Bilhetes
G. Mirim / Antonio Wantuil
Reformador (FEB) Maio 1946
Várias
vezes repete Kardec que a Doutrina é progressiva e até mesmo reformável em
alguns dos seus pontos. Na introdução de “A Gênese", o Codificador chega a
afirmar que algumas das teorias, por ele apresentadas naquela
obra, são pessoais e hipotéticas. Assim, não vemos razão para que alguns confrades se
apeguem a certo e determinado ponto e nele estacionem, emperrem, qual acontece com os
sacerdotes das velhas religiões que continuam fanaticamente a pregar a existência do inferno e
toda a série de incongruências que dessas velhas teorias resultam.
Ser
Kardecista ou Kardeciano não é ficar estacionado, porque o Missionário de Lião
não recomendou o estacionamento, mas a evolução
progressiva, de acordo com as revelações que nos fossem oferecendo os Espíritos.
Muitas
e muitas passagens evangélicas, incompreensíveis nos primeiros tempos do
Espiritismo, são hoje facilmente explicadas pelos novos ensinamentos que vêm
sendo transmitidos aos homens da Terra. Examinemos algumas.
Na
impossibilidade de os primeiros espíritas explicarem a multiplicação dos pães,
realizada publicamente por Jesus, várias opiniões se formaram, entre as quais,
a de que não houve a multiplicação, mas apenas a saciação da fome através da
eloquência das palavras do Senhor. Mas os nossos confrades, de então, se
esqueceram de que todos os evangelistas escreveram que sobraram doze cestos
cheios de pães, logo, não se poderá negar que houve em realidade a
multiplicação material.
Contra
essa teoria da não multiplicação dos pães, os Espíritos nos elucidam que não só
ela se deu realmente, como também nos explicam a maneira por que foi feita, e,
corroborando as suas asserções, passaram a produzir fenômenos semelhantes, em
menor grau de intensidade, mas demonstrativos, formando flores e objetos
outros, em plenas sessões de efeitos físicos.
Como
lendas ou alegorias foram explicadas inúmeras passagens evangélicas, como por
exemplo: Jesus e Pedro andando sobre as águas, o desaparecimento do corpo do
Messias, e muitas e muitas outras.
Continuando,
porém, na sua obra de esclarecimento, os Espíritos passaram a apresentar-nos
novos fenômenos em nossas sessões de estudo, e, dessa forma, com a levitação,
os próprios médiuns se mantêm no ar, sem qualquer ponto de apoio, notando-se,
mesmo, que este ponto de apoio, se assim podemos dizer, é até menor, porque a
densidade do ar é inferior à da água.
Mesmo
não admitindo as instruções que os Espíritos deram a Roustaing - classificado
por Humberto de Campos como o organizador do trabalho da fé - instruções em que
todos esses pontos foram esclarecidos, não é justo, nos dias atuais, após os
conhecimentos recebidos no correr dos anos, continuemos solidários com os
sacerdotes do judaísmo, admitindo que o corpo do Senhor tenha sido roubado
pelos discípulos, visto que, isso admitindo, destruímos todo o Evangelho e
apresentamos os apóstolos do Cristianismo como criadores de uma mentira. Com a
possibilidade já documentada de que os Espíritos podem desintegrar a matéria e
transportá-la, mesmo que não admitíssemos o corpo fluídico, teoria que
realmente não pode ser assimilada por todos, mais bem explicado ficaria o
fenômeno pela desintegração do corpo do Mestre, que pela suposição do roubo
praticado pelos discípulos, como as antigas teorias e hipóteses deixavam
veladamente transparecer.
Só
por esses exemplos, e eles se multiplicariam às centenas, se de espaço dispuséssemos,
vemos que os meios espíritas devem, pelo estudo e pela observação, tomar
conhecimento das novas revelações que têm vindo e continuarão a vir, pois, do
contrário, acompanharemos os nossos Irmãos de outras religiões, irmãos que
estacionaram no fanatismo e nele se conservam.
Os
Espíritos deram ao iluminado Missionário de Lião o que deveria constituir a
base do Espiritismo, e, portanto, uns e outro não se
cansam de repetir que a revelação é progressiva e confirmada pelos fenômenos.
Aí
têm os nossos amigos três fatos explicados pelos fenômenos de desintegração da
matéria, de transporte e de levitação. Procuremos estudar, observar e
raciocinar e tudo mais nos virá de acréscimo, facilitando-nos o entendimento e
clareando-nos a inteligência para que todas as palavras e passagens evangélicas
se nos tornem compreensíveis, assimiláveis e edificantes.
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