Humberto de Campos (Irmão X)
O Quinhão
do Discípulo
Cercado
de potências angélicas, o Mestre dos Mestres recebia a longa fileira de almas necessitadas, a chegarem da Terra, trazidas pelas
asas veludosas do sono.
Rogativas
particulares sucediam-se ininterruptas. E o Divino Dispensador as acolhia afavelmente.
Para as solicitações mais disparatadas, oferecia a ternura do benfeitor e o
sorriso do sábio. Jovens e velhos, adultos e crianças eram admitidos à Augusta
Presença, um a um, expondo cada qual sua necessidade e sua esperança.
-
Senhor - implorava carinhosa mãe, de olhos súplices - meus filhos aguardam-te a complacência vigilante!
E
prosseguia, aflita, enumerando intrincados problemas domésticos, destacando
projetos para o futuro na experiência carnal.
O
Mestre ouviu e recomendou aos cooperadores atendessem a súplica, na primeira
oportunidade.
Seguiu
se lhe linda jovem que rogou, ansiosa:
-
Oh! Jesus, atende-me! socorre meu noivo que sucumbe... Livra-o da morte, por
piedade! sem ele, não viverei!..
O
Benfeitor Divino ouviu, atento, e ordenou que os emissários restituíssem o dom
da saúde física ao doente grave.
Logo
após, entrou velho e simpático lavrador, de gestos confiantes, que se prosternou, suplicando:
-
Doador da Vida, abençoa meu campo! Peço-te! amo profundamente a terra que me confiaste. É o celeiro do meu pão, recreio de
meus olhos, esperança de minha velhice!..
O
Pastor Divino sorriu para ele, abençoou-o, afetuosamente, e determinou aos
auxiliares santificassem o ritmo das estações sobre o campo daquele trabalhador
devotado, para que aí houvesse flores e frutos abundantes.
Em
seguida, cavalheiro respeitável penetrou o recinto de luz, evidenciando nobre
posição intelectual e solicitou, reverente:
-
Protetor dos Necessitados, o ideal de realizar algo de útil na Terra inflama-me
o espírito... Dá-me possibilidades materiais, concede-me a temporária mordomia
de teus infinitos bens! Quero combater o pauperismo, a fome, a nudez, entre os
homens encarnados... Auxilia-me por compaixão!
O
Embaixador do Sumo Bem contemplou-o, satisfeito, aquiesceu com palavras de
estímulo e designou adjuntos para a articulação de providências, quanto à
satisfação do pedido.
Minutos
depois, entrou um filósofo que implorou:
-
Sábio dos sábios, dá-nos inspiração para renovar a cultura terrestre! ...
O
Cristo aprovou a petição, concedendo-lhe vasto séquito de instrutores.
E
a legião dos suplicantes prosseguiu sempre movimentada e feliz, valendo-se da
visita providencial do Celeste Benfeitor às sombrias
fronteiras da carne, Jesus atendia sempre, ministrando incentivos e alegrias,
graças e consolações, determinando medidas aos assessores diretos.
Em
dado instante, porém, o círculo foi penetrado por um homem diferente. Seu olhar
lúcido falava de profunda sede interior, seus gestos respeitosos traduziam
confiança e veneração imensas.
Ajoelhou-se
humilde, estendeu os braços para o Emissário do Eterno Pai e, ao contrário de quantos lhe haviam precedido a súplica,
explicou -se com simplicidade:
-
Senhor, eu sei que sempre dás, conforme nossos rogos.
Ante
a estupefação geral, continuou:
-
Há quase vinte séculos, ensinaste-nos que o homem achará o que procura e
receberá o que pede...
O
Divino Orientador ouvia, comovido, enquanto os demais seguiam a cena com admiração.
O
visitante reverente deixou cair lágrimas sinceras e prosseguiu:
-
Vezes inúmeras, tenho lidado com o desejo e a posse, com a esperança e a
realização, nos círculos transitórios da existência carnal.
Estou pronto para cumprir-te os desígnios superiores, seja onde for, quando e como
quiseres, mas, se permites, rogo-te luz divina do teu coração para o meu
coração, paz, alegria e vigor imortais de tua alma para minha alma!.. Quero
seguir-te, enfim!..
Com
doçura admirável, o Mestre tocou-lhe a fronte e indagou:
-
Queres ser meu discípulo?
-
Sim! - respondeu o aspirante da luz.
Calou-se
o Cristo e, verificando-se intervalo mais longo e, considerando que todos os
pedintes haviam recebido gratificações e júbilos imediatos, o aprendiz
perguntou:
-
Que me reservas, Senhor?
O
Doador das Bênçãos contemplou-o com ternura e informou:
-
Volta ao campo de teus deveres. Entender-me-ei contigo diretamente. E depois de
grande silêncio, que ninguém ousou interromper, o Mestre concluiu:
-
Reservar-te-ei a lição.
Irmão
X / Chico Xavier
Reformador Abril 1946
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