31a
‘Revelação dos Papas’
(Obra Mediúnica)
- Comunicações d’Além Túmulo -
Publicada sob os auspícios da
União Espírita Suburbana
Rua Dias da Cruz 177, Méier
Officinas Graphicas d’A
Noite
Rua
do Carmo, 29
1918
Gregório II
Aparece ao médium vidente um homem idoso, claro,
rosto regular, cabeleira branca
e barba curta, vestindo habito escuro
e circundado de luz branca, prateada e azul. Tem na cabeça a tiara.
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Aqui tendes, meus caros irmãos da
Terra, o papa que em vida praticou atos de piedade e brandura, de caridade e
religião pura e inspirada nos ensinamentos de Jesus; mas tendes, ao mesmo
tempo, diante de vós o papa que mais fraco se mostrou ante as imposições dos
grandes da época em que viveu.
Fui fraco obedecendo aos que não
mereciam o respeito nem a consideração do Grande Pontífice, aqueles que deviam
apenas ser tolerados e perdoados pela sua
fraquezas e pela sua ignorância.
Não soube, ou melhor, não pude conter
as investidas dos pecaminosos e dos vis, interessados nas desordens morais e
nos abusos praticados durante o tempo que pontifiquei.
Não fiz o que devia: repelir esses
maus elementos, mantê-los à distância, afastados dos que tinham a nobre e santa
intenção de viver de acordo com os sacratíssimos princípios do puro
Cristianismo, mantendo a pureza imaculada da sua fé e o respeito e a dignidade
eclesiásticas, conservando-se sempre fieis aos ditames da consciência cristã,
pautando os seus atos pelas normas severas do dever e da honra sacerdotal.
Jamais devia ter consentido na
injunção de tais elementos em matéria religiosa e ao mesmo tempo, sagrada e
inviolável, cuja pureza eu tinha o dever de defender, não permitindo que
viessem elementos estranhos ao papado discuti-la, modificá-la e até
comprometê-la e profaná-la.
Fui fraco, repito, acuso-me perante Deus
e a Cristandade. Não tive a energia moral necessária para defender e sustentar
os sãos princípios do Cristianismo, cuja sorte e destino foram confiados à
guarda do papa, que sendo chefe supremo da Cristandade, era ipso facto o defensor, o mantenedor
desses sagrados princípios, dessa sublime moral, ensinada pelo Mestre e divulgada
pelos apóstolos, adotada pelos santos e mártires da fé cristã, que não
vacilaram ao derramar o sangue por amor de tão santa quão sublime doutrina.
Comprometi, pois, em grande parte, a
grandeza e esplendor dessa verdade revelada por Jesus aos homens de boa
vontade; sacrifiquei o brilho e a majestade dessa doutrina, deixando que falsos
adeptos, valendo-se do prestigio e da força que lhes dava a posição elevada em
que se achavam muitos deles, viessem ditar leis ao papa; impor-lhe a sua vontade,
obrigando-o a condescender com o que devia ter hombridade e energia suficientes
para condenar e reprovar, ainda que da condenação e reprovação de tais coisas
resultassem para o Pontífice desafeições e inimizades. Devia ter me conservado
firme e intransigente em matéria religiosa e ainda mesmo quando, para defendê-la
fosse preciso o sacrifício da própria vida.
Preferi ceder a lutar contra os que
queriam governar, legislar, decretar, revogar, enfim, influir no que só aquele
que recebera a missão de definir as coisas sagradas tinha o direito, o poder e
a capacidade para julgar, criar, resolver e modificar.
A ninguém competia o fundo das altas
questões teológicas, decifrar os mistérios da religião de Jesus Cristo, cuja
pureza, verdade e sabedoria não podiam ser compreendidas pelos que não se
achavam em condições de poder avaliar a grandeza e o objetivo colimado por tão
sublime filosofia.
Fiz, de fato, alguns esforços para
impedir a invasão dos cobiçadores das honras e prerrogativas que o Vaticano
concedia aos que se empenhavam nas grandes lutas em prol da fé cristã, aos
lutadores, aos defensores do puro e verdadeiro Cristianismo; mas a minha
atitude mal definida, a minha vontade indecisa, o meu temor às lutas religiosas
que sempre procurei evitar durante o meu pontificado, fizeram com que se
anulassem os meus serviços e fracassassem todas as minhas tentativas de
resistência à onda avassaladora dos interesses mal contidos e indefensíveis.
Corporifiquei o sentimento cristão, sintetizei
em minha pessoa as ideias da Cristandade; consubstanciei no meu reinado
pontifício todas as aspirações do momento, mas a minha ação foi pouco eficaz, a
minha energia não atingiu ao ponto desejado, a minha coragem se desfez de
encontro à resistência dos elementos profanos, forte, arregimentados,
disciplinados, dirigidos por mãos hábeis de políticos afeitos às lutas,
experimentados nas refregas e nos grandes combates, nas guerras ateadas pelo
paganismo e pela impiedade.
Fui, pois, fraco, pusilânime, crente
sincero, piedoso, tolerante e submisso à vontade de Deus, para quem me voltava
constantemente, invocando a sua misericórdia e o seu socorro.
Sou, portanto, apenas culpado de
fraqueza, falta de energia, coragem para lutar, força para sustentar o que fora
confiado à minha guarda, entregue à minha vigilância, o que antecessores
deixaram sob a minha proteção, aquilo que o passado legara ao presente e que eu
tinha o dever de transmitir intacto ao futuro, as vindouras gerações cristãs.
