quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

18. 'As Vidas Sucessivas'


18

‘As Vidas
Sucessivas’

por  Adauto de Oliveira Serra

 Livraria Editora da Federação Espírita Brasileira

1943


DEUS - COMO DEVE SER COMPRENDIDO

            Já é conhecida a afirmação de que "pouca ciência leva ao ateísmo, muita ciência conduz a Deus”. Descartes, repetindo o que Anaxágoras já havia dito há 2.000 anos, dizia: "Tudo é mecânico, máquina em movimento, Fora do mundo - Deus, e dentro do corpo - a alma.”

            Platão, discípulo de Sócrates, acreditava num único Deus que castigava os maus com infernos eternos. Aristóteles, comparando Deus com o rei inglês, que reina mas não governa, afirmava: Deus não criou mas move o mundo como o objeto amado, move aquele que o ama. Deus é pura energia.

            Bacon, disse que o Criador deu almas iguais a todos no mundo, mas insaciáveis mesmo com um mundo; morto, Bacon legou sua alma a Deus e seu corpo à Terra.

            Spinoza, que não acreditava na Bíblia porque ela pretendia impelir os homens deseducados à devoção, e que por isso o seu objetivo era empolgar a imaginação sem convencer à razão, cria, entretanto, num Deus justo e criticava os homens propensos a acreditar que, em benefício deles, Deus quebrava a ordem natural das coisas, revogando suas próprias leis.

            Kant é da mesma opinião quando diz que a oração é inútil, se o seu intuito for a alteração das leis naturais, que governam o mundo.

            Spinoza continua a nos dar uma ideia de Deus; Tudo vive em Deus; tudo move dizendo: em Deus. A vontade de Deus é a soma de todas as causas e leis. O intelecto de Deus é a soma de todo o espírito.

            Voltaire teve a ideia de um Deus que premiava a virtude e castigava os maus sem crueldades. Bradava-lhe o maometano: Ai de vós se não fordes em peregrinação até Meca. Dizia-lhe o padre: sereis maldito se não fordes em romaria à Notre Dame de Lorete. O teísta zomba de Meca e de Lorete, mas socorre o indigente e patrocina o oprimido. E não está ele de acordo com a parábola do bom samaritano, (Lucas, X - 25) onde Jesus elogia o procedimento do samaritano, embora proscrito, e reprova o do sacerdote e o do levita?    

            Kant, por sua vez, não pode crer num Deus regedor do céu, que por meio de lisonjas distribui as mercês aos homens. Do mesmo modo, não podemos dar crédito a certas práticas misteriosas, empregadas por falsos religiosos, que se intitulam intermediários entre Deus e os homens, a fim de acalmar a justiça desse mesmo Deus.

            Jesus mesmo, sofreu a influência das correntes filosóficas dominantes da época, aceitando tudo o que estava de acordo com a sua moral: assim é que Ele próprio repetiu como ensinamento, afirmativas de Hiller, de Confúcio, de Lao-Tsé, e outros.

            Bergson pensava que ação, liberdade e vida, eram sinônimos de Deus: e Santayana dizia que Deus era a própria natureza só o ideal era imortal.

            Will Durant fez a crítica dos filósofos materialistas, dizendo: Um filósofo materialista é como um museu, um mostruário de coisas mortas.

            William James acha que o homem aceita ou rejeita filosofias de acordo com as suas necessidades e temperamentos, e não de acordo com a verdade objetiva. Não indaga se é lógico, e sim o que a prática dessa filosofia significa para a sua vida e para o seu interesse, Argumentos pró e contra, servirão para iluminar mas não para convencer. Eis porque lógica e sermão não convencem ninguém. Então o que é que prova a existência de Deus?

            Tudo o que existe no mundo atesta a existência de um Ser superior e orientador de todas as coisas. A origem e formação dos mundos que gravitam em torno dos sóis: a razão das existências: o destino da alma humana: a origem da matéria: a célula primitiva e originária: a fonte da vida; o impulso inicial da nebulosa: a harmonia do conjunto universal do sistema planetário e astrológico. Tudo isso constitui a grande incógnita que debalde os sábios procuram resolver. São problemas por demais complexos, cuja profundidade esmagaria a presunção do homem. Na relatividade em que nos encontramos é natural que continuemos a ignorar muita coisa.

            Poincaré, com toda a sua autoridade, já afirmou que a harmonia universal não pode ser obra do acaso. Em tudo sentimos a presença de uma inteligência vigilante e diretora. Que o digam os sábios observadores da astronomia.

            "Sentimos, por trás dos nossos destinos, uma inteligência que não é a nossa, a dirigi-los com mão segura, a qual chamamos Natureza. Supremo Artífice, o Absoluto, Deus!"

