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‘As
Vidas
Sucessivas’
por Adauto de Oliveira Serra
Livraria Editora da Federação Espírita
Brasileira
1943
O HOMEM ATUAL E OS PROBLEMAS ESPIRITUAIS
"O
conhecimento é a asa que nos conduz ao céu.”
Shakespeare
Todas
as religiões tiveram os seus fundadores e os Seus profetas, que deviam ser
respeitados, seguidos e obedecidos pelos seus adeptos. Desde Moises, Elias,
Zoroastro, Buda, Confúcio, Krishna, Maomé, as religiões constituíam rituais e
práticas externas e internas observadas pelos seus sectários, algumas das quais
fechadas em misterioso hermetismo para impressionar os neófitos .
O
Espiritismo não tem profetas e não teve fundadores. Apareceu com o mundo e suas
leis. Kardec não fundou o Espiritismo, apenas codificou-o, separando o joio do
trigo e unificando numa só doutrina, a moral evangélica, a filosofia e a ciência.
Cristo - que não veio redimir nem salvar a humanidade, mas tão somente
ensinar-lhe a salvação, também não foi o seu fundador, pois anteriormente à era
cristã já estava generalizado o princípio da pluralidade dos mundos habitados,
a transmigração das almas e os Espíritos já se manifestavam no plano material,
como podemos ver através da Bíblia e nos livros mais antigos, como por exemplo.
- "Os Vedas".
Os
Espíritos também não foram os Fundadores do Espiritismo. Eles vieram cumprir a
promessa de Jesus sobre o Consolador, para relembrar aos homens a Doutrina que
já haviam esquecido e deturpado.
O
Espiritismo nasceu com a criação do mundo e suas leis. Viveu, vive e viverá
subordinado a elas, descobrindo-as e tirando as conclusões que servirão à
diretriz do espírito humano. O Espiritismo é uma ciência experimental, baseada
em fatos positivos, passíveis de análise, investigação e deduções. Estudar as
leis que nos regem, esclarecer o homem em todas as suas finalidades, apontar o
caminho certo e seguro que conduzirá à posse da Verdade. Eis em síntese o que
visa a Doutrina Espirita.
O
homem atual não é mais o embrutecido das cavernas pré-históricas que vivia
imerso em sua própria ignorância. O homem atual não é mais o supersticioso das
eras remotas que vivia obscurecido, sob o jugo de terrores infundados. O homem
atual não é mais o ente passivo da Idade Média, obrigado a crer no absurdo ou
morrer torrado na praça pública. O homem moderno é inteligente, é ativo, é
pesquisador; é enfim o homem racional. Desde que a física explicou o fenômeno atmosférico,
desde que a biologia desvendou a origem das enfermidades, desde que as
conquistas científicas dissiparam o véu do mistério dos "porquês" da
existência, o homem venceu a ignorância, compreendeu que não existe o milagre
nem o sobrenatural, dominando com sua inteligência reflexiva, todas as incógnitas
que embaraçavam o seu progresso material e a evolução de seu espírito.
O
tempo dos dogmas, das imposições, da fé cega, do absurdo, do maravilhoso, já passou.
O tempo agora é outro, outra é a humanidade. Todas as religiões fracassaram. E
a prova mais formal, mais positiva, mais atual da falência das religiões é a
guerra que neste momento (1) ensanguenta o solo europeu.
(1) 2ª Guerra Mundial
1938-1945 (Do Blog)
Quanto
mais se falava em desarmamentos, quanto mais se discutiam tratados de paz,
quanto mais se orava a Deus mais a guerra se tornava inevitável, até que
irrompeu brutal, sanguinária, cruel, destruidora, dantesca. Países religiosos,
religiões da maioria, povos religiosos empenhados numa luta terrível de extermínio:
uns defendendo o seu território, outros conquistando o alheio.
O
direito submeteu-se à força e a força bruta voltou a imperar.
Entretanto,
em uma guerra jamais há há vencedores quando
computadas as funestas consequências morais e as grandes perdas materiais dos países
beligerantes. Toda guerra é lamentável, quaisquer que sejam os fatores que a
determinem. Só uma doutrina moral capaz de entrelaçar novamente os sentimentos
dispersos; só uma filosofia capaz de explicar ao homem as suas necessidades; só
uma ciência experimental capaz de convencer o ceticismo e a indiferença humana,
poderão restabelecer a tão almejada paz, unindo as raças humanas, desfraldando
a bandeira da fraternidade, conquistando racionalmente todas as consciências
livres e honestas.
