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Fenômenos
de Materialização
por Manoel
Quintão
Livraria Editora da Federação
Espírita Brasileira
1942
"Deve
haver alguma razão para essa tão profusa irrigação, essa fertilidade de solo,
essa salubridade de clima.
"Nenhum
pais tropical é tão elevado como o Brasil. Essa grande elevação, combinada com
os ventos alísios, produz um clima mais fresco e mais salubre do que o das
latitudes correspondentes da África e da Ásia Meridional."
R.R.
TANNES, C. FLETCHER E KmER - Narrativas de viagens ao Brasil, 1857 e 1862.
Este
conceito nós o extraímos da apologética de William Stead, nosso confrade, ao
papel de Ruy Barbosa no Congresso da Haia, versão portuguesa de Artur Bomilcar,
sob o título de - O Brasil em Haia.
Ainda
na mesma obra se nos depara, do célebre geógrafo Eliseu Reclus, um paralelo
interessante entre os Estados Unidos do Norte e os do Sul, quer em sua
potamografia (estudo, descrição dos rios) , quer na sua orografia (estudo ou tratado a
respeito do relevo terrestre), quer no seu desenvolvimento
histórico.
Esse
confronto vem de molde a corroborar nossa tese, que abrange de cimo o
desdobramento dos povos na laboração do planeta e a elaboração, nele, de
tarefas progressivamente ampliativas do alvo imanente e providencial - o amor
universal.
Porque,
de resto, o que se verifica é o seguinte: se lá, como aqui, os elementos
originários foram idênticos - o branco, o índio, o negro - lá esses elementos
cedo se extremaram, com predominância do anglo-saxão e outros ádvenas (pessoa que chega a um lugar. O que não é nascido no país. Estranho,
forasteiro; adventício), sem dar os pródromos (primeiros indícios de alguma coisa) de uma alma coletiva.
O índio,
hoje escassíssimo em seus remanescentes, se ainda existe porventura, é como
valor negativo; e o preto, não só psicológica como socialmente considerado, é
qual corpo exótico enquistado no organismo nacional.
Por
isso, lá, o problema racial é um espantalho, uma incógnita a desafiar desde já
os estadistas providentes e previdentes. Aqui, esse problema está, de há muito,
praticamente resolvido e já agora as correntes migratórias, por volumosas, não
absorverão a índole psíquica, caldeada em quatro séculos de ininterrupta
aproximação e transfusão.
Expliquemo-nos:
o crioulo, seja ele oriundo de sangue europeu, ou asiático (não esquecer a
numerosa colônia árabe aqui derramada), seja produto outro mestiço, de qualquer
raça adventícia, para logo se revela mais brasileiro, na mentalidade e na
cordialidade, do que sírio, italiano ou alemão.
Nem
já as influências da educação doméstica, o extremismo dos costumes têm a força
de lhes reter o caráter atávico, o ascendente original.
No
passado, o Visconde de Montezuma e o Barão de Cotegipe, para só falar destes,
deram- nos o expoente exato da nacionalidade em floração; hoje, Rodrigues
Alves, de origem portuguesa, Lauro Muller, de origem alemã, e Pandiá Calógeras,
de origem grega, são figuras que se confundem no mesmo padrão nacional,
psiquicamente sintonizadas na compreensão dos nossos destinos políticos e
internacionais.
E
os que mais resistem à absorção como, ao que dizem, os alemães, não ultrapassam
a resistência da segunda geração.
Mas,
como se dá, afinal, essa identificação psíquica?
Pela
hereditariedade biogenética, pela influência mesológica, pela comunhão social,
civil, política? Absolutamente ...
O
fenômeno aqui evidente assume proporções infirmativas de todas as teorias clássicas
da hereditariedade e só a realidade das reencarnações, dentro da nossa tese,
pode explicá-lo e mais - justificá-lo.
Figuradamente,
retrocedendo aos primórdios de nossa história, o colono, o conquistador, o
guerreiro, ou simplesmente o flibusteiro, aqui aportou ávido de fortuna, de
aventura, ou apenas de paz e liberdade.
O
seu primeiro contato com a terra úbere e opulenta, florida e luminosa, foi um
deslumbramento!
