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Ciência Religião
Fanatismo
por Mínimus
(Antônio Wantuil de Freitas)
Ed. FEB
c.1938
Quanto aos outros, os padres, não
nos admiremos que se irritem com a difusão da medicina mediúnica. Eles vêm o
povo procurar-nos, ansioso de se livrar de males que o afligem, e, como os
sacerdotes do Judaísmo, condenam a nossa prática, filha dileta do Cristianismo,
porque sentem que lhes fogem os lucros pecuniários das missas, bênçãos e
comendas. Mas, tal como aconteceu aos sacerdotes judeus, nada conseguirão,
visto que seguimos as recomendações evangélicas, dando completamente de graça o
que de graça recebemos, enquanto eles mercantilizam tudo, desde os lugares no
Céu até as bênçãos de espadas e de canhões, caluniando o Evangelho com essas
normas farisaicas.
E é exatamente por tudo chatinarem (mercadejar sem
escrúpulo; traficar)
que nada alcançam do Mestre, de quem pretendem os representantes, quando dia a
dia mais separam d'Ele, "já por sepultarem a religião no mistério de uma
língua morta, já por viverem com a boca cheia de Deus e a consciência cauterizada
de interesses mundanos".
Essa suposta representação gerou o
ridículo dogma da infalibilidade papal, e como naturalmente desse dogma se
deduz que todos os Santos Padres foram indefectíveis, não sabemos como se
conseguem harmonizar as múltiplas incoerências das suas deliberações.
A teoria de Copérnico, que afirmava
mover-se a Terra em redor do sol, foi condenada como
herege, absurda e ridícula pelo Concílio Tridentino, que pelo Espírito-Santo se
dizia inspirado;
todavia, Benedito XI, mais tarde, a mandou aceitar. Facilmente se concluirá que o
Concílio não recebeu inspirações de Espíritos-Santos, mas de espíritos atrasados,
e, assim, todas as deliberações do referido Concílio mereciam ser revogadas.
Aliás, senhores, todos os dogmas
criados pelo clero são oriundos de fontes suspeitas e gerados
com o fito exclusivo de comércio, tal qual procediam os sacerdotes do ano 30 da
nossa era.
Absorveram tudo que de mau possuía,
o Paganismo e a Mitologia, veeiros (peliça delicada e fina) onde beberam inspirações
para as suas fábulas ineptas, senis e falaciosas.
A lenda do inferno e dos anjos mais
se assemelha à de Zeus (Júpiter, dos Romanos), que
expulsou Cronos do céu, arrastando-o para a região que se estende por baixo da
terra e dos
oceanos.
A história de Noé, que tão bem
compreendemos, explicam-na tal como a Mitologia, que
nos diz só se terem salvo do dilúvio Decalião e sua mulher Pirra.
A Mitologia tinha deuses secundários
com o encargo de proteger certas classes sociais, determinadas profissões e
certos fenômenos, e os padres aproveitaram a ideia, criando enorme série de
santos canalizadores de vultosa renda para os seus áureos cofres, explorando
com isso a credulidade humana.
Lançaram anátemas sobre os Maniqueus
que apresentavam o Bem e o Mal como criadores
do mundo, para a eles se igualarem oferecendo-nos o mitológico Satã, com
poderes sobre a quase totalidade das almas.
Suas bênçãos, como as do Paganismo,
são vendidas a preços tabelados, quais gêneros de feiras-livres, e muitas só
são acessíveis a burgueses endinheirados, embora o Cristo sempre nos
ensine que as bênçãos de Deus chovem igualmente sobre o rico, sobre o mendigo
das ruas
e sobre os infelizes dos cárceres.
As reuniões da época inicial do
Cristianismo foram substituídas por festas luxuosas, onde pontificam entrajados
com roupas ricas e apalhaçadas, idênticas às dos sacerdotes judaicos, num
ambiente de perfumes voluptuosos e de frêmitos de vestidos de seda, sem recato
e sem respeito à presença do Cristo que eles supõem transubstanciado no cibório
(vaso
onde se conservam as hóstias) de ouro ou na custódia de pedras preciosas. Suas
festas externas, com bandeirolas, charangas, foguetes e charolas (andor de procissão) carregadas por
homens vestidos de vermelho,
lembram, a um tempo, as festas do Paganismo e as do tríduo carnavalesco.
Entretanto, riem-se dos
"passes" espíritas, chamam-nos histéricos e endemoniados, confundindo
os nossos "passes", que são transmissões de fluido do Alto, com os
passes monetários das suas bênçãos, com os passes que passam maneirosamente o
dinheiro da bolsa do passivo para as arquetas (arca pequena) da Igreja, dessa
mesma Igreja que, há séculos, vive do embrutecimento das massas populares,
vendendo graças que sabe não possuir, que não possue, e que evangelicamente,
não são negociáveis.
E essas cobiças irreplegíveis (insaciável) continuarão por
muito tempo, com o apoio dos indiferentes, até que se possa extrair da consciência
do povo o joio clerical, substituindo-o pelo trigo que alimenta, pelas verdades
que rolam, pérolas desfeitas, dos ensinamentos de Jesus, até atingir os
penetrais (a
parte mais recôndita e interior de um objeto) da alma da humanidade.
Não admitem as nossas comunicações
psicofônicas e psicográficas, classificam como obras
de Satã os fenômenos produzidos pelos Espíritos; todavia, quando os fatos se
passam com
freiras, insuladas em conventos, esperam que os anos corram e, então, após a
morte da freirinha,
baseados na sua mediunidade, elevam-na à categoria de santa, para que assim o seu
comércio sacrílego apresente novidades aos compradores de bênçãos e de
indulgências.
E a nós, senhores, que não vemos na
mediunidade sintoma, indício ou cheiro de santidade, que não exploramos esse
dom oferecido por Deus às suas criaturas para beneficiar o próximo; a nós, que
explicamos sem mistérios a origem e o fim da mediunidade, procuram acusar-nos
como representantes de um cerebrino diabo, no receio, infundado e louco, de que lhes
possamos fazer concorrência nos exorcismos com defumadores de incenso.
De graça damos tudo que de graça
recebemos, e mais ainda, pois todos, nós contribuímos para a manutenção de
asilos, enquanto eles, nada oferecendo, ainda cobram, dos que se deixam embair (enganar, seduzir) pela sua lábia,
ordenados de freiras e de capelães de asilos, de hospitais e de irmandades.
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