14) Mediunidade
e Doutrina
por Indalício
Mendes
Reformador
(FEB) Março 1959
Não
importa que os resultados, às vezes, sejam lentos, porque o essencial é que
eles venham, recompensando os esforços dos que perseveram no estudo da Doutrina
Espírita. Precisamos compreender que nem sempre a reforma íntima da criatura
humana pode ser feita rapidamente. Ela tem de lutar a todos os instantes com as
inferioridades que tisnam a sua personalidade ou a marcam fundamente. Quanto
maiores os obstáculos, maior necessidade de perseverança na luta consigo mesma,
porque as dificuldades indicam a conveniência de não esmorecer um só momento.
Os violentos e intolerantes, os desesperados e maledicentes, os covardes e
caluniadores, os mentirosos e dissimulados, são todos mais doentes do que maus, porque, na realidade, a
inferioridade moral é uma enfermidade do espírito, um sinal inequívoco de
indigência espiritual, capaz de ser superado pela força de vontade na obra de
auto reconstrução. Mas é difícil o trabalho. Todavia, a vitória é sempre
possível. Para conquistá-la, porém, é mister a obediência rigorosa aos
princípios cristãos que o Espiritismo tão claramente expõe e ensina àqueles que
desejam passar pela porta estreita da reabilitação.
Disse
o profundo Emmanuel que “o Universo é
toda uma sinfonia de obediência, garantindo os objetivos da evolução".
A esta cristalina verdade, acrescentou: “Ninguém
perca tempo rogando orientação aos próprios passos no mundo. Da Esfera
Superior, culminando no Evangelho do Cristo, em todos os templos, fluem ensinamentos e avisos,
advertências e instruções, mensagens e apelos, relacionando os artigos da Lei,
concitando-nos todos ao Bem Eterno. Falta-nos, pois, simplesmente a necessária disposição à
obediência incansável, de cujo exercício decorrerá a nossa própria integração na máquina do progresso
em ascensão para a verdadeira felicidade."
Meditemos,
nós, que ainda nos arrastamos ao peso das próprias necessidades morais, nessas
palavras de Emmanuel. Elas são um ensinamento sintético e simultaneamente
extenso, e devem merecer a atenção dos que forem realmente bem-intencionados,
dos que forem sinceros e desejarem o progresso de seu espírito.
*
Mediunidade
e obediência são como serviço e disciplina, inseparáveis entre si. O médium,
para dar cabal desempenho de suas tarefas, tem de ser obediente às injunções do
Alto e aos postulados da Doutrina Espírita. Comportando-se dessa maneira,
estará mais perto da realização integral de seus deveres. Afirmou Leopoldo
Cirne, com toda a segurança da sua enorme autoridade moral e doutrinária, que
"quem diz Espiritismo, diz mediunidade em ação". É um axioma valioso,
esse, pela sólida verdade que encerra. "Em "Doutrina e Prática do
Espiritismo", Leopoldo Cirne trata do assunto com absoluta firmeza: “... o exercício da mediunidade envolve sempre
o desempenho de uma missão, de um compromisso, mais ou menos grave e
importante, assumido pelo médium, antes de encarnar. O seu primeiro cuidado
deve ser, portanto, aparelhar-se das requeridos condições espirituais que o
tornem, ao mesmo tempo que um veículo de luz e de verdade para os homens, um
instrumento flexível, um transmissor fiel das comunicações, abstendo-se tão
completamente quanto possível de nelas colaborar e intervir, mesmo inconsciente
ou involuntariamente. Para esse resultado é que a disciplina do pensamento e a
educação e o domínio de suas aptidões psíquicas hão de poderosa e eficazmente
contribuir, permitindo lhe, quando chegar o tempo de exercer as suas
faculdades, praticar uma abstenção, um isolamento do seu próprio espírito, que
assegure ao comunicante a máxima liberdade e independência de manifestação. Não
percamos de advertir, contudo, que cedendo os seus órgãos para esse fim a uma
outra entidade, não fica o médium inibido de exercer uma prudente vigilância, a
fim de obstar, quando se trate de Espírito de ordem inferior, que este proceda com
inconveniência ou pratique desatinos, prejudiciais ao aparelho vivo de que se
está servindo. Porque em tal caso - e é assim que fazem os médiuns educados -,
por uma ação de espírito a espírito, fará ele retirar o turbulento, retomando
posse do seu organismo. Neste sentido é que deve ser entendida a sábia
advertência de Paulo, ao discorrer sobre as regras e condições a observar nas
assembleias dos crentes e a propósito da intervenção dos Espíritos pelos
médiuns (denominados então profetas) quando afirma (1 Coríntios, XIV, 32) que
"os Espíritos dos profetas (ou que por estes se manifestam) estão sujeitos
aos profetas." (ob. cit. págs. 148 e 149.)
*
O
estudo da Doutrina Espírita é uma das pedras de toque do Espiritismo.
Sirvamo-nos da lição magnífica de André Luiz, que nos esclarece: "Em Espiritismo, é imperioso distinguir entre Mediunidade e Doutrina para que as surpresas do mundo não nos
ensombrem a marcha. Mediunidade é processo. Doutrina é realização. O processo
passa. A realização permanece." André
Luiz, com admirável recurso sintético, desenvolve uma explanação convincente a
esse propósito, aduzindo também que a “Mediunidade
é fenômeno da alma. Doutrina é alma do fenômeno". E continua: "Na primeira, temos a observação e a
experiência; na segunda, a educação e a caridade. Em síntese, a Mediunidade é
trabalho da criatura humana e a Doutrina Espírita é Jesus de braços abertos.
Dignifiquemos, assim, a mediunidade com a nossa consagração ao bem puro e
simples, mas não nos esqueçamos de plasmar a Doutrina Espírita no livro da
própria alma, a fim de que o nosso coração se converta em flama da Vida Eterna."
*
Obediência
é disciplina; disciplina é educação; educação é esclarecimento; esclarecimento
é evolução; evolução é liberdade. Todos nós somos almas em busca da liberdade,
porque ainda sentimos as grilhetas dos vícios, da descaridade, do desamor, da incompreensão
e da cegueira espiritual, que se vão desfazendo à medida que avançamos na
assimilação das verdades espíritas, que são verdades lançadas ao mundo pelo
Cristo há quase dois mil anos. Mas, por serem verdades
evidentes, vêm rolando através dos séculos, nem sempre seguidas pela
Humanidade, que se vê enganada por falsas religiões, paganizadas e sem alma
cristã, embora externamente cristianizadas, e pelo materialismo multiforme, que
mata no coração dos homens os sentimentos mais elevados e as virtudes mais
belas. Estudar e seguir a Doutrina Espírita é o caminho mais curto para a
compreensão da vida material e espiritual. Os médiuns devem arrimar-se na Doutrina,
estudá-la e propagá-la, assim como resolver todos os problemas da mediunidade
através dos postulados doutrinários.
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