quarta-feira, 26 de junho de 2013

19a e 19b. 'Revelação dos Papas' - Afonso de Liguori




19a

‘Revelação dos Papas’
(Obra Mediúnica)

- Comunicações d’Além Túmulo -


Publicada sob os auspícios da
União Espírita Suburbana
Rua Dias da Cruz 177, Méier

Officinas Graphicas d’A Noite
Rua do Carmo, 29
1918


Afonso de Liguori

O médium tem na sua presença o espírito de um homem velho,
de cabelos brancos; está circundado de focos verdes
e envolvido em grande massa branca.
A vidente distingue apenas a cabeça do espírito no meio de radiação luminosa.
_____________
         

          Na presença de Deus e em face do mundo cristão está aquele que no seu tempo foi pregador do Evangelho e interpretador dos ensinos dados ao mundo por Nosso Senhor Jesus Cristo.

          Está na Terra, onde viveu vida humilde e penosa, o espírito de Afonso, o bispo, que hoje vem ao mundo confirmar o que já disseram os espíritos que o antecederam aqui, oferecendo aos homens este exemplo de amor à verdade e de felicidade ao compromisso assumido para com Deus e Nosso Senhor Jesus Cristo, de vir à Terra desfazer as dúvidas que ainda perturbam o caminhar da humanidade que habita este globo, impedindo-lhe o avanço na senda do progresso e do aperfeiçoamento.

          Quem aqui está, ditando o que o médium vai escrevendo, é o espírito de um dos mais apaixonados cultores das sagradas letras e também devotado e humilde discípulo do grande Mestre, cuja doutrina hoje triunfa nesta mensagem, espargindo sobre os homens a luz da Divina Sabedoria, espalhando as claridades da Sublime Justiça, derramando as doçuras da Infinita Misericórdia.

          A doçura de Jesus brilha hoje nesta mensagem; o puro Cristianismo vive agora, mais do que nunca, nestas folhas de papel, o Evangelho de Jesus irradia as suas belezas nesta comunicação ditada pelo humilde e pequeno servo do Senhor.

          O Cristianismo ergue-se destas páginas, irrompe do fundo destas singelas e  despretensiosas palavras!

          O Evangelho do Nosso Senhor Jesus Cristo refulge aqui nas simples e humildes frases que o espírito de Afonso vem proferir perante os homens, fazendo com elas a revisão de todos os seus conhecimentos de outrora, retificando o que escreveu noutros tempos, quando tinha ainda o espírito embutido dos falsos preconceitos religiosos que adotou como verdade absoluta.

          Vem com a consciência abatida pelos fundos dissabores que experimentou depois da morte, a alma abalada pelas cruéis aflições que a atormentaram após a sua partida do mundo material, em que deixou fama e renome e onde comparece hoje para se confessar ainda ignorante das grandezas e sublimidades que não foram desvendadas aos seus olhos quando viveu neste mundo, em cuja superfície se apresenta para dar mais este brilhante testemunho em favor da imortalidade da alma e, também, mostrar a grandeza da obra do Criador, a perfeição da Justiça Eterna, o esplendor da doutrina de Jesus e da bondade infinita de Deus.

          Não vos dirá tudo quanto desejava narrar aqui, tudo quanto quisera lhe fosse permitido relatar; não desvendará aos vossos olhos quanto almejava desvendar; não afirmará aquilo que unicamente a Deus e a Jesus compete afirmar, o que só aos bem-aventurados é dado devassar e comunicar aos homens de boa vontade.

          Tenho em minha alma a consoladora certeza de que as minhas palavras de hoje hão de calar no espírito dos meus irmãos, pressinto que não serão infrutíferos os esforços que emprego neste momento no sentido de chamar a atenção dos homens para a grande verdade que hora se patenteia diante dos seus olhos, desafiando o seu raciocínio, incitando o seu desejo de pesquisar, de abordar esse mistério da imortalidade da alma, apelando para as suas inteligências acordando lhes na alma os verdadeiros sentimentos cristãos, atraindo-os para esta ordem de estudos, com os quais muito lucrarão os seus espíritos transviados, as suas consciências, os seus corações envenenados pelo materialismo funesto e pernicioso.

