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Ciência Religião Fanatismo
por MINIMUS (A.
Wantuil de Freitas)
Ed. FEB
c.1938
Palestra 3 d/e
Voltemos, senhores, ao assunto
determinado para a palestra de hoje, voltemos porque o tempo não permite que
nos estendamos.
Dois vultos se celebrizaram nos
meios médicos mundiais, Pinel e Esquirol, ambos alienistas franceses,
conseguindo homenagens de todos os Hospícios do mundo, onde sempre existem
seções designadas com seus nomes.
Pinel substituiu o tratamento de
violências e .de chibatadas, por medicina mais consentânea com os princípios de
solidariedade humana; e Esquirol, o sábio que passou a existência examinando e
medicando doentes mentais, descobriu que há loucuras sem causas justificáveis,
sem lesões cerebrais, donde concluímos que há loucuras materiais, causadas por lesões
ou anomalias da matéria cerebral, e as há espirituais, a que chamamos obsessão.
Os Hospícios de todos os países se
acham superlotados de enfermos; novos hospícios são criados dia a dia, mas
sempre insuficientes para o número crescente de loucos destinados a
essas bastilhas terapêuticas, onde ficam à espera da morte, sequestrados da
vida, simplesmente porque os governos acompanham o erro e o crime da medicina
oficial, quando poderiam estar os hospitais quase vazios, se outra fosse a
orientação dos responsáveis por essa calamidade desumana.
Jazem nos cárceres dos hospícios
milhares de doentes, em que a medicina nada encontrou, absolutamente nada, após
os exames a que procedeu. Sujeitos a experiências perigosíssimas, como a malarioterapia
e outros métodos idealizados sem proveito algum, esses infelizes são chorados
cá fora pelos filhos e pelas mães, na dor cruciante de vê-los no desconforto de
hospitais abarrotados e sem nenhuma esperança de cura. Pobres mães e pobres
filhos que ouvem interiormente a terrível frase de Dante:
"Deixai todas as esperanças,
vós que entrais".
E o mal maior ainda seria, se os
espíritas, mesmo de longe, não trabalhassem em suas sessões em benefício de
muitos desses infelizes, conseguindo, apesar de todas as dificuldades, devolvê-los
ao lar, para onde nunca mais voltariam, devido à incompetência dos que
pretendem, com bisturi e agulha, curar doenças que se relacionam com a alma,
cuja presença nunca
acharam, porque a procuram com instrumentos materiais, como se fôssemos estudar o
movimento dos astros com aparelhos de agronomia.
A loucura espiritual, também chamada
moral, psíquica ou mais simplesmente obsessão, que eles desconhecem e não sabem
curar, não reside na matéria e muito menos na alma. Ela é produzida pela
interposição de fluidos do obsessor desencarnado, prejudicando a transmissão de
pensamento da vítima, ora agindo lhe sobre o cérebro, ora sobre o períspirito e
mesmo sobre o espírito, obsessão que poderá causar, no fim de alguns anos,
lesões cerebrais antes inexistentes.
O Hipnotismo é uma obsessão entre
encarnados, e, como a loucura espiritual, também consegue-se, no fim de algum
tempo, o completo domínio do hipnotizador sobre o paciente que, mesmo de longe,
pode ser dirigido.
Não se conclua, da nossa ligeira
exposição, que baste uma pessoa ser adepta do Espiritismo, para gozar da
faculdade de curar loucos espirituais. São necessários conhecimentos e
virtudes, mesmo porque, casos há, como nas obsessões de longa data, em que se
tornam indispensáveis dois tratamentos - o espiritual e o médico.
Um grande e abnegado médico
brasileiro, o dr , Bezerra de Menezes, a quem rendemos a
homenagem da nossa gratidão, havendo-se dedicado, longos anos, ao estudo das
doenças mentais,
por ter ficado louco um seu filho, conseguiu demonstrar, com experiências, que
os Espíritos
de loucos materiais, com lesões, se manifestam perfeitamente lúcidos, quando
evocados em sessões espíritas, o que não somente confirma a existência de duas
variedades de loucuras, mas ainda nos ensina um dos meios de diferençá-las.
O Espírito do louco material se
manifesta lúcido, porque lhe emprestam um cérebro normal
para sua utilização, enquanto o Espírito do louco espiritual se apresenta quase
sempre louco,
visto que o obsessor continua em sua diabólica perseguição.
Ensina-lhes o Espiritismo como fazer
o diagnóstico dos que apresentam sintomas de loucura,
mas o orgulho não os deixa raciocinar, preferindo sacrificar milhares de
criaturas às tenebrosas prisões dos hospícios, a terem de confessar que ignoram
alguma coisa. E assim, os loucos e não loucos são tratados igualmente, até que,
depois de mortos, a necropsia informe que a maioria não apresentava lesões
cerebrais.
Não sabemos onde se esconde a consciência
desses pretensos sábios, que os não deixa meditar sobre o crime que praticam,
lançando nos quartos dos hospícios, amontoados como porcos, criaturas que eles
não sabem porque estão loucas, não sabem como curá-las e, contudo, não permitem
que se lhes fale nessa terapêutica espiritual já observada e confirmada por
centenas de médicos em milhares de casos.
E a deslealdade dessas consciências
vai ao ponto de acusar-nos como fabricantes de loucos, somente porque, ao darem
entrada nos hospícios, os doentes dizem já haver recorrido a um ou outro Centro
espírita, muitas vezes incompetente para resolver tais casos. Não perguntam se
o doente já era louco antes de recorrer ao Centro espírita. Basta-lhes a
primeira informação,
a única de que precisam para fazer as estatísticas com que nos pretendem incriminar.
Padres, freiras e materialistas
serão dados como loucos produzidos pelo Espiritismo, se
as famílias dos doentes disserem que, antes de interná-los no hospício,
compareceram a uma
ou duas sessões espíritas. Enlouquecem na rua, nas igrejas, nas repartições
públicas e em todos
os lugares, mas a estatística precisa acusar o Espiritismo, visto como, não
sendo possível
atribuir à loucura uma dessas duas velhas desculpas - a sífilis e o alcoolismo - incompetentes
para lhes determinar a verdadeira causa, atribuem-na ao Espiritismo.
E como nada podemos fazer, deixemos os loucos
com os loucos que os trazem presos, e passemos
a outras curas por transmissões de fluidos.
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