Leão XIII
27
‘Revelação dos Papas’
(Obra Mediúnica)
- Comunicações d’Além Túmulo -
Publicada sob os auspícios da
União Espírita Suburbana
Rua Dias da Cruz 177, Méier
Officinas Graphicas d’A
Noite
Rua
do Carmo, 29
1918
Leão XIII, papa
Desenha-se aos olhos
do médium uma figura de homem de altura regular,
rosto liso, risonho e simpático, trajando
vestes escuras, com uma faixa na cintura
e tiara na cabeça. Luzes
branca e roxa circundam o espírito.
______________________
Estou neste momento, escrevendo para
o mundo onde me foi dado cumprir parte da minha provação.
Sinto-me jubiloso ao tocar a Terra,
onde tive a missão de dirigir a cristandade, exercendo o mais elevado cargo a
que pode aspirar um sacerdote.
Hoje, porém, venho contar-vos as
minhas surpresas e as minhas desilusões ao entrar na vida espiritual, para onde
vim depois de haver cumprido o meu dever de homem e de papa, encaminhando os
interesses da igreja para as soluções práticas e proveitosas, harmonizando
esses interesses particulares com os do mundo, que vai marchando para o
progresso definitivo, para a consolidação dos puros ensinamentos de Jesus.
Como papa, procurei sempre caminhar
de acordo com a minha consciência cristã, agir de modo que os interesses da fé
não sofressem os choques e os abalos das revoluções sociais da minha época.
Procurei conduzir pela brandura e pelo amor o carro de S. Pedro através das
agitações da ocasião, sem outro intuito que não fosse apaziguar, harmonizar o
espírito religioso com o espírito progressiva e reformador do momento que o
mundo atravessa durante o meu pontificado.
Papa, fui sempre calmo e refletido,
moderado e conciliador; homem, fui sempre prudente e cauteloso, procurando
colocar a fé ao abrigo do embate das paixões e do choque violento das ambições
políticas de então. Suavizei quanto pude o que encontrei irritado, aplacando a
fúria das revoltas que irrompiam do seio da Cúria quando iniciei o meu pontificado.
Examinei com atenção todos os
negócios do estado pontifício, e deste exame resultou para mim a convicção de
que, se o papa não devia viver subordinado aos interesses políticos mundanos,
não podia entretanto, conservar-se indiferente à sorte dos estados políticos,
embora não conviesse aos interesses religiosos do momento a interferência
direta do papa na vida íntima do referidos estados.
Tive plena ciência do que se procurava
fazer naquele tempo para modificar a ação do papa no tocante à política
mundial. Tinha também conhecimento da má vontade reinante em torno do trono
pontifício, e do alto dele dissimulei os meus receios de se tornarem um dia
realidade as aspirações dos que pretendiam transformar o representante de São
Pedro em mero prisioneiro, negando-lhe até a faculdade de pensar e de agir em
defesa dos interesses da religião. Não me conformei com as imposições feitas
pelos interessados em conservar o papa indiferente à sorte do mundo, ao rumo e
destino da cristandade. Resisti às pretensões dos pseudo defensores da fé, mas
somente da fé apoiada nos interesses momentâneos. Agitei questões, ventilei
soluções, propus alvitres e tracei normas aos que mostravam desejos de se
orientar pela minha palavra, obedecer ao meu gesto. Fui fiel companheiro dos
que desejavam estabelecer harmonia entre os interesses espirituais e as
necessidades sociais da época, e, jamais, procurei contrariar quaisquer
tentativas de reforma, quer de ordem política, quer de ordem moral e social.
Nunca me preocuparam os movimentos reformadores e libertários, pois tinha
convicções de que esses fenômenos sociais jamais atingiriam os interesses da
Igreja ou poriam em sobressalto o Vaticano na hora extrema das reivindicações
almejadas.
Fiz o que pude para dissuadir os
inimigos da Igreja de que esta fosse sua inimiga, tendo máxima tolerância para
com os revolucionários de todas as revoluções mesmo daquelas que visavam
diretamente a derrocada da Igreja, que eu tivera o cuidado de conservar
afastada das lutas profanas e das convulsões sociais e políticas.
Concebi um governo pontifício agindo
sempre, ininterruptamente, na defesa da causa da fé e, ao mesmo tempo,
adaptando os interesses cristãos às necessidades sociais do momento, assim
harmonizando as coisas sagradas com as profanas, evitando choques, lutas,
abalos e comoções que, se tivessem realizado, acarretariam para o Catolicismo
dias amargurados e, certamente, teriam feito soçobrar a barca de São Pedro, da
qual, por força das circunstâncias, era eu o timoneiro.