            Deus existe na voz do nosso íntimo, no âmago da nossa consciência, que nos acusam quando desprezamos as leis que regem o mundo. O próprio ateu tem primeiro de acreditar na sua existência para depois rejeitá-la. Só os ignorantes da grandeza universal não podem crer em Deus. - O ateu, diante da natureza, é como o analfabeto diante da escrita: não sabe tirar das letras a vida que elas encerram. 

            "Deus é, pois, uma Inteligência suprema, reguladora do Universo, de uma inflexível lógica de leis imutáveis que guiam, no infinito, inúmeros planetas e sóis, obedecendo a regras invariáveis, cuja harmonia é simplesmente grandiosa.  Os milhões de mundos que rolam no éter, que emaranham suas órbitas, com regularidades tão precisas", não requerem uma força diretriz? [Delanne).

            "Todas as forças, continua Delanne, designadas sob o nome de Deus, alma, vontade diretriz, tem uma existência real fora da matéria, e esta é o instrumento passivo sobre o qual elas se exercem. A força é material. Uma força, o pensamento; uma matéria, o cérebro".

            Deus, portanto, paira muito além do nosso alcance e como não podemos amá-Lo e nem ofendê-Lo diretamente, nosso amor será sempre indireto: amando o nosso próximo e a própria natureza, deslumbrando-nos com as maravilhas que nos cercam. Assim os poetas e os artistas amam a Deus na sua obra, enquanto nós procuramos adorá-Lo em Espírito e Verdade. Níetzche só compreendia Deus quando caminhava ao lado de Wagner; S. Tomás dizia que tudo no mundo nos fala de Deus, que é a vitalidade criadora de tudo quanto existe, ao passo que Hegel comparava Deus ao desenvolvimento e progresso; para Aristóteles, Deus era o impulso para a perfeição.

            Ninguém ainda viu a Deus, João, I-18, todavia podemos senti-Lo, na fragrância que exala do perfume de uma flor; notá-Lo na inocência que se desprende do frescor de um sorriso de criança; escutá-Lo através das vibrações inteligíveis que escapam dos sons de nossas vozes: vê-Lo nas irradiações que partem das luzes solares que nos aquecem, deslumbram os nossos olhos e fecundam a vegetação; admirá-Lo nos matizes policrômicos das paisagens, que o artista leva em cores para a tela; reconhecê-Lo no parnaso de um poeta, na inspiração de um músico, na inteligência de todos os sábios.

            Deus é grande como o infinito; profundo como a imensidade dos oceanos; poderoso como a força do raio. Deus está na alma do artista, no remorso do pecador, na regeneração de um arrependido, no coração de uma mãe, na fraternidade dos povos pacíficos e laboriosos, na consciência de todos os homens honestos, no perdão de uma alma nobre, no socorro aos desgraçados, porque "Deus charitas est", dizem os Evangelhos.

            Só agora podemos definir Deus, junto com Buda:

            "O próprio Deus não é senão o princípio motor, a força oculta espalhada nos seres, a soma de suas leis e, propriedades, o princípio- animador, em uma palavra, a Alma do Universo que se apresenta ao Espírito humano como um "ENIGMA INSOLÚVEL". Deus é, enfim, a grande Alma do mundo, o "Coração imenso do Universo".






2 comentários:

  1. Caro Aron Estou terminando de escrever o livro Encarando Roustaing e Analisando Kardec no qual inclui cerca de uma duzia de artigos deste blog,Devido a gravíssima seriedade do tema abortado senti-a necessidade de consultar a opinião de espirita mais experiente a fim de corrigir e aperferfeiçoar para tornar mais eficiente,e menos repetitiva e mais organizada a sequencia das matérias abordadas.Peço-lhe por especial favor que me ajude em benefício da nossa querida doutrina Como posso enviar-lhe cópia do livro ante de publica-la no bvespírita?Peço enviar resposta pois tenho dificuldade de lidar com e-mail Joselyntho@gmail.com esp

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  2. Prezado confrade, Tenho o encargo de conduzir o grupo encarnado que cuida do Blog. Meu endereço provisório é -veja email -... Hoje ainda mandarei os detalhes de um livro editado no Brasil após 2000, cujo original foi encontrado na Argentina. Trata-se de obra mandada imprimir pelo próprio Kardec onde o mestre sugere os títulos de livros que deveriam compor uma biblioteca espírita. Após suas próprias obras ele recomenda a leitura de Roistaing!! É a prova definitiva que eles se respeitavam. Apenas, destaque-se, Kardec optou - a seu tempo - por não incorporar a certeza do corpo fluidico. Respeitosamente, .

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