O
Espiritismo é a Doutrina Moral fadada ao reerguimento dos afetos humanos; é a
filosofia esclarecida para 'os que têm fome de Verdade; é a ciência positiva
que alargará o horizonte das conquistas espirituais.
Como
Moral, o Espiritismo interpreta, em Espírito e Verdade, os ensinamentos sublimes
do Evangelho, restaurando-o das cinzas do passado para ensinar ao povo a
prática do bem, o desenvolvimento da virtude, a pureza de um ideal.
Como
filosofia ele explana e faz compreender a responsabilidade pessoal, desfazendo
as desigualdades sociais, pela compreensão exata do seu passado, presente e
futuro, assegurando a todos a certeza absoluta de que não há privilégios nem
prerrogativas, penas ou recompensas eternas, tabus funestos ou maldições
irreparáveis. Como ciência ele descortina, amplia, alarga, enriquece a ciência
materialista com a ciência do espírito, descobrindo forças ocultas, curando
enfermidades ignoradas, favorecendo o conhecimento dos mundos habitados e dos
seus habitantes, tornando compreensíveis as leis do Universo.
E
quanto mais essas leis forem estudadas, compreendidas e, sobretudo, postas em
prática, mais se compreenderá o Deus que as criou. E como Deus é infinito e
eterno, essas leis são imutáveis e também infinitas.
Com
a moral evangélica o homem atual saberá amar o seu próximo; compreenderá que a
sua evolução depende de seus atos e não de rituais, ou de mitos religiosos;
terá uma noção mais clara, mais rica, mais nobre dos deveres a cumprir; será
bom, útil, honesto e trabalhador e, neste sentido, veramente religioso, isto é,
ligado a Deus.
Com
a filosofia espírita, o homem moderno resolverá todos os enigmas, satisfará
todas as interrogações da vida humana, decifrará todos os problemas mais
intrincados do destino, responderá, convincentemente, a todas as dúvidas do seu
espírito insatisfeito.
Com
a ciência espírita alargará as noções do cognoscível ao incognoscível, ajudando
o desenvolvimento das demais ciências positivas. Só assim o homem hodierno será
o homem integral, Integral em corpo e espírito. Completo em matéria e perfeito
em alma.
O
Espiritismo é pois, a ciência que satisfará todas as aspirações dos emaranhados
problemas sociais. Foi um cientista, um físico como Crookes, foi cientista um
astrônomo como Flammarion; foi cientista um médico como Gibier: foram
cientistas Findlay, Zollner, Aksakoff, Delanne...
Que
se rasgue o véu de Ísis que inutilmente procura empanar os mistérios da vida;
que se rompa o manto de Cibele que tenta em vão obscurecer as conquistas intelectuais;
conheçam-se as ciências invisíveis para não ignorar o próprio Deus; conquistem-se
as leis naturais que regem os mundos e nos governam; quebrem-se os laços do
convencionalismo ridículo, que tolhe a nossa sinceridade; esclareça-se o
sobrenatural; afaste-se a superstição; expliquem-se os milagres e sobretudo
evitem-se, dissipem-se, afastem-se os fanatismos religiosos.
Ajudai-vos,
homens de boa vontade, a reerguer o nível moral e intelectual do Espiritismo, a
fim de que esta Doutrina Moral, Filosófica e Científica não fracasse como
fracassaram todas as religiões ritualísticas, dogmáticas e impositivas.
Unamo-nos
na defesa e propaganda do nosso ideal para que, pela renovação mundial que
ressurgirá das cinzas do atual conflito, ressurja uma nova mentalidade, um novo
conjunto harmonioso de sentimentos bons, uma nova humanidade capaz de
empreender e enfrentar, convicta e livre, os seus próprios destinos.
Só
a ciência fará o homem livre, porque livre será no dia que tudo conquistar com
seu próprio esforço. Bem razão tinha Kardec quando disse: "O Espiritismo
será científico ou não subsistirá".
Só
então se cumprirá o que vinham anunciando os videntes da Gália, as pitonisas da
Grécia, as sibilas do Paganismo, os profetas da Judeia, porque o Evangelho de
Jesus foi restaurado para todos os povos, para todos os países, para todas as
confissões filosóficas, unindo a humanidade num amplexo de AMOR fraternal.
Só
então, o homem moderno será livre, porque não mais escravo de suas próprias
paixões e vícios. E tudo isso conseguiremos pelo estudo calmo, profundo e
refletido da ciência espírita, analisando, observando, investigando todos os
seus atos.
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