          Tenho a doce satisfação de confessar aqui, na superfície da Terra, que laborei em gravíssimo erro quando afirmei a existência do inferno e das penas eternas, do demônio e também do céu, como lugares determinados para tortura ou gozo das almas libertas do corpo material.

          Proclamo, bem alto, que afastado da verdade estive quando ensinei ao meus discípulos e às minhas ovelhas a reconhecerem em Deus um juiz inflexível, cruel e bárbaro, ao apontas às criaturas a justiça de Deus imperfeita e incoerente com os grandes e sublimes predicados do Altíssimo, em desacordo com os divinos atributos que ornam o Seu eterno - infinitamente bom, infinitamente justo e infinitamente misericordioso.

          Tenho agora a viva e agradabilíssima satisfação de vir à vossa presença para me confessar criminoso por haver interpretado mal os ensinamentos de Jesus, dando aos meus irmãos luzes de falso e duvidoso brilho por ter edificado nas suas almas um templo sem alicerces, erigindo nos seus corações um altar em que foi colocada a imagem de um falso Jesus, onde arde uma pira cujo perfume exalado envenena as almas dos que aspiram as essências que ali se consomem ao crepitar da chama ardente da fé!

          Proclamo hoje a minha ignorância ao interpretar os sublimes conceitos contidos no Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, os quais adulterei, desnaturando o fundo e a essência desses luminosos e formosíssimos ensinamentos emanados de Deus, que os inspirou aos discípulos de Jesus que, ao escrevê-lo, traçaram a trajetória brilhante que as almas tem que fazer para chegar à casa do Pai.

          Confesso que não compreendi, nem interpretei como devia, esse admirável estatuto que Deus ofereceu aos homens como base fundamental da sociedade humana, que, se por ele se tivesse guiado, estaria a estas horas, no limiar do grande templo da verdadeira civilização!

          Sinto-me muito feliz ao rever todos os meus erros, ao recapitular todas as minhas fraquezas, os meus desvios do caminho da verdade que hoje proclamo e defendo com o maior e o mais ardente e santo entusiasmo, como defendi outrora o que hoje condeno, o que venho apagar, o que venho repudiar, o que venho destruir em nome de Deus e de Jesus, que me ordenaram demolisse tudo quanto de nocivo e prejudicial às criaturas preguei quando vivi entre elas, cingindo a minha fronte com a mitra e empunhando o báculo, símbolo de pastor das almas, do condutor dos sagrados rebanhos do Senhor.

          Confesso-me perante vós, meus irmãos, réu de crime que seria imperdoável se a justiça e a bondade de Deus não fossem infinitas, se o amor e a misericórdia do Pai não fossem também como são: ilimitados, imensos e infinitos!

          Sou culpado, pesam sobre o meu espírito as responsabilidades que esmagam os que ensinam, o que não sabem, os que afirmam o que não podem provar, os propagadores de inverdades, os divulgadores do erro e da mentira, a que emprestam o valor e o brilho peculiar às verdades absolutas.

          Fiz o mal, pratiquei o erro, divulguei a mentira, propaguei falsidades, semeei absurdos, implantei falsos princípios, ensinei o caminho do inferno aos meus irmãos, em vez de abrir-lhes a estrada do céu.

          Cavei para as minhas ovelhas fundo e tenebroso abismo, quando devia ter-lhes aberto as portas da eternidade, das alegrias e dos esplendores celestiais.

          Vivi para o erro, trabalhei para a mentira, esforcei-me para implantar na Terra a confusão e a desordem e a dúvida e as incertezas nos corações dos meus discípulos, nas almas das minhas ovelhas.

          Semeei espinhos onde devia ter espalhado flores; derramei sangue onde devia ter entornado o mel e os suaves perfumes das campinas e dos prados floridos. Condensei sombras onde devia ter acendido luzes, destruí o que devia ter procurado cimentar, cada vez mais, com as verdades eternas, fortalecer com a lógica dos fatos e os vigorosos esteios da razão esclarecida.