Abreviei, quanto me foi possível, os
processos, sempre moroso, usados no seio da Cúria Romana para resolver os
problemas que exigiam solução pronta e imediata, e jamais consenti que no meu
pontificado fossem violados os acórdãos e decisões dos concílios. Nunca
emprestei força a quem quer que buscasse implantar o desrespeito aos tribunais
sagrados, cujas sentenças sempre acatei, ainda mesmo quando contrariavam a
minha opinião.
Estive sempre ao lado dos chamados
liberais, militei nas fileiras dos que procuravam avançar no caminho do
progresso de acordo com o espírito da época tão exigente e cioso dos seus
ideais de reforma e remodelação de todas as coisas. Não guerreei, ao contrário,
fui sempre tolerante para com os que se batiam pelas grandes e generosas
reformas democráticas, por entender que nenhuma instituição existia mais
democrática do que essa da qual eu era, na Terra, o principal representante.
Fui, portanto, se não o ideal dos
papas, pelo menos um pontífice razoável, moderado, tolerante, prudente e
conciliador.
Não me acusa a consciência de haver
cometido crime ou sacrilégio durante o tempo que pontifiquei no meio da
cristandade, aqui na Terra. Fiz os maiores esforços para ser justo, procurando
sempre o caminho reto do dever e da honra, quer pessoais, quer da instituição
que representei e dirigi.
Não abusei do meu poder, não me
excedi, nem ultrapassei limites demarcados pelos interesses da moral e da
religião. Não tive a preocupação de dominar, não me avassalaram ideias de mando
e absolutismo. Tomei sempre para norma dos meus atos os ensinamentos de Jesus;
jamais abandonei o caminho da sua santa doutrina, jamais enveredei por atalhos
e caminhos tortuosos. A linha reta foi a minha estrada; a razão, a fé, a
justiça, o direito, a tolerância e a prudência foram os meus guias e os meus
melhores conselheiros nos momentos difíceis.
'O Dízimo'
revista alemã 'Simplicissimus'
Sinto-me hoje relativamente feliz,
gozo de felicidade e paz, sou mais feliz que infeliz; mas, ainda assim, não me
escuso do dever de também vir dizer-vos que muitas contrariedades e desgostos
me afligiam ao desprender-me do invólucro material, muitas vicissitudes
experimentei ao entrar no mundo espiritual, onde não encontrei o que sonhara na
Terra, o que imaginara, o que me parecia não poder deixar de existir!
Grandes desilusões sofri, muitas
decepções encontrei onde supus iria achar a confirmação das minhas ideias, a
realização dos meus sonhos de papa e de crente!
Peço-vos eu - que fui um dos últimos
a dirigir-vos espiritualmente, uma das últimas vozes pontificais que ouvistes
aqui na Terra - escuteis os conselhos que vos estão sendo ministrados pelos
espíritos; não vos enganeis; aprendei com os que conhecem a verdade por
experiência própria, os que já não se podem enganar, nem a si nem aos outros,
aqueles que tem sofrido o que não podeis imaginar nem conceber, pelo fato de
terem contrariado a verdade, de não terem sabido cumprir melhor o seu dever de
pastores dos rebanhos do Senhor.
Eu vos convido a observar, a estudar, a
ler e a acompanhar estas revelações,
a fim de vos instruirdes e vos preparardes para a vida futura, que será sempre
vós outros penosa e aflitiva, se vos descuidardes agora do aperfeiçoamento do
vosso espírito.
Sede, portanto, bons, humildes e
caridosos; não façais o mal, ainda mesmo quando vos tenham feito mal; não
prevariqueis, não claudiqueis; evitai, quanto puderdes, os erros e os crimes
que tantas amarguras acarretam para os espíritos, que os praticam, ao entrarem
na vida espiritual.
Confiai em Deus e na Sua justiça; não
duvideis da Sua existência, nem da existência de uma outra vida mais feliz do
que essa que ides vivendo e na qual desejo encontreis as maiores e as mais
consoladoras felicidades.
Adeus!
Leão XIII, papa
Julho de 1916
Informações Complementares
Papa de 20 de Fevereiro de 1878 a 20
de Julho de 1903 – Inspirador do Sílabo e defensor do poder temporal. As
divergências com o Estado Italiano permaneceram. Leão XIII acreditava que a
igreja tinha resposta para tudo, chegando a afirmar Ego sum Petrus (Eu sou Pedro!).
Fonte: Santos e Pecadores
por Eamon Duffy
Ed. Cosac & Naify 1998
Leão XIII e seu séquito
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