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Fenômenos
de Materialização
por Manoel Quintão
Livraria Editora da Federação
Espírita Brasileira
1942
PREFÁCIO
As convicções espíritas se formam, na grande, na
absoluta maioria, por dois processos muito pouco eficientes para produzirem os
efeitos que devem resultar da compreensão do verdadeiro e puro Espiritismo.
Umas
se fazem só pelas leituras de livros doutrinários, dos mestres da Terra; outras
se alimentam de sessões, precárias muitas vezes no mau fruto que dão, iludidas
pelas pseudo mensagens - faladas ou escritas, plenas de lugares-comuns, num realejar
de frases tornadas banais, à força de repetidas.
Uma
terceira categoria se constitui de doentes que, mercê do receituário mediúnico,
obtiveram alívio ou cura para males rebeldes à ação da medicina oficial, e, por
isso, convencidos de que - fundamentalmente - os Espíritos cogitam de curar
mazelas do corpo PARA QUE SE ACREDITE NA EXISTÊNCIA DELES.
Poucos,
bem raros são aqueles que aprendem, nas lições do Espiritismo, a estudar a vida
no próprio cenário onde se agitam, e a vislumbrar, nos fatos cotidianos, o
ensinamento que nos mostra a evidência das reencarnações expiatórias ou
missionárias, patenteando - nessa sucessão de existências - a continuidade
imortal da vida cósmica, multi dividida embora em formas que vão desde as estrelas
inconcebivelmente grandes, até às proporções invisíveis dos micróbios potentíssimos.
Só
estes raros conseguem o verdadeiro fruto promanado da doutrina: corrigem,
dominam, vencem os maus pendores da natureza humana, contingentes quase sempre
de predileções havidas em existências anteriores, e marcham para as águas
purificadoras da - reparação do passado.
Os
demais, ACREDITAM NO ESPIRITISMO, mas NAO SÃO ESPÍRITAS, embora se apregoem
tal, de boa ou má-fé.
À
luz deste sadio critério é que se pode encarar e compreender a personalidade de
Manoel Quintão, ascensionando desde os pórticos do mistério ao zimbório da
Verdade.
Ingressando
no Espiritismo mediante a cura de males que a Medicina desistira de debelar,
não ficou estacionado no deslumbramento do "milagre", nem alimentou a
curiosidade com os esgares dos ‘fenômenos’ que se observam nos noventa e nove
por cento dos rotulados - trabalhos práticos.
Mergulhou
a Alma bem mais profundamente, e na Alma recebeu o salutar influxo que lhe fez
compreender a grande, suprema, iluminada verdade: Só se vive e compreende a
vida pelo SENTIMENTO.
E
começou a SENTIR a S0LIDARIEDADE ESPIRITU AL, que liga os seres universalmente
nos vários planos de gradação, nessa série de mundos que o Cristo anunciou sob
a designação genérica de - muitas moradas na casa de Deus.
SENTIU
o infinito e a universalidade da vida na misericórdia dos Espíritos, e
compreendeu que, se pelo sentimento eles descem até às criaturas, estas, pelo sentimento
podem subir até onde pairam os verdadeiros vivos, ressuscitados da morte
espiritual dos erros e dos crimes de toda ordem.
Ligando-se
ao poderoso núcleo que, do Espaço, superintende os destinos da Federação Espírita
Brasileira, teve logo a assistência do boníssimo e iluminado Bezerra de
Menezes, que, pelo seu lápis, receita - diariamente – para dezenas de enfermos
solicitantes da ciência clarividente dos desencarnados. Esse Espírito, já envolto na luz imperecível
do Céu, viu em Manoel Quintão o desejo de dar - de graça - aos
outros, aquela mesma esmola que - de graça recebera, quando, incrédulo e devorado pela
doença do corpo, experimentara, sem fé, a realidade da fé alheia.
E
foi nessa escola de miséria e sofrimento que ele, o médium receitista, aprendeu
a força do SENTIMENTO, o poder da FÉ, a extensão da misericórdia divina, a
VERDADE contida nos ensinamentos dos Espíritos que, em todos os tempos, a
anunciam, até que o Cristo a esculpisse no Evangelho e a exemplificasse - há
vinte séculos - epilogada no Calvário.
E
também por isso foi que recebeu a inapreciável assistência de Espíritos da mais
elevada moral evangélica, que não só lhe abriram ao entendimento as mais altas
visões doutrinárias, mas igualmente lhe proporcionaram definitivas e
convincentes demonstrações do poder das forças manejadas do Além por eternos
mensageiros dessa Verdade inacessível à Ciência da Terra.