          Fui sacerdote considerado, ministro de Deus na Terra, delegado da Divina Sabedoria no mundo, mas não interpretei o pensamento do Criador, não traduzi com a linguagem falada e escrita os intuitos e os intentos de Jesus, não proclamei do alto da tribuna aquela verdade que hoje proclamo pura, simples, vigorosa e sã, luminosa e eterna.

          Não traduzi nos meus escritos a pureza e a santidade da doutrina de Jesus que hoje defendo e sustento, proclamando daqui a verdade espírita, o Evangelho de Jesus estudado à luz do Espiritismo e confirmado pelos Espíritos.

          Não me foi possível, outrora, definir a verdade que se deduz dos ensinamentos de Jesus tal como o Espiritismo os explica e os espíritos os proclamam e defendem.

          Não conduzi o espírito das minhas ovelhas para o caminho da verdade absoluta; levei-o a atalhos perigosos, onde tantos se perderam e ainda hoje lutam para encontrar o caminho.

          Desviei os meus discípulos da fonte onde podiam mitigar a sede de uma só vez, bebendo, até a saciedade, a luz, em cuja procura andam ainda muitos dos que ouviram e seguiram os ensinos que lhes dei.

          Afastei as consciências do sol que as teria iluminado para sempre se eu não houvesse colocado entre elas e a sublime luz a barreira da idolatria, dos cultos exteriores, dos cerimoniais sem a menor significação, das pompas e vaidades com que a Igreja adorna os seus sacerdotes seduz os seus crentes, prende e subjuga os espíritos fúteis que desprezam a verdade sólida, robusta, luminosa e eterna pelas exterioridades ridículas, pelos preconceitos idólatras, pelas lendas, pelos símbolos que nada exprimem, nenhum valor tem, quer material, quer moralmente falado.

          Tresmalhei as minhas ovelhas, muitas das quais ainda hoje buscam em vão o caminho do aprisco, vagando incertamente na estrada das reencarnações a procura do que não lhes pude dar.

          Desgarrei o meu rebanho; fui mau pastor, conduzi mal as ovelhas entregues à minha guarda, deixei-as caminhar à mercê da sorte, não lhes dei o rumo, nem lhes apontei o caminho, não as guiei ao sagrado aprisco do Senhor.

          Tenho hoje remorsos, sinto o meu espírito abalado ao rever esse passado, ao recapitular as minhas faltas, ao contemplar os quadros dos males produzidos pelos meus ensinamentos na Terra; envergonho-me aqui no mundo da verdade, diante de outros espíritos que souberam pregar a verdade pura, os que abandonaram as exterioridades, aqueles que não se apegaram às fórmulas, aos símbolos e aos rituais inúteis, os que amaram o fundo verdadeiro das coisas e desprezaram a forma e o exterior das mesmas.

-continua-
 

19b

‘Revelação dos Papas’
(Obra Mediúnica)

- Comunicações d’Além Túmulo -


Publicada sob os auspícios da
União Espírita Suburbana
Rua Dias da Cruz 177, Méier

Officinas Graphicas d’A Noite
Rua do Carmo, 29
1918

-continuação-

Afonso de Liguori

          Lamento a minha sorte nesta hora, ao examinar o meu passado, verificando que nada fiz, nada edifiquei, nada construí, nada deixei no mundo digno do apreço e respeito dos espíritos esclarecidos.

          Diz-me a consciência, entretanto, que se mal procedi, se mal me conduzi, foi por ignorância e não porque tivesse prazer em andar fora do caminho da verdade; mas, ainda assim, sinto o pesar que experimenta tudo aquele que, depois de sacrificar o seu tempo e o seu esforço em prol de um ideal, ao serviço de uma causa, reconhece que perdeu o seu tempo e, longe de engrandecer a causa que defendeu, ao contrário, nada mais fez senão comprometê-la, sacrificá-la.

          Eis a causa das minhas dores, eis o motivo do meu tormento, das minhas amarguras e dos meus dissabores; a certeza que reside em minha alma de nada ter feito pela doutrina de Jesus.

          Só pode defender uma doutrina quem a conhece nos seus íntimos fundamentos, aquele que se identifica com o pensamento do fundador dessa mesma doutrina. Ora, não compreendi os ensinamentos de Jesus, não os soube interpretar, não me identifiquei com pensamento do Mestre, nem penetrei o fundo da sua doutrina e, tampouco pude decifrar as palavras do Messias - logo, não defendi, nem propaguei a sua moral e a sua religião, deixando, portanto, de prestar à salvação deste planeta os serviços que devia ter prestado.

          Tenho, pois, motivos para viver triste comigo mesmo, para lamentar-me, chorar, deplorar o mal que fiz, o tempo que perdi, o inútil esforço por mim empregado para obter somente resultados negativos e prejudiciais.

          Tenho razões para repudiar esse passado, voltar as costas a essa quadra infeliz da minha vida de espírito, para rasgar, aqui na vossa presença, o que escrevi, destruir o que construí sem base, sem alicerce.

          Tenho motivos para me confessar culpado, na vossa presença, proclamando-me co-responsável pela desordem que lavra no seio da humanidade terrena, para cujo atraso concorri com o meu esforço e a minha atividade.

          Sou culpado e Deus há de me dar o que mereço pelo que fiz, enviando-me à Terra para reparar o mal feito, resgatar esse passado de erros e fraquezas, de ignorância e trevas.

          O Senhor me perdoará, tenho certeza, quando me vir na Terra defendendo a verdade pura, concorrendo para a implantação definitiva da doutrina do Seu Filho - o espiritismo.

          Jesus, o meu querido Mestre, a quem tão mal servi outrora, me dará também o perdão e, um dia, há de me conferir o título de discípulo amado, quando o meu espírito, expurgado de todas a imperfeições, enveredar no verdadeiro caminho, entrar na rota gloriosa que ele traçou para os que quiserem se aproximar da sua santa pessoa.

          Jesus me ajudará, o Mestre me conduzirá doravante, guiando os meus passos nessa Seara toda feita de luz, que é o caminho do seu Evangelho, a estrada da humildade, da caridade, da justiça e do amor!

          Que Deus me ouça neste momento, que Jesus escute os meus votos, a Infinita Sabedoria acolha as minhas aspirações, a Infinita Misericórdia agasalhe no seu seio estes desejos que hoje formulo aqui, em face do mundo e na presença de Deus, que há de amparar Afonso, assim como a todos vós que  ledes ou ouvis ler esta confissão, que é a de um espírito ansioso por ascender, elevar-se, subir na escala da perfeição, mas que deseja fazê-lo trilhando a estrada espinhosa do sacrifício, subindo pela escada luminosa do martírio, para galgar assim as doces regiões onde habitam os justos e os bem-aventurados.

          Deus que se compadeça de mim e Jesus tenha compaixão e piedade dos meus irmãos da Terra, aos quais fiz tanto mal e aos quais peço perdão, em nome de Deus, e também misericórdia e tolerância, peço perdão, em nome de Deus, e também misericórdia e tolerância, em nome de Jesus.

          Que Deus nos salve a todos nós, meus irmãos, é o que rogarei sem cessar.

           Afonso de Liguori, bispo de Santa Ágata.

Dezembro de 1916

Informações Complementares

            Afonso Maria de Liguori (1696-1789) foi um bispo, escritor e poeta italiano.
             Nasceu perto de Nápoles na Itália, em 27 de setembro.
            Exerceu a advocacia por um período até dedicar-se exclusivamente às atividades religiosas.
            Padre aos 30, direcionou sua pregação diferenciada aos mais pobres por toda a Itália.
            Em 1762 o Papa Clemente XIII nomeou -o bispo.
            "Vontade do Papa é a vontade de Deus", disse Afonso (!?!).
            Em 1775, a seu pedido, Pio VI aceita seu pedido de renúncia ao bispado.
            Foi canonizado em 1831 pelo Papa Gregório XVI e declarado Doutor da Igreja.
            Afonso de Liguori morreu em 1789, ainda na Itália.
Fonte: Wikipedia.



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