quarta-feira, 27 de março de 2013

11. "Ciência Religião Fanatismo"



11

Ciência    Religião   Fanatismo

por Mínimus
 (Antônio Wantuil de Freitas)
Ed. FEB
c.1938


            Quanto aos outros, os padres, não nos admiremos que se irritem com a difusão da medicina mediúnica. Eles vêm o povo procurar-nos, ansioso de se livrar de males que o afligem, e, como os sacerdotes do Judaísmo, condenam a nossa prática, filha dileta do Cristianismo, porque sentem que lhes fogem os lucros pecuniários das missas, bênçãos e comendas. Mas, tal como aconteceu aos sacerdotes judeus, nada conseguirão, visto que seguimos as recomendações evangélicas, dando completamente de graça o que de graça recebemos, enquanto eles mercantilizam tudo, desde os lugares no Céu até as bênçãos de espadas e de canhões, caluniando o Evangelho com essas normas farisaicas.

            E é exatamente por tudo chatinarem (mercadejar sem escrúpulo; traficar) que nada alcançam do Mestre, de quem pretendem os representantes, quando dia a dia mais separam d'Ele, "já por sepultarem a religião no mistério de uma língua morta, já por viverem com a boca cheia de Deus e a consciência cauterizada de interesses mundanos".

            Essa suposta representação gerou o ridículo dogma da infalibilidade papal, e como naturalmente desse dogma se deduz que todos os Santos Padres foram indefectíveis, não sabemos como se conseguem harmonizar as múltiplas incoerências das suas deliberações.

            A teoria de Copérnico, que afirmava mover-se a Terra em redor do sol, foi condenada como herege, absurda e ridícula pelo Concílio Tridentino, que pelo Espírito-Santo se dizia inspirado; todavia, Benedito XI, mais tarde, a mandou aceitar. Facilmente se concluirá que o Concílio não recebeu inspirações de Espíritos-Santos, mas de espíritos atrasados, e, assim, todas as deliberações do referido Concílio mereciam ser revogadas.

            Aliás, senhores, todos os dogmas criados pelo clero são oriundos de fontes suspeitas e gerados com o fito exclusivo de comércio, tal qual procediam os sacerdotes do ano 30 da nossa era. 

            Absorveram tudo que de mau possuía, o Paganismo e a Mitologia, veeiros (peliça delicada e fina) onde beberam inspirações para as suas fábulas ineptas, senis e falaciosas.

            A lenda do inferno e dos anjos mais se assemelha à de Zeus (Júpiter, dos Romanos), que expulsou Cronos do céu, arrastando-o para a região que se estende por baixo da terra e dos oceanos.

            A história de Noé, que tão bem compreendemos, explicam-na tal como a Mitologia, que nos diz só se terem salvo do dilúvio Decalião e sua mulher Pirra.

            A Mitologia tinha deuses secundários com o encargo de proteger certas classes sociais, determinadas profissões e certos fenômenos, e os padres aproveitaram a ideia, criando enorme série de santos canalizadores de vultosa renda para os seus áureos cofres, explorando com isso a credulidade humana.

            Lançaram anátemas sobre os Maniqueus que apresentavam o Bem e o Mal como criadores do mundo, para a eles se igualarem oferecendo-nos o mitológico Satã, com poderes sobre a quase totalidade das almas.

            Suas bênçãos, como as do Paganismo, são vendidas a preços tabelados, quais gêneros de feiras-livres, e muitas só são acessíveis a burgueses endinheirados, embora o Cristo sempre nos ensine que as bênçãos de Deus chovem igualmente sobre o rico, sobre o mendigo das ruas e sobre os infelizes dos cárceres.

            As reuniões da época inicial do Cristianismo foram substituídas por festas luxuosas, onde pontificam entrajados com roupas ricas e apalhaçadas, idênticas às dos sacerdotes judaicos, num ambiente de perfumes voluptuosos e de frêmitos de vestidos de seda, sem recato e sem respeito à presença do Cristo que eles supõem transubstanciado no cibório (vaso onde se conservam as hóstias) de ouro ou na custódia de pedras preciosas. Suas festas externas, com bandeirolas, charangas, foguetes e charolas (andor de procissão) carregadas por homens vestidos de vermelho, lembram, a um tempo, as festas do Paganismo e as do tríduo carnavalesco.

            Entretanto, riem-se dos "passes" espíritas, chamam-nos histéricos e endemoniados, confundindo os nossos "passes", que são transmissões de fluido do Alto, com os passes monetários das suas bênçãos, com os passes que passam maneirosamente o dinheiro da bolsa do passivo para as arquetas (arca pequena) da Igreja, dessa mesma Igreja que, há séculos, vive do embrutecimento das massas populares, vendendo graças que sabe não possuir, que não possue, e que evangelicamente, não são negociáveis.

            E essas cobiças irreplegíveis (insaciável) continuarão por muito tempo, com o apoio dos indiferentes, até que se possa extrair da consciência do povo o joio clerical, substituindo-o pelo trigo que alimenta, pelas verdades que rolam, pérolas desfeitas, dos ensinamentos de Jesus, até atingir os penetrais (a parte mais recôndita e interior de um objeto)  da alma da humanidade.

            Não admitem as nossas comunicações psicofônicas e psicográficas, classificam como obras de Satã os fenômenos produzidos pelos Espíritos; todavia, quando os fatos se passam com freiras, insuladas em conventos, esperam que os anos corram e, então, após a morte da freirinha, baseados na sua mediunidade, elevam-na à categoria de santa, para que assim o seu comércio sacrílego apresente novidades aos compradores de bênçãos e de indulgências.

            E a nós, senhores, que não vemos na mediunidade sintoma, indício ou cheiro de santidade, que não exploramos esse dom oferecido por Deus às suas criaturas para beneficiar o próximo; a nós, que explicamos sem mistérios a origem e o fim da mediunidade, procuram acusar-nos como representantes de um cerebrino diabo, no receio, infundado e louco, de que lhes possamos fazer concorrência nos exorcismos com defumadores de incenso.

            De graça damos tudo que de graça recebemos, e mais ainda, pois todos, nós contribuímos para a manutenção de asilos, enquanto eles, nada oferecendo, ainda cobram, dos que se deixam embair (enganar, seduzir) pela sua lábia, ordenados de freiras e de capelães de asilos, de hospitais e de irmandades.
           




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