sábado, 8 de dezembro de 2012

Amai-vos e Instruí-vos!


Amai-vos e Instruí-vos!
Lino Teles / Ismael Gomes Braga
           
            A missão do Brasil revela-se no livro que os brasileiros mais amam para o estudo da Nova Revelação, livro que tem sido muito desprezado em outros lugares: "O Evangelho segundo o Espiritismo". Compreendendo essa vocação, a Livraria da Federação esforça-se por ajuda-la pela divulgação sempre maior do livro escolhido pelo povo e com essa finalidade reduziu-lhe o preço a um terço do valor real dos livros de iguais dimensões e essa redução ainda poderá ser maior, quando, montadas as novas oficinas; o custo da mão de obra ficar mais reduzido.

            O ensinamento fundamental desse livro fica sintetizado neste período ditado por O Espírito de Verdade, a Kardec, em 1860 e impresso na página 108 da 31ª edição brasileira:

            Espíritas! Amai-vos, este é o primeiro ensinamento; instrui-vos, eis o segundo.”

            É a doutrina cristã pura que toda ela é amor, "a força sublime que liga o filho do crime ao doce olhar de Jesus". O amor é a coesão de todos os seres entre si e entre a Fonte de onde todos originaram e à qual todos aspiram regressar. Sem amor, o Universo se desagregaria em caos, o plano da criação falharia à sua finalidade. Sem amor, tudo mais é vão, como ensinou Paulo. Não temos direito de julgar, nem ciência para julgar, porque esta só a Deus pertence; mas se pudéssemos julgar talvez chegássemos à conclusão de que só se tornou espírita, ao conhecer a Doutrina, quem tenha adquirido amor e não apenas quem possa discorrer sobre temas doutrinários e menos ainda quem só tenha aprendido a criticar os procedimentos alheios.

            Sim, dentre os chamados a conhecer a Nova Revelação, muitos não estaremos ainda com a necessária evolução moral para sermos escolhidos e nos tornaremos só espíritas "teóricos", "científicos", com os conhecimentos suficientes apenas a criticarmos as outras escolas de pensamento, isto é, saberemos somente a doutrina, não a viveremos. Poucos serão os escolhidos, os que entrem em perfeita sintonização com o Cristo e a lei de amor e assim passem a viver a vida eterna; serão poucos, mas bastarão a ser o sal da Terra.

            Dentre os sem amor, há de surgir o escândalo, o exemplo negativo: Aparecerão os julgadores e condenadores, mas "pelos frutos os conhecereis" e não vos enganareis. Os frutos do amor são atividade, iniciativas, empreendimentos, coragem, fé, altruísmo, inspiração para o bem, atração pessoal, alegria de viver e servir, e não se confundem nunca com os seus opostos, que são desânimo, crítica, tristeza, descrença, medo, condenação dos atos alheios, desarmonia, pregação sem exemplos, doutrina sem obras, sofrimento moral.

            O segundo ensinamento do Espírito de Verdade não está expresso no Evangelho, só vem anunciado 1800 anos mais tarde, porque ele não pode preceder o primeiro. O novo mandamento - "instrui-vos" - depende estreitamente do primeiro que lhe serve de alicerce. A instrução sem amor pode, muitas vezes, transformar-se em perdição para o Espírito. Instrução é apenas aquisição de força e, semelhantemente à riqueza, é prova perigosa se não for fundada sobre o princípio universal da energia criadora que é o amor. 

            Diante dessa revelação sintética - amai! - vem-nos a indagação: Como poderá amar quem não sente amor? - Instruir-se é mais fácil, sabemos o caminho, temos o livro e a escola e a pouco podemos ir no rumo da instrução, lutando contra nossa própria ignorância; mas o amor independe de escola e de livros, é sentimento e nos parece faculdade natural, espontânea, inata, talvez como dom do Espírito. Como adquiri-lo para cumprir o mandamento antigo confirmado pelo ensinamento novo?

            Sim, o amor não se conquista somente pela aprendizagem; é menos instrução do que educação: é tesouro imenso que se não pode adquirir pela habilidade comercial nem num curso noturno de alguma escola: é conquista que se tem de fazer numa guerra longa contra inimigos horríveis e emboscados habilmente. Encontrar-lhes as trincheiras e expulsa-las é trabalho penoso e demorado que não podemos fazer por procuração uns dos outros. O primeiro passo para iniciar a guerra é saber os nomes desses adversários. O comandante em chefe dos nossos inimigos chama-se Egoísmo: seu ajudante de ordens e substituto é o Orgulho; a cortesã intrigante e terrível, que se acha com eles, chama-se Vaidade; e esta tem por auxiliar a Suscetibilidade. Os auxiliares desse Estado Maior são numerosos e exercem funções muito diversas: o Medo faz os trabalhos de preparação de artilharia, mostrando perigos imaginários da pobreza, do descrédito, da desonra; a Concupiscência desvia os pensamentos superiores e os encaminha para o gozo dos sentidos, enfraquecendo a energia; a Dúvida prepara revoluções internas num trabalho terrível de quintacolunismo domado com os nomes de Análise, Crítica, Exame, Critério; o Pessimismo possui um espelho mágico que nos leva a ver fora de nós todos os defeitos que temos por dentro e estabelece a ilusão de que tais males só existem no exterior, porque desloca os mundos objetivo e subjetivo e os mostra ocupando lugares um do outro; o Convencimento veda-nos os olhos ao bem alheio e nos força a só reconhecer como bem os nossos atos e pensamentos .

            Identificados esses inimigos do amor, temos que atacá-los um a um, porque somos demasiado fracos para vencê-los juntos. Comecemos pelo último: examinemos as obras dos gênios e dos santos, e temos que desalojar o nosso convencimento e dar um passo rumo à humildade que é a mais querida irmã do amor. Reflitamos sobre a concordância universal e eterna da Revelação e teremos que expulsar a dúvida, aproximar-nos da fé, que é outra irmã do amor, e juntos operam milagres. Substituindo os gozos da carne pelos do Espírito, meditando sobre a evolução eterna desta centelha divina, iremos expulsando a pouco e pouco a concupiscência. Refletindo sobre a lei de causa e efeito e das provas inevitáveis, pelas quais teremos de passar, aprenderemos a orar para vencer o medo com seu cortejo tenebroso de ameaças e ele irá perdendo seu poder tirânico. Considerando quanto de ridículo e cômica é a susceptibilidade, ela se envergonhará de procurar governar-nos e fugirá com a vaidade. Temos, então, somente o General e seu Ajudante de Ordens, mas, sem a tropa, eles se tornaram menos fortes e os poderemos atacar de todos os lados. Quando vencermos ou isolarmos esses dois últimos, teremos abatido todas as barreiras que nos privavam de afinidade com o amor, com a harmonia universal invencível que faz da Criação um todo homogêneo, porque liga todos os seres entre si e liga este conjunto harmônico com o Criador. Então, teremos adquirido o poder criador de Deus, porque todos os movimentos de nossa alma estarão em harmonia com a lei eterna e universal.

            Que importa seja longa a luta, se eterno é o tesouro que há de ser conquistado! Vencida a luta contra os inimigos do amor, reintegrados na lei moral, podemos buscar o segundo ensinamento - a instrução - porque ela nos será dada para transformar-se em bênção em nossas mãos. Já saberemos empregar essa força sempre em harmonia com os altos desígnios de Deus.

            Recordemos que o primeiro mandamento é amar.
Reformador FEB)  Maio 1946


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