A
transparência das aguas, o matiz das selvas adustas, a suavidade azul do céu, a
policromia dos horizontes, o canto das aves, o perfume das flores, a
orquestração dos insetos, a alma dos seres e a alma das coisas, enfim, eis o
primeiro abalo de sua alma.
Ele
o sentiu e ficou. Se não ficou, também não se esqueceu jamais.
Digamos,
porém, na generalidade, que ficou e triunfou, ou sofreu, foi vencido e aqui
morreu. Morreu? Não! ninguém morre...
Enquanto o arcabouço vigoroso tombava em plena refrega, ou arrefecia naturalmente
entre comparsas indiferentes, o Espírito liberto, já afeiçoado ao meio, iluso ainda
dos sonhos que o derrancaram do lar e da pátria, erra, circunvaga, paira entre
e sobre aquelas grandezas fascinadoras, até que refeito para sondar o passado e
balancear o próprio destino.
E
a consciência lhe diz que já não é o cidadão de uma pátria confinada no
planeta, mas o cidadão do Universo, o itinerante do Infinito, o filho de Deus!
Ou
ainda: a consciência não lhe diz coisa alguma, nada, e ele apenas sente que
pode e deve continuar ali,
viver e lutar ali.
Consciente
ou inconsciente, pois, ei-lo a buscar uma lapa, uma furna, uma choupana, uma
feitoria, um berço enfim.
Se
era, lá na pátria de antanho, um sonhador, nada lhe impede continue a sonhar
aqui: simplesmente, o que sonhou e não realizou lá, pode sonhar e realizar
aqui.
O
potencial do Espírito como que se subtiliza na luta e já elementos novos do
ambiente novo lhe tonalizam a vontade, lhe apuram, lhe virilizam as faculdades.
Guerreiro
de ontem, arcabuzando, monteando impiedoso o selvícola, que defende galhardo, a
peito nu, a taba dos seus maiores, pode ele tornar-se amanhã o defensor heroico
dessa mesma taba, para que nele se cumpra a irrefragável, a iniludível quão
benéfica lei da reparação.
E
viverá escravo ou viverá senhor; e virá humilde ou grande, sucessivamente, mas
a ficar aqui, a gravitar aqui, a realizar aqui, na esfera
de sua capacidade, na gradatividade do seu esforço e do seu mérito, a
cooperação de mais altos desígnios morais, sociais, políticos, históricos, cada
vez mais identificado com essa aura espiritual que afina, burila, estratifica a
alma das nacionalidades, o espírito das raças, até que, finalizada a sua
missão, essa alma se dispersa, ou se desloca, na consecução de novas conquistas
planetárias, ou para novos planos siderais...
Assim
é que, um povo insignificante mas psiquicamente sintonizado - o hebreu, nos
legou o Monoteísmo prático (1).
(1) Sobre
a destinação do povo hebreu em perfeita identidade com este nosso ponto de
vista, decorridos que são 15 ans da fatura deste nosso trabalho, vale
recomendar o que a respeito aduz Emmanuel em – A Caminho da Luz.
Assim
é que a Grécia unida nos deu o patrimônio da Ciência, da Filosofia, da Arte.
Assim
é que Roma nos deu, na unidade da sua força, o Direito e a Política.
Assim
é que a França elaborou a consciência da Liberdade humana.
Assim
é que a Inglaterra nos deu, e ainda mantém, um grande império colonial.
Assim
é que os Estados Unidos da América esboçam a construção - uma nova construção
político-industrial, um progresso material tendente a suavizar as agruras da
vida física planetária.
E
assim é que o Brasil - a terra de Santa Cruz, nos vaticina uma civilização
original, uma pátria de comunhão espiritual, na qual todos os
patrimônios e conquistas se confundem e se amolgam à improvisação de um Novo
Estado, que assinale à Humanidade enferma o início de uma Nova-Era, de uma Égira-Nova.
Sim!
nós o cremos e pressentimos: daqui, ao influxo de Espíritos elevados, partirá o
exemplo de que essa entressonhada e tão violentamente requestada Democracia só
deixará de ser aspiração teórica, quando os homens assimilarem e praticarem, em
espírito e verdade, os Evangelhos de N. S. Jesus Cristo.
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