Fui fraco, reconheço e proclamo, e
disso me acuso perante Deus e o mundo que me ouvem neste momento; mas hoje
sinto que, ainda assim, apesar das franquezas, cumpri em grande parte o meu
dever, a minha missão, tanto quanto me foi possível, tanto quanto me permitiram
as reduzidas forças, a minha insignificante moral.
Sinto, apesar de tudo, um consolo,
uma imensa satisfação, um indescritível prazer; não fui forte, mas um crente
sincero e devotado ao meu Jesus, que sempre amei e adorei com o mais profundo e
respeitoso amor; não fui forte, mas rejubilou-me de haver sido um humilde
perante Deus, cujo nome e cuja gloria sempre honrei e exaltei com mais decidida
firmeza; não fui forte, mas alegro-me de ter sido um bom cristão, piedoso,
casto, e puro; fui um fraco para lutar com os homens, mas senti-me forte para
resistir às tentações e às seduções da carne, à volúpia do ouro, aos apetites
bestiais, a fome de poder e domínio absolutos.
Fui um papa humilde, que jamais soube
lutar, que não teve a audácia e o valor dos grandes e dos fortes; mas a minha
alma exulta de prazer ao recordar os atos de caridade cristã que praticou na
Terra, o meu espírito neste momento veste-se com as roupagens da humildade e da
caridade que praticou no mundo.
-continua-
31b
‘Revelação dos Papas’
(Obra Mediúnica)
- Comunicações d’Além Túmulo -
Publicada sob os auspícios da
União Espírita Suburbana
Rua Dias da Cruz 177, Méier
Officinas Graphicas d’A
Noite
Rua
do Carmo, 29
1918
-continuação-
Gregório II
Sou feliz e, assim como proclamei os erros,
proclamo agora as minhas virtudes, não por orgulho de as haver possuído, mas
para mostrar aos meus irmãos da Terra que é sabida e justa a misericórdia
divina; premia e castiga, discerne, descrimina, pesa, mede, julga, compara,
examina e confere e depois tira o que lhe pertence e dá ao espírito o que é
seu, aquilo a que ele faz jus pelas suas boas obras, pelas suas virtudes, pela
sua humildade, pela moral e caridade.
Falando-vos do que mereci, não procuro
engrandecer-me, mas ao contrário, estimular-vos para o bem, para a prática da
caridade - a maior das virtudes para a humildade - o maior de todos os dons de
que o espírito se pode adornar para comparecer a presença
do Supremo Juiz, sem temer a sua condenação em absoluto; falando-vos de algumas
virtudes que possui, tive em vista apenas instruir-vos, ensinar-vos,
aconselhando que vos exerciteis nessas virtudes que salvam o homem quando lhe
faltam outros predicados para recomendar o seu espírito à justiça de Deus.
Peço-vos encarecidamente que não vos
desvieis do caminho da verdade, do bem, da humildade, da caridade e da
verdadeira moral cristã, ensinada por Jesus, que hoje vem novamente viver entre
vós nestes ensinamentos, nesta “Revelação
dos Papas”, que volta para vos dar exemplos de humildade e submissão a Deus,
vindo ao lado dos papas para confortá-los, dar-lhes coragem para dizerem toda a
verdade ao seus irmãos. Ficai certos de que Deus não vos esquece, apesar das
vossas imperfeições, das vossas fraquezas e misérias; podeis, portanto, confiar
na Sua justiça e misericórdia, podeis contar com o perdão, desde que vos
prepareis para recebê-lo.
Ficai tranquilo porque Ele é um
verdadeiro pai, sempre disposto a perdoar o filho que se volta para Ele e
humildemente confessa os seus crimes, arrependendo-se, com sinceridade, de os
haver cometido, e se propõe a repará-los, como fazem neste momento os papas que
se revelam nestas mensagens.
Deus, pois, meus irmãos, estará
sempre convosco; Seu Filho, o sublime Jesus, também não vos abandona um só
instante e neste momento vos fala pela boca dos papas desencarnados, repetindo
as suas lições de outrora: “Quem com
ferro fere, com ferro será ferido”. “Que
a mão esquerda não veja o que a mão direita der”. “Não façais a outrem o que não desejardes que vos façam”. “Sede prudente para serdes sábios”. “Perdoai para serdes também perdoados”.
Repito-as e convido a meditardes
sobre elas.
Que Deus vos dê a glória de poderdes,
um dia, receber o prêmio por haverdes cumprido a risca esses ensinamentos - são
os votos ardentes de
Gregório II
Setembro de 1915
Informações
Complementares
Papado
de 19 de Maio de 715 a 11 de fevereiro de 731. De enorme talento para oratória
mereceu o nome de ‘papa diálogo’. As terras da igreja de Roma se viram
ameaçadas por lombardos. Em associação com o governador de Nápoles conseguiu
recuperar a cidade de Cumes (Itália) destacando assim o despotismo papal.
Expandiu a influência católica na atual Alemanha. Inúmeras igrejas e conventos foram
reformados particularmente em Roma. Pronunciou anátema contra fieis que
casassem com sacerdotisas e religiosas e contra aqueles que consultassem
adivinhos. Permanecia a guerra das imagens. Uns contra, outros a favor como este
papa. A história recorda deste papa como um opressor do povo italiano.
Fonte: ‘Os Crimes dos Papas’
por Maurice Lachatre (Ed Madras 2005)
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