Dessa
riqueza do cabedal que lhe veio dos Espíritos, teremos ideia pelos três
trabalhos que formam o presente volume, onde, ao lado dos fatos eloquentíssimos
de si mesmos, há ensinamentos do mais alto valor para quantos começam ou
desejam estudar a Terceira Revelação, que é o Cristianismo esotérico, - para os
que viveram e vivem jungidos à letra morta consorciada aos ritualismos igrejísticos.
É certo que a extensão dessas amostras da cultura e do talento do Autor não lhe
corresponde aos méritos e às possibilidades; mas, a razão disso é fácil de
explicar.
Manoel
Quintão sempre foi um atarefadíssimo trabalhador incansável na conquista do pão
de cada dia, e através desse aspecto da sua vida inicial bem se estudam e
vislumbram os traços progressivos do médium caminhando para a sua tarefa
espiritual.
Empregado
nos misteres primeiros do velho comércio de outrora, teve esse começo, obscuro,
que dá à criatura a disciplina do trabalho, ensina a vantagem da conformação
com as obrigações cotidianas do seu cargo, semeia - quando não educa - a
humildade sadia, aquela que nos faz compreender a coexistência de virtudes com
as tarefas mais anônimas na hierarquia do trabalho.
Preocupado
com a manutenção do lar - cujos encargos mais e mais cresciam com o adendo de parentes
e afins necessitados do seu apoio doméstico, e aos quais provia sem medir
sacrifícios do seu conforto individual, tudo parecia de molde a lhe fechar
horizontes intelectuais, jungindo-o às atividades, honrosas embora, mera e
nitidamente comerciais. Uma síntese gloriosa naquele tempo: caixeiro - patrão
- comanditário.
Assim
não foi. A diretriz do seu futuro foi uma predeterminada linha reta, sem as
insidiosas curvas das tentações, sem os ângulos agudos das descaídas que
comprometem a sanidade espiritual. O labor rude e os embates dos primeiros
tempos eram necessários para temperar a energia da vontade, para demonstrar
que devia contar apenas consigo próprio, elevando-se pela dedicação ao trabalho
e pela vitória contra os óbices de toda sorte - inevitáveis na trilha dos que
não nasceram bafejados pela deusa Fortuna. É certo que, por entre as ondas do
oceano de cogitações laboriosas da vida obrigacional, velejou a barquinha da
Arte, cujos débeis panos se enfunavam aos primeiros sopros da inspiração, isso
possivelmente para que não tivesse de fazer as suas primeiras armas de escritor doutrinário somente ao defrontar-se com as lides
do Evangelho do Cristo.
Primeiro,
então, bordejou nas margens de tímidos ensaios, nos versos da adolescência
enamorada e lírica. Depois, rumou para mais longe, quando os ventos mais
vigorosos impeliram o barco para o mar largo do jornalismo profano, onde
precisava e devia aprender a náutica dos plumitivos, precisamente ele, de
quem se pode dizer que vivia da pena, - escriturando o DIÁRIO alheio para
ganhar o pão - sustento do corpo; escrevendo à RAZÃO do mundo, para alimentar o
espírito desse mundo com o pão do Espírito que lhe vinha dos mensageiros de Jesus.
Ingressando
na vida da metrópole brasileira, com esses surtos de talentosa mentalidade, ao
tempo em que floria e fulgia a formidável boemia de talentos que enfeixava os
maiores expoentes do jornalismo, da poesia, da literatura e das artes, - Manoel
Quintão, a despeito das iniludíveis aptidões para tais
ramos de atividade intelectual, não descambou para o atrofiante diletantismo -
pleno de displicência céptica onde afundaram aridamente muitos dos daquele
tempo,
Possivelmente,
já influências benéficas agiam do Invisível para que, dentro das contingências
iniciais da sua provação, o futuro doutrinador chegasse, sem solavancos desequilibrantes
do Espírito, à época própria de encarar o sol rútilo da Verdade.
Ignorado
de si mesmo, foi subindo e penetrando naturalmente nos pórticos escalonados das
hierarquias humanas, antes de chegar às do Espírito,. O caixeiro medrou em um
dos mais hábeis Guarda-Livros do seu tempo; do ensaísta bisonho dos versos e
produções provincianos surgiu um dos maiores escritores
espíritas contemporâneos.
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