perfeição.
Deus, portanto, não condena ninguém; as suas leis estão sempre em vigor,
e quem as infringe sofre as consequências da sua fraqueza e desobediência.
O próprio espírito prepara a sua felicidade, ou cava a sua ruína e a sua
desgraça.
Aí está destruída mais uma falsidade.
Não há, pois, céu nem inferno, a não ser nas consciências.
O céu ou o inferno está, reside, dentro de vós mesmos.
Os mundos que gravitam na imensidade são os lugares para onde as almas
são chamadas a cumprir as suas provações, podendo o espírito viver ora num ora
em outro mundo da mesma categoria, de acordo com os seus méritos ou deméritos.
Este que vos está falando, antes de vir à Terra, onde teve já quatro
existências, sendo a antepenúltima aquela em que se chamou Bossuet, havia já
habitado outros mundos inferiores e também dois da categoria da Terra.
Depois dessa existência, em que fui Bossuet, já aqui voltei mais duas
vezes.
Aí está como o espírito caminha através o infinito, ascendendo sempre
para Deus, realizando aos poucos o seu progresso caminhando para a perfeição.
A morte, pois, nada é senão adormecer para despertar, renascer, na Terra
ou em outro mundo superior ou igual.
Não há crimes que não mereçam perdão, uma vez que o espírito expurga
numa existência o mal que fez na anterior; e assim vai sucessivamente, até o
dia em que não mais pratique o mal, entrando na perfectibilidade absoluta,
tornando-se então bem-aventurado, espírito eleito do Senhor.
Aí tendes destruídos os erros que vos infelicitam, desfeitas as dúvidas
que assaltam constantemente o vosso espírito.
Nada existe que não tenha explicação; tudo está previsto e destinado por
Deus.
Deveis, portanto, abandonar essas falsas ideias incutidas no vosso
espírito por quem tem interesse em manter-vos ignorantes e inconscientes do
vosso papel e do destino das coisas no conjunto universal.
Não vacileis. Aceitai estas luzes, apoiai-vos sobre estes vigorosos
efeitos que vos oferecemos, nós os espíritos; assentai sobre eles o edifício da
vossa fé, guiando os vossos passos os caminho do progresso, norteados por estes
sentimentos, orientados por esta bússola que vos dará o rumo seguro,
apontando-vos o porto onde ireis encontrar a salvação.
Tende fé e confiança no vosso destino, no vosso Deus e no vosso Jesus;
praticai o bem, a caridade e o amor; amai a verdade e divulgai pelos vossos
irmãos que carecem dela como o cego precisa da vista para caminhar na Terra.
Confiai no dia de amanhã. Nada está perdido; o que se passa aos vossos
olhos são os pródromos da revolução regeneradora, é a transformação do vosso
planeta, que vai entrar na ordem dos mundos de provações e missões superiores.
Bossuet retira-se satisfeito de ter podido realizar hoje o que há muito
almejava, isto é, falar aos homens para lhes dizer tudo quanto acaba de
escrever.
Agradeço daqui à Divina Luz a graça que concedeu ao mais humilde dos
Seus filhos, permitindo-lhe falar aos seus irmãos, repartindo com eles o que
adquiriu à custa de decepções, lágrimas e cruéis desenganos: a confiança
absoluta na infinita sabedoria e na misericórdia de Deus, que invoca neste
momento para todos os seus irmãos da Terra, pedindo-lhes que voltem os olhos
para a Luz, deem as costas às trevas, à mentira e ao erro.
Um adeus afetuoso a todos, e até um dia.
Bossuet
Novembro de 1916
Informações
Complementares
Nome
completo: Jacques-Bénigne Bossuet. Nasceu em Dijon, França, em 27 de setembro
de 1627 e morreu em 12 de Abril de 1704, em Paris. Bispo e teólogo, Bossuet foi
um dos primeiros a defender a teoria do absolutismo político; ele defendia o
entendimento que os reis de França recebiam seu poder de Deus daí sua
divindade. A rigor, defendia a centralização do poder temporal o que facilitava
a influência da igreja de Roma.
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