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‘Rimas do
Além Túmulo’
Versos Mediúnicos de
Guerra Junqueiro
Grupo Espírita Roustaing
Belém do Pará 1929
Casa Editora Guajarina
Mensageiro
da Paz
Ao Papa,
À luz veloz da ciência,
o mundo inteiro
uniu uma doutrina -
olímpico luzeiro,
que veio esclarecer
o pensamento humano.
E, ante o seu fulgor,
ideal, soberano,
os monstros, os
chacais ficaram estarrecidos
-inimigos da Luz,
querem estar escondidos
na Treva que
ensanguenta o sórdido Passado;
foi em vão que
tentaram afogar o brado
que veio despertar
da escura letargia
o mundo ignorante
que, há séculos, dormia...
E ao crente que
acorda aos raios desta Aurora,
não se atira de
novo ao letargo de outrora...
Os torpes
argumentos falham, são mesquinhos
farrapos em mistura
à lama dos caminhos:
ninguém para eles
olha: o Porvir, radioso,
esmaga sob os pés
um Passado enganoso!
Onde enclausuraste,
ó papa, o teu critério?
Se ao passado te
chama o vulto de Tibério,
acena-te ao porvir
a imagem de Jesus
curvado no caminho
ao peso de uma cruz!
Qual preferes dos
dois, o Justo ou o criminoso?
Se o Culpado te
aponta o poderio, o gozo,
o Redentor te
ensina a dar pela pobreza,
cheio de Caridade,
essa enorme riqueza
acumulada, aí, no
Vaticano - um templo
no qual os santos
dão o escandaloso exemplo
da vaidade,
cobertos de pedras preciosas,
com mantos de cetim
e sedas valiosas,
no largo pedestal
de altares cintilantes,
cercados de rubis e
d’ouro, diamantes,
-mas, sem fulguração
igual ao Nazareno
que espalhou pela
Terra o Seu olhar sereno...
A Crença está unida
à ciência indiscutível:
descrer do
Espiritismo, ó papa, é impossível!
Em face da Verdade,
podes duvidar?
Confessa-te
vencido, e desce desse altar;
rasga a púrpura, e
veste a mais humilde túnica;
de Jesus cada
servo, na aspiração única
de praticar o Bem,
viveu humildemente,
sem taças de
champanhe e pipas de aguardente!
Abaixo as sombras
tonsuradas de batina,
ministros que
escolheram a risível sina
de querer derrubar,
com farsas, o alvião
possante da
verdade! Isto, é uma irrisão!
Escuta, ó papa: enfim,
vou dar-te um bom conselho:
queres excomungar-me?
- deixa este aparelho (1)
em paz; olha não
vás lança-lo ao Purgatório:
a médium não tem
culpa deste palavrório
indiscreto demais,
e um poucochinho certo...
Mas, que queres, ó
papa, o céu não foi aberto
p'ra mim, e eu não
conheço ainda o padre-eterno,
tampouco me
lançaram inda no Inferno...
(Então onde estou
eu? .. No Espaço, eis a verdade,
no meio de outras
Almas, na erraticidade.)
Nota (1) – Alusão à
médium, srta. América Delgado, que recebeu estes versos,
em 19 de Dezembro
de 1927. Os Espíritos chamam aos médiuns – “aparelhos”.
Achando-se Junqueiro
livre da prisão
da Carne, ao Deus
de Amor pediu inspiração.
Ideias infernais,
de um sonhador antigo,
que após já ter
dormido inerte num jazigo;
levanta-se, e vem
dar - entusiasticamente
- as RIMAS DE ALÉM
TUMULO à liberta gente!
Bem cedo despertou,
quem ousa contesta-lo?
poeta que tombou,
depois de forte abalo,
e, cansado, vai ter
por leito a sepultura;
mas, passada esta
fria e trágica tortura,
lobrigando o fulgor
de novos horizontes,
ele se extasiou ao
pé de claras fontes
de essência - luz,
de essência pura da VERDADE!
E bebeu, e bebeu
até à saciedade,
da essência bendita,
a essência sem par,
como a tonta falena
que quer penetrar
no âmago das
flores, bebendo o seu perfume...
Como o cego que
busca nas trevas um lume
que o oriente,
assim o sonhador dizia
alguém que o
amparava, alguém que o conduzia:
Como sou pequenino
ao pé destas grandezas!
Oh! dize-me por que
contemplo estas belezas,
sem poder explica-las?
sou analfabeto,
menor que um grão
de areia, menos que um inseto!
E assim
respondeu-lhe a imagem soberana:
Não tem valor algum
a sapiência humana!..
Ó
papa, eu não te odeio, quero esclarecer-te;
estas
rimas do Além vim lesto oferecer-te,
esperando
encontrar em ti um velho amigo.
Papa,
eu não te destrato; papa, eu não maldigo:
talvez
maldigas, tu, a voz que, desse Além,
ansiosa
te chama à prática do Bem!
Sê vigário
de Deus, mas vive na humildade;
pisa
o báculo, quebra a tiara - Vaidade!
E, se
desejas cumprir a cristã missão
das
Almas conduzir ao porto - Salvação,
caminha
pela Terra aliviando as dores
dos
fracos órfãozinhos, entes sofredores
que
gemem no silêncio horrível e sombrio,
famintos,
maltrapilhos, a tremer de frio!
Coberto
com burel humilde de pobreza,
terás,
perante Deus, a divina riqueza
da
Perfeição, tesouro esplendoroso
que
aos Justos proporciona o verdadeiro gozo;
cumprindo
a Lei de Deus, trabalha sem cessar,
repele
a Farsa feita à sombra do Altar.
A
Idolatria ê um crime; as Almas benfazejas
não
vivem em altares, não moram nas igrejas!..
E,
quando de regresso à verdadeira Vida,
receberes
do Alto a benção merecida,
irmão,
volve um olhar pela amplidão sem fim...
Não
te esqueças, ò papa, orar também por